terça-feira, 19 de março de 2024

Narrativas

Cada jogo é um jogo e um jogo é um jogo, envolve aleatoriedade, sorte ou azar. No entanto, não se escrevem sucessivas crónicas sobre os jogos [do Sporting] sem uma narrativa que os integre, que lhes dê um sentido [de conjunto]. Essa narrativa está presente quando se vê um jogo e esse jogo não é compressível por si, sem uma interpretação dos jogos que o precederam e um exercício de prospetiva sobre aqueles que lhe irão suceder. Escreve-se a crónica de um jogo a pensar nos anteriores e nos que se seguirão. O objetivo é ter sempre razão, [re]interpretando o passado ou antecipando futuros  desejáveis [sempre que possíveis].   

Nesta altura, perguntar-se-ão sobre a razão de ser destes prolegómenos. Uma das principais razões é a necessidade de encher chouriços. Uma crónica de um jogo também é um chouriço. Nem sempre os jogos proporcionam as melhores partes do porco, mas tem que se encher o chouriço seja como for [e se não for possível encher um chouriço, enche-se uma alheira ou uma morcela]. Há jogos que não dão para mais do que um [metafórico] chouriço, é um facto. Outra razão [pueril também] é que pode fazer sentido dizer o que se vai dizer a partir do que disse ou a pensar no que [hipoteticamente] se vai dizer a propósito dos próximos jogos. Esta crónica não deixa de ser um chouriço, mas também não é plenamente compreensível sem a leitura das crónicas anteriores, especialmente das duas ou três últimas.

Essas crónicas deixaram [boas] pistas para o que ia acontecer neste jogo [do Sporting] contra o Boavista. A intervenção [um pouco] despropositada do Franco Israel no primeiro golo, o golo do Boavista, consolida a narrativa que se tinha construído. Essa narrativa é consolidada também no nervoso miudinhos dos jogadores e do Rúben Amorim após o golo, na embirração do árbitro, na asfixia do adversário até ao mata-leão, que permitiu o empate ainda antes do intervalo, na disponibilidade física da equipa e, especialmente, do Gyökeres para ir terraplanando o adversário até à sua capitulação. 

Quando se ganha por seis a um, não há muito [mais] para contar. O resultado autoexplica-se. O que talvez não seja simples de explicar é a substituição do Hjulmand [ao intervalo]. Quem tem um amarelo corre o risco de levar o segundo e deixar a sua equipa a jogar com menos um, foi assim que o Rúben Amorim explicou. Este texto dispõe de um subtexto, para nós, quem tem um amarelo num lance que não comete falta, que sofre falta, que é agredido sem que o adversário seja expulso, não pode disputar mais nenhum lance ou não acaba o jogo. Nós [adeptos do Sporting] achamos normal, a imprensa também. Mas como é que se explica esta normalidade ao Hjulmand? Em português de Portugal compreende-se bem, mas em dinamarquês da Dinamarca também? 

10 comentários:

  1. Caro Rui,
    Com essas crónicas só podemos ser campeões. Jogo a jogo e crónica a crónica o Sporting voltará a ser Campeão!

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    1. Caro Frederico Fernandes,
      O objetivo é mesmo esse: dar o meu humilde contributo para esta caminhada [que se espera que culmine com o título]. É preciso sofrer e quem sabe sofrer sofre melhor do que os outros. Os meus “posts” são um modesto contributo para se sofrer menos ou se sofrer melhor.
      SL

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  2. Aqui há uns dias, no meio de uma insónia, dei por mim a pensar que os sportinguistas, ao contrário de Hujlmand, estão tão habituados a este tipo de arbitragens que quando beneficiam de uma arbitragem chamemos-lhe normal até se sentem incomodados porque lhes parece que estão a ser beneficiados.

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    1. Caro José Carlos,
      Acho que até já estamos um passo à frente. Um “penalty” mal marcado ou uma expulsão injusta não são sancionados por nós, mas assumindo que a culpa é nossa por nos termos posto a jeito. Estamos na fase do Síndrome de Estocolmo. Já sentimos ligação emocional à rapaziada do apito. Já não imaginamos os nossos jogos sem ela. Se, de repente, a arbitragem passasse a ser uma coisa séria e a sério não sei como é que iríamos sobreviver [nem dormir].
      SL
      RM

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  3. José Carlos:
    Não é que penso o mesmo? Assino por baixo.

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    1. Meu caro,
      Estamos todos de acordo. Se isto mudar e passar a ser sério e a sério não aguentávamos. Era insónia atrás de insónia, noite após noite.
      SL
      RM

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  4. Acho que o próprio Rúben Amorim já define a táctica com base nas arbitragens manhosas.
    Não foi por acaso que em dois jogos recentes, depois de dois penaltis escandalosos não assinalados, o SCP marcou golo na jogada seguinte.
    Um foi o golo de cabeça do Pote após penalti cometido sobre ele mesmo por João Neves no jogo da taça com o Benfica e o outro foi o golo de cabeça do gyokeres

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    1. ...na marcação de um canto em jogo que já não lembro também depois de não ser assinalado penalti claro

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    2. Caro José Carlos,
      Não tenho a mínima dúvida que o Rúben Amorim incorpora na sua tática a tática da arbitragem nacional. O exemplo mais flagrante é este de substituir os jogadores com amarelo ao intervalo. Outro é o de aproveitar os lances como os que referiu [o jogo foi contra a o União de Leira para a Taça de Portugal, se bem me lembro].
      Nunca se desculpa também com a arbitragem por duas razões, a meu ver. A primeira é que não lhe adiante de nada [como temos visto ao longo de anos e anos]. A segunda é que acaba por desresponsabilizar os jogadores [mesmo que ele saiba que a responsabilidade nem sem é deles.
      SL
      RM

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