quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Despedir ou não despedir o Fernando Santos é a questão?

A derrota contra a Sérvia originou indignação das antigas. A culpa era toda do treinador e está na altura do Fernando Santos com as suas mezinhas ir pregar para outra freguesia. Os jogadores são magníficos e está-se mesmo a ver que qualquer uma daquelas pessoas que na televisão fala de bloco alto e baixo, de transições, ofensivas e defensivas, de momentos de jogo os colocava a jogar articulados e afinados, um género de “London Symphony Orchestra” do pontapé na bola. A ideia simples e ingénua que os nossos jogadores são bons e com bons jogadores se fazem boas equipas que jogam bem e assim ganham não corresponde aos factos, é um facto. 

Portugal joga mal, como sempre jogou, com o Fernando Santos, o Paulo Bento ou o Carlos Queiroz. O que distingue a seleção de ontem relativamente à de hoje não é a qualidade de jogo mas a convicção: uma coisa é jogar mal, outra bem diferente é jogar convictamente mal. Temos dois jogadores que fazem a diferença relativamente a todos os outros das restantes seleções: o Pepe e o Ronaldo. Não estou a afirmar que o Ruben Dias, o João Cancelo, o Bruno Fernandes, o Diogo Jota ou o Bernardo Silva sejam maus jogadores, muito pelo contrário. O que afirmo é que são como os chapéus do Vasco Santana, há muitos como eles. Os jogadores da Sérvia são excelentes e as diferenças relativamente aos portugueses de pormenor. 

O que fez da Seleção Nacional uma equipa temível não foi o bom ou o mau jogo. O jogo foi sempre mau. Nos tempos áureos do Fernando Santos, a Seleção Nacional chegou a ser a equipa mais cínica do Mundo: dificilmente sofria um golo e sabia que marcava pelo menos um. Esta crença que se autorrealizava uma vez atrás da outra assentava nos dois protagonistas que falei. A solução não está em despedir o Fernando Santos para se arranjar outro que coloque a equipa a jogar melhor. A solução está em despedir o Fernando Santos para se arranjar outro que nos coloque a jogar tão mal como de costume mas que o faça convictamente. O problema do Fernando Santos não é a qualidade do jogo mas a incapacidade de transmitir essa convicção.

domingo, 31 de outubro de 2021

A culpa disto tudo é de Rúben Amorim

 

Esta foi uma semana interessante: o Presidente da República em directo de um multibanco; o ex-presidente do Benfica em passeata de Ferrari no Gerês, a banhos nas termas; o chumbo do orçamento, meio caminho andado para eleições antecipadas; os combustíveis pela hora da morte; tudo culminando num sábado com os três grandes a jogarem em sequência, com os resultados que se conhecem.

Em abono da verdade a culpa disto tudo é de Rúben Amorim. Existe um a.R. e um d.R. Um antes de Rúben e um depois de Rúben. Antes de Rúben vivíamos na mística do falhar, falhar cada vez melhor, falhar sempre. Depois de Rúben, se não for um grande jogo, que ganhe o Sporting, e onde vai um vão todos. Todos? Todos, menos o Paulinho, dirão alguns, menos atentos.

De facto, o Paulinho parece tomado pela velha máxima do Sporting, falhar, falhar cada vez melhor, falhar (quase) sempre! Mas, na realidade, o Paulinho é um agente infiltrado, treinado não para matador, mas para dissimulador, forçando o adversário a cometer erros e a abrir espaços. Semear a incerteza é semear o pânico.

Como diz o Vítor Manuel, ninguém ganha sozinho, e assim sendo, o Paulinho não falha sozinho, falha para a equipa, em suma, falha para um bem maior. Ainda ontem, num canal televisivo com nome de jornal desportivo, Vítor Manuel destacava a importância de Paulinho no preenchimento de espaços, nas transições (tudo menos a marcação de golos) e nas bolas paradas, de que o golo de Coates é um exemplo, pois a bola é cabeceada ao primeiro poste por Paulinho, não em direcção à baliza, mas para um espaço onde supostamente aparecerá alguém que não falhe. Esse alguém, ultimamente é Coates, ele próprio um dissimulador, por excelência.

Quando não falha o Paulinho, falha o Matheus Nunes a fazer de Paulinho. Um destes dias falhará inesperadamente Coates, em prol de outro movimento que permitirá um golo de pontapé de moinho a Adán. Entretanto, o que era inesperado (golos de Coates na sequência de um canto) tornam-se uma repetição facilmente desmontada, mais uma vez, por todos os adversários. Ontem isso aconteceu mais uma vez. Antes do jogo, já o Pepa mostrava o lance do golo a uns incrédulos jogadores do Vitória. Qualquer semelhança com a realidade é da responsabilidade de Rúben Amorim.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Prefiro os Flintstones

Depois de ter escrito o que escrevi sobre o jogo do Besiktas, estava dispensado de escrever o que quer que fosse sobre o jogo do Moreirense. Estabelecida a lei-geral é só esperar que se aplique em cada caso em concreto. O problema está em estabelecer essa lei-geral e duas observações não chegam. Há dimensões epistemológicas nas táticas do Rúben Amorim que remetem para potenciais contradições, como, por exemplo, a criação do universo a partir de um único momento fundador, o Big Bang, e o conceito axiológico do antes, fundador de qualquer movimento filosófico que se preze. Por outras palavras, o Rúben Amorim é um discípulo da Escola de Frankfurt, um Habermas do pontapé para a frente [e sem fé em Deus].

Todos viram e só preciso de me repetir em parte. Coates, o nosso ponta-de-lança, continuou escondido a central, enquanto aquele que parece o nosso ponta-de-lança, Paulinho, continuou a parecer e, assim, a fazer de contas que é [e fá-lo tão completamente e convictamente que às vezes até ele acredita que o é]. No momento certo [num canto, por outras palavras] lá apareceu o Coates para o golo da ordem e a vitória do costume. Antes e depois, o Paulinho foi falhando, umas vezes desmarcando-se bem e dominando mal, outras desmarcando-se e dominando bem e rematando mal. Houve falhanços para todos os gostos e, assim, se pode dizer que ele não sabe o que é falhar [quem sabe falhar costuma falhar consistentemente, sempre da mesma maneira]. 

Ontem, para a Taça da Liga, tudo mudou [e quando digo tudo, digo mesmo tudo-tudo]. Escondido, recuado ou avançado, não importa, não só deixámos de ter ponta-de-lança como deixámos de ter alguém que fizesse de ponta-de-lança também. Baralhámos completamente o Famalicão mas não menos baralhados ficaram os nossos jogadores [que os adversários não saibam quem é o nosso ponta-de-lança é uma coisa, outra coisa é os nossos jogadores não saberem também]. Valeu-nos o Ugarte. Está cá há pouco tempo e, por isso, ainda está completamente baralhado, independentemente de jogarem [ou não] o Coates e o Paulinho. 

O jogo ameaçava ser chato, chato mesmo e aí, aí sim, percebemos a razão para existirem árbitros sobretudo quando não existem vídeo-árbitros. Um jogo que podia acabar em goleada, acabou sofrido com uma vitória tangencial: tanto se jogava com o pé como com a mão, os fora-de-jogo (não) eram assinalados como se houvesse vídeo-árbitro para corrigir a (não) decisão, os amarelos apareciam e desapareciam sem ninguém perceber se estavam escondidos na manga ou havia outro truque qualquer. Foi um regresso ao passado, um passado pelo qual muitos suspiram. Passado por passado prefiro os Flintstones. 

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Ponta-de-lança que é e não parece e outro que parece mas não é

Sem o envolvimento emocional de um jogo contra Os Belenenses, para a Taça de Portugal, ou o Vizela, para o campeonato, o jogo de ontem para a Liga dos Campeões [Champions League, para os entendidos] presta-se a reflexão aprofundada, a abordagens mais analíticas. O Rúben Amorim tinha deixado uma ou outra pista, nomeadamente quando afirmava que a colocação de um qualquer lateral a central, como o Esgaio, conferia dinâmica diferente à equipa e ao seu jogo coletivo. Devia ter suspeitado, a relação entre categorização dos jogadores e a sua função e localização no terreno de jogo pode ser mediata, indireta. 

Contra o Besiktas, tornou-se evidente este tipo de relação e suas consequências no desenho tático da equipa. O Sporting não joga com três centrais, é um facto. Joga com dois centrais e um ponta-de-lança. Porque é que esta autêntica revolução na forma como se organiza uma equipa não se tornou visível há muito, muito mais tempo? Porque o ponta-de-lança também joga bem a central, tão bem que até parece um central. Não imaginamos o Cristiano Ronaldo a jogar no lugar do Pepe e a fazer de Cristiano Ronaldo na mesma, marcando e voltando a marcar. Nem todos os jogadores dispõem da completude de um Coates, nem todos podem ser predestinados. 

Para que esta tática apanhe de surpresa o adversário, há requisitos a cumprir. O aparente ponta-de-lança pode não ser um ponta-de-lança mas tem de parecer ou, de outra forma, um Guardiola ou um Klopp percebem o engodo e dirão para os seus botões: “com que então, o Rúben [sim, eles tratam-no com esta familiaridade] a disfarçar o ponta-de-lança de central?!” O Paulinho cumpre às mil maravilhas esse papel. Nós conhecemos um Missé-Missé, um Peter Houtman ou um Purović só pela cor ou pelo aroma, bastando para tal rodar ligeiramente o cálice enquanto com as mãos à sua volta o vamos procurando aquecer. Não somos como outros, que só sabem destrinçar um branco de um tinto, sabemos também o ano de colheita ou o sabor da Touriga Nacional, da Tinta Roriz ou de outras castas internacionais, como o Chardonnay, o Cabernet Sauvignon ou o Merlot. 

O Paulinho não é ponta-de-lança mas podia ser, como ontem teve a oportunidade de demonstrar [quem marca o golo que marcou, como quem bebe uma mini e come um prato de tremoços, podia ser]. Não, não é um nabo de um ponta-de-lança ou um nabo de um ponta-de-lança com azar, como ouvi dizer. É um jogador que faz de ponta-de-lança sem o ser porque se o fosse estava a jogar a central, como o Coates e ninguém saberia o que fazer ao Coates. Recuar tanto o ponta-de-lança levanta questões práticas quando se trata de marcar golos. Quanto mais longe se está da baliza mais tempo se demora a lá chegar. Nos primeiros momentos, quando as forças abundam, os adversários não permitem que o nosso ponta-de-lança se adiante. Pouco a pouco, vamos chegando mais e mais à frente, até aparecerem os cantos e cada um deles se transformar num “touchdown”. 

[Vamos acabar com a crónica que se faz tarde. Ganhámos quatro a um ao Besiktas e embolsámos 2,8 milhões de euros. Era preferível receber o dinheiro sem jogar, para nós e para o Besiktas. É todos os anos o mesmo: estabelece-se quem vai aos oitavos, aos quartos, às meias e à final e obrigam-se todos os outros a jogar as pré-eliminatórias e a fase de grupos como se não soubessem de nada]

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Futebol de várzea e gordos à baliza

Voltámos a jogar contra o Arouca, anos e anos após o nosso Presidente da altura ter sido acusado de cuspir no seu Presidente, quando apenas expeliu uma baforada que nem de fumo foi mas de vapor de água, dando origem a uma das discussões públicas mais profícuas sobre um tema que nos interessa a todos, independentemente da clubite ou sequer da longitude ou da latitude, o da transição climática ou da descarbonização. Embora sem despertar o mesmo interesse do ponto de vista da nossa organização social e da nossa vida em sociedade, também houve uma época em que o Lito Vidigal, treinador do Arouca, entrou em campo para empurrar um central do Sporting, gerando um chinfrim e um salsifré danados. Sem as baforadas de fumo ou de vapor de água ou as entradas dos seus treinadores em campo para arrear nos jogadores adversários, o Arouca é o Arouca e os jogos contra o Arouca são os jogos contra o Arouca [não confundir os jogos contra o Arouca com os jogos contra o Portimonense e, muito menos, destes com os jogos contra o Barcelona do Koeman]. 

Sem estes acontecimentos e os correspondentes penduricalhos narrativos, não se pede a ninguém para escrever uma crónica de um jogo como este, um jogo a que os brasileiros costumam designar de futebol de várzea [o equivalente à nossa Liga dos Último, programa televisivo de boa-memória]. O Rúben Amorim procurou explicar-nos o sentido, a razão para assistir ao que se assistimos, sem dar parte de fracos e admitir que a equipa não aguentava um gato pelo rabo. Não, os centrais estavam de boa saúde, ele é que teve a ideia [genial] de jogar com dois laterais no lugar de dois centrais para alterar a dinâmica da equipa, para que os laterais feitos centrais corressem atrás dos felinos atacantes do Arouca [viu-se essa capacidade do Esgaio no golo do Arouca]. Acabámos por jogar com um central e quatro laterais, dois à direita e dois à esquerda. É bizarro? Não, com esta simetria longitudinal, não. Seria de jogássemos com quatro de um lado e nenhum do outro ou três de um lado e um do outro.

Enquanto o Vinagre continuar no psiquiatra, há necessidade de meter o Nuno Santos a lateral esquerdo [ou muito me engano ou já não sai de lá] e de rearranjar o meio-campo e o ataque. O Matheus Nunes foi para o ataque, para o lugar que costuma ocupar o Nuno Santos, e entrou o Daniel Bragança para o meio campo, para o lugar do Matheus Nunes. Com quatro esquerdinos a atacar – Nuno Santos, Bragança, Sarabia e Paulinho –, parecíamos a equipa de futsal do Nuno Dias. Cerca dos quinze minutos, estes esquerdinos fizeram das suas [das deles, salvo seja] e o Matheus Nunes fez o primeiro golo. Esperava-se o segundo para acabar com o jogo [há quem diga que só depois do terceiro é que se pode descansar] mas o Sarabia é um pouco como o Paulinho: está sempre a um bocadinho pequenininho de marcar golo, sendo certo que a responsabilidade de um extremo não é a mesma da de um avançado-centro ou ponta-de-lança. 

Na segunda parte, nem entrámos mal no jogo, mas um canto a nosso favor originou uma correria como se não houvesse amanhã de um avançado do Arouca, concluída com um centro para o cabeceamento de um avançado e grande defesa do Ádan, mas, azar dos azares, a bola sobra para outro jogador do Arouca que remata à meia-volta e faz o empate [nunca tive problemas em ir a um dentista brasileiro ou a um médico espanhol no centro de saúde, mas estava longe de imaginar que a escassez de avançados levasse o Arouca a contratar um palestiniano]. As coisas estavam a ficar feias, muito feias, mas no futebol de várzea é sempre o gordo que vai à baliza e vai à baliza não por ser guarda-redes mas por ser gordo e jogar ainda pior noutra posição onde se tenha de mexer mais. Percebendo isso, os nossos esquerdinos fizeram as reviengas do costume e o Nuno Santos enfiou um remate de fora da área fazendo com que a bola tabelasse no gordo, perdão, no guarda-redes e acabasse dentro da baliza.

O Arouca queria mas não podia e nós nem queríamos nem podíamos. O Rúben Amorim ainda tentou refrescar o ataque mas o Jovane Cabral, o Tiago Tomás e o Tábata não fizeram uma jogada de jeito para amostra, tendo que entrar o Ugarte para segurar o meio-campo e evitar males maiores [como disse, não tenho problemas de nacionalidades, estranho um palestiniano, para logo entranhar um uruguaio]. Ganhámos e somámos mais três pontos, naquela lógica do jogo a jogo. O Paulo Sérgio não foi de modas e acertou com um pinheiro no Jesus [não confundir com o Pinheiro, que esse arbitrou o nosso jogo] e estamos em segundo lugar a um ponto do primeiro. 

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Todo o mundo é composto de mudança

Todo o mundo é composto de mudança, lá dizia o poeta, mas há pessoas e instituições cujas vontades não mudam com os tempos e as suas mudanças. Na Liga dos Campeões insiste-se em obrigar as equipas a jogar para receber o graveto, os carcanhóis. É uma canseira inútil, uma infelicidade desnecessária, que nada muda, nem as moscas. Não obrigar as equipas a jogar seria uma belíssima ideia, uma ideia própria do seu tempo, um tempo em que o real e o virtual se completam, se encaixam tão perfeitamente que é como se passassem a ser um e um só. Também não seria má ideia [digo eu] jogar estes jogos com arbitragem. O resultado não mudaria mas os jogos poderiam ser mais giros. Há países e campeonatos que têm a mania de recorrer a essa função [arbitragem] e a essas pessoas [árbitros]. Recorrer a umas pessoas disfarçadas não é a mesma coisa. Percebe-se a ideia [lá está, a ideia, mais uma ideia feita], de reproduzir a cadeia alimentar: os mais grandinhos ganham aos mais pequenotes até engordarem o suficiente e virem os tubarões engoli-los. 

Estes prolegómenos têm um propósito, uma ideia [lá está, mais uma], funcionam como um introito para breve dissertação sobre a participação do Sporting na Liga dos Campeões. Há dias, antes ou depois do jogo contra o Dínamo de Kiev, não sei bem, Jorge Jesus afirmou, categórico: “É importante ganhar, mas também é importante não perder”. É a condição necessária e (não) suficiente às avessas, de pernas para o ar [quem não se lembra que numa função não basta a primeira derivada ser nula para o ponto se constituir como um máximo?]. O Ruben Amorim ignorou esta coisa de que é preciso assegurar a condição necessária primeiro para se conseguir a condição necessária e suficiente no final. Para se ganhar é necessário não perder, embora não perdendo também se possa não ganhar. 

No jogo contra o Ajax foi evidente que se queria ganhar sem se compreender que era preciso não perder em primeiro lugar. A lição foi imediatamente aprendida e os jogos do campeonato caseiro contra o Estoril e o Marítimo foram o sangue, suor e lágrimas da época passada. Ontem, contra o Borussia de Dortmund, o conhecimento estava consolidado. Não ganhámos, não empatámos, perdemos, perdemos com dignidade. Não pretendemos ganhar sem primeiro procurar não perder. Procurar não perder não implica que não se perca, de todo. Procurar não perder não evita a derrota, evita a humilhação, sendo que o graveto, os carcanhóis não mudam. É assim que nos devemos comportar até ao final deste calvário ou até que as ideias mudem, se encontrem com a contemporaneidade que nos foi dada viver. Um dia, que não estará longe, receberemos sem jogar e nessa altura, sim, a participação na Liga dos Campeões terá valido a pena, plenamente. Até lá, jogo a jogo no campeonato e mais nada.

[Há uns meses que não dava ao gatilho. Estava um bocado perro, ao princípio. A coisa foi melhorando palavra a palavra até ficar tudo assim-assim, no final. Não sei se valeu a pena, independentemente do tamanho da alma. Acho que perdi o jeito] 

domingo, 19 de setembro de 2021

Descer à terra

 

Demorou até tirar os pontos (resultantes da pancada de 4ª feira) e pensar: não há nada como descer à terra! Para todas as situações e mais algumas, temos em Portugal um provérbio que supostamente encaixa como uma luva, provérbio esse que, invariavelmente, não levamos à prática. Diz-nos ancestral sabedoria que quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele. Pusemo-nos a jeito. Hoje à noite saberemos contornar a situação, voltando às vitórias. 

 

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

domingo, 12 de setembro de 2021

E agora algo completamente diferente...

 

Os pré-match costumam ser muito estimulantes. O que antecedeu o Sporting – Porto não fugiu à regra. Enquanto se embalava o prejuízo do Benfica em certificados do aforro, discutia-se a problemática das viagens e dos jogos da seleção. A contabilidade foi ao ponto de medir em quilómetros e milhas as viagens dos jogadores, refletindo também a pertinência dos minutos jogados e dos quilómetros percorridos pelos jogadores em campo, alargando o panorama analítico em milhas e em léguas, muitas delas submarinas. Tudo para chegar ao resultado pretendido: um Porto hipoteticamente cansado e um Sporting resplandecente e com o sono em dia. Horas de chegada foram divulgadas; jogadores chegados ao aeroporto corriam desvairados para apanhar um táxi que os levasse ao hotel. Chegariam a horas do pequeno-almoço?

Envergonhadamente, ficamos a saber que o Sporting não podia contar com 4 jogadores, três deles habituais titulares, embora estivessem frescos como alfaces, encontravam-se lesionados. Tudo feito para confundir ainda mais a equipa cansada do FCP, habituada pelo seu treinador a desmontar o Sporting, embora apenas antes dos jogos começarem. E foi assim que o jogo começou, com o Porto a jogar de igual para igual (segundo os comentadores) durantes uns bons 14 minutos, tempo que aguentou sem sofrer golos, já o jogo levava duzentas faltas e trinta amarelos. A partir daqui, Nuno Santos, incomodado com a facilidade com que aparecia isolado na frente do guarda-redes adversário, apiedando-se certamente do seu esfarrapado oponente, decidiu que apenas marcaria golos se estivesse com vários adversários pela frente e tivesse, nem que fosse por momentos, as pernas tortas do Garrincha. Nuno Santos é um leitor exacerbado de Eduardo Galeano, e conhece aquele gol de Garrincha marcado à equipa da Fiorentina, durante num jogo de preparação do Brasil a caminho do Mundial da Suécia. 

Na segunda parte a história do jogo continuou mais ou menos a mesma, mas durante muito tempo sem balizas. A acumulação de faltas ia a caminho do Guiness, e os cartões amarelos continuavam a brotar como se fossem cogumelos agraciados pela humidade dos carvalhos. Às vezes havia futebol e os jogadores distraiam-se. Terá nascido de uma dessas distrações o golo do Porto. Um golo marcado por um tipo cansado que tinha chegado tarde a casa e entrado pela janela do segundo andar, situada nas traseiras, única parte da casa sem arame farpado. O Sporting voltou ao jogo com o Paulinho sempre a abrir espaços para si próprio, acabando por se cansar na tarefa e nos cansar de o ver cansar-se. O empate agradava sobretudo ao árbitro e ao sorriso de alívio de Sérgio Conceição: não é todos os dias que uma equipa cansada e com um orçamento de muitos milhões e várias soluções, empata em Alvalade. Ou terá sido estrelinha?

 

PS: Nem dezanove mil em Alvalade? Estranho, não acham?

 

domingo, 1 de agosto de 2021

Eu já volto

 

Começamos como acabamos: a sermos desmontados e a ganhar.


quarta-feira, 2 de junho de 2021

Desconstruir a desmontagem

(Desmontagem 1)

(Desmontagem 2)


Este foi o campeonato em que as equipas técnicas (é assim que se diz agora, não é?) adversárias desmontaram sucessivamente a equipa do Sporting sem, no entanto, a conseguirem contrariar. A forma assumida pela desmontagem no processo levar-nos-ia para devaneios mais longos e muito menos interessantes que, por exemplo, a suspensão imposta agora a Sérgio Conceição no término das sucessivas desmontagens (embora contrariadas), e cumprida nas férias. Como toda a gente sabe, ir de férias é um castigo que consta na declaração universal dos direitos do treinador, desde que este tenha as qualificações necessárias.

As sucessivas desmontagens (embora contrariadas - este ponto parece-nos importante) da equipa profissional do Sporting, impostas por equipas técnicas do mais fino quilate, e devidamente credenciadas, foram sancionadas pela sapiência e largueza de horizontes futebolísticos de vários quadrantes, incluindo comentadores com formação completa em desmontagens e curso de treinadores por correspondência, ainda assim bem mais qualificados que Rúben Amorim, como ficou demonstrado. Joaquim Rita mostrou (mais uma vez) olho de lince para a coisa, e Ribeiro Cristóvão revelou muitas vezes a sua sagacidade. Mesmo Rui Pedro Braz que, segundo consta, está perto de entrar na estrutura benfiquista (como se alguma vez tivesse estado longe) revelou-nos a sua experiência em desmontagens, desde que não sejam para os lados da luz.

O próprio presidente da APAF, o credenciado José Pereira, foi-se revelando um amante das desmontagens, ao ponto de querer o candidato a treinador Amorim fora da área técnica, e se possível do planeta terra.

Terminado o campeonato, a desmontagem da equipa do Sporting continua, desta vez às peças. Segundo órgãos (bem informados) da comunicação social e das redes, todos os dias uma peça vai à vida: primeiro era o Nuno Mendes, depois o Pote (o Pote foi várias coisas na última semana), depois ia o Feddal, o Plata, o Jovane, o Palha, hoje vai à sua vida o Matteus Nunes, em troca de um maço de tabaco e um vídeo da bolha dos adeptos ingleses no Porto. Por este caminho não teremos jogadores para o ano e assim já não será necessário desmontar nada, porque não haverá nada para desmontar. E assim será mais difícil, por sua vez, contrariar a desmontagem. 

De resto, para além da desmontagem em curso, dá pena ver o castigo ao Conceição, exilado compulsivamente na Madeira, sendo ainda de salientar um milagre chamado Rafa na seleção Nacional, apenas possível pela grande devoção de Fernando Santos. Vai ser espectacular este defeso…

 


domingo, 30 de maio de 2021

Homenagem aos golos que não o foram

A época do Sporting foi de tal forma próxima da perfeição que não é fácil fazer um balanço, escolher os melhores momentos ou os mais decisivos. Imaginar em Agosto de 2020 que uma equipa com reforços desconhecidos ou duvidosos, uma direção em guerra com as claques, um clube com feridas abertas do passado, liderado por um treinador sem formação para tal e com vários jogadores inexperientes pudesse catapultar o Sporting para uma época brilhante.

Talvez por isso mesmo vou tentar uma abordagem diferente. Em vez de recordar os muitos golos importantes da época - onde haveria lugar, por exemplo, para um do esquecido Vietto, vários inesperados de Coates e um par deles de um insuspeito Matheus Nunes - proponho refletir sobre os golos que não o foram.

Na minha opinião houve três momentos que foram particularmente marcantes, todos eles muito diferentes. Como não consigo ordená-los por importância, vou abordá-los por ordem cronológica.

O primeiro golo que não o foi teve por protagonistas o Coates e o Luís Godinho, árbitro que tinha tido um brilhante desempenho no Sporting - Porto cerca de um mês antes. O lance ocorre ao minuto 90 e nasce de um pontapé de saída, o Sporting havia acabado de sofrer o empate, mas não se 'ficou': bola para um lado, para o outro lado, cruzamento de Porro e golo de Coates. Godinho decidido valida o golo (tal como no Sporting - Porto assinalou falta, grande penalidade e vermelho), VAR chama Godinho por causa de um pequeno toque (que existiu, tal como no Sporting - Porto) e Godinho ao ver as imagens decide exatamente ao contrário que havia decidido no Sporting - Porto (afinal o pequeno toque desta vez contou). E assim se perdiam 2 pontos, mas ganhava um slogan, uma ideia, uma ambição. A partir daqui para onde foi um foram todos, numa viagem que só acabou no Marquês (e em tantas outras praças e ruas deste país e de muitos outros!).

O segundo lance nada tem a ver com este, até porque a bola nem chegou a entrar na baliza. Ocorreu já passado quase meio campeonato no Estádio do Dragão, num jogo em que o Porto precisava desesperadamente de ganhar. Depois de uma primeira parte morna, o Porto entrou com tudo na segunda parte e parecia estar a 'encostar o Sporting às cordas'. Até que aos 73 minutos o Matheus Nunes desata a correr de baliza a baliza e falha por centímetros um golo que seria penalização excessiva para um Porto perdulário. Não sabemos se foi pelo susto de uns ou pela confiança de outros, mas a verdade é que a partir daí houve mais uma clara oportunidade para o Porto (logo no minuto seguinte) e o jogo voltou à temperatura da primeira parte. Depois deste empate já só o Amorim conseguia pensar jogo a jogo!

Mas as coisas não haveriam de ser assim tão fáceis (o Amorim tinha razão em pensar jogo a jogo). Depois de vários jogos ganhos no limite, lá veio um em que o limite se virou ao contrário e acabámos empatados no último minuto. Como seria previsível a equipa tremeu e chegou a Faro a um mês do fim do campeonato a jogar contra uma equipa que desesperava por pontos. Quem achou que o Sporting sofreu para sair a ganhar ao intervalo mal podia imaginar o que seria a segunda parte, com o Farense a entrar muito forte. Aos 53 minutos Pedro Henrique isola-se e, num bom movimento técnico, tem um penalty em movimento a que Adán responde com uma defesa tão fabulosa como decisiva. Ainda houve mais oportunidades de parte a parte, mas este lance sem dúvida que deu muita alma ao Sporting, que assentou defensivamente e arrancou a ferros o muito necessário regresso às vitórias.

Haverão certamente muitos outros momentos importantes mas espero que recordar estes ajude a reforçar ainda mais o sorriso que persiste na cara dos Campeões de verde e branco!

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Não havia necessidade

Tinha afirmado que não perderíamos o campeonato antes do seu final, não imaginando, no entanto, que o pudéssemos ganhar. Ora, a expetativa não era a de burocraticamente ver mais dois jogos, com o Rúben Amorim a fazer deles a pré-época que ainda não começou. Um deles era contra o Benfica e existe sempre a expetativa sobre quem vence a taça da segunda circular [quantas e quantas épocas não nos limitámos a disputar com denodo esse magnífico troféu à falta de melhor!]. Entre os sportinguistas havia uma grande discussão entre os que preferem ganhar campeonatos sem qualquer derrota e outros que tantos se lhes dá desde que sejam campeões. Entre os benfiquistas a expetativa era grande dada a possibilidade de virem a fazer a melhor segunda volta de todas as equipas do campeonato, troféu também muito cobiçado, logo a seguir ao da segunda circular. 

O jogo não defraudou as expetativas [há anos que não recorria ao verbo defraudar e sinto que a semântica de algumas destas crónicas ficou empobrecida]. Assistiu-se a um belíssimo solteiros contra casados ou vice-versa com um resultado escasso, muito escasso. Como verificámos este fim-de-semana, marcar golos no hóquei em patins constitui tarefa bem mais árdua, sendo a baliza das pequenitas com um guarda-redes metido lá dentro de cócoras. Dois ataques e três corridas depois de se iniciar e o jogo estava partido. Ninguém marcava ninguém e o Cebolinha parecia o Chalana e o Pizzi o Bruno Fernandes. Meia-hora de jogo e estávamos a perder por três a zero. Nada que angustiasse o Pedro Gonçalves que antes de acabar a primeira parte ainda teve oportunidade de fazer mais um passe para a baliza e marcar mais um golo, só para chatear o Seferovic, que estava com a mania de que era avançado e marcava mais golos do que os outros.

Na segunda parte, o Rúben Amorim tentou levar o jogo um pouco mais a sério, tirando o João Pereira e o Daniel Bragança, metendo o Palhinha e o João Mário e colocando o Matheus Nunes a lateral direito. Para que não houvesse dúvidas que não estávamos a levar o jogo completamente a sério, oferecemos o quarto golo, com o Matheus Nunes a enganchar uma perna numa perna do Grimaldo, a fazer “penalty” e o Seferovic a marcar com toda a fossanga. Quem não gostou nada desta situação foi o Pedro Gonçalves que desatou a jogar como se não houvesse amanhã. Primeiro atirou ao poste, depois fez o passe ao segundo poste para o Paulinho meter dentro e o Nuno Santos marcar e acabou por marcar o terceiro golo de “penalty”, como o Seferovic, com a vantagem de ter sido sobre ele a falta. Nos últimos minutos o Rúben Amorim ainda fez de conta que queríamos dar mesmo a volta ao jogo, colocando o Coates na frente, a ponta-de-lança [quando todos sabemos que o Paulinho chega e sobra para as encomendas]. No fundo, no fundo, o que ele queria, o que todos queríamos era ir ver o hóquei em patins, onde havia um título, um título a sério para ganhar. 

O meu amigo Júlio Pereira tem uma visão mais conspirativa deste jogo. Depois de estar a ganhar por quatro a um, se empatássemos, o Jorge Jesus não se aguentava para a próxima época e todos sabemos que o Benfica precisa muito de gastar mais uns cem milhões de euros para preparar convenientemente a pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Não me interessa tanto a razão deste jogo mas a sua oportunidade. O título estava ganho, havia o hóquei, qual era a necessidade? 

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Entre o acontecer e o não acontecer

Na terça-feira, jogava-se o jogo pelo qual esperava há dezanove anos. Em bom rigor, só no final sabia [e soube] que era o que esperava. Durante estes anos, outros jogos houve que podiam ser como este, o jogo por que tanto esperava. Não eram ou acabaram por não ser porque acontecia Sporting. Sporting também é nome próprio de qualquer acontecimento natural ou sobrenatural desde que disponha de duas características relacionáveis: elevada improbabilidade e impacto profundamente negativo no Sporting como equipa ou clube de futebol. Há vários exemplos: o falhanço a um par de metros da linha de baliza do Bryan Ruiz na época de 2015/16, a falta do Luisão sobre o Ricardo na época de 2004/05 ou o golo marcado com a mão pelo Ronny – jogador do Paços de Ferreira – na época de 2006/07. 

Um sportinguista experimentado pressente quando pode acontecer Sporting e na terça-feira os sinais não deixavam margem para grandes dúvidas. Os sinais começaram cedo, logo na primeira parte. Pressão alta, Feddal a antecipar e a ganhar a bola, Nuno Santos a partir à desfilada com ela até a chutar, de longe, contra o poste. Canto do lado esquerdo, centro do Nuno Mendes e cabeceamento ao lado do Paulinho. Pedro Porro a respeitar a desmarcação do Pedro Gonçalves e a meter-lhe a bola para ele pressionado rematar fraco, fraquinho, acabando a passar ao guarda-redes. Jogada do lado esquerdo do Pedro Porro que vai metendo para dentro, à procura do melhor momento para rematar, até o conseguir e a bola embater num defesa e deixar o João Mário completamente isolado que remata ao lado. Nuno Santos e Nuno Mendes engendram um ataque pelo lado esquerdo com o segundo a rematar à barra. Outro canto do lado esquerdo, novo centro do Nuno Mendes e Gonçalo Inácio a entrar ao primeiro poste e a cabecear ao lado. 

Subitamente um sinal contraditório: Feddal a lançar comprido para o João Mário que avança, flete para o meio, dá de caras com dois adversários, rodopia para o lado contrário e mete a bola no Nuno Santos que, isolado do lado esquerdo, a centra para o meio onde estava o Paulinho a encostá-la com a canela para a baliza. Um pouco mais tarde, novo sinal: jogada do Boavista pelo lado esquerdo do ataque, centro rasteiro para a entrada da pequena área, remate de primeira de um avançado para o lado direito do Adán quando este se deslocava para o seu lado esquerdo e defesa instintiva com a mão. Talvez não fosse acontecer Sporting, talvez!

No início da segunda parte, os sinais de que ia acontecer Sporting voltaram com maior intensidade ainda. Excelente tabelinha entre o Nuno Mendes e o Paulinho com este a acertar com a bola no guarda-redes na marcação de uma “penalty” em corrida. Bola metida pelo Pedro Gonçalves para magnífica desmarcação do Paulinho que demora tanto, mas tanto a tentar dominar a bola com o pé direito para a passar para o pé esquerdo que acaba por a rematar contra as pernas de um defesa. Nova jogada do Pedro Gonçalves pelo lado esquerdo, centro para a pequena área e o Paulinho a meio metro da baliza a acertar de raspão com a cabeça na bola e a fazê-la passar ao lado. Desmarcação do Pedro Gonçalves para as costas da defesa, passe perfeito do João Mário e remate ao poste. Nova desmarcação e novo “penalty” em corrida marcado pelo Paulinho, agora por cima da baliza. Paulinho, sempre o Paulinho a procurar que acontecesse Sporting. Tão pouco tempo no clube e já uma elevada compreensão do destino, do seu destino. 

A equipa estava a jogar bem e o Rúben Amorim hesitava e não fazia substituições, quando havia jogadores que não podiam com uma gata pelo rabo. Faltava que os jogadores do Boavista fizessem o que era suposto fazer para que acontecesse Sporting. Os minutos foram passando e nada, não havia maneira de acontecer Sporting. Pela minha cabeça ia passando o pior: o golo do Boavista, a derrota contra o Benfica e um último jogo contra o Marítimo a fazer reviver velhos fantasmas. O jogo acabou e não aconteceu Sporting. Será que não aconteceu Sporting ou não aconteceu de todo? Somos campeões? 

quarta-feira, 12 de maio de 2021

domingo, 9 de maio de 2021

Súbita urgência

 

Estranho: são cerca de dezanove horas e trinta e tal minutos do dia nove de Maio de dois e vinte e um. É domingo. O Sporting joga na próxima terça-feira por volta do jantar. Antes de terça-feira, bem o sabemos, é segunda-feira, e joga o Porto com o Farense. Consta por aí que cheira a festa. Nunca se sabe. É jogo a jogo. Estranho, digo eu, ainda não saiu mais nenhum castigo para o Rúben Amorim: nem uma multa por estacionamento proibido junto ao banco de suplentes durante um treino? Nada sobre um potencial casaco mal abotoado? Um olhar percorrendo um beco sem saída? Vou ver as notícias, de certeza que há por aí qualquer coisa.

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Acabar com este martírio

Não estou preparado para isto, isto de ganhar campeonatos [escrevo “ganhar” e penso se não seria mais adequado recorrer a expressão mais neutra, como “disputar”]. As últimas semanas tornaram-se num martírio. Sofri a bom a sofrer nos três empates quase seguidos, com o Moreirense, o Famalicão e a B-SAD, e desisti, não vendo o jogo contra o Braga. Ganhei coragem e regressei contra o Nacional. Aguentei a primeira parte e desisti também. Contra o Rio Ave nem tentei, nem um “zapping” para amostra. Acabado jogo e conhecido o resultado, ouço o Joaquim Rita afirmar: “O Sporting teve uma entrada leonina!”

Quando se ouve uma afirmação como esta fica-se com enorme curiosidade. Ontem, fui à procura da gravação do jogo e vi-o. Não, não é a mesma coisa que ver em direto. É um género de massa com frango do dia anterior aquecida no micro-ondas. Não estamos a jogar também, estamos a ver sabendo como tudo acaba [e acaba bem]. Não vale a pena mudar de canto do sofá ou trocar uma camisola puída do campeonato 1999/2000 por uma outra não menos puída do campeonato 2001/2002. É ver e burocraticamente tomar umas notas mentais para não menos burocraticamente escrever este “post” como mais uma página de um diário de bordo. 

Se as entradas do Sporting são leoninas por definição, desta vez também o foram por ação. Até ao primeiro golo, foi um massacre. As oportunidades sucediam-se aos pares, cada remate originava uma recarga, e no meio desta avalanche, de defesas improváveis e de bolas nos postes, o Rio Ave ia-se safando como podia. A equipa pareceu mais solta e mais dinâmica no ataque [até cansa de ver jogar o Pedro Gonçalves], pressionando bem na frente e deixando o adversário com poucas alternativas que não fosse a de se ver livre da bola para onde estava virado. Um a zero ao intervalo foi pouco, muito pouco. 

Na segunda parte, o Rio Ave resolveu fazer pela vida, colocando o nosso Mané [salvo seja] na frente e o nosso Coentrão [salvo seja também] mais atrás, do lado esquerdo, a fazer os lançamentos. Nós entrámos desconfiados, hesitantes e mais recuados, dando a iniciativa de jogo. Do lado direito da defesa, com o João Pereira sob pressão, temia-se o pior. O Rúben Amorim acordou para a vida, tirou o Nuno Santos [que saiu com cara de pouco amigos] e meteu o Matheus Nunes a fechar o lado direito do meio campo. Passado uns minutos, na sequência de um livre no nosso meio campo e de mais uma tentativa de desmarcação do Pedro Gonçalves nas costas da defesa, a bola é aliviada para a entrada da área, o Paulinho domina-a no peito, coloca-a no chão, enfia-lhe uma pantufada com o peito do pé, não dando quaisquer hipóteses de defesa ao guarda-redes [um golo à Ronaldo ainda antes de chegar o Ronaldo]. O resto do jogo foi o cumprimento da necessária formalidade de se jogar noventa minutos. O Rio Ave nem próximo esteve de criar uma oportunidade e nós, por isto ou por aquilo, acabámos por não concluir devidamente uns tantos contragolpes. 

Entretanto, o Benfica empatou-se e, ao empatar-se, empatou o Porto também. Estamos a dois pontos da vitória no campeonato, quando faltam três jornadas. Como é que foi possível chegar até aqui? Como é que isto se tornou sério e a sério? É importante acabar com isto [isto é aquilo que referi inicialmente] e quanto mais depressa melhor, para cada um voltar à sua vida, sem ansiedades, voltando a ver jogos sem a pressão de ter de os ganhar e a dizer mal dos jogadores e dos treinadores. 

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Vai ser um trinta-e-um?

 

Já foi. Ontem o Sporting cumpriu trinta e um jogos seguidos no campeonato sem perder. Noutros espaços clubísticos seria um acontecimento estratosférico digno apenas de deuses do Olimpo; mas como se trata de um grupo de jogadores jovens (até o João Pereira rejuvenesceu) dirigidos por um treinador pouco graduado (mas muito perseguido e que quando sair para outras latitudes será genial), tudo não passará de um momento (longuíssimo, diríamos), de estrelinha (uma constelação!), de um paio do lombo em constante gestação.

A questão da desmontagem da equipa do Sporting continua o seu curso. Miguel Cardoso mostrou mais uma vez como é fácil desmontar a equipa do Sporting sem a (conseguir) contrariar. A teoria do puzzle (que acabamos agora mesmo de inventar) demonstra como é simples desmontar um puzzle de 2000 peças (por exemplo), e depois arrancar os cabelos e algumas das unhas dos pés no desespero de não o conseguir montar, mesmo contrariado.

A desmontagem de uma equipa não é nunca acompanhada de uma folha de instruções adaptável a cada situação, e sendo o futebol um jogo em que as peças se movem sozinhas, ao contrário das damas, ou mesmo do dominó, podemos sempre ser surpreendidos pela forma como a equipa previamente desmontada joga. Foi isso que ontem aconteceu em catadupa durante a primeira parte de um jogo que, aos quinze minutos, poderia ser de confortável vantagem para a equipa constantemente desmontada.

Desconfiados, os jogadores da equipa da casa (uma equipa que normalmente tenta jogar futebol), não percebiam porque raio o campo estava tão pequeno, já que os jogadores da equipa previamente desmontada apareciam sempre em cima do acontecimento. Estariam a jogar em vantagem numérica? Seria aquilo a tal intensidade? Resultaria apenas de uma vontade indómita? Treinar-se-á o acreditar? Vários jogadores da equipa de casa (que gostam de jogar futebol) já se escreveram em cursos de coaching e psicologia positiva, esperando-se um verão de estudo intenso. Ao intervalo o resultado era lisonjeiro para os estudiosos perplexos da equipa da casa.

No segundo tempo, Cardoso, após desmontar a equipa adversária, desmonta também a sua, e volta a montá-la com uma peça fora do puzzle: Mané. Amorim, sem dúvida inspirado pela visionária acção do oponente, rapidamente montou algumas das peças desmontadas, valendo-se de um novo carburador: Matheus Nunes. Foi com a naturalidade dos audazes que o Sporting chegou ao dois-a-zero pelo Paulinho. Um grande golo que ele já merecia, sendo a par de Palhinha (voltou a encher o tal campo aparentemente pequeno) e de Coates, os grandes protagonistas da noite, sem exclusão de nenhum dos outros. O Sporting não tem estrelinhas, mas lá que parece uma constelação, parece.

terça-feira, 4 de maio de 2021

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Maus do pior e filmes a preto e branco

Nos tempos gloriosos da televisão a preto e branco, vi filmes atrás de filmes com o James Cagney a fazer papel do pior dos maus [tenho memórias mais presentes do que do Humphrey Bogart, por exemplo]. Depois do jogo do Porto contra o Moreirense, vieram-me à memória esses filmes e esse ator. Não, nada disso que estão a pensar, não existem semelhanças, nas histórias ou nas representações. Vieram-me à memória os tempos dos filmes a preto e branco, tão-só. 

Se assim vieram, assim se foram as memórias e acabei por me mobilizar para ver o jogo contra o Nacional. Ao intervalo, os jogadores do Nacional já tinham cerca de vinte faltas para um só amarelo, dois deles deviam ter sido expulsos [um por agressão ao Daniel Bragança e outro por entrada a pé juntos sobre o Nuno Santos] e deviam ter sido marcados dois “penalties”. Não, não estava nada à espera de voltar a recordar-me de James Cagney e de filmes de mauzões.

Procurando manter a sanidade mental, deixei de ver o jogo ao intervalo. No final, vi o resumo e as conferências de imprensa do Rúben Amorim e do Manuel Machado. Os jogadores do Nacional ainda conseguiram fazer mais uma dezena de faltas e terá ficado mais um “penalty” por marcar, após agarrarem o Coates como é prática corrente, jogo após jogo. Mesmo assim ganhámos, valendo-nos o Jovane Cabral desta vez e o habitual onde vai um vão todos a partir dos oitenta minutos. 

Voltei a lembrar-me dos filmes a preto e branco quando ouvi o Manuel Machado: sim, segundo ele, os do Nacional são filhos de um Deus menor. Gosto de maus mesmo maus, como o James Cagney, maus que não se queixam, que não se desculpam com os outros, que não são sonsos, que fazem maldades e se orgulham das maldades que fazem, simplesmente. Contra o Rio Ave vão continuar os filmes a preto e branco e os maus, mas uns maus tão maus a ser maus que resta saber se a culpa ainda não vai ser nossa, para não variar.   

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Normal anormalidade ou anormal normalidade?

Não vi o jogo contra o Braga. Não vi porque não quis ver. Não ando bem-disposto e o futebol ainda mais mal disposto me deixa. Artur Soares Dias, o homem que impediu a vitória contra o Famalicão após ter vislumbrado pela televisão um ligeiro roçagar do braço do Coates num borboto da camisola do guarda-redes, era uma garantia de que mais bem-disposto não ficaria. Estava enganado, o homem trocou-nos as voltas e ao trocá-las trocou-as ainda mais aos do Braga, foi assim que entendi a conferência de imprensa de Carlos Carvalhal.  

O Braga estava a jogar belissimamente nos primeiros vinte minutos, quando estavam onze contra onze, com oportunidades atrás de oportunidades. Vem Artur Soares Dias e zás, expulsa o Gonçalo Inácio, e quebra a hegemonia até então do Braga. Viam-se os jogadores do Braga a gesticular e a apontar para outro jogador como responsável pela falta, incrédulos, sem nenhuma vontade de ver expulso o Gonçalo Inácio e de jogar contra dez quase oitenta minutos. Como nos explicou o treinador do Braga, jogar contra o 5x4 ou o 5x4x0 do Sporting não é para qualquer um: é preciso andar com a bola de trás para a frente e de frente para trás, rodear a defesa, jogar entrelinhas e mais outras coisas igualmente difíceis.

Foi difícil, muito difícil para o Braga, que só conseguiu criar dez oportunidades de golo, segundo Carlos Carvalhal, muito aquém do potencial da equipa quando joga contra onze e não contra dez, deduz-se. Era também a isto que se referia Pinto da Costa a propósito da normalidade e da sua relação com a previsível vitória do Porto no campeonato. Em condições normais, onze contra onze, o Braga teria ganhado ou não fosse a equipa que melhor joga em Portugal. Em condições anormais, a vantagem é desvantagem, onze parecem dez e dez parecem onze, e tudo se inverte, tudo fica de pernas para o ar, como é característica da anormalidade. 

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Até ao fim

O Sporting corre o risco de não ganhar o campeonato, foi o que mais ouvi e li ontem e hoje, depois do empate contra a B-SAD [uma equipa de futebol sem adeptos com nome de laranjada]. Nos últimos jogos, a equipa apresenta um jogo empastelado, com muita troca de bola atrás e no meio e pouca capacidade de gerar desequilíbrios ofensivos, diz-se também. Onde é que está a novidade? A novidade é que corremos o risco de perder o campeonato em maio na pior das hipóteses. Essa é a novidade, pois o que estamos habituados é a correr o risco de o perder e a perdê-lo muito antes, muitas vezes antes de se iniciar. Quanto ao estilo de jogo, o que mudou é que nos últimos quatro jogos sofremos quatro golos, uma média de um por jogo, abaixo do desempenho até então. No passado goleávamos por um a zero e agora um golo [ou dois, como ontem], não chega para ganhar.    

Ontem não começámos mal, bem pelo contrário, mas, primeiro tiro, primeiro melro, para a B-SAD. Biqueirada para a frente [para tirar a bola da zona de pressão, como dizem os atuais entendidos do futebolês nacional], bola ganha na lateral, Gonçalo Inácio não pressiona como deve, Palhinha distrai-se e não acompanha a desmarcação nas suas costas, Coates vem à dobra e a bola passa-lhe pelo meio das pernas [tendo as pernas praticamente fechadas], Matheus Reis chega tarde e não se consegue antecipar e um avançado limita-se a encostá-la para a baliza. Continuámos como se nada fosse e criámos um par de oportunidade [o Tiago Tomás tem de aprender a acertar na baliza mesmo quando remata de olhos fechados], com o João Mário a falhar um “penalty”, para colocar a cereja em cima do bolo da primeira parte.

Ao intervalo, sai o Tiago Tomás e entra o Nuno Santos, iniciando-se a segunda parte com mais velocidade e intensidade e mais um par de oportunidades falhadas, com o Palhinha voltar a ganhar de cabeça nas bolas paradas e a não marcar. Mas um azar nunca vem só e novo tiro, novo melro, para a B-SAD, agora com elevada nota artística do Adán, que foi assolado por quatro ideias ao mesmo tempo para se desfazer da bola e, depois de um curto-circuito nas sinapses, acabou por a deixar direitinha para um avançado a voltar a encostar para a baliza. Dois remates à nossa baliza e estávamos a perder por dois a zero. Há quem chame a isto eficácia, tendo a chamar-lhe galo, conceito que tem vindo a ser desenvolvido nas universidades mais prestigiadas do mundo. 

Perdido por cem, perdido por mil, entrámos no modo onde vai um, vão todos, com o Coates a ponta-de-lança, o Tabata e o Nuno Santos abertos nas alas, o Jovane um pouco mais atrás, o meio-campo entregue ao Bragança e ao Pedro Gonçalves e o Nuno Mendes e o Matheus Nunes transformados em centrais para melhor se transportar a bola para a frente. Atacando a toda a largura, o B-SAD teve de se ajustar e o congestionamento no centro foi-se desfazendo. Com mais linhas de passe, o transporte de bola passou a ser mais simples, o cerco apertou-se e a vontade, a crença fez o resto. De um péssimo resultado chegou-se a um mais ou menos, mantendo-se a invencibilidade, o melhor registo de sempre de um clube centenário. 

Este final de jogo abre uma esperança. No pior dos contextos, a perder por dois a zero, os jogadores não desistiram e evitaram males maiores. Não, não é para todos. Mas é preciso refletir e retirar ilações deste resultado e desta série de três empates em quatro jogos. É necessário perceber bem o papel desempenhado pelo Paulinho: ou é um avançado que recua em apoio e é necessário que alguém entre em profundidade ou, então, acaba por ser mais um jogador de meio-campo sem conseguir chegar à área em tempo oportuno [a solução talvez seja a de o colocar mais na frente, menos móvel e mais posicional]. As alas não podem ficar exclusivamente para os laterais pois, caso sejam bloqueados [o Pedro Porro não se consegue libertar sozinho das marcações, contrariamente ao Nuno Mendes], estamos condenados a congestionar a zona central e a não dispor de espaço. O Nuno Santos e o Tabata demonstraram que se pode contar com eles para dar mais largura ao ataque. O meio campo está muito estático: se se compreende o posicionamento do Palhinha, compreende-se menos que o segundo médio não se liberte mais para o ataque ou, de outra forma, está-se sempre em desvantagem a atacar. A defesa está a vacilar [o Matheus Reis não deixa de ser um lateral adaptado] e é necessária mais concentração. Estes são os palpites de um treinador de bancada. O Rúben Amorim é que sabe e tem demonstrado que sabe. Vai ser até ao fim, jogo a jogo, sendo certo que não venceremos nem perderemos o campeonato antes de ele acabar. 

domingo, 18 de abril de 2021

E se for falso negativo?

O distanciamento social é fundamental para quebrar cadeias de transmissão mas nem sempre é possível evitar o contacto e o risco de contágio no que respeita à seleção nacional. O Fernando Santos faz a convocatória, promove a requisição civil e não há remédio, os jogadores têm de ir e não há volta a dar. No regresso vêm com um vírus altamente transmissível: o empate. É um vírus especialmente peganhento e não há remédio nem vacina, é esperar e ver se passa, fazendo quarentena e testando, testando sempre. Os jogadores estão assintomáticos, parecem como sempre até serem testados, jogo atrás de jogo. Há duas semanas que davam positivo até que, na sexta-feira, contra o Farense, o teste deu negativo.  

O vírus pega-se mais depressa aos treinadores do que aos jogadores. Quando se começa a ver muitos jogadores no meio-campo, muita troca de bola para os lados e tentativas de meter este ou aquele jogador mesmo que não seja na sua posição natural, é o sinal, o sinal de que o treinador contraiu o vírus do empate. Se o Bragança está a jogar bem e o João Mário não está a jogar mal, então a solução é colocar os dois a jogar, mesmo que o segundo tenha de deixar a sua posição natural, no centro, um pouco à frente do Palhinha. Perde-se velocidade, verticalidade, acutilância para se ganhar posse de bola e maior proteção da defesa, o clássico modelo de jogo do Fernando Santos. Há quem diga que se passou do 3x4x3 para o 3x5x2, com o Pedro Gonçalves a jogar mais no meio. Nos jogos, vejo o João Mário mais numa ala, na ala esquerda, só que uma coisa é o João Mário outra, bem diferente, é o Nuno Santos. Os laterais encontram-se entregues à sua sorte (ou azar) e a capacidade de pressionar alto e de surpreender o adversário reduz-se.

Este jogo não foi um bom teste para confirmar este diagnóstico. O Farense enfiava biqueiradas atrás de biqueiradas para a frente e pressionava, procurando ganhar a primeira ou a segunda bola como se não houvesse amanhã. Num campo onde se espera ver jogar um Merlin ou um Cavinato, esta tática (?) faz andar a bola aos trambolhões, aos trancos e barrancos. O ressalto, a confusão e a trapalhice constituem o novo normal e os lances de perigo resultam de acasos, de bola paradas, de um ou outro contra-ataque. Esta tática e a dimensão do campo dificultam a análise e ninguém consegue dizer quem jogou melhor, quem mereceu ganhar, admitindo que o resultado não bastasse.  

O jogo decide-se sempre pelos golos que se marcam e não se sofrem e, assim, o Sporting mereceu ganhar porque, bem, porque ganhou. Relativamente aos dois últimos jogos, que empatámos, concedemos mais oportunidades de golo ao adversário e valeu-nos o Adán, que fez uma ótima exibição. Mas tivemos mais oportunidades de golo e o Beto, guarda-redes do Farense, fez melhor. Há duas defesas completamente impossíveis, após cabeceamento do Coates e de remate enquadrado do Paulinho com a baliza completamente aberta à sua frente. Destas, das que parecem golos cantados, o Adán fez uma só [fez mais umas tantas mas os jogadores do Farense estavam em fora-de-jogo, não contando para as estatísticas]. Se o melhor em campo é o jogador que mais influenciou o resultado, então prémio devia ter sido atribuído ao Beto e não o Adán [embora continue a merecer uma estátua].

“E se for falso negativo?”, é a pergunta que fazemos. É que o Rúben Amorim está de quarentena, na bancada, a ver os jogos enquanto combina as compras da semana e trata de outras miudezas do seu dia-a-dia. Segundo o Conselho de Disciplina, os sintomas, os verdadeiros sintomas não são os empates mas os palavrões. Num clube de aristocratas, de croquetes, como se costuma dizer, que não ganha o campeonato há um ror de tempo, o empate não é, nunca pode ser sintoma de doença, nem da doença dos empates. Melhorámos com um treinador sem estes sintomas no banco, embora preferisse o Emanuel Ferro, um nome mais sólido, num momento em que todos tremem.  

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Frase do dia

 Cheira-me que o Amorim ainda vai dentro antes do Sócrates.

(Anónimo - algures numa esplanada de Braga)

quarta-feira, 14 de abril de 2021

Falsas mudanças que escondem o que nunca muda

Acabado o jogo do último domingo, a neura era muita e nada melhor do que ver um filme de pancadaria e sangue, muito sangue. Vi John Wick. A neura era tanta que vi o segundo e terceiro capítulo desta saga [não vi o primeiro mas foi como se tivesse visto]. Há uma organização internacional do crime organizado, chamada Conselho Superior, que dispõe de uma rede de hotéis, os Hotéis Continental. Podem-se fazer maldades em tudo o que é canto e esquina, menos nesses hotéis, onde todos se têm de portar como senhores. O Keanu Reeves é o protagonista e, por boas e más razões, vinganças e traições a que seguem novas vinganças a traições, mata que se farta, mata mais do que um Arnold Schwarzenegger ou um Sylvester Stallone. Há sempre uma moral, a moral da história, por muito maus que sejam os maus e por muito organizados que estejam há sempre um bom que deixa os maus em mau estado, a pensar duas vezes antes de voltarem a ser maus. É uma excelente reprodução da realidade do futebol português se se admitir que o Rúben Amorim é o bom, a encarnação do Keanu Reeves. Admito-o e assim me reconcilio com a equipa e o treinador e me redimo das dúvidas que me assolaram. 

Vamos ao jogo. Mal se inicia e logo árbitro faz questão de demonstrar ao que vinha [este árbitro foi o que viu um penalty contra nós no jogo com o Belenenses que ninguém viu e, mesmo não vendo, o VAR também fez que viu]. Uma falta sobre o Paulinho, não assinalada, acaba numa falta do Palhinha, como tantas outras que ocorreram durante o jogo, e no primeiro amarelo. Uma entrada de leão, não fôssemos nós os leões [uma entrada a pé juntos talvez seja mais apropriada para a qualificar]. Estávamos a fazer o jogo do engonha do costume quando, numa pressão alta, o Pedro Gonçalves recupera a bola, desmarca o Paulinho, que a devolve para este a empurrar com a baliza aberta. Parecia que o mais difícil estava feito, mas não estava: na jogada seguinte, numa bica para a frente, o Pedro Porro salta mal, deixa passar a bola para um ciclista do Famalicão, que se desmarca pelo lado esquerdo do ataque [o Pedro Porro recupera em parte mas não faz a falta que se impunha], centra para o meio onde aparece outro jogador a fazer-se ao “penalty”, hesitando o Coates e o Feddal, perante tal aparato, e permitindo o remate para o empate de outro avançado. A nossa primeira parte acabou naquele momento. 

Ao intervalo, o Rúben Amorim tira o Palhinha e o Feddal e mete o Bragança e o Matheus Reis. Compreendem-se bem as substituições. Depois do amarelo, o Palhinha ficou sem saber bem o que fazer à vida, com um olho na bola e nos adversários e outro no árbitro, e o Feddal, aos tremeliques, não dava grande segurança, especialmente nas subidas do Nuno Mendes. O Sporting passou a jogar mais e as oportunidades foram aparecendo, sendo a mais escandalosa a do Tiago Tomás que, cara-a-cara com o guarda-redes, demorou tanto, mas tanto a ajeitar a bola que rematou contra as canelas de um central que apareceu em modo de desespero. Não satisfeito, o Rúben Amorim tira o João Mario e mete o Jovane Cabral. Percebe-se a intenção mas num primeiro momento, o Sporting perde o controlo de jogo e a posse da bola. Não satisfeito ainda, com o Neto a ameaçar barracada mais minuto menos minuto, tira-o e mete o Eduardo Quarema. Os últimos minutos foram um verdadeiro massacre mas a falta de jeito no momento certo e um “penalty” por marcar deixaram tudo na mesma. 

A melhor explicação para o jogo veio a seguir. Na Sporttv, um individuo, a fazer de juiz da relação ou do supremo, volta a analisar os lances críticos de arbitragem. Foi falta sobre o Paulinho mas também foi bem mostrado o amarelo ao Palhinha. No golo, o jogador do Famalicão não simula a falta, não se faz ao penalty, tropeça em si próprio. Esse mesmo jogador não se volta a fazer ao penalty e o volta-se a dizer que não senhora, que não foi penalty do Coates, sem desta vez se esclarecer se tinha voltado a tropeçar em si próprio. No falhanço do Tiago Tomás o defesa não o derruba a seguir, é o próprio Tiago Tomás que embate contra ele. O Jovane Cabral caiu mas não tropeçou em si próprio, foi na disputa da bola entre dois jogadores, sem que o defesa não se tenha limitado a meter o braço e a empurrá-lo. O Jovane Cabral escorregou e ele e o defesa caíram um sobre o outro, como se fosse essa a sequência, e não tivesse caído primeiro um e ao levantar-se tenha levado com o outro e voltado a cair. 

Como é possível descrever o que as imagens não evidenciam, inventando? Não, não estou a criticar a análise, estou simplesmente a dizer que se faz a análise não através das imagens mas de simples exercício de imaginação. É assim que também funciona o VAR? Vamos dizer as coisas como elas são, como se passaram. O amarelo ao Palhinha é mal mostrado. O golo do Famalicão devia ter sido anulado e o jogador levado amarelo. Mais tarde, esse mesmo jogador devia ter levado segundo amarelo. Ficou por marcar um “penalty” a favor do Sporting.

Há quem diga que a tática mudou nos últimos jogos, que passámos de um 3x4x3 para um 3x5x2, mas não me parece que assim seja. Mudaram-se os posicionamentos relativos dos jogadores e o que mudou, o que verdadeiramente mudou, foi que empatámos esses dois jogos. Houve árbitro e isso, sim, é que nunca muda. É a isto que os sportinguistas que sofrem do Síndrome de Estocolmo chamam pôr-se a jeito?

terça-feira, 13 de abril de 2021

Onde vai um vão todos e logo se vê

 

O jogo foi apenas no domingo, mas já tudo me parece longínquo. O fluxo interminável do pós-match, ou seja, do efémero, cheio de narrativas, “análise”, vídeos, conversas (agora apenas) de esplanada, notícias falsas, é tão intenso e de desgaste fácil (embora contínuo) que após alguns dias deixa simplesmente de existir, sendo substituído por um sucedâneo do jogo (de quem ninguém realmente se recorda). Acontece o mesmo com a política e com quase tudo que nos rodeia: é uma enganadora vista área, distorcida e sem qualquer síntese.

Na verdade, no dia do jogo e no dia seguinte não conseguia escrever nada. Nada de jeito, com a elevação e o sentido de humor necessários ao seguidor intrépido do Sporting. Sentia-me desiludido, sobretudo, desiludido comigo, por estar desiludido. Ora estar desiludido quando estamos rodeados de uma vista aérea enganadora pode revelar-se fatal. Para o jornal O Jogo tinha ocorrido um despiste, e já era o segundo, do Sporting, o primeiro havia sido contra o Moreirense. Um despiste quer dizer, um desgoverno, uma desorientação, isto tudo com um empate. O jornal A Bola sentia o leão a tremer, tendo-se esquecido de qualquer analogia brincalhona com varas verdes. Os exemplos são vários e todos tentam alimentar a narrativa da queda. A queda aqui é apenas um desejo projectado, mas que poderá  ter repercussões no clube e nos adeptos. Senão vejamos:

A última teoria conspirativa diz-nos que o despiste, aqui lido como derrapagem, terá começado com a vinda do Paulinho para o Sporting. Esta teoria segue vários caminhos: o do dinheiro que o jogador ganha e que terá consternado os outros; ou a da mudança da forma de jogar, ao que não será alheia a mutação do 3x4x3 em 3x5x2, e a perda de importância de alguns jogadores, por exemplo o Nuno Santos. Esta teoria é exterior ao Sporting mas acolhe seguidores entre os seus adeptos. Aponta baterias ao balneário e à união da equipa. E pode vingar.

A minha teoria é mais prosaica. Mais ou menos contemporânea à vinda de Paulinho está o grito do ipiranga de Pinto da Costa, o famoso: basta! Tudo isto é também mais ou menos coincidente com as movimentações para o lado da luz, movimentações que culminariam com uma série de entrevistas de Viera, ainda sem luz ao fundo do túnel. E esta união de esforços não se chama Paulinho, mas dinheirinho da champions (o Braguinha que o diga) e a ocupação natural do espaço do poleiro (as contas estão feitas para dois).

Quando, no passado domingo, o Palhinha leva cartão, não se tratava apenas de um amarelo como condicionante para o jogo, tratava-se de uma condicionante para o pós- jogo, porque ninguém sabe como irá acabar esta história dos cartões. Entretanto, o Sporting, supostamente, a tremer, despistava-se com um empate. A nova linguagem do jogo estendia-se assim como mensagem aos Sportinguistas: já estais a derrapar. É inexorável. A sério? Quem olha para cima? Os outros, os que olham para cima têm margem para falhar? É claro que nada disto se colocaria se tivéssemos marcado no final do jogo pelo Jovane. Aí a narrativa mudaria para estrelinha.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Esmiuçar

Parece que estou a ver alguém no VAR a ter um pressentimento: sinto que há ali qualquer coisa. Esse sentimento vago ou instintivo, que precede a comunicação do VAR, é algo absolutamente novo e, como uma defesa por instinto em que antes da bola partir o guarda redes se projeta, aqui a projecção imagética antecede o próprio lance. Depois, a régua e a esquadro digitais, traçando linhas e fantasiando esquadrias, recorrendo a sinais de satélite, consegue descortinar algo oculto ao olho humano (e indisponível nas imagens da TV), cerca de dois centímetros de perna pé desalinhados do movimento do mundo da bola. A isto chama-se esmiuçar (já tinha falado nisso aqui) e esmiuçar é: esfarelar, esmigalhar, esquadrinhar, deslindar com minúcia. Desta demanda decorreram os largos minutos de pausa que nos foram presenteados.

Mas a minúcia, e o seu deslindar, dariam pano para outras mangas. No caso do Nuno Mendes, ninguém conseguiu antecipar a ceifada que quase lhe arrancava um pé. Nem sequer no decorrer do lance ou após o mesmo (vá lá, sempre foi falta), não se conseguiu descortinar nada de grave. E o jogador acabou por sair de campo por gostar de ver parte do jogo da bancada acoplado a um saco de gelo, mas sem whisky por perto.

Não se pode dizer a um cérebro como o meu para deixar estas coisas todas de lado. Não (me) basta termos dominado o jogo e termos suficientes oportunidades para marcar e ir ver umas séries espanholas sobre putedo e violência; não me interessa se gerimos bem ou mal o jogo, conforme dá na telha do comentador de serviço; interessa-me o condicionamento e o escrutínio que é feito ao Sporting, antes, durante, e depois do(s) jogo(s). Tudo é esmiuçado para ver se sangra e se entra água por uma qualquer brecha invisível, ou se nos espetamos contra uma parede de betão armado. Talvez seja sinal de que estamos vivos e que, afinal, até somos temidos. Mas lá que cansa, cansa.


terça-feira, 6 de abril de 2021

Por dois centímetros ou como um sportinguista é uma lealdade à espera de uma causa

O jogo caminhava para o seu final e a minha cabeça era um vazio. Jogo controlado do primeiro ao último minuto. Oportunidades de golo o quanto baste para ganhar por mais do que um. Oportunidades para o adversário poucas ou nenhumas. Aparentemente mais um jogo sem história, sem entusiasmos, mas também sem depressões. E chega o minuto noventa: cruzamento mal-amanhado de um jogador do Moreirense, corte ainda mais mal-amanhado do Feddal, bola a respigar para um avançado do lado direito do ataque, que, fora da área, remata colocado ao segundo poste e faz o empate. Há minha frente abre-se um admirável mundo novo, novo pela novidade desta época, mas tão antigo como o sportinguismo. 

O Rúben Amorim deixou de ser o Rúben Amorim e passou a mais um fantasma, como o Paulo Bento, o Leonardo Jardim, o Mirko Jozic ou o Bobby Robson. Há diferenças: se fosse com o Paulo Bento, o golo do empate também surgiria no último minuto mas seria autogolo do Polga, do saudoso Anderson Polga, ou marcado com a mão. O enredo, a trama não foi diferente, um árbitro a apitar de costas e a acertar e a errar como se estivesse a decidir por moeda ao ar. Ninguém estranhou que houvesse tantos cartões amarelos para os jogadores do Sporting quantos para os do Moreirense: com as regras do Moreirense os dois cartões amarelos foram bem mostrados e com as regras do Sporting os dois cartões foram bem mostrados também. Na falta violenta sobre Nuno Mendes, que o mandou para o estaleiro, os comentadores da Sporttv recorreram a semântica apropriada: “entrada vistosa sobre Nuno Mendes”, “entrada delicada sobre Nuno Mendes”. A síntese das duas afirmações é perfeita, descreve o lance com precisão: entrada delicada e vistosa. Sublinha a delicadeza, a cordialidade do jogador do Moreirense sem prejuízo da espetacularidade da sua ação. Delicadeza e espetáculo não rimam com cartão e assim se justifica a (não) decisão do árbitro. 

Os golos anulados ao Sporting têm história, têm sempre, não se estranha. As imagens aparecem sob um ângulo que nada esclarece. Depois, bem, depois aparecem linhas, linhas precisas, rigorosas. Passou a ser impossível um avançado encontrar-se em linha com o último defesa: com precisão ao centímetro, a probabilidade de tal acontecer é igual a zero. Dois centímetros num campo com cerca de cem metros de comprimento representam 0,02%. Talvez se perceba melhor a razão para a demorada análise do VAR: envolveu investigação do Laboratório Internacional de Nanotecnologia, sedeado em Braga. A imagem não tem cem metros de comprimento e, assim, os dois centímetros não correspondem a dois centímetros de imagem. A diferença aproxima-se de um nanómetro, qualquer coisa como dez levantado a menos sete de um centímetro, a diferença entre dois grãos de açúcar completamente iguais à vista desarmada. 

Recentemente, li “Cães maus não dançam”, de Arturo Pérez-Reverte. É uma alegoria, em que cães de luta representam uma rebelião como a de Spartacus contra a República Romana. Às páginas tantas, o narrador, um cruzado de mastim espanhol e cão-de-fila brasileiro, confessa que “um cão não é mais do que uma lealdade à espera de uma causa”. Um sportinguista não é coisa diferente. Deem uma ideia, um objetivo na vida, e irá aferrar-se com os caninos apertados. Tenaz até ao sacrifício e à morte. Com tomates. Aferra-se ao que vem remoendo. É claro que sabe que é possível que corra mal. Mas aquele é o plano e não há outro [versão adaptada]. 

domingo, 28 de março de 2021

Não basta parecer

Segundo consta, Diego Costa aguarda um parecer fiscal. Não se sabe se terá telefonado ao Cavani. Para a sua (hipotética) viagem de volta ao reino de Madrid, Cristiano Ronaldo aguarda um parecer fiscal, algo que não permita o esvoaçar de milhões, tendo em conta o sistema de tributação mais vantajoso em Itália. Não tarda nada, será necessário o quatro nível em economia para os jogadores assinarem um contrato e nós percebermos que o futebol se desenrola em paraísos cuja artificialidade não dominámos.

Entretanto, a seleção nacional ganhou ao Azerbaijão e empatou com a Sérvia, embora tenha marcado mais um golo. Aguardamos um parecer fiscal que permita a Fernando Santos treinar as ilhas Cayman e a Cristiano Ronaldo ganhar o prémio Sérgio Conceição (antes de rumar a Madrid). O calor do jogo assim o justifica.

segunda-feira, 22 de março de 2021

What a Wonderful World

Ontem, quando me sentei para escrever qualquer coisa sobre o Sporting x Guimarães, deu-me uma branca, nada me ocorreu. A felicidade não propicia estados de alma criativos. Lembrei-me de começar pelo Palhinha, considerado culpado por não pretender ser condenado sem antes lhe ter sido atribuída a culpa, após trânsito em julgado [a utilização da expressão do trânsito em julgado é bem reveladora desta falta de imaginação]. Lembrei-me da vontade do Paulo Sérgio em chegar a roupa ao pelo ao Sérgio Conceição, que esbracejava, vociferava, mas sempre com adequado distanciamento social, não fosse dar para o torto. Lembrei-me do árbitro desse Portimonense x Porto a deslocar-se ao túnel para pedir, pedir encarecidamente aos jogadores para voltar, pois ainda havia jogo para jogar. Não, nada do que me passou pela cabeça parecia ter grande interesse, depois de ter visto o que vi. 

Pensei em falar do jogo, diretamente, sem mais delongas. O jogo teve interesse. Nos últimos jogos, o Sporting parecia esgotado, sem ideias. A entrada do Daniel Bragança deixou o Tiago Tomás e o Pedro Gonçalves mais na frente e reforçou o meio-campo. Houve bola, muito mais bola no meio-campo adversário. Atrás, com o Gonçalo Inácio a fazer de Coates, a defesa não tremeu e iam-se alternando momentos de circulação da bola com passes mais diretos, verticais, em profundidade. As duas primeiras oportunidades desperdiçadas pelo Pedro Gonçalves resultaram de dois passes fenomenais do Gonçalo Inácio. Aconteceu o primeiro golo, resultado de uma jogada coletiva, que começa do lado direito, com o Porro, vem ao centro, para o Palhinha, vai à esquerda, ao Nuno Mendes, e concluiu-se com um passe perfeito do Pedro Gonçalves para a não menos perfeita desmarcação do Tiago Tomás. Bola fora, afirma o videoárbitro, perentório. Quando o Porro inicia a jogada, parece que a bola saiu pela lateral, parece. Também parece que a bola veio atrás, ao Palhinha, interrompendo-se o ataque, que só depois é retomado pelo lado contrário. Estou convencido que noutras paragens se haveria de encontrar uma narrativa, uma subalínea, uma interpretação de um documento em inglês da FIFA ou da UEFA que permitisse concluir se não o contrário pelo menos o conveniente: na dúvida o videoárbitro deixa seguir. 

Escrevo estas linhas e apetece-me apagar tudo, mas é necessário chegar ao fim. Continuo, continuo a escrever sobre o jogo. Não foi à primeira, foi à segunda. Livre, bola bombeada pelo João Mário para a área, desvio de cabeça do Tiago Tomás, novo desvio de cabeça do Palhinha e Gonçalo Inácio a encostar de cabeça também para a baliza. Fora-de-jogo, assinala o fiscal de linha e confirma o árbitro. Começam as repetições e verifica-se que não há fora-de-jogo nenhum, embora os comentadores procurem agora encontrar uma falta. O árbitro confirma o golo e os jogadores festejam três dias depois. Vai-se para o intervalo. No regresso, tudo parece ter mudado. O Daniel Bragança não parece o mesmo e o Tiago Tomás e o Pedro Gonçalves estão mais sozinhos na frente. O Sporting recua e mete trancas à porta, que é uma outra forma de dizer que o Palhinha entra em modo “take no prisoners”. O jogo chega ao fim sem que o Guimarães crie mais uma oportunidade de golo para amostra.. 

Era preciso escrever até ao fim, custasse o que custasse, para que pudesse escrever o que verdadeiramente tinha de ser escrito. O jogo acaba e vê-se Dário Essugo, um menino de dezasseis anos, a chorar, rapidamente confortado pelos seus colegas. Enviam-me por WhatsApp fotografia do Dário Essugo ainda mais menino abraçado ao João Mário, o mesmo João Mário que tinha substituído neste jogo. Veio-me uma lágrima ao canto do olho, por ele, pelo menino, mas pelo seu pai também. O Dia do Pai, o meu ou do pai do Dário Essugo, pode ser antes ou depois, quando um homem quiser, desde que se aprenda a chorar, a envelhecer envolvido numa doce melancolia. E o Rúben Amorim remata: “treinou bem, foi convocado, era o único médio que tínhamos no banco e era de um médio que precisávamos para substituir o João Mário”. Ouvia-o e era como se ouvisse Louis Armstrong: “I hear babies crying, I watch them grow/They'll learn much more, than I'll never know/And I think to myself, what a wonderful world/Yes, I think to myself, what a wonderful world”.

[Acabei de ler “Porque é que Marx Tinha Razão”, de Terry Eagleton. O autor procura desmontar uma a uma as principais críticas a Karl Marx. Desmonta o argumento do marxismo enquanto utopia, explicando, com humor, que não se espera do socialismo o fim dos acidentes de trânsito ou do mau gosto. Tenho algumas dúvidas mas uma coisa eu sei: se fosse o Rúben Amorim a escrever O Capital tenho a certeza que ou se evitaria a moda masculina das calças à boca de sino e dos sapatos altos atamancados dos anos sessenta e setenta ou, se não se evitasse, não a consideraríamos pirosa como a consideramos] 

domingo, 14 de março de 2021

Enrolando

Acontecem mais coisas durante a semana do que durante o jogo e, assim, o jogo constitui um tempo de reflexão sobre o que se passou durante a semana. Não dispondo de melhor alternativa, foi o que fiz e não dei o tempo por mal-empregado. “O Emanuel Ferro é uma fraude!”, disse-se durante a semana, mais coisa, menos coisa. É muito injusto. O Sporting contratou o Emanuel Ferro para treinador principal, dispondo de todas as habilitações e mais algumas. Tem contratados adjuntos com adequadas qualificações também. Umas vezes resulta, outras nem por isso. O Jorge Silas não foi grande coisa, o Rúben Amorim saiu melhor. O que parece desagradável é a usurpação do lugar do Ferro pelo Amorim quando estávamos em primeiro lugar [sobre esta alteração não se disse nada, zero, como se não merecesse um comunicado como mereceu o José Peseiro]. Fez-me lembrar aquela substituição do Bobby Robson pelo Carlos Queiroz, que conheceu os seus dias de glória como treinador adjunto do Alex Ferguson [segundo a imprensa indígena, sem o Queiroz, o Manchester United não teria ganhado nada, dado que o Ferguson não era dado a usar fato de treino e chuteiras e a colocar pinos durante os treinos].  

O Domingos Paciência desenvolveu um pensamento disruptivo, completamente fora da caixa, dizendo: “O Sporting não é um líder com nota dez”. O futebol necessita de novos olhares, novas perspetivas sobre a modalidade, que nos façam refletir e encontrar outros caminhos, caminhos que nos levem a outros lugares ou a lugar nenhum, não interessa, interessando a reflexão, tão-só. É necessário parar para pensar, para nos interrogarmos: é preferível ser primeiro com nota sete ou segundo com nota nove? Seguindo esta dialética, da quantificação qualificada ou da qualificação quantificada, todos os questionamentos são possíveis. No limite, o último é o último ou só o é se for o último com nota zero? O último é o que fica atrás dos demais ou é o último enquanto absoluto, quando abaixo se encontra o vazio, o nada? Este tipo de reflexão, denso e metafísico ou metafisicamente denso, foi ainda aprofundado pelo Jorge Jesus, quando afirmou que a liberdade de expressão por si só, sem liberdade intelectual, espiritual, não determina a liberdade, a liberdade enquanto absoluto também, admite-se. Percebe-se que Jorge Jesus anda a fumar Kierkegaard [mas sem inalar, que não sou de levantar falsos testemunhos], embora seja mais controversa a marca do Domingos Paciência [Hegel, Goethe ou Schelling de enrolar?]. 

Quem teve a santa paciência de ler esta crónica até aqui pode-se questionar, com razão, sobre a relação entre estes prolegómenos e o jogo contra o Tondela. Será um leitor menos atento, menos reflexivo, mas não menos merecedor de explicação. Os jogos do Sporting também se iniciam com prolegómenos de duração variável. O espetador ou o adepto pode aproveitar esse tempo variável para refletir e é a essa reflexão que nos interpela o futebol do Sporting. Não é um tempo desligado do jogo e do seu tempo, acontecendo aqui e ali um sobressalto, um cabeceamento com os olhos fechados do Tiago Tomás ou um remate que miraculosamente ressalta na perna de um defesa. Os menos preparados, mais ansiosos e precipitados, esperam alterações ao intervalo. Nada de mais errado. É preciso continuar a cansar o adversário, desalentando-o, tornando infrutífera qualquer arremetida, destruindo a imaginação de melhores futuros possíveis. 

Por volta dos sessenta minutos, o primeiro sinal: entra Daniel Bragança, saindo Nuno Santos. O miúdo Bragança é dado a atrevimentos, a rodar a bola a toda a brida, gerando perplexidades diversas no adversário depois de quase uma hora de engonha do João Mário, de deslocação permanente da bola de leste para o oeste, sem se compreender o norte ou o sul, enfim, para que lado joga o Sporting, o sentido geográfico do seu jogo. Antecipando uma revoada de outras, esta substituição pretende ser um aquecimento para o que se irá passar. Entram jogadores prováveis para lugares improváveis ou jogadores improváveis para lugares prováveis, não importa, não estranhando os mais reflexivos quando veem um Tabata a jogar a lateral direito, quando não é lateral, nem joga com o pé direito. O sistema de jogo é sempre o mesmo, mas a dinâmica muda e a mudança é tão imprevisível quanto a imprevisibilidade das substituições, sendo certo que entram sempre os mesmos, porque não há outros, e a imprevisibilidade é determinada pela improbabilidade, dos lugares ou dos jogadores. Os que ficam também ficam imprevisíveis e também não se estanha ver um Nuno Mendes transformado num lateral esquerdo que vale 70 milhões de euros mais o Cristiano Ronaldo para a troca. Entre os 73 minutos, quando entraram Tabata, Matheus Reis e Jovane Cabral, saindo João Mário, Feddal e Pedro Porro, e os 81 minutos, quando aconteceu o golo, o Mundo mudou, mudou muito, mudou muito depressa, demasiado para o Tondela.

O adepto menos preparado pode-se interrogar por que não se joga assim desde o início, a razão para tão prolongados prolegómenos. O Rúben Amorim explicou, explicou que é preciso cansar o adversário enquanto se lhe dá esperança e o faz acreditar que a tática pensada toda a semana vai resultar. A solução não é começar como se acaba, é começar a ver o jogo do fim para o princípio. Vê-se o importante e cada um vai à sua vida: quem quer continua a ver, vê; quem não quer, vai jantar [confesso, estou um pouco farto de jantar às dez e meia e de deixar uma garrafa de tinto a arejar duas horas]. Nesta última semana, a Associação Nacional de Treinadores de Futebol e alguns dos seus sócios, como Domingos Paciência e Jorge Jesus, ajudaram-nos a refletir, a questionar o adquirido. São possíveis futuros do avesso, em que a ordem, a suposta ordem natural do tempo se inverte? Este é o questionamento que vos deixo para o próximo jogo, esperando que durante a semana, um outro treinador, qualquer treinador com todas as habilitações, possa começar a enunciar a resposta.  

sexta-feira, 12 de março de 2021

Festa da espuma

 

Agora temos o caso do túnel de Famalicão. Aquilo não será bem um túnel, é mais um simulador de túnel, de tão apertado que parece. Não admira que as comadres se rocem. Em breve saber-se-á da existência de jogadores nascidos por inseminação artificial e de alienígenas no plantel profissional do Sporting, ambas as situações sujeitas a sanções consideráveis e a passagens estreitas em túneis.   

terça-feira, 9 de março de 2021

O contador de histórias

A partir da superioridade numérica fora das quatro linhas, tudo é possível. 

Com a caso Palhinha a arrastar-se para ver no que dá e o que poderá eventualmente sair dali; com o Benfica a jogar (finalmente) o triplo (capa do jornal A Bola de hoje); com o Porto a vencer sem necessitar de penaltis e felicitando a postura de derrotado do último oponente; com o Braga sem escrever qualquer comunicado sobre os seus perseguidores mais próximos, precisávamos de qualquer coisa extra, até porque o Sporting (que chatice) continua a ganhar os seus jogos. O que não estava previsto.

A coisa extra chegou-nos de supetão burocrático. A partir de uma queixa (há quem diga que foi uma participação) da Associação Nacional de Treinadores (datada de Março do ano passado - atenda-se neste pormenor), a Comissão de Instrutores da Liga (quem?) decidiu (deduziu?) avançar com uma acusação por fraude e falsas declarações ao treinador Rúben Amorim (que se calhar, afinal, não é treinador, nem na altura seria uma adjunto, não se sabe bem).

Passado todo este tempo (cerca de um ano!), alguém, a mando de alguém, decidiu esmiuçar o esmiuçável. Não seria de esmiuçar se o Sporting estivesse em terceiro a 15 pontos, nem ninguém se terá lembrado de esmiuçar, por exemplo, o Silas, ou qualquer outro passível de ser esmiuçado. Esta história andou encavalitada na estante das histórias dormentes e narrativas passíveis de utilização caso a coisa corra mal. Não será de admirar, por isso, o aparecimento de outras histórias ou narrativas, ou o achamento de extraterrestres em Alvalade, mais depressa que em Marte. O contador de histórias está lá para isso.

segunda-feira, 8 de março de 2021

Dezanove segundos

[92 min e 40 s] Adán recolhe a bola e lança-a com toda a força para Jovane, que roda, flete para o meio, encara um adversário, roda para a esquerda e mete-a mais à frente no Nuno Santos, enquanto Coates, o defesa mais recuado, começa a correr e, no momento do passe do Jovane, já o tinha ultrapassado; [92 min e 49 s] Nuno Santos recebe a bola e avança a passo e Matheus Reis desata a correr como se não houvesse amanhã para dar uma linha de passe entre o lateral e o central, fazendo hesitar o primeiro e fixando o segundo; [92 min e 53 s] com essa manobra, de diversão, Nuno Santos chega próximo da esquina da grande área, Coates à entrada da pequena área e João Mário um pouco mais à direita, ao segundo poste; [92 min e 54 s] Nuno Santos centra largo para João Mário receber a bola e a dominar; [92 min e 57 s] João Mário centra tenso para a entrada da pequena área; [92 min e 59 s] Coates enfia uma cabeçada na bola e assim a enfia na baliza do Santa Clara. 

Voltando atrás, ao início do jogo. O Sporting começa mal e é o Santa Clara que chega à frente primeiro e procura condicionar a nossa saída de bola ou, quando não o consegue, recua em bloco e defende com todos. Nós, bem, nós começámos sem grande intensidade, no modo habitual de deixar cansar o adversário, de lhe oferecer o primeiro milho. Até que, após pressão alta, Palhinha recupera a bola e passa-a ao João Mário, que a mete em Tabata, que descobre um espaço impossível por onde ela passa entre os defesas, encontrando o Pedro Gonçalves em condições de a rematar de primeira, cruzado, para o primeiro golo. Esperava-se um jogo como o do Portimonense: mais uns minutos de pressão sobre a defesa e o segundo golo para se fechar o jogo. Nada, nada de nada, nem mais um remate durante a primeira parte. 

Inicia-se a segunda parte e, em alternativa, espera-se um jogo como contra o Paços de Ferreira: a abrir, um pouco mais de intensidade e o segundo golo ainda antes dos sessenta minutos. Nada, nada outra vez. O Santa Clara toma conta do jogo e o Sporting vai controlando mas sem bola. O Tiago Tomás está perdido, algures, e o Tabata e o Pedro Gonçalves tentam, mas cada tiro, cada melro. Os laterais não sobem ou se sobem não têm apoio. O Rúben Amorim tenta mudar: entra o Matheus Reis primeiro, saindo o Nuno Mendes, e depois, entram o Nuno Santos e o Bragança, saindo o Tabata e o Tiago Tomás. Percebe-se a intenção, ter a bola, trocá-la, deixar o adversário sem ela, tranquilizar a equipa, acalmar ainda mais o jogo. Mas o Santa Clara está com estrelinha e, após um ressalto nas pernas do Feddal, marca o golo do empate, no primeiro remate que se visse, quando faltam cinco minutos para o jogo acabar.

Voltando ao início, ao outro início, aos dezanove segundos, que vão da bola na mão do Adán à cabeçada do Coates. Após um contra-ataque do Santa Clara, o Sporting tem poucos, muito poucos jogadores na frente, encontrando-se a maioria atrás da linha da bola e longe da baliza. O adversário está confortável, à espera, tendo ficado sete jogadores na defesa. Não houve uma precipitação e, sim, houve circunstâncias para precipitações ao virar da esquina: Jovane podia ter insistido até perder a bola ou ter de a atrasar, Nuno Santos podia ter metido na frente, na área, quando não havia ninguém para disputar a bola. No tudo ou nada, quando o jogo se encaminhava para o fim, os jogadores suspenderam o tempo, esperaram o momento e quando o momento aconteceu não foi por acaso que havia tantos jogadores na área ou próximo dela quantos os adversários e o Coates estava no sítio certo, após correr cerca de setenta metros. 

Estrelinha? Sim. O Sporting jogou pouco, marcou e confiou na defesa, na sua capacidade de não conceder oportunidades. Talvez seja desgaste, descompressão, baixa de forma de alguns jogadores, falta de alternativas, sem o Paulinho e o Porro. Houve estrelinha, de facto, há sempre estrelinha quando se ganha no último fôlego, mas nada aconteceu por acaso no segundo golo. “Enquanto o árbitro não apita, o jogo não acaba”, disse o Coates, simples assim. Se [digo e repito se] ganharmos este campeonato temos histórias para mais vinte anos de insucessos. Nas nossas memórias ficarão para sempre estas vitórias nos últimos instantes e o Coates, um herói improvável, um género de Capitão Flint às avessas, que partilha o saque com os seus colegas, que o partilha connosco também.

[Inadvertidamente ou para corrigir a bravata do “levam cinco ou seis” da primeira mão da Taça de Portugal, o Sérgio Conceição prestou um enorme serviço ao benfiquismo desesperado. O Sporting de Braga é a equipa que melhor joga ou, traduzindo, é o melhor Benfica que se arranjou esta época. Parecendo deslegitimar a narrativa do Rúben Amorim, esta qualificação mais não faz do que a confirmar: só com o Paulo Futre é que seríamos candidatos ao título]  

sábado, 6 de março de 2021

Para acabar de vez com as vertigens

 

Há jogos assim. E este não terá sido o único. São os jogos (menos conseguidos - como agora se diz) que se podem perder, ou pelo menos não ganhar. Acontece a todos os que lutam por objetivos. A diferença está nas equipas que nesses jogos (menos conseguidos) que se podem perder ou não ganhar, não perdem, nem empatam: ganham! É claro que os jornaleiros a soldo estremecem e contam as estrelinhas no quintal. Como se o Coates não estivesse na grande área, como se o João Mário não estivesse em campo, como se aquela bola cabeceada pelo Coates fosse um produto do divino. Não foi. Nem sequer foi a mão do Maradona. A diferença está em estar lá e… não falhar. Lembram-se daquele falhanço do Bryan Ruiz? Eu sei que se lembram. Ele até estava lá mas...terá sido falta de estrelinha?

Rúben Amorim no final disse tudo: foi a pior exibição do Sporting este ano. Ou melhor, foi um jogo menos conseguido em modo tiki taka para entretidos confinados. A partir do golo, foi jogado sem balizas, pouco intenso, monótono, com alguns meiinhos de treino. Uma das equipas (a que jogava em casa) sem grandes ideias, a não ser a coesão e a união do costume, a outra equipa (a que jogava fora), esforçando-se por mostrar que vinha disputar o jogo, desconfiada (mas confiante) do desaparecimento das balizas.

As balizas reapareceram (misteriosamente) nos últimos dez a quinze minutos de jogo. Mas isso já nós sabemos: o golo do Sporting foi estrelinha e o do Santa Clara uma jogada do outro mundo, tão intencional e vistosa que o Feddal decidiu participar, de tão maravilhado que estava.

Rematando: bem que nos falta um abre-latas de vez em quando (o Rúben até falou do Futre, mas sem este alegar problemas psicológicos), e mais opões para o ataque. Com o Paulinho de molho ficamos a penar. O resto é jogo a jogo, debruçados no parapeito, a olhar as estrelas...

segunda-feira, 1 de março de 2021

A desmontagem contrariada

 

Aqui há tempos tinha escrito uma posta de pescada que começava assim: Não é como jogamos, isso toda a gente sabe, mas como pensamos, que faz a diferença. Ora releiam, por favor.

Ontem estava a tentar ver o jogo e a refletir (tinha o telemóvel, o computador, o relato, um cigarro e uma cerveja numa das mãos - a outra estava guardada para qualquer eventualidade) se as equipas se encaixavam (agora é assim que se diz quando a coisa fica enconada no tempo e no espaço) contrariadas, ou se se contrariavam encaixadas. Não é a mesma coisa. A questão da facilidade da desmontagem (revelada por Conceição) contraria um mito enraizado, muito característico dos países latinos, associado à facilidade da montagem, algo que o eminente cientista Zezé Camarinha anda a desvendar ao mundo em vários colóquios nacionais e internacionais, disponível em várias publicações da especialidade. Isto dá que pensar.

Não sabemos se uma desmontagem poderá ser contrariada de forma encaixada, ou se uma desmontagem poderá, eventualmente, ser encaixada de forma contrariada. Mas inclinamo-nos mais para esta última, tendo em conta as várias demonstrações (mais uma vez) de desportivismo dos senhores do Porto, tanto nas comunicações à imprensa, como na forma agradável de (não) cumprimentar o adversário no final do jogo. Um exemplo com seguidores imberbes.

Jogo a jogo, continua o nosso caminho para o pacemaker, perdão, para (tentar) chegar ao título.

Nota: ajudaria ter mais um avançado disponível (uma referência no ataque, como se diz por aí), para o caso do Paulinho continuar lesionado. Uma referência poderá sempre ser desmontada e, ao mesmo tempo, difícil de contrariar.