terça-feira, 30 de julho de 2019

“O Golas”

Vi o jogo contra o Valência, na apresentação da equipa do Sporting aos adeptos e sócios, disputando o Troféu dos Cinco Violinos. Repetiu-se a tática contra o Liverpool com alterações pontuais de alguns jogadores: jogou o Bas Dost em vez do Luiz Phellype, o Coates em vez do Neto e o Thierry Correia em vez do Ilori. As alterações justificam-se pela maior qualidade relativa dos, agora, titulares. Continuou, assim, a aposta no Bruno Fernandes do lado esquerdo, esperando-se que estivesse no local certo sempre que necessário, independente de ser à direita, ao meio, à esquerda, atrás ou à frente, enquanto se procurava encaixar o Vietto no meio. À falta de melhores alternativas, o Bruno Fernandes tem a prorrogativa de fazer passes de trinta metros, sobrevoando a defesa contrária à procura do Raphinha e foi assim que se chegou ao golo, concluindo-se este movimento com um remate de primeira de Bas Dost que nem hipóteses de reação permitiu ao guarda-redes. 

O avanço do Doumbia, quando dispúnhamos da posse de bola, originou bons momentos de controlo de bola no ataque, que foi sempre muito móvel, mas que não dispõe no Bas Dost o jogador ideal para este efeito, dado nem sempre recuar para tabelar entrelinhas ou se deslocar em desmarcações para abrir espaço para entrada de trás. Os seus movimentos são na linha de fora-de-jogo, na tentativa de estar no sítio certo à hora certa para finalizar. O resultado foi uma boa primeira parte mas em que nos limitámos a fazer cócegas em vários períodos de tempo. A defender, não estivemos mal, com exceção das bolas paradas, repetindo-se os sustos do jogo contra o Liverpool. Cada bola metida ao segundo poste originava um “Nossa Senhora nos acuda”, com a equipa do Sporting em desvantagem numérica e sem o Borja perceber que deve fazer como os adversários e saltar para cabecear. Levámos um golo como se estivéssemos numa peladinha e não aconteceram mais desgraças por mero acaso e falta de pontaria dos calmeirões do Valência. 

A organização deste jogo tinha como objetivo preparar a equipa do Sporting. Aparentemente, também tinha como objetivo preparar os árbitros para o campeonato que está a chegar. Foi evidente que os árbitros estão numa fase mais avançada de preparação da temporada do que a equipa do Sporting. Na primeira parte, o livre à entrada da área por suposta falta do Doumbia constituiu o primeiro aviso. Na segunda parte, o árbitro não foi de modas e assinalou “penalty” por outra suposta falta do Mathieu, quando, na melhor das hipóteses, o Coates terá chocado com o jogador do Valência. O Renan Ribeiro defendeu e assim se perpetua o mito que faz com que entremos no jogo da Supertaça sem necessidade de ganhar durante o tempo normal. Na tropa, a uma organização destas, chama-se treino com fogo real. Este contexto real acentuou-se com as repetições da SporTv, ignorando-se olimpicamente os lances mais controversos a nosso favor e não sendo esclarecedoras nos lances a favor do adversário. 

E o Valência acabou por chegar ao dois a um, num lance em que o Coates sai a jogar à Beckenbauer e perde a posição, o lançamento do Bruno Fernandes é intercetado pelo adversário que de imediato mete a bola nas costas da defesa, onde aparece um avançado a passar para o meio para outro encostar. As repetições não permitiram verificar se o primeiro jogador estava em fora-de-jogo, mas, seja como for, em situação de fogo real o Mathieu teria chegado a tempo, não permitindo que a bola entrasse no meio. Entretanto, começaram as substituições. Percebemos que existem os primeiros, os segundos e os terceiros substitutos. Os primeiros são o Acuña, o Luis Neto, o Luiz Phellype e o Diaby. Os segundos são o Tiago Ilori e o Eduardo. Os terceiros são o Miguel Luís, o Eduardo Quaresma, o Daniel Bragança e o Gonzalo Plata. 

Estamos habituados a tudo e a todos os resultados (há uns anos atrás, com o Domingos, levámos três do Valência na apresentação da equipa). Mas, como inteligentes que somos, gostamos de perceber o que nos é dado observar. Por muita reflexão que possamos fazer, ninguém compreende a posição ocupada pelo Diaby na hierarquia da equipa. Ficámos a saber que umas golas de proteção contra incêndios afinal são inflamáveis. Porventura, não são golas com esse fim, mas destinadas promover a saúde pública, reduzindo-se o número de fumadores e combatendo-se o tabagismo. É sempre possível encontrar uma explicação para o que aparentemente não tem. Por mais criativa que seja, é importante que nos encontrem a razão para o Diaby continuar não só na equipa como a constituir uma das principais alternativas aos titulares, em detrimento do Camacho, do Gonzalo Plata ou do Jovane. Ou o Marcel Keizer arranja uma explicação ou passará a ser mais um das golas.

domingo, 28 de julho de 2019

Alguns violinos e muito bombo


Estes jogos valem o que valem, o mesmo quer dizer que um chavão vale um chavão. Podíamos, sem esforço, reforçar o chavão das bolas paradas, a emperrada dinâmica (é assim que se diz) defensiva, com jogadores ainda a banhos (Coates) e outros que dificilmente serão os titulares. Borja vale o que vale, Correia valerá o que se verá (e espera-se muito), Acuña ainda vai valer muito dinheiro (este ano?), Ristovski ainda está em banho-maria, assim como a grande esperança Rosier (quando joga afinal?). Doumbia é um seis muito jeitoso (como se diz na minha terra), Eduardo ainda está a mudar o equipamento de azul para verde (não é mesma coisa, pois não?), Battaglia continua a sua batalha para debelar a lesão, lá longe, provavelmente aguardando mais um aumento por serviços prestados à comunidade.

O problema é que hoje em dia tudo é visto e revisto, os jogos passam todos em directo e a cores, entre transferências e outras miudezas devidamente dissecadas nas tascas e arredores. Não é como anos atrás quando eu e o meu pai deixávamos a praia para ver o único jogo televisionado do defeso. As coisas eram mais imaginadas e vividas no descanso das férias, o defeso eram uns jornais e a alegre cavaqueira das sardinhadas. Tudo isso hoje se esfumou num defeso ditado pelo mercado, longo e apropriado ao mister da indústria que nele se sustenta e vive.

Entramos bem, a tratar a bola com o carinho que merece, com jogadas fluídas e um grande golo. Perdão, uma grande jogada mais uma vez com o pé do Bruno Fernandes, assistência do Raphinha (podes fazer muito mais, meu caro) e um grande golo do Bas Dost. Um golo com cheirinho a Fernandes, cheirinho esse que habita o campo todo, confundindo-se com a própria equipa que tanto dele depende. Será? Basta observar como O Wendel se sente bem ao inalar esse aroma a Fernandes, contagiando até o Vietto que só não marcou por estar dele demasiado inebriado. Sofremos um golo de bola parada mas já com ela em andamento. Mas não para nós.  

Na segunda parte com ou sem penálti, as equipas começaram a juntar os trapos todos, umas vezes bem outras assim assim. Sofremos um golo num momento que vale o que vale: uma transição ofensiva deles que foi obsequiada pela nossa dinâmica defensiva. O Fernandes tentou o golo umas cinquenta vezes e merecia-o. Os outros talvez não merecessem tanto. Não estava lá o Peyroteo. Ele sabia como se fazia. Os outros violinos também. Tudo isto vale o que vale. 

sexta-feira, 26 de julho de 2019

O tocador de trompa

Como a minha vida não tem nenhum sentido ou, na melhor das hipóteses, um só, plantei-me na madrugada de quarta-feira a ver o jogo do Sporting contra o Liverpool. Finalmente, consegui racionalizar uma impressão, uma sensação: um estádio de futebol não é um estádio de basebol ou uma coisa do Souto de Moura onde joga o Sporting de Braga. Cheguei a jogar à bola ao pé de minha casa numa calçada com mais de 15% de inclinação, mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. 

O jogo mal se tinha iniciado e já estávamos a ganhar por um a zero. Há quem pense que se tratou de um frango do Mignolet. Quem tem um Renan Ribeiro ou um Luís Maximiano na baliza sabe que assim não é. Aquilo chama-se um remate de Bruno Fernandes ou um pacto com a bola para que ganhe vida própria e encontre o caminho mais adequado. Se o caminho era o de descrever uma parábola, embater no joelho e passar por entre as mãos dos guarda-redes só o Bruno Fernandes e a bola é que o podem dizer, dado se tratar de um combinação que ninguém mais conhece. 

A pedido de várias famílias, finalmente o Keizer colocou o Vietto no meio, em apoio ao Luiz Phellype, deslocando o Bruno Fernandes para a esquerda e tirando partido da sua omnipresença em todo o campo. Quanto ao resto, tudo como dantes, quartel-general em Abrantes: mais um exibição do Ilori a defesa direito para mais tarde esquecer. Nunca seria fácil jogar contra os calmeirões do Liverpool, mas fazê-lo com um defesa direito assim é necessário descaramento. O Liverpool foi carregando e os comentadores da SporTv foram revelando também uma excelente forma para uma fase tão inicial da época. De um lado, tudo era visto pela positiva, do outro, sempre pela negativa. Para além do Ilori, os dois jogadores mais perigosos do Liverpool eram o Borja e o Virgil van Dijk, um autêntico Abominável Homem das Neves, mas em negro. Sempre que se aproximava, o Luiz Phellype, o Neto ou o Mathieu logo se disponibilizavam para o deixar ficar com a bola, enquanto respeitosamente abanavam a cabeça, dizendo: “Sim, senhor van Dijk! Com certeza senhor van Dijk!” Apesar dos esforços do Renan Ribeiro, o Ilori não perdoou e o Liverpool foi para o intervalo a ganhar por dois a um.

Na segunda parte, saiu o Borja e entrou o Thierry Correia para o seu lugar. A diferença foi por de mais evidente. A diferença não se circunscreve ao facto de um ser canhoto e o outro destro. A diferença é mais profunda e releva do sentido da vida de um e do outro, com o Borja a revelar mais empatia e sentido de compaixão relativamente aos adversários. A partir de um individualismo neoliberal especialmente narcísico, evidenciado por um vaso de majerico colocado na cabeça, o Thierry Correia, compreendendo a natureza esférica da bola, os limites espaciais do campo, a capacidade de os adversários se deslocarem e a relação entre a cor da sua camisola e a de outros jogadores, desatou a jogar como deve ser. A coisa foi de tal forma que inventou com o Wendell e o Bruno Fernandes uma jogada espetacular que originou o nosso segundo golo. 

A partir daí, iniciaram-se as substituições para que a canalha se pudesse mostrar. O Miguel Luís vive uma crise de confiança. O Gonzalo Plata ia matando de ataque cardíaco o lateral esquerdo mais entradote do Liverpool. O Eduardo Quaresma é craque. É deixá-lo crescer, sem precipitações e sem cagaços peseiros por um prato de lentilhas. O Eduardo, o que era do Belenenses, entrou sem tibiezas e assumindo o jogo de meio-campo. O Daniel Bragança porfiou mas inconseguiu. O Nuno Mendes mostrou-nos, a nós e ao treinador, que também é dado à compreensão e ao discernimento. O Bas Dost é que continua desconfiado de si próprio. Tenho para mim, é uma simples suspeita, que o Luiz Phellype ultrapassou o seu nível de competência no final de época passada. 

Da equipa titular fui dizendo alguma coisa de um ou de outro. Para não me repetir, o Renan Ribeiro tem reflexos incríveis, mas decidiu com o Nélson que nunca, mas mesmo nunca voltará a sair a um cruzamento. O Mathieu e o Neto estiveram bem, mais o primeiro do que o segundo. O Doumbia ainda se desorienta algumas vezes, mas é uma força da natureza e procura dar sempre linhas de passe na saída da bola. O Wendell talvez tenha feito o seu melhor jogo no Sporting. O Luiz Phellype esteve acabrunhado e paradote, mas os matulões adversários não eram para brincadeiras. 

Sobra o Vietto, dado que o Buno Fernandes é o Bruno Fernandes e não é preciso dizer mais nada, passando-se à frente. O Vietto é uma aposta desta direção e, porventura, do Keizer. Vão-no tentando encaixar num lado ou no outro do ataque a ver se pega, porque demonstrou ser um excelente jogador no Vilarreal. Este fim-de-semana, o Expresso trazia um artigo de Arthur C. Brooks, professor de Havard, onde confidenciava que a sua aspiração era ser o maior tocador de trompa do mundo. Deixou a universidade para se dedicar a tempo inteiro à música. Com o tempo foi piorando. Peças que tinham sido fáceis tornaram-se difíceis e peças antes difíceis tornaram-se impossíveis, até desistir. Espero que o Vietto não se tenha dedicado a tocar trompa também.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Quem nunca erra e raramente tem dúvidas que levante o dedo

Ainda nem começámos a jogar a sério e já sentenciámos o destino da equipa. Nunca acertamos numa contratação e os jovens da formação são bons até ao momento em que os vimos a jogar pela equipa principal. Oscilamos entre a responsabilidade da direção e a do treinador. Como estamos habituadíssimos a ganhar com diferentes treinadores e direções, estranhamos que só se ganhem duas taças em meia-época com estes. Quando se avança com este argumento, aparece sempre o do Bruno Fernandes contra o resto do mundo, como se o Real Madrid não tivesse dependido do Ronaldo e o Barcelona do Messi. Ninguém se recorda da época que vinha fazendo com o Peseiro, como se o Keizer não tivesse mérito no seu desempenho posterior. 

O “flop” do ano é o Vietto. O destino está traçado e o decreto passado. O Keizer tem-no colocado a jogar do lado esquerdo, não sendo extremo e jogando, ainda para mais, com o pé trocado, como o Raphinha. Quem critica esta opção parece defender o regresso ao “cruza-bola” do Jorge Jesus, com o Bas Dost a fazer de poste no qual a bola possa tabelar. Também ninguém se parece lembrar da fase inicial do Keizer no Sporting, como se as goleadas não tivessem resultado de um modelo de jogo que procurava a supremacia na zona central exatamente por se dispor de extremos que procuravam jogar por dentro (o Nani era o Vietto daquele momento) e, assim, fornecer linhas de passe e abrindo caminho à progressão dos laterais, que jogavam mais projetados. O Bas Dost fartou-se de marcar, bem como o Nani e o Bruno Fernandes, apesar de ter passado a ser mais do que um mero poste. 

O que tenho visto nos jogos de pré-epoca é uma tentativa de reencontrar esse modelo de jogo. Só que não é possível implementá-lo sem dois laterais que deem profundidade. O Ristovski e o Rosier ainda não jogaram e nem o Thierry Correia, nem, muito menos, o Ilori são laterais desse tipo. Do outro lado, o Abdu Conté não é o Acuña. Acredito que com laterais mais projetados, o sistema de jogo que está a ser treinado possa resultar. O Sporting precisa de mais jogadores que cheguem nos momentos certos à área para finalizar. O problema não está no ataque. O problema está no meio-campo, onde se continua a emperrar na saída de bola. Porventura, jogar com três centrais ou com dois e mais o Borja a disfarçar quando se dispõe da bola, possa ajudar a resolver este problema, adiantando os médios, deixando mais espaço entrelinhas e obrigando os adversários a não marcar tão alto ou a pagar o preço de deixar espaço entre os avançados e os médios. 

Não sei, ninguém sabe, se tudo isto vai resultar. A ver vamos com disse o cego. Não parece é útil deixar de recorrer à cabeça para se procurar entender o que pode estar a ser treinado, através da análise dos jogos da pré-época. A alternativa é afirmar que a Direção só compra barretes, o treinador é uma anedota e os jogadores são todos pernetas. Essa atitude é muito comum e só tem vantagens. Se correr mal, podemos sempre dizer que tínhamos razão. Se correr bem, sempre podemos dizer ainda que avisámos a tempo. Quem assim procede, nunca se engana e raramente tem dúvidas. Sou dos que acredita no modelo da tentativa e erro como forma de progresso científico e do nosso bem-estar coletivo.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Verbos, mas também artigos, pronomes, preposições, conjunções, adjetivos e advérbios

Devo ao hóquei em patins os primórdios da minha consciência de ser português. A identidade gera-se também por oposição, isto é, pela consciência do que não somos. Os jogos de hóquei em patins entre Portugal e Espanha dos tempos da minha infância a adolescência eram as Batalhas de Aljubarrota por outros meios (pacíficos) e, por isso, perduram na minha memória. Não são tanto os jogos, mas os relatos, frenéticos e com os gritos dos golos de Portugal nos Campeonatos do Mundo e da Europa. Lembro-me da ansiedade que me assaltava quando acordava sem saber os resultados de Portugal num Campeonato do Mundo disputado no Chile e que só passava depois de o meu pai me narrar as incidências de cada jogo ouvidas na rádio de madrugada. 

Em plena “silly season”, a RTP por uma vez resolveu oferecer-nos serviço público com a transmissão dos jogos da nossa seleção no Campeonato do Mundo. O primeiro jogo que vi foi contra a Itália, na passada quinta-feira. O jogo foi muito sofrido para os nossos. Nunca conseguimos passar para a frente do resultado e em momentos críticos, nos livres diretos e nos “penalties”, apareceu o Ângelo Girão, que começou a escrever a história também na primeira pessoa do singular. O jogo seguinte, contra a Espanha, foi um pouco melhor. Nos mesmos momentos decisivos, continuou a aparecer o Ângelo Girão e fomos servindo doses de cinismo no contra-ataque. Na final, contra a Argentina, ainda equilibrámos um pouco na primeira parte. Depois, os argentinos foram arrasadores. Fisicamente os nossos jogadores não podiam com uma gata pelo rabo e não dispúnhamos de um banco como o do adversário recheado de tantos e tão bons jogadores que permitisse a sua mais frequente rotação. Valeu o estoicismo de todo eles, a capacidade de conviver sem frustração e sem quebrar com a superioridade dos outros. E havia o Ângelo Girão. Pouco a pouco, fomos compreendendo que se estava a construir história à frente dos nossos olhos. Quando o Rafa foi bater o “penalty”, pensei para mim mesmo que seria uma injustiça se o marcasse. A vitória devia ser consumado com uma última defesa de Ângelo Girão e assim aconteceu. 

Por muitos e bons anos que qualquer um de nós viva, dificilmente assistirá de novo a algo de parecido e dificilmente o esquecerá. Fomos uns privilegiados. Diremos aos nossos filhos e aos nossos netos que vimos esta final e a melhor exibição de sempre de um guarda-redes. Diremos também que esse guarda-redes não quis ser transformado em herói porque sabia muito bem que por muitos golos hipotéticos que tivesse defendido, nada se teria ganhado se não houvesse colegas como o João Rodrigues, o Hélder Nunes, o Gonçalo Alves ou o Jorge Silva que os tivessem marcado aos adversários. Diremos que tínhamos o melhor capitão de equipa de sempre que, pela sua simplicidade e simpatia (que diferença para os heróis de papel do futebol!), nos conquistou a todos e fez da vitória deles a nossa vitória. Diremos isto e muito mais, recorrendo aos verbos exclamados do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, mas também a artigos, a pronomes, a preposições, a conjunções, a adjetivos ou a advérbios.

terça-feira, 16 de julho de 2019

Quem nunca acreditou, que atire a primeira pedra!

A pré-época é a melhor fase do campeonato. É verdade que ainda não ganhámos, mas também ainda não perdemos nem empatámos. Estamos à frente e todos os sonhos são possíveis. Quem nunca acreditou num Waseige e num Missé-Missé ou num Paulo Sérgio e num Maniche, que atire a primeira pedra. Acredito no Keizer e no Camacho, no Vietto, no Neto, no Eduardo e no Rosier porque sim, porque é suposto ser assim, porque terei toda uma temporada para não acreditar. 

Vi o jogo contra o St. Gallen. Entrámos bem, marcámos dois golos e, depois, bem, depois resolvemos embaralharmo-nos com a bola e o adversário. A saída de bola para o ataque não apresenta melhorias. O Eduardo fez de Gudlej e os resultados não foram muito diferentes. Pede-se-lhe para ser mais posicional a defender e que avance depois de recuperada a bola, enquanto recua o Wendell para a receber e sair com ela naquele tricotar que irrita qualquer um. Pelas laterais, as coisas não correram melhor. O Ilori é um jogador constante e regular em qualquer das posições onde jogue, tal a constância e regularidade da tremedeira. Com ele a lateral direito, sobrou do outro lado o Abdu Conté. O rapaz parece uma força da natureza, mas também parece estar sempre a olhar para a bola enquanto corre. É verdade que a ajuda do Camacho a atacar e a defender foi quase inexistente. 

O Neto esteve sereno e não parece que seja pelo centro da defesa que este ano passaremos por dificuldades. Na primeira parte, se se excetuar a insegurança do Ilori, a defesa esteve praticamente de férias. O golo do St. Gallen resulta de um passe com a canela para um adversário do Eduardo, quando pretendia dominar a bola. No ataque, praticamente tudo se resumiu ao Bruno Fernandes e ao Raphinha, dado que o Luiz Phellype ainda está emperrado. O facto de tudo se resumir a dois jogadores não quer dizer nada, dado que o Bruno Fernandes joga por três e, assim sendo, está sempre garantida a superioridade no ataque (em número e armamento). 

Na segunda parte, com as substituições tudo se embaralhou e a confusão foi de tal ordem que não permitiu qualquer compreensão sobre o que se passava em campo e a qualidade dos jogadores. Ficaram impressões, umas mais fracas, outras mais fortes, mas não deixam de ser impressões. Depois de vermos o Ilori na primeira parte, o Thierry Correia parecia mesmo um bom lateral direito. O lateral esquerdo, o miúdo Nuno Mendes, esteve bem. O Gonzalo Plata de vez em quando acordava e quando acordava mexia com o jogo até inexoravelmente perder a bola. O Vietto teve boas movimentações, deixando o Bruno Fernandes isolado no contra-ataque, mas sem ainda compreender a dinâmica da equipa (admitindo que tal coisa exista). O Matheus Pereira voltou com os seus tiques de vedeta, sem intensidade e mais parecendo que estava numa peladinha ou num jogo de futsal com os amigos (depois digam que a culpa é dos treinadores que não dão oportunidades aos nossos melhores talentos da academia!). Quem impressionou e impressionou muito foi o Luís Maximiano. Parece um autêntico monstro das balizas. 

É difícil fazer um balanço deste jogo-treino. Os pontos fortes continuam: Mathieu, Bruno Fernandes e Raphinha. Faltam alguns dos outros pontos fortes da equipa, como o Coates e o Acuña. As aquisições são promissoras, mas não é possível afirmar desde já que se vão transformar em titulares indiscutíveis ou em substitutos de idêntico nível dos titulares. Se o Bruno Fernandes não sair, seguramente que a equipa não está mais fraca do que na época passada. No entanto, também não se consegue afirmar perentoriamente que esteja mais forte e isso não deixa de ser um ponto fraco à partida, dado o persistente diagnóstico de falta de "banco" e de alternativas Se o Bruno Fernandes sair, então, nesse caso, estamos como o Ristovski disse que ficaríamos após a vitória na final da Taça de Portugal.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

A culpa é das farmacêuticas


Lembram-se daquele jogador (central) do Sporting com nome de medicamento, o Demiral? Pois o jogador com nome de medicamento assinou pela Juventus. Dezoito milhões de Euros meus senhores, com os nossos bolsos a encaixarem (por conta do mecanismo de solidariedade, neste caso é mesmo disso que se trata) cento e oitenta mil. Uns trocos. A história é fácil de contar: o jogador com nome de medicamento foi emprestado pela comissão de gestão (era assim que se chamava?) de Sousa Cintra ao Alanyaspor da Turquia que rapidamente exerceu o direito de opção por uns míseros 3,5 milhões (já que era para ser emprestado com cláusula podíamos ter colocado uma maior ou defendermo-nos de outra forma, não acham?). O jogador com nome de medicamento, Demiral 3,5 miligramas, rapidamente passou a Demiral 9 miligramas, perdão, 9 milhões com a venda ao Sassuolo. O jogador com nome de medicamento agora Demiral 9 mg foi entretanto vendido à Juventus tornando-se o Demiral 18 mg, uma gramagem já bem forte e que se deve tomar com cuidado. E tudo isto no espaço de um ano.

Esta semana, entre umas idas e vindas à FIFA em defesa dos clubes formadores, vendemos um jogador (mais um central) da formação chamado Domingos Duarte por 3 milhões de euros ao Granada, ficando com 25% de uma futura venda (ou mais valia?). Alguns acharam os números interessantes, talvez se esquecendo dos milhões que pagamos para o Tiago Llori voltar. Os valores, diga-se, são irrisórios para o futebol de hoje, mas o que faz eco na minha cabecinha é a falta de oportunidades que estes jogadores (não) têm após alguns empréstimos.

Nem vou recordar o autocarro cheio de centrais de categoria inferior a Demiral 18 mg, ou mesmo a Domingos Duarte, que estacionaram em Alvalade para passear a sua mediocridade a expensas do clube. E foram muitos, e caros. Saliento apenas que, por vezes, algumas das soluções passam por jogadores da casa, jovens ou não, que com o tempo e algumas oportunidades poderão mostrar o seu valor. Com o Mathieu e o Coates estamos bem servidos, e tenho a certeza que os seus ensinamentos seriam importantes. Assim ficamos sem saber como seria. Não seria pior do que será. De certeza. Entretanto, consumam Demiral 18 mg com moderação, por favor.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

“Dura lex, sed lex”

A lei é dura, mas é a lei ou Deus perdoa, mas o Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) não. Não interessa se se trata do clube da terra do João Félix ou do Secretário de Estado do Desporto. Hoje o Académico de Viseu, o clube da minha terra também, amanhã quem sabe… Se um clube tem dívidas e presta falsas declarações sobre o seu pagamento, fica suspenso das competições profissionais. 

Esta decisão também nos deixa tranquilos sobre a integridade das competições profissionais. Até hoje, nunca houve um clube com dívidas e que prestasse falsas declarações. Fico na dúvida, se o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol e a Associação Nacional de Treinadores são extremamente úteis, ameaçando denunciar os clubes ao CD da FPF na defesa dos seus trabalhadores, ou se são completamente inúteis, dada a forma como o CD da FPF assegura este zelo dos clubes no pagamento atempado dos seus compromissos. 

Esta tranquilidade ainda é maior quando se sabe que o CD da FPF tem prioridades no estabelecimento do seu perímetro de atuação. Quando existem indícios de tráfico de influências, de corrupção, de viciação de resultado ou de outras infrações menores, deixa as investigações para o Ministério Público e as decisões para os tribunais comuns. Quando existem crimes gravíssimos de falsas declarações de um qualquer Académico de Viseu ou de umas “bocas” de dirigentes, instaura processos e pune exemplarmente. Ainda bem que é assim, pois é assim que deve ser.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Entretanto...


Capa de hoje do jornal A Bola, perdão, O Benfica. A insustentável leveza de qualquer comentário revela-se absolutamente dispensável. As obras de arte são apenas para contemplar. 

segunda-feira, 8 de julho de 2019

O ovo e a galinha

Bruno de Carvalho foi apoiado pela esmagadora maioria dos sócios, tendo sido reeleito nas penúltimas eleições com noventa por cento dos votos. Não há, não pode haver maior reconhecimento pelo trabalho desenvolvido do que uma reeleição com esta expressão. Nessa altura, todos trazíamos à lapela o “Je Suis Bruno” como forma de dizer com orgulho “Je Suis Sporting”. O “anti-brunismo” era, assim, um fenómeno externo ao Sporting, servindo os próprios intentos de Bruno de Carvalho, que, eleitos os inimigos externos, se legitimava e relegitimava permanentemente (ao melhor estilo de Pinto da Costa). 

Chega o ano de 2018 e a reunião da Assembleia Geral para aprovação dos novos estatutos. Conforme se iam desvanecendo as expetativas de se ganhar o campeonato, Bruno de Carvalho entra em permanente desvario. Os conflitos deixam de ser externos e passam a ser internos. Cria-se o “anti-brunismo” (os “sportingados”) para se efetuar uma purga e (re)legitimar uma direção que precisava de tudo menos disso. O resto é conhecido e é escusado continuar a remexer na ferida e a bater mais no ceguinho. A destituição de Bruno de Carvalho e da sua direção em Assembleia Geral não resulta de nenhum movimento “anti”, mas da pura e simples conclusão de que não dispunham de condições para continuar a exercer as funções para as quais tinham sido eleitos pelos sócios. 

Este último ano serviu para confirmar a justeza dessa decisão. Bruno de Carvalho não poupou ninguém, nem os membros da sua direção. Não existiu um único momento de dúvida, de autorreflexão, de reconhecimento de responsabilidades próprias. Foram os outros, mesmo aqueles que ele escolheu. Ninguém foi poupado, especialmente os sócios e adeptos, e a atual direção foi um bombo de festa permanente. Esse ressentimento gerou um grupo de fiéis, reduzido mas muito ativo. O Bruno de Carvalho deixou de ser um símbolo do Sporting para ser o símbolo do “Brunismo” e o “Brunismo” gerou, finalmente, o “Anti-Brunismo”. 

Os sócios reconheceram o trabalho desenvolvido pelo Bruno de Carvalho. A sua destituição não resulta dessa falta de reconhecimento, mas do reconhecimento, a partir de um certo momento, de que não dispunha de condições para continuar a presidir ao Sporting, não existindo nenhum movimento “anti-brunista”, pelo menos com expressão. A destituição de Bruno de Carvalho e a sua incapacidade para compreender as razões que a determinaram gerou o “Brunismo” e, por sua vez, o “Brunismo” gerou o “Anti-Brunismo”, que se foi radicalizando. Hoje, o Sporting, encontra-se partido em duas fações radicalizadas, embora a maioria se esteja nas tintas e queira é ver a bola. É essa radicalização que também explica a sua expulsão como sócio na última reunião da Assembleia Geral.

As instituições estão para além das pessoas que circunstancialmente as dirigem. É sempre um privilégio presidir a uma instituição como o Sporting e isso basta. Fazer um bom trabalho enquanto se preside não necessita de qualquer reconhecimento. É a obrigação de quem preside e de quem representa. O reconhecimento vem com a história. Varandas e Bruno de Carvalho são duas figuras de papel quando comparadas com Winston Churchill e Clement Attlee. Não foi por falta de reconhecimento que os britânicos votaram no segundo em detrimento do primeiro no pós-segunda guerra mundial. As circunstâncias mudaram e o votos também. É a vida!...

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Assembleia geral


Falar de memória levar-nos-ia até aos coitados dos gregos que, como toda a gente sabe, eram do Sporting. Os gregos da antiguidade clássica e outras antiguidades menos clássicas. Assim como os deuses todos e mais alguns. Já na época medieval (longa que foi e nem sempre treva), o Sporting germinava, dava cartas, crescia. A época industrial chegou-nos de comboio, ou no paquete, como diria o Eça. Nasceu o Sporting que já por aí andaria em bolandas, à espera que os ingleses ultrapassassem os mongóis nos jogos de bola. Às vezes com cabeças. As dos inimigos. Basta de inimigos dentro do Sporting.  De fações, viragens, anátemas, vendetas de aviário. Basta de lavagem de roupa suja. Somos muitos e cabemos todos. Sem isso não há gregos nem deuses que nos valham.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Finalmente alguém nos explica a tática

Ontem, ao passear na Feira do Livro de Braga, tropecei numa pechincha do Vitorino Magalhães Godinho, um dos maiores historiadores portugueses do século XX. O livro custava três euros e ainda tinha um desconto de vinte por cento. A propósito de redes institucionais e organizacionais e das suas relações com a personalidade, o autor recorre a esta metáfora que se segue. 

“Numa equipa de futebol, as condutas são ditadas pelas posições em campo e pela definição das funções de cada jogador; mas é toda a personalidade dos jogadores que está em jogo; a amizade liga uns, a antipatia separa outros, acontece o ponta esquerda sentir que o avançado centro pretende ganhar os louros da jogada, e por isso passa a bola a outro não tão bem posicionado. Uns esforçar-se-ão no relvado por amor à camisola, outro precisa de brilhar para conseguir uma transferência milionária; há quem não acate bem a autoridade do treinador. Diríamos que na equipa há dois planos: o organizacional-social, que carateriza o coletivo, e o emocional, que é próprio do jogador; mas tal diversidade serve a unidade de objetivo – ganhar o jogo”. 

Anda uma pessoa anos a anos a ouvir o José Mota, o Petit, o Pepa, o Paulo Sérgio, o Fernando Santos, o Peseiro ou o Manuel José e acaba por descobrir que um historiador pode ser melhor treinador de futebol do que os treinadores de futebol. Pelo menos, descreve melhor a psicossociologia de qualquer equipa de futebol. 


Quem pretender compreender melhor a desterritorialização dos clubes e a sua transformação em marcas globais, encontra tudo muito bem explicado em: “A Era do Eu”. Simplesmente soberbo!

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Um herói

A bola não rola e as transferências não têm muito interesse, desde que deixaram de ser regadas com uns copos numas almoçaradas em forma de entrevista n’ “A Bola”. Também não sou do tempo em que as Assembleias Gerais dos clubes e os seus Relatórios e Contas fossem tema de conversa. Quem procura matar o tédio a escrever sobre futebol vê-se e deseja-se para arranjar tema. O de hoje é um tanto melancólico, de quem envelhece mas procura estar atento a uma qualquer ação que lhe permita continuar a ter esperança e sentido para a sua vida. Enquanto lerem, perdoem-me o moralismo: é da idade. 

Nasci em Viseu e aí vivi até aos dezoito anos. O regresso uma ou outra vez para rever amigos e familiares é sempre um pouco ao estilo Cinema Paraíso. Reconheço os espaços e as caras mas nada é como dantes. Nunca, mas nunca se volta ao passado porque deixou de ser habitável. Talvez se tenha maior consciência do que é ser viseense e do que é a cidade quando se vive fora, no confronto com outras identidades e outras cidades. Mantenho a imagem de que, em Viseu, era-se o que se nascia, apesar do dinamismo social de uma emergente classe média associada ao comércio e serviços, públicos e privados, nos anos setenta e oitenta. Mas o respeitinho ainda era muito bonito e “sim, senhor doutor!”, “com certeza, senhor engenheiro!” 

Há sinais de mudança, embora seja suspeito pela amizade que me liga a um dos vereadores da câmara municipal. Compreendo as suas dificuldades em transformar Viseu numa cidade capaz de se afirmar no contexto nacional como um dos principais polos de desenvolvimento da nossa interioridade (mais socioeconómica e demográfica do que geográfica). As oportunidades escasseiam e não se pode perder nenhuma. É preciso estar permanentemente a criá-las e recriá-las, como a Feira de S. Mateus, porque elas não caem do céu, como em Lisboa ou no Porto. Compreendo, por isso, que se tenha aproveitado a oportunidade de se associar o João Félix e a sua recente notoriedade à cidade de Viseu (a associação ao Viriato é historicamente mais duvidosa, a não ser que se pretenda distinguir um doce local em forma de vê e constituído por um género de massa doce recheada de coco, que fazia parte da merenda dos mais afortunados). No entanto, os heróis não são os que prometem fazer, são os que fazem. 

O Miguel Duarte era aluno de doutoramento em matemática no Instituto Superior Técnico. Decidiu juntar-se a uma ONG para salvar vidas no Mediterrâneo. Está acusado pela justiça italiana a uma pena que pode chegar aos vinte anos de cadeia. Não o conhecia, ninguém o conhecia, à exceção dos seus familiares e amigos, que devem estar numa aflição. Como ele próprio disse: “As pessoas estavam a morrer afogadas e nós impedimos que elas morressem. Era só isso que fazíamos”. Ele (só) fez o que estava certo. Faz muita diferença fazer o que está certo. Existem heróis, heróis verdadeiros e não de papel. O Miguel Duarte é um herói, é um dos meus heróis e tenho orgulho em ser seu concidadão, porque nasci em Viseu, no mesmo país onde ele nasceu.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

No news is good news

No capitalismo faz de conta nacional, as especulações sobre a transação de um jogador podem ser promovidas pelos envolvidos no negócios na praça pública, mesmo que à mistura se encontrem empresas cotadas em bolsa, sem qualquer intervenção da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. Nada que não estejamos habituados depois de até hoje ninguém ter sido responsabilizado pelo “insider trading” na resolução do BES. 

Explicam-nos todos os dias a importância dos empresários nestes negócios e a razão para cobrarem comissões por serviços prestados aos clubes sem produzirem qualquer valor e alimentando o rentismo. Quem não conhecesse a história do futebol, até seria levado a pensar que o mercado de compra e venda de direitos desportivos foi inventado por esses empresários. Com o Acórdão Bosman, anunciava-se a liberdade dos jogadores de futebol, que deixavam de ser propriedade dos clubes de futebol. Agora, são propriedade de empresários e de fundos de investimento. Por detrás de cada transferência glamorosa de um Ronaldo, encontram-se negócios de emigração ilegal e de autêntico tráfico, enquanto os clubes se transformam em empresas e passam a ser detidos por dinheiros de “sheiks” e de outros oligarcas de diferentes nacionalidades. É o mercado, sem se procurar compreender os seus limites morais, como nos explica Michael J. Sandel. 

Acabada a alienação a propósito do João Félix, anuncia-se outra a propósito do Bruno Fernandes. Todo o santo o dia nos informam da novidade de não haver novidade nenhuma. Não é só uma contradição nos termos, não haver novidade é o normal. Daqui a aproximadamente um mês, disputamos o primeiro título da época: a supertaça. Mantendo-se o Renan Ribeiro e o Nelson, está meio-caminho andado para o conquistarmos. Mantendo-se ainda o Bruno Fernandes, o restante está praticamente percorrido. Prefiro esse título a todos os títulos dos jornais desportivos.