terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Arbitragem no Red Light District

Estava tudo preparado para perder o Sporting contra o Moreirense. Fim-de-semana prolongado com a família em Amsterdão. Programa turístico-cultural devidamente estudado e sem falhas: Museu Van Gogh, Museu Rijks, Casa de Anne Frank, Heineken Experience, Museu Casa de Rembrandt, Red Light District. Fins de tarde em “coffe shops” (recomenda-se o Bar Bukowski pela “playlist”), passeio de barco para visitar os canais e muita “street food” à base de batatas fritas besuntadas. Na segunda-feira à noite, no regresso ao Airbnb, o cansaço era muito e ninguém estava com grande vontade de voltar a sair para jantar. Excelente oportunidade para apelar ao “streaming” do Inácio e procurar ver o jogo da melhor maneira possível.

Fiquei a saber que metade da equipa tinha sido dizimada por um surto gripal. Sobraram muitos daqueles que de tão lentos que são que até a própria gripe incuba com lentidão. Entrámos como de costume, a ver o que o jogo dá, em vez de cairmos em cima deles, como eles esperam, desde os primeiros minutos. Na primeira meia-hora praticamente não se criou uma oportunidade de golo, tendo-se assistido a um arraial de pancadaria da rapaziada do Moreirense perante o olhar distraído e contemporizador do árbitro. No último quarto de hora criámos três oportunidades claras de golo. O Bryan Ruiz, isolado, estatelou-se e passou a bola ao guarda-redes. A seguir fez um passe magnífico para o Bruno Fernandes ficar cara-a-cara com o guarda-redes e rematar por cima. Acabando este período com um centro perfeito para o André Pinto cabecear ao lado.

A segunda parte começou por não prometer grande coisa. O árbitro continuou a dizer ao que vinha, precisando de recorrer ao vídeo-árbitro para anular bem um golo do Moreirense (se somos roubado com vídeo-árbitro imagine-se como seria sem ele). O Rui Patrício fez uma defesa impossível (depois de um cabeceamento quase à queima a conseguiu ir buscar a bola quase ao chão e ainda ter força para a desviar pela linha de fundo). Esperava-se que a entrada do Rafael Leão pudesse mexer com o jogo. Não deu para ver. Quase a seguir, o árbitro inventou a expulsão do Petrovic. A partir desse lance deixei de conseguir ver o jogo. O “streaming” em vez de futebol começou a passar imagens de umas senhoras selectivamente avantajadas. É verdade que a arbitragem foi pura e simples pornografia. Mas não era precisa tanta depois de se passar uma tarde no Red Light District.

Soube do golo do Gelson Martins e do resultado bem depois de terminar o jogo. Não se percebe a razão para tanto estudo e tanta táctica quando se acaba sempre em modo de desespero à biqueirada para a frente e com muita fé no Coates. Valeu-nos a irreverência e a autoconfiança do miúdo Rafael Leão  quando se esgotavam os últimos minutos dos descontos. Começou por ganhar a bola de carrinho a um adversário, embalou com ela, passando por outro adversário ao desviá-lo do caminho com um toque de calcanhar, protegeu-a, aguentando a carga de mais outro adversário, até a entregar com conta, peso e medida, como diria o Gabriel Alves, ao Gelson Martins. O Gelson Martins arrefinfou-lhe uma trivela chocha que, às três tabelas, acabou na baliza do Moreirense, permitindo-lhe assim dedicar o golo ao Rúben Semedo e descansar no próximo jogo contra o Porto.

Resultados obtidos nestas circunstâncias costumam moralizar as equipas. No nosso caso, não sei dizer. Deixámos que o Setúbal empatasse no último minuto. Ganhámos a Taça da Liga depois de vencermos os dois jogos no último “penalty”. Ganhámos ao Tondela no último remate. Deixámos que o Astana empatasse no último remate também. Esta sequência de resultados não nos dá grandes pistas para o jogo do Porto. Talvez nos dê uma única: vai-se sofrer até ao último minuto, ganhando, perdendo ou empatando.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Jogos, crimes e sobreviventes

Há certos jogos que são como certos crimes: não compensam. Não dão para o gasto, como dizia a minha avó. O jogo contra o Astana foi um destes. A eliminatória ficou decidida no Cazaquistão. A UEFA obriga a que se joguem dois jogos e não há nada a fazer. Tiveram que vir de tão longe os senhores para nada. Não foi bem para nada, foi mais para se fazer um jogo-treino.

Para jogo-treino não se percebe a participação do Bruno Fernandes ou do Bas Dost. A equipa do Sporting parece encontrar-se num daqueles filmes americanos de catástrofes em que um grupo se vai desfazendo, caindo um atrás de outro até ficar o último(a) que sobrevive para contar a história (e que depois casa com a Scarlett Johansson ou com o Robert Pattinson). Neste caso, parece que vai sobreviver o do costume: o Jesus, nem que para isso tenha de ressuscitar ao terceiro dia.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Relojoaria e futebol com Freud à mistura

O tempo de compensação no jogo do Sporting contra o Tondela deu origem a algumas das discussões mais bizantinas que me foi dado assistir. A discussão foi efetuada sobretudo pelo Benfica, institucionalmente, e pelos benfiquistas. Esta discussão é reveladora de má consciência. Os benfiquistas projetam os seus próprios pensamentos, motivações, desejos e sentimentos indesejáveis nos adeptos de outros clubes e, neste caso, do Sporting. Fiquei a saber pela “Wikipédia”, que se trata de um mecanismo de defesa psicológico, mantendo inconscientes pensamentos, motivações, desejos e sentimentos indesejáveis aos torná-los conscientes nos outros pela sua projeção. Chama-se a isto Projeção Freudiana.

Quando o árbitro prolonga o tempo para além dos quatro minutos habituais, os benfiquistas sabem que mais não visa do que criar condições para que o Benfica ainda possa ganhar um jogo ou, pelo menos, não o perder. Sabem-no por experiência própria ao longo dos anos e neste ano em particular, no jogo contra o Belenenses. Sabem-no, mas não o querem admitir. Não lhes passa pela cabeça que o Capela tenha prolongado o tempo de jogo na expetativa de o Sporting o vir a perder. Esteve mais perto de acontecer do que aquilo que verdadeiramente aconteceu. Esta é a minha Projeção Freudiana: ninguém me tira da cabeça que era esta a intenção do Capela. Limpinho, limpinho!

(Prolongar o jogo uns minutos dá para marcar um golo. Por umas semanas dá para marcar três. Limpinho, limpinho!)

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Match point


“Deviam ter vergonha”. Recebi qualquer coisa assim através do whatsapp. Essa e outras frases vinham embaladas (como tudo hoje em dia) em imagens. Imagens com análises, regras de arbitragem, piadas secas ao sol da Nazaré, etc. Mas todas com um denominador comum: a vitória do Sporting com um golo do Coates nos descontos (ou Bruno de Carvalho com um bigodinho). Percebi, mais uma vez, aquilo que já havia dito por aqui: o Sporting (quando) deixou de ser um clube simpático, e (re)começou a intrometer-se na luta pelos títulos, pelas receitas, a mexer-se nos corredores mofentos do poder da bola, passou a ser um incómodo, primeiro causando apenas algum prurido, depois elevando as comichões ao nível das chagas pestíferas que não se podem espalhar, e que se devem combater como uma verdadeira doença. Exagero para que percebamos o que está em causa: poder (e tudo o resto acoplado).

Compreende-se nos muito jovens, ou nos peixes, mas em todos os outros, a ausência de memória (mesmo recente), não se devendo a doença, é coisa muito estranha, devidamente assinalada nos anais da sabedoria popular: casa de ferreiro espeto de pau; olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço; com papas e bolos se enganam os tolos; depois de fartos, não faltam pratos;

Ou para baixo todos os santos ajudam. Se ajudam. Recordam-se, os Sportinguistas, do 7º lugar no consulado de Godinho? Eu recordo bem umas palavras do Papa, perdão, de Pinto da Costa, que, de forma condescendente e paternalista, afirmava o seu apoio a Godinho, acrescentando que o futebol português precisava de um Sporting forte. Claro que sim. Claro que sim. Estávamos próximo do abismo e as pancadinhas nas costas soavam a finados.

As virgens ofendidas desta semana (onde se incluem alguns brafiquistas), os moralistas que bradam pelos bons costumes e peroram (gosto desta palavra) sobre liberdade de imprensa, entre outras divagações que confrangem (neste momento) o meu desempenho mental, fazem o costume em situações desta natureza: berram alto enquanto varrem o seu próprio lixo para debaixo do tapete que, por sua vez está debaixo do sofá, bem escondido, junto ao armário dos esqueletos.

Ninguém se lembra, assim de repente, do guarda Abel, do túnel das antas e seus sucedâneos, o túnel do Braguinha, depois túnel brafiquista, ou do túnel da Luz?, para não nos alongarmos mais em subterrâneos. Ninguém se lembra da fruta, do calor da noite, das reuniõezinhas em casa do presidente, das escutas, da porrada aos jornalistas, do boicote às televisões ( e aquele famoso ataque à SIC ali à Boavista?), do só queremos Lisboa a arder, blá blá blá? Ninguém se lembra de um presidente (eu ajudo – chamava-se Vieira) a invadir um estúdio de televisão, o mesmo presidente que fora sócio (ainda será?) de todos os clubes possíveis e imaginários, desde que lhe permitissem subir a pulso para perto da fruteira, de quem era (nessa altura) amigo? Houve um filme, patrocinado, sobre a fruta, não se lembram? De perseguições a árbitros não vale a pena falar, estão registadas pelas paredes (e nas mentes) dos próprios. Mas, será que ninguém se recorda do boicote ao leite Parmalat? Intervalo.

Com as substituições, vieram os vouchers (os outros tinham a agência Cosmos, recordam-se?), os emails, a cartilha, os padres, as freiras. Substitui-se o dourado do apito, pela batina. Um papa pelo outro. Cada um com a sua guarda de honra, subordinados, beija-mão, comentadores independentes, tudo à volta da gamela. Mas uma gamela devidamente institucionalizada. E a farpela, neste país, é tudo.

Dentro das (como se diz) quatro linhas, já se sabe. Ninguém se recorda daqueles famosos envolvimentos aos árbitros, de jogos como o de Campo Maior, ou, mais recentemente, dos minutos de compensação no Restelo, onde o Belenenses quase se surpreendia a si próprio. Ninguém se recorda da mão de Vata, nem interessa.

Nota 1: Tenho pena que as directrizes de Bruno de Carvalho não tenham chegado aos blogues. Como não sou comentador (dos encartados televisivos), não compro jornais, nem assisto aos ditos programas de entretenimento futeboleiro, fico sem vontade de fazer um daqueles gestos que caracterizam o Zé Povinho. Fica o desafio.

Nota 2: o Porto acaba de ganhar ao Estoril. Já ninguém se lembra dos tais descontos, nem se falará do primeiro golo do porto. Limpinho, claro. 


terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Ir a Fátima de joelhos

Este jogo era decisivo para testar a estratégia definida na Assembleia Geral do passado sábado. No domingo os resultados foram logo muito positivos. As televisões não efetuaram a habitual cobertura da conferência de “pre-match” do Jorge Jesus, dispensando-se os jogadores de ficar a saber que ou são uns autênticos pernetas, devendo-se contratar outros, ou se jogam alguma coisa foi por que o treinador lhes ensinou, ficando eles e o Sporting eternamente gratos por este projeto solidário de melhoria da aprendizagem ao longo da vida.

Nestas circunstâncias a moral dos jogadores só podia estar em alta para o jogo de ontem, apesar do treinador do Tondela os avisar que a sua equipa estava a preparada para lhes ir às canelas, embrulhando esta ameaça na conversa da intensidade e das transições. O jogo pelo jogo está reservado para o Benfica, detestando os restantes adversários e, especialmente, aqueles que também são adversários do Benfica.

Não há respeito nenhum pelo futebol. Entre o trabalho e o futebol, o capital ou os proprietários dos meios de produção tramam-nos sempre. Na luta de classes, a atual Direção do Sporting ganha ao grande capital e, em retaliação, o grande capital esmaga o operariado sportinguista, também conhecido por mexilhão. Enquanto decorria o jogo, estava assim como um bivalve em lata com rodas a caminho de Lisboa na companhia de três portistas que iam ouvindo o relato com magnanimidade e o paternalismo de quem está em primeiro e fez o que tinha a fazer no fim-de-semana.

A primeira parte foi toda relato, mas na minha cabeça passaram os jogadores e as jogadas como se as estivesse a observar, conhecendo como conheço esta equipa e o futebol que pratica. Entrámos a encanar a perna a rã entre o ataque posicional e as transições, ofensivas e defensivas, só que o Tondela não estava para brincadeiras e quando um seu avançado tinha fechado os olhos e chutado em direção ao Rui Patrício apareceu desembestado em carrinho o Mathieu fazendo com que a bola tabelasse nele e ganhasse asas até à baliza. A perder por um a zero, deixámos a fase que o Gabriel Alves classificava e muito bem como de estudo mútuo e entrámos na fase do “vamos a eles como tarzões”. É a fase em que se joga mais com o coração do que com a cabeça, com exceção do Bas Dost que nunca a perde ou a troca por qualquer outro órgão pois é com ela que marca golos. Centro do Acuña e o Bas Dost a perceber que o guarda-redes era um passarinho antes do passarinho, perdão, guarda-redes, se fazer de passarinho e voar para a bola em grande estilo, deixando-a passar por cima. Voltávamos à casa de partida, retomando-se a possibilidade de vitória sem coração como manda a ideia de jogo do Jorge Jesus.

As vítimas do centralismo democrático nacional sabem que uma ida a Lisboa também é um pretexto para se jantar no Rui dos Leitões. Encontrámo-lo fechado (fecha à segunda-feira e, portanto, deve-se ter todo o cuidado no agendamento de reuniões em Lisboa para que não sejam completamente infrutíferas). Jantámos no Albatroz que fica na mesma rua, um pouco mais acima. Preparámos a reunião do dia seguinte durante o jantar. Entre olhar para o computador e os papéis, estar atento para não me limparem as partes do leitão que mais aprecio, atestar o prato de batatas fritas e salada e enfardar tudo acompanhado de um espumante marado enquanto falava, só tive oportunidade de ir vendo o jogo de esguelha que passava numa televisão minúscula.

Só nos últimos dez minutos é que tive oportunidade de ver o jogo descansado. Quando se está a jogar com dez e em risco de não ganhar o jogo e perder o campeonato, a ideia de jogo do Jorge Jesus prevê que o Coates avance e se passe ao mundialmente conhecido “chuveirinho”. Numa dessas jogadas intensamente trabalhada nos treinos, a bola pingou da cabeça do Bas Dost para o Doumbia rematar, antecipando-se de imediato o Ricardo Costa para evitar que lhe anulassem mais um golo e procurando-o fazer pelos seus próprios meios de forma razoavelmente incompetente, acabando por ser o Coates a finalizar, desculpando-se assim o mau serviço prestado pelo defesa do Tondela.

Os três companheiros portistas ficaram subitamente furiosos. Era uma vergonha, diziam eles. Não se via uma coisa destas desde os tempos do guarda Abel e das quinhentinhas. Não lhes dei toda a razão. Para ser como nesses tempos, então o golo devia ter sido marcado pela mão do Vata aos cem minutos. Enquanto seguíamos viagem um amigo mandou-me a seguinte mensagem de WhatsApp: “Vais a caminho de Fátima? Vemo-nos lá. Devo demorar mais tempo, pois vou de joelhos”. Não parei em Fátima, mas devia.

...

Não vi. 
Não ouvi.
Juro que não li.
Estou à espera do resumo na Sporting Tv.
Juro.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Asta(na) la vista, baby

Diz que esta semana o mundo continuou a girar, mas como já ninguém vai para a fogueira por causa disso, acabei por passar ao lado de tudo. Alheio de tudo? Quase tudo. Depois de um chá de menta quentinho sentei-me à lareira para ver o Sporting. Entramos em modo de voo. O modo de voo é aquela cena dos telemóveis espertos, em que conseguimos carregar no botão e ver a luz, as horas, o despertador a até escrever umas notas; mas não recebemos SMS, nem chamadas, nem temos wireless, isto é, basicamente não serve para nada.

Foi assim que o Sporting entrou no jogo, e assim ficou praticamente durante 45 minutos. Não os censuro, eu próprio andei assim a semana toda. De qualquer maneira, ainda houve tempo para o árbitro mostrar que, para além das equipas se terem estudado mutuamente, também ele andou a estudar as recentes arbitragens dos jogos do Sporting e não quis ficar atrás dos árbitros portugueses, anulando um golo limpinho.

Na segunda parte, o Jorge Jesus, rato, desligou o modo de voo, ficando apenas o Bryan Ruiz ligado para enganar o adversário. Rapidamente esquecemos o sintético, a viagem, os comentadeiros da SIC e enfiamos três batatas na baliza adversária, uma delas ainda com o Acuna disfarçado de Messi, não se sabendo como conseguiu passar na fronteira nesse preparo.

Ainda com os monocórdicos comentadores da SIC mal refeitos do ataque cardíaco, já estaria o nosso presidente a pensar numa maneira de conseguir estragar a festa para não destoar das outras equipas portuguesas. Como todos sabemos, foi mais uma epopeia inesquecível do Benfica nas competições europeias, com os malandros do Porto e do Braga a tudo fazerem para saltar borda fora da europa, com o objetivo de apenas se concentrarem no campeonato, coisa que nos especializamos nos anos anteriores, com os resultados que se conhecem.

À falta de bordoadas exteriores, temos sempre que criar as nossas formas de tortura. “Se calhar foi o último jogo do Sporting comigo a presidente” – disse Bruno de Carvalho. A seguir ainda se escutou um “agarrem-me”, mas já estava tudo em modo de voo. Eu incluído. Amanhã há mais.


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Deixem marcar o Doumbia!

Entrámos com a cabeça a pensar em desculpas. Faltava saber se era do relvado, da distância e do tempo de viagem, do frio ou da falta dele no estádio, do “jet lag” ou de tudo um pouco. Só assim se explica a forma vagamente displicente como entrámos no jogo, dando quase meia parte de avanço. O golo do Astana logo aos seis minutos só se explica por essa displicência ou por a defesa ainda estar enregelada e não se conseguir mexer.

A primeira parte foi difícil. Segundo o Jorge Jesus, aparentemente fomos surpreendidos pelo lado esquerdo da defesa e pelo meio. Surpreendidos pelo lado esquerdo pode ser. Pelo meio é que não. Ao colocar no meio o Bryan Ruiz o objetivo só podia ser o de sermos surpreendidos e, por isso, não pode haver surpresa nenhuma. Não fomos mais surpreendidos porque o Rui Patrício nunca nos surpreende mas surpreende sempre quem não o (re)conhece, seja o adversário ou o Ribeiro Cristóvão, que, na análise final do jogo, ao comentar o seu aniversário e os trinta anos afirmou que estava em tempo de fazer uma grande carreira. Convém que alguém o informe que, para além de tudo o mais, o Comendador Rui Patrício é campeão europeu e foi considerado o melhor guarda-redes desse Campeonato da Europa.

A lentidão do Bryan Ruiz não permitiu que acasalasse com o Bruno Fernandes (para se acasalar decentemente, no mínimo espera-se que chegue ao seu par no momento certo para que se possa consumar) e o Bruno Fernandes teve que acasalar sozinho. Fez dois remetes com selo de golo e marcou um daqueles cantos que costumam acabar na cabeça de um dos nossos grandalhões e que são meio caminho andado para o golo. Com esse meio caminho e a cabeçada do Coates, o Doumbia, na recarga, fez o golo. Como vem sendo hábito, o golo foi anulado. Também não foi por acaso e, por isso, não fomos surpreendidos. Este (lindo) serviço nem sempre precisa de vídeo-árbitro, bastando para tanto que o árbitro seja francês.

Entrámos na segunda parte com a cabeça virada do avesso, deixando-a livre para pensar em jogar à bola e não em desculpas. O primeiro golo, do Bruno Fernandes, foi de “penalty”, depois de um defesa ter cortado a bola com a mão quando o Doumbia se preparava para cabecear ao primeiro poste. O Acuña, que tinha acordado, humilhou três adversários do lado direito da defesa e centrou tenso para o segundo poste, onde estava o Gelson Martins para rematar de primeira e fazer o segundo golo, aproveitando a forma como o Bryan Ruiz ao tentar cabecear atrapalhou o defesa. O terceiro golo foi uma excelente jogada coletiva, com o Acuña a desmarcar o Bruno Fernandes do lado esquerdo que centrou atrasado para o Doumbia encostar.

Em praticamente dez minutos, entre o Acuña, o Bruno Fernandes, o Gelson Martins e o Doumbia, o Sporting acabou com o jogo e fez o resultado final. A entrada do Montero ainda permitiu que inteligentemente sacasse o segundo amarelo a um defesa e finalmente se passasse a jogar dez contra dez. O Astana entregou-se definitivamente e os jogadores foram-se entretendo com a bola para passar o tempo e evitar desgaste físico e alguma lesão, a fazer recuperação ativa na linguagem do Freitas Lobo ou do Carlos Daniel. O Gelson Martins ainda teve mais um golo nos pés, mas o guarda-redes defendeu. O Astana rematou ao poste, mas foi evidente o diálogo e a combinação entre o Rui Patrício e o dito poste, não chegando a existir propriamente qualquer sobressalto.

Na parte final, o jogo foi-se arrastando, embora monotonia por monotonia a pior tenha sido a dos comentários dos rapazes da SIC. Todos os argumentos serviram para desvalorizar a vitória do Sporting. Ninguém se lembrou que o Benfica foi lá empatar a dois há cerca de três anos ou que o Astana nunca fez menos pontos na Liga dos Campeões que o mesmo Benfica esta época. Os rapazes do Astana não estavam em forma devido à paragem do campeonato. O Astana tinha vendido entretanto o seu melhor jogador. O Astana é uma péssima equipa e qualquer outro resultado do Sporting que não fosse a vitória era uma vergonha. A Liga Europa é competitiva, mas não tem os grandes tubarões europeus. E mais isto e mais aquilo. Se uns queriam esfolar, o Ribeiro Cristóvão estava para matar. Talvez seja melhor para a próxima inverterem a ordem, matando primeiro e esfolando depois.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Vídeo-árbitro de Ferrari Vermelho

Agradece-se que nos informem se veem inconveniente na nossa participação no campeonato nacional. Temos algum interesse nessa participação, mas não o suficiente para querermos incomodar alguém, muito menos os árbitros, os bandeirinhas, os vídeo-árbitros, a comissão de arbitragem, a Liga e a Federação Portuguesa de Futebol. Até por que não queremos que nenhum árbitro fique com tão má consciência que acabe por marcar “penalties” a nosso favor quando chutarmos contra a cabeça de um infeliz defesa que se atravesse no caminho.

Depois do primeiro golo do Benfica contra o Boavista e do terceiro contra o Aves, qualquer golo que venha a ser invalidado pelo vídeo-árbitro por ter sido antecedido de falta constitui um atentado à inteligência. Foi por essa razão que o golo do Porto na passada quarta-feira não foi anulado. Estranhamente, hoje, é-nos anulado um golo por uma suposta falta de Bruno Fernandes no início da jogada quando a bola voltou para o Feirense que continuou calmamente a atacar perdendo a bola três quartos de hora depois, dando origem ao contra-ataque do Sporting e ao golo do Doumbia. A fazer jurisprudência este lance, não nos espantaria nada que um dia destes nos anulassem um golo por falta efetuada num jogo anterior desta ou de outra época. Não satisfeitos, o árbitro e o vídeo-árbitro ainda fizeram de conta que um jogador do Feirense não se virou intencionalmente cortando um lance com o braço dentro da área. A consciência deste conjunto desvairado de aldrabices deu origem à marcação de um “penalty” a nosso favor depois de o Montero, em grande estilo, em vez de marcar golo ter procurado causar um traumatismo craniano num defesa do Feirense.

O jogo foi isto mais um ror de oportunidades de golo desperdiçadas, sobretudo na primeira parte. Rematámos cerca de trinta vezes, a maior parte dentro da área, e por nabice dos avançados e inspiração do guarda-redes a bola parecia não querer entrar. O Doumbia foi o que mais falhou, mas também é verdade que, pelo menos, estava no sítio certo para falhar. O Montero falha muito menos porque para falhar mais era necessário que jogasse, coisa que o maça imenso, dado que não veio para isso e agradece que o não incomodem.

Na segunda parte, estávamos preparados para o desespero. Quando o Doumbia tentou enfiar uma biqueirada na bola, acabando por lhe espirrar o taco e falhar mais um golo, um sportinguista maduro sabe que o pior está para acontecer. O pior não é o empate. O pior é um sarrafeiro da equipa adversária se lembrar de mandar um chutão para a baliza e acabar a marcar o golo de uma vida sem que o Rui Patrício tenha a mínima hipótese de defesa. O pior esteve para acontecer mas, desta vez, havia uma ínfima hipótese de o Rui Patrício defender o remate e quando assim é defende-o.

Passado este susto, o Jorge Jesus resolveu fazer mais uma brilhante demonstração da forma como vai gerindo o plantel. Não promove a rotação dos jogadores em jogos fáceis ou que ficam fáceis, preferindo lançar o Rafael Leão e o Lumor quando andavam mosquitos por cordas. Na primeira vez que tocaram na bola, os rapazes estiveram bem e, assim, não ficaram com a cabeça a prémio. A vontade, a força e a velocidade deles ajudou a empurrar o adversário para a área e, na sequência de um canto, depois de uma carambola, envolvendo um soco mal-amanhado do guarda-redes e a cara do Coates, o William Carvalho marcou o primeiro golo.

O estádio ficou em suspenso e a malta do café onde vi o jogo também. Ainda faltava jogar o vídeo-árbitro. Só que passou e nós resolvemos, de imediato, recuar e passar a defender com unhas e dentes, com o Battaglia em campo. Ainda apanhámos um ou outro susto, até o Bruno Fernandes desmarcar o Gelson Martins pela direita que, em desespero, depois de adiantar demasiado a bola acabou por a meter para o meio de uma confusão onde o Montero, vá-se lá saber como, a empurrou para a baliza a meias com os adversários. Ainda houve tempo para o Gelson Martins devolver a gentileza e deixar o Bruno Fernandes na cara do guarda-redes em condições de marcar um “penalty” de bola corrida. A paradinha saiu bem, mas o remate passou ao lado.

A parte melhor ainda foi a “flash interview” do Jorge Jesus. Começou com uma comparação entre o vídeo-árbitro e um Ferrari. As metáforas com Ferraris nunca lhe saíram bem. Não percebi se tinha voltado à indireta ao Rui Vitória, se era uma referência ao “twitter” parvo do Benfica ou se estava a referir-se a um Ferrari vermelho conduzido por um qualquer árbitro ou vídeo-árbitro. Também nos confidenciou que o Lumor lhe tinha dito hoje que considerava que ainda estava na primeira classe. Penso que o Jorge Jesus nos queria dizer que só o voltaremos a ver jogar daqui a uns anos quando o rapaz estiver no primeiro ano do ciclo; mas nunca sabemos bem em que língua é que o Jorge Jesus se entende com os jogadores.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Prova de Porto “Vintage”

Há muito tempo que não provávamos um Porto “Vintage”, um Porto envelhecido em casco de carvalho ou pinheiro, mais precisamente. Desde os anos oitenta e noventa e no defunto Estádio das Antas que não provávamos uma colheita destas. Na altura, entranhava-se. Agora, estranha-se. Habituemo-nos, pois, para não estranharmos e até começarmos a entranhar outra vez.

O início foi prometedor. O Filipe, esse cara brincalhão, meteu um dedo no olho do Coentrão só para achincalhar o nosso Presidente. O Pinheiro mostrou-lhe amarelo por considerar que se tinha limitado a espetar-lhe o dedo no olho que estava pregado na testa. Mostrou amarelo ao Coentrão também por não ter seguido o bom exemplo do seu Presidente e insistir em manter os três olhos bem abertos. A falta para “penalty” seguida de outra, outra e mais outra do Soares sobre o Ristovski foram consideradas na linguagem eufemística e vagamente distraída dos comentadores como “luta de braços”. O Soares ainda se denunciou, desalentado, mandando um biqueirada para fora como quem diz “sou mesmo estúpido”. O Pinheiro sem saber se as faltas eram dentro ou fora da área e para não dar nas vistas e se atrapalhar mandou seguir jogo. O Ribeiro Cristóvão e outros que são contra o vídeo-árbitro costumam concluir quando este tipo de situações acontece que “o futebol é mesmo assim”.

O golo do Porto foi precedido de falta sobre o Bruno Fernandes. Se dúvidas existissem, o simples facto de a SporTv não ter passado a repetição dissipou-as. Pelo caminho, o Brahimi tentou enterrar a chuteira na barriga do Patrício, o Paciência enfiou uma bordoada no Acuña, o Herrera bateu, empurrou, agarrou e ninguém levou amarelo. O Pinheiro ainda se podia ter redimido duas vezes na mesma jogada. À entrada da área o Brahimi derrubou o Gelson Martins, não foi marcado livre nem mostrado amarelo, e a seguir não sei muito bem quem derrubou o Acuña e, face à insistência, foi marcada falta mas o amarelo ficou por mostrar.

Não foi somente o árbitro a trocar-nos as voltas. O Jorge Jesus trocou-nos as voltas também e, por alguns momentos, ficaram baralhados os seus jogadores e os do Porto. Os do Porto, depois de se desembaralharem, tomaram conta do jogo e empurraram-nos para trás, local onde queríamos ficar desde o início. O Patrício safou-nos uma, desviou com o seu olhar fulminante outra para o poste e a falta de jeito dos jogadores do Porto fez o resto. Finalmente, o Jorge Jesus assumiu que não consegue jogar nos mesmos termos do Sérgio Conceição e colocou a equipa a defesa mais atrás, apostando tudo no contragolpe. Não deu, mas podia ter dado.

Na segunda-parte estivemos melhor. Equilibrámos mais o jogo, só que nos nossos piores momentos o árbitro foi-nos empurrando e pressionando. Nos piores momentos do Porto, havia sempre uma falta que se marcava ou não se marcava, conforme a conveniência, e os nossos adversários respiravam melhor. Depois do golo, ainda sofremos mais um pouco, safando-nos o Patrício de ficarmos a perder por dois. Num assomo de dignidade, acabámos os últimos quinze minutos em cima deles. Por esta ou aquela razão não marcámos. O Rúben Ribeiro ainda ficou isolado, mas, subitamente, deu-se conta que estava com a camisola do Sporting e desfez-se da bola o melhor que pode e sabe, quando o Casillas com a sua habitual rapidez e sentido de oportunidade tinha ficado a meio do caminho e se preparava para uma frangada com estilo.

(Estas metáforas estão a ficar cada vez pior. A falta de imaginação é muita e a irritação ainda mais. Os “Vintage” envelhecem mais em garrafa do que em madeira. Os “Late Bottled Vintages (LBV)” é que envelhecem mais em madeira do que em garrafa. Não me pareceu é que qualificar o Porto do jogo de ontem como um LBV fosse completamente compreensível e para incompreensível bastava a arbitragem)

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

The answer is blowin' in the wind

Não fui à assembleia geral, nem ouvi ontem em directo e a cores a conferência de imprensa dos orgãos directivos (vulgo presidente) do nosso clube. Ao contrário do que costumava fazer na escola, li (e vi) os resumos. Para além do circo Cardinali (não confundir com o nosso jogador de futsal Cardinal, que após uma temporada nos Super Dragões voltou), retive duas ou três coisas, e é tudo.

Questiono o timing das Assembleia, tendo em consideração que, segundo as autoridades no assunto, as alterações não são de monta(?), então não se percebe bem o porquê de não se aguardar pela pasmaceira do Verão. Noutro sentido, se o presidente acha que o seu trabalho está a influenciar negativamente a sua vida pessoal, deveria ser o primeiro a promover o seu recato. Aquela cena de colher-se o que se semeia é capaz de fazer algum sentido.

Posto isto, devo dizer que, escutando os adeptos dos nossos rivais - e tendo em consideração os seres humanos exemplares, respectivos presidentes desses clubes –  dá-me muito prazer que o nosso Presidente se mantenha, não apenas pelo trabalho que tem feito, mas pelo ódio (será medo?) que causa nesses mesmos adeptos, em cujas vestes imaculadas se trajam os seus presidentes. Escutei-os ainda hoje de manhã ao café, esquecendo-se do estoco de pau típico de casa do ferreiro. Nesse sentido, só podemos estar no bom caminho.

De resto, e quanto à bola, ninguém poderá dizer-se surpreendido. Apenas JJ, legitimamente, segundo o próprio, por causa do vento, da cor da camisola dos adversários, da falta de tempo para preparar a equipa, das lesões de 50% do ataque, e do facto do Doumbia esticar o jogo para fora da sua ideia.

Desde o final do jogo com o Aves, em que JJ nos premiou com a lapidar frase do “fazemos normalmente um jogo em crescendo”, não se sabendo (ainda hoje) se esse crescendo será para os lados, até ao enigmático “não contávamos perder pontos aqui” (no Estoril), passando pela influência do vento nas marés que por sua vez tem consequência terrível nas luas e por sua vez na mente dos jogadores; neste tempo todo, toda a gente percebia o que ia (e estava) acontecer e só não aconteceu antes porque o povo leonino carregou a equipa às costas.

Não percebo, igualmente que, com tantas idas e voltas ao mercado, uma brisa seja suficiente para nos abanar. Mas entendo agora a insistência no Gelson mesmo de muletas, sem perceber, mais uma vez (e já são muitas) a suposta falta de soluções e de planos alternativos. Nem a desresponsabilização da equipa técnica. São ideias que tenho. Não mais de uma ou duas por semana.  

É isto, não é?

Se bem percebo, pelo facto de não se ter concluído a Assembleia Geral no sábado, perdemos o jogo no domingo contra o Estoril. Para garantir que, em Portugal, ninguém nos pára, vamos retomar a Assembleia Geral e aprovar tudo, ponto por ponto. Como queremos ganhar a Liga Europa também, vai-se aprovar tudo com uma percentagem elevada de aceitação. É isto, não é?

“I do not care to belong to a club that accepts people like me as members” constitui um aforismo do Groucho Marx muito apropriado a esta situação. “I hate reality but it's still the best place to get a good steak”, do Woody Allen, é outro que complementa bem o anterior. No fundo, trata-se de uma situação em que alguém não consegue viver consigo próprio, mas também não pode viver sem si próprio. É isto, não é?

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Jesus, Nossa Senhora!

Os nossos rivais ganharam ontem. Comentava-se que jogaríamos contra o Estoril sob pressão por essa razão. Nada de mais errado. Não precisamos dos adversários para isso. Sabemo-lo fazer sem ajuda de ninguém. Arranjou-se uma Assembleia Geral e umas escaramuças sobre estatutos para tudo se concluir com um período de reflexão do Presidente para ponderar se se demite ou não. Entrámos em campo sem se saber se amanhã temos Direção e se, porventura, não se tem que efetuar novas eleições. Isto tudo numa semana em que ganhámos a Taça da Liga, passámos para a frente do Campeonato e vimos o Presidente e um Vice-presidente do Benfica constituídos arguidos. É obra!

Contrariamente ao que se possa pensar, não considero que a primeira parte tenha sido a pior. Com o Doumbia o jogo estica-se mais um pouco e a equipa pressiona melhor na frente. Só que, jogando contra o vento, tínhamos dificuldade em sair à biqueirada em momentos de pressão. Levámos um golo de canto. O Coentrão ainda safou à primeira, mas não pôde fazer nada na recarga. Sem saber ler nem escrever o Estoril chega ao primeiro e logo a seguir ao segundo golo. Nesse lance, a defesa ficou a olhar para o bandeirinha e o próprio avançado também, que por desfastio acabou por marcar, à segunda, sem grande convicção.

A equipa reagiu e criou duas oportunidades de golo-feito. Na primeira, o Coates, isolado, rematou para a bancada. Na segunda, o Bruno César falhou o remate com a baliza aberta. Acabámos a primeira parte em cima do Estoril e iniciámos a segunda no mesmo registo. Rapidamente, criámos três oportunidades. Por isto ou por aquilo a bola não entrou. E é por volta da hora de jogo que os Jorge Jesus resolve enterrar-nos definitivamente. Não bastava estarmos com o depressivo Montero em campo. Era preciso metermos dois jogadores de futebol de salão: o Bryan Ruiz e o Rúben Ribeiro. Não bastava jogar com dez, era necessário arriscar tudo e passar a jogar com oito. A partir da última substituição, não mais o Sporting conseguiu pressionar o adversário e criar oportunidades, expondo-se a sofrer mais uns tantos que o Patrício fez o favor de salvar, para não sairmos de campo não só derrotados como humilhados.

A equipa do Sporting não está desde há muito a jogar nada. O Jorge Jesus quer-nos fazer crer que está tudo pensado e que estamos a jogar à italiana. Considerou ainda que a vitória na Taça da Liga lhe dava razão e explicava uma tática qualquer que diz dispor mas que ninguém entende. É pura e simples banha-da-cobra para enganar tolos. O Sporting tem uma defesa excelente e um trinco campeão Europeu. Dispõe de um ponta-de-lança de nível europeu, apoiado por dois excelente jogadores, como o Gelson Martins e o Bruno Fernandes. O que explica os resultados são a qualidade dos jogadores e as probabilidades.

É para jogar o Bryan Ruiz, o Rúben Ribeiro e o Montero que entra e sai um camião de jogadores a cada abertura de mercado? Foi para eles jogarem que se dispensou o Gelson Dala, o Yuri Medeiros e o Francisco Geraldes e não se dá uma oportunidade ao Rafael Leão? É para se fazer estas escolhas que se paga ao treinador o maior salário de sempre no futebol português? Queremos um treinador. Dispensamos um fanfarrão.

PS1. O Presidente diz que se vai embora. Se, na quarta-feira, não corre bem o jogo contra o Porto, tenho a impressão que vai muito bem acompanhado pelo Jorge Jesus. 

PS2. Conhecemos o Manuel Mota. O Manuel Mota insiste em se dar a conhecer mesmo quando não precisa, como foi hoje o caso. É inacreditável como permitiu não só todo o antijogo aos jogadores do Estoril como o premiou com cinco minutos de descontos. Haja vergonha!

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Benfica no Xadrez

A relação entre o Benfica e o Xadrez nem sempre é a mais óbvia e não se rege exclusivamente pelo momento, pela conjuntura. Benfica e Xadrez são dois substantivos próprios. Benfica no Xadrez, título deste “post”, pode ser uma alusão à equipa de Xadrez do Benfica, se é que ela existe. Benfica no xadrez teria um significado completamente distinto, mas não é função deste blogue andar à procura do “Wally”.

Este é um “post” sobre o Benfica e o Xadrez em caixa alta. No “post” anterior, efetuei uma série de comparações entre os jogadores do Sporting e o jogo contra o Guimarães, respetivamente com o Karpov e o Kasparov e um jogo de xadrez. Um bom colega meu, benfiquista, explicou-me que as comparações eram despropositadas, mesmo espúrias, não respeitando o Xadrez e os seus dois grandes mestres e Campeões do Mundo.

A esmagadora maioria dos jogos entre o Karpov e o Kasparov acabou com empate, o que não foi o caso do jogo contra o Guimarães. Os dois campeões não tinham o mesmo estilo de jogo e cada um deles não tinha como objetivo anular o jogo do adversário. O Karpov era um jogador posicional ao passo que o Kasparov era um jogador agressivo. O jogo de pares, entre peões nomeadamente, sobre o qual assentou uma das metáforas que elaborei, não reflete os embates entre eles. Para além de adversários, eram sobretudo arqui-inimigos. O nosso arqui-inimigo é o Benfica e não o Guimarães. Por fim, qualquer um deles é mais alto e mais forte do que o Montero, dispondo assim de melhores condições para substituir o Bas Dost ou acasalar com ele.

Ganhámos ao Guimarães e passámos para a frente do campeonato. A euforia subiu-nos à cabeça e daí à arrogância, como se viu, é um passo. É preciso ser mais humilde, coisa que não fui, levando necessário corretivo de um benfiquista. Não foi bem um corretivo. Fui mais vítima de “bullying”, dado que esse meu colega é grande jogador de xadrez. Os mais crescidos não devem bater nos mais pequenitos, seja no xadrez seja no que for. Mas os benfiquistas são assim, não respeitando ninguém. Se puderem humilhar, humilham, mesmo quando existem grandes assimetrias de força, poder ou inteligência. Está-lhes na natureza, como o escorpião.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Xadrez em “slow motion” e um costa-marfinense que não compreende o francês do seu treinador

Ontem, contra o Guimarães, qualquer resultado servia. Se perdêssemos, um colega meu de trabalho, que é do Porto, iria estar muito mais bem-disposto hoje, facilitando a resolução de um problema comum. Se empatássemos, não faríamos pior do que o Porto ou o Benfica. Se ganhássemos, ainda melhor. Se ganhássemos durante os noventa minutos, então faríamos o pleno e o “post” habitual ficaria muito facilitado. Há muito tempo que não me encontrava tão descomprometido para ver jogar o Sporting, assistindo simplesmente a uma partida de futebol enquanto manifestação desportiva e cultural.

O estado de espírito era de tal forma que não me aborreci nada por assistir a uma primeira parte que mais parecia uma partida de xadrez. Avançava um peão de um lado e, logo a seguir, avançava outro do outro lado para bloquear o seu avanço. Cada peça deslocava-se à vez. A velocidade de jogo era digna de um Karpov vs Kasparov mas em “slow motion”. O William Carvalho continuou com a cabeça de quem joga a seis a jogar a oito e, portanto, quando passava não se desmarcava, não saindo do sítio nem fazendo com que a equipa saísse do sítio também. Nãos saíam os nossos e não saíam os deles. Às tantas, um defesa deles chegou a pedir ao Bas Dost para mandar o Coentrão centrar, dado que estava a ficar com formigueiro nas pernas de estar tanto tempo de pé sem se mexer.

Sem tempo a perder, o Jorge Jesus decidiu começar a segunda parte a jogar tudo por tudo, metendo o Montero. Se estávamos a jogar parados com onze não havia nenhuma razão para o não fazermos com dez com idêntico resultado ou falta dele. Sem jogar há dois meses e em plena pré-época, o nosso acabrunhado avançado, que nunca primou pela intensidade que empresta ao jogo, apresenta uma desenvoltura física que também não faria corar de vergonha o Karpov ou o Kasparov. Depois veio o azar e a sorte ao mesmo tempo. O Bas Dost, lesionado, teve de sair e entrou o Doumbia. Ter um jogador da Costa do Marfim que não percebe o francês do Jorge Jesus ajuda. Desatou a correr como se não houvesse amanhã, desmarcando-se e esticando o jogo e, com isso, obrigando os centrais a correr atrás dele. Para seguir o exemplo ou porque estava frio, os restantes colegas desataram a jogar mais depressa, com o próprio Battaglia a deixar de estar parado atrás à espera de um contra-ataque e a tentar entrar no jogo e a chegar-se mais à frente no seu jeito de quem não tem jeito. Percebendo que podia jogar com um médio mais ofensivo, o Jorge Jesus tirou-o e meteu o Bruno César do lado direito.

Com a equipa a correr e a pressionar e o Doumbia obcecado com a baliza, o Guimarães deixou de conseguir sair com bola e de avançar a defesa. Com as nossas duas torres, de nada valia meter a bola comprida nos avançados. O cerco estava finalmente montando, só faltando a estocada final. Era preciso razão e coração ao mesmo tempo, isto é, era preciso não despejar bolas à maluca e aproveitar aqueles momentos em que o adversário parece tremer e a equipa acredita que vai marcar. Quando se acredita que se vai marcar está-se mais próximo de marcar e quando se começa a descrer na capacidade de segurar o adversário mais próximo se está de sofrer. Essa inteligência emocional está disponível às carradas no Coentrão e no Mathieu, que parecem saber sempre o momento certo para lançarem as investidas que fazem acreditar a equipa e adeptos.

O Doumbia falhou a primeira oportunidade na cara do guarda-redes. O Coentrão centrou comprido e apareceu ao segundo poste o Bruno César a rematar ao poste. O Acuña à meia-volta ia marcando o golo de uma vida. À quarta, em vez de marcar um livre com o “tiki-taka” do costume, o William Carvalho, por impulso e de forma completamente impensada, meteu a bola rapidamente no Acuña que acelerou e centrou tenso para o Mathieu marcar da mesma forma e com mesma certeza que converteu os “penalties” do fim-de-semana passado, começando a festejar ainda antes de rematar. Os últimos dez minutos foram dignos de uma equipa que quer ser campeã e sabe gerir um resultado, contrariamente ao demonstrado no jogo contra o Setúbal no Bonfim, continuando a pressionar a saída de bola do Guimarães e controlando o jogo com bola no meio-campo adversário.

Quando acabou o jogo, percebi que o meu descomprometimento de início de jogo se tinha transformado numa pilha de nervos e, depois, em entusiamo. Ganhámos em noventa minutos, que não chegaram para o Porto fazer o mesmo e foram curtos para o Benfica empatar. Só quando cheguei a casa é que caí em mim e percebi que hoje ia ter um dia de trabalho chato, muito chato. Talvez convença o meu colega a adiar a conversa para a próxima quinta-feira, depois do primeiro jogo da meia-final da Taça de Portugal. Pode ser que nessa altura esteja mais calmo ou, melhor ainda, que fique tão doente que nem ao trabalho apareça.