domingo, 31 de agosto de 2014

Saudades de Vénus



Acabadinho de chegar de umas imerecidas férias em Vénus (há que que aproveitar as promoções principalmente aquelas para destinos verdes) tive que recuperar alguns “postes” que não pude aceder em momento oportuno pois a rede em Vénus é miserável (nem um ponto de FON ZON existe!). Um dos “postes” que me despertou a curiosidade foi o Analisando a transferência do Rojo, com o recurso a Sartre e Derrida. Por formação e deformação profissional a “desconstrução”, conceito filosófico elaborado por Jacques Derrida, sempre me atraiu pois sempre achei interessante, e algo maquiavélica, a ideia de criticar os pressupostos dos filósofos, nem que fosse apenas pela semântica, pondo levemente em causa a sua nobre missão da construção de edifícios intelectuais racionalmente inquestionáveis. A famosa pedrinha na engrenagem. 
Estava eu ainda nessas púberes deambulações mentais, só justificáveis pelos efeitos secundários das viagens espácio-temporais, quando ouvi os comentários do J. Jesus após o jogo de hoje e, nesse momento, percebi como o Derrida deixou escola. O desconstrucionismo faz já parte do léxico dos treinadores de futebol, principalmente do “melhor do mundo”. «O SLB foi melhor e merecia ganhar o jogo» e «o SCP estava contente com o empate»? Não uma pedrinha mas sim um verdadeiro calhau em qualquer tentativa de racionalidade.E a alguns paineleiros da tvi ouvi: «a culpa do empate foi do Artur», isto porque deu o golo e não falam dos dois que evitou? São (ir)realidades paralelas, o discurso diz afinal coisas diferentes das que diz! Até sempre Derrida, Artur, Jesus e outros. E eu já com saudades de Vénus.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Os Elos mais Fracos

Existem muitas formas de olhar para as mudanças numa equipa de uma época para a outra. Uma das abordagens possíveis é rever o que se passou no ano anterior e analisar se os elos mais fracos foram identificados e corrigidos.

Apesar da boa prestação no ano passado, naquilo que depende de si, penso que o Sporting tinha dois "elos mais fracos": os extremos e a posição 10. 
 
Olhando para a presente época parece-me claro que, mais penalti no poste menos penalti no poste, tudo indica que a questão do extremo está (muito bem) resolvida. Aquilo que me preocupa mais é quem joga a 10. Vimos no Sábado que contra "autocarros" (e vão ser muitos) jogar com aquele meio-campo é dar um presente ao adversário. Para além disso parece-me que o André Martins está mais próximo de ser um suplente útil do que um titular indiscutível. Assim sendo, a questão do 10 está longe de ser resolvida e deve preocupar Marco Silva.

PS: Na sequência do que aconteceu em Coimbra parece-me que no Sábado fomos novamente "anjinhos" pelo menos em duas ocasiões: num ataque após o golo, em que se arriscou um desnecessário 2-0 quando era mais sensato segurar a bola; e na grande penalidade, em que os nossos jogadores se entreteram a discutir quem marcava em vez de irem todos "lembrar" o árbitro que se tinha "esquecido" do inevitável 2º amarelo ao jogador do Arouca. Aqui não há elos mais fracos, estamos simplesmente a anos-luz dos nossos adversários directos.

SL

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Nani

Ontem, num grande momento de “zapping”, encalhei por breves momentos num intervenção de um tal de António Simões. Sem se rir, o homem estava a comparar o Ronaldo, o Quaresma e o Nani. Não vi nem ouvi mais nada. Percebi logo aonde queria chegar. A comparação entre os três ou é ridícula ou só pode ser feita de má-fé.

O Cristiano Ronaldo é o melhor jogador português de todos os tempos. É um dos melhores jogadores do Mundo de todos os tempos também. Em cada país, na melhor das hipóteses, aparece um jogador destes de cem em cem anos. Hoje, só é comparável com o Messi. Compará-lo com outros jogadores só serve para os rebaixar.

Comparar o Quaresma ao Nani é a mesma coisa que comparar o toucinho e a teoria da relatividade. O Quaresma, antes de regressar ao Porto, tinha sido corrido de um equipa de nome impronunciável que só o Freitas Lobo é que deve saber qual é. Nunca passou do banco em todas as equipas de topo europeias onde jogou (jogou é uma forma de dizer). O Nani continua a ser jogador do Manchester United, um dos maiores, se não o maior, clubes do Mundo. Jogou no Manchester United sete anos. Foi uma aposta firme de um dos melhores treinadores de sempre. Jogou, no verdadeiro sentido da palavra, e ganhou títulos.

Devia ser um orgulho para todos os sportinguistas ter aceitado regressar. Devia ser um gosto para todos os rivais voltar a vê-lo no campeonato nacional. Mas a clubite cega toda a gente. Não cega os adeptos. Cega os comentadores e os jornalistas. Para diminuírem o Sporting têm que apoucar um dos melhores e mais bem-sucedidos jogadores portugueses de todos os tempos.

domingo, 24 de agosto de 2014

Não se desculpa mais uma parvoíce destas

Estive a respirar fundo na última hora. Procurei nos blogues do costume qualquer coisa que me esclarecesse. Li o habitual. O que estão a dar são os apoios frontais do Montero e as movimentações do André Martins, mais umas coisas que o Esgaio fez. Os outros, como são todos estúpidos, só estragam as brilhantes jogadas que estas duas luminárias supostamente têm dentro da cabeça e não nas pontas das botas.

Dirijo-me ao treinador que também deve andar a ler estas parvoíces e a tomar coisas para a cabeça.

Ó Marco Silva, não estás a treinar o Estoril. No Estoril podes jogar com os apoios frontais que quiseres, podes aproveitar o avançado para tirar a bola da zona de pressão e mais uma série de parvoíces do género. Desde que não seja a derrota, no Estoril, qualquer resultado é bom e o Arouca é um adversário a ter em conta. No Sporting os jogos contra os Aroucas desta vida são para ganhar e esmagar. Podemos não ganhar. Podemos perder. Agora, o adversário tem que passar um mau bocado. Não pode ter uma primeira parte descansada como a que teve.

Um avançado no Sporting serve para marcar golos. Se não marca não serve. Serve para esticar o jogo para a frente. Serve para estar sempre na linha do fora-de-jogo e a pressionar para trás a defesa. Não serve para recuar, permitindo o avanço da defesa, e encurtar os espaços onde se pode jogar à bola.

Quando os extremos avançam para a área ou para a linha de fundo tem que estar alguém na área. E não podem estar poucos. É necessário que estejam lá uns dois ou três pelo menos. Os golos marcam-se na zona frontal e não nas laterais.

Depois, os médios e os avançados têm que ter golos nas botas. Quando avançam para a área os defesas têm que recear tudo. Que eles rematem de fora. Que eles entrem na área e rematem. Que passem por eles como cão por vinha vindimada. Não pode haver dúvidas. Quando a bola chega a certas posições os defesas têm que saber que o golo pode surgir a qualquer momento e que não vamos passar a bola para trás ou para os lados. O que mudou na segunda parte foi a determinação do Mané. Os adversários rapidamente ficaram a saber que o tinham que parar de qualquer maneira. É que ele, bem ou mal, com mais ou menos jeito, se lhe derem uma abébia, vai para o golo e mais nada.

Contra o Benfica, podes voltar aos apoios frontais e a todas as invenções que quiseres. Desde que não se faça muito má figura e se lute pela vitória, a malta desculpa tudo. O que não desculpa é mais uma parvoíce destas contra o Arouca.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Formação, seja isso o que for

Em férias temos tempo para tudo. Dantes, dedicava-me à leitura d’ “A Bola”. Agora, dedico-me ao “zapping” entre vários programas onde se discute futebol com o mesmo ar sério da crise financeira internacional ou das alterações climáticas.

Ontem, vi partes de um programa onde se falava do futebol de formação com as luminárias do costume. O melhor foi mesmo o Dani. Deu como grande exemplo o Ajax, onde esteve um par de anos e se destacou por não deixar dormir a vizinhança. Sobre o Sporting, onde atingiu a notoriedade que lhe permitiu ganhar bem a vida sem jogar a ponta de um chavo, nem uma palavra.

Em Portugal, a formação e o Sporting são uma e a mesma coisa (não basta dispor de umas equipas de iniciados, juvenis e juniores). Mas, como não se quer falar do Sporting sobre isso, para não se ter que elogiar, desenvolvem-se umas abstrações sobre o tema. Mais, fala-se da formação sem, num único momento, se refletir como é que o Sporting é tratado pela opinião pública e pelas instituições do futebol por esta sua aposta.

Não há política de formação que resista a um campeonato perdido por uma equipa com o Moutinho, o Veloso e o Nani com um golo metido com a mão. Não há política de formação que resista à não convocação do Cédric ou do Adrien. Não há política de formação que resista à sistemática crítica, antes, durante e depois do Mundial, à falta de intensidade, de maturidade e de outras coisas mais do William Carvalho (com a mesma ligeireza que se afirma que, com esses defeitos todos, existem pelo menos meia dúzia de clubes que estão dispostos a pagar por ele mais de trinta milhões de euros).

Nada de novo se avizinha este ano. O Paulo Bento continuará a fazer as convocatórias do costume. Descobrir-se-á mais um jogador qualquer que faz o lado direito, o lado esquerdo, o meio e, pelo caminho, ainda faz tapetes de Arraiolos, para não se convocar o Cédric. O Adrien continuará a ter todos os defeitos e será substituído pela Múmia do Tutancâmon. Um Cavaleiro qualquer será a grande revelação da época, tendo como prémio, por um lado, ser convocado para a Seleção e, por outro, a dispensa da sua equipa, esquecendo-se que esse Cavaleiro nunca marcará em várias vidas o mesmo número que golos que o Mané já marcou.


(A política de formação está a dar resultados este ano também no campeonato. Foi interessante ver o Cédric abalroado duas vezes, sem que tenha sido marcada qualquer falta, e sair lesionado ao intervalo. Os sportinguistas ficaram entusiasmados também com a expulsão do William Carvalho quando andam há anos e anos a ver outros grandes jogadores portugueses como o Javi Garcia, o Fernando, o Matic ou o Fejsa – para não falar do inacreditável Maxi Pereira - a distribuir fruta sem que nada lhes acontecesse)

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Fundos e férias

Férias são arroz de lingueirão, massada de peixe, chocos de coentrada, tudo regado, à falta de melhor, com Torre de Menagem, que está barato num qualquer hipermercado perto de si. São também as promessas de recuperação das leituras que deixámos para trás durante o ano e de revisão dos programas para o próximo ano letivo.

Estou a ler uma biografia do Karl Marx do Isaiah Berlin. Ao mesmo tempo, estou a rever os apontamentos de gestão para o próximo semestre.

A biografia inicia-se como uma frase de Joseph Butler. “As coisas são o que são e as consequências delas serão o que serão: porque desejamos então ser enganados?”. Espero que ninguém esteja a enganar-se a si próprio e aos outros. Espero que ninguém se deixe enganar.

Na gestão das organizações, existem várias formas de antecipar as eventuais consequências imprevisíveis das decisões que se tomam. Só assim ninguém se deixa enganar nem engana os outros. Basta provisioná-las devidamente. Se assim for, os efeitos nos resultados do Sporting decorrentes da rescisão do contrato com o Doyen são reduzidos. Se tudo correr bem, há pavilhão. Se não correr, fica para a próxima.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Analisando a transferência do Rojo, com o recurso a Sartre e Derrida

Hoje, o comentário futebolístico não é para qualquer um. Um Carlos Daniel ou um Freitas Lobo estão para o futebol como o Sartre está para o existencialismo ou o Derrida para desconstrucionismo. Como o Ricardo Araújo Pereira, na melhor das hipóteses, sinto-me habilitado para a análise de um Freamunde contra o Oliveirense.

Mesmo assim, contra o desconstrucionismo ou o existencialismo futebolístico, permito-me afirmar duas ou três coisas sobre o Rojo.

O Rojo tem pinta de ser bom de bola. É um central argentino. Isso só por si costuma bastar (se o Sporting quisesse dispor de centrais da Academia, há muito que os devia ter mandado rodar para o Estudiantes, o Velez Sarsfield ou o River Plate). Apresenta sempre um corte de cabelo à meneira: varia entre uma popa farfalhuda e um penteado delambido. Exibe umas tatuagens que não envergonham nenhum Raúl Meireles. Joga com umas chuteiras fluorescentes de marca. Cada alívio para a bancada é efetuado com o estilo de um médio de abertura dos All Blacks.

Que o Manchester United se tenha disposto a contratá-lo, surpreende-me. Que se tenha disposto a pagar, surpreende-me ainda mais. Que se tenha disposto a pagar vinte milhões de euros, deixa-me estupefacto. Será que a habilidade negocial está na vinda do Nani?

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

As Lições de Coimbra

Como é normal em futebol, um mesmo resultado leva a muitas interpretações. No caso do nosso resultado de Coimbra já ouvi Sportinguistas dizer que está tudo mal, que os jogadores são fracos e estão contrariados, já ouvi dizer que está tudo bem e mais uma vez se viu uma arbitragem habilidosa roubar-nos o que justamente nos pertenceria. Eu prefiro olhar para o futuro e como tal perceber que lições podemos aprender com a viagem à cidade dos estudantes.
A primeira lição não apanha os leitores deste blog de surpresa: existe um Sporting com William e outro sem ele. Não tem nada a ver. No Sábado o Sporting não jogou com 10: jogou com 10 e sem o William. Apesar de ter subido no terreno após o golo, em 65 minutos a Académica teve um lance de real perigo. Quem o vê jogar quase não acredita, mas ele é mesmo um jovem ainda em crescimento, e infelizmente em Coimbra resolveu lembrar-nos disso mesmo.
A segunda lição foi a coragem de Marco Silva. Todos os ilustres pensadores de bola deste país achavam que seria Paulo Oliveira a jogar. Marco apostou em Sarr e quanto a mim ganhou um central que não vai deixar de ser titular neste Sporting. Tal como William, Sarr é um jovem e teremos de estar prontos para "dores de crescimento".
A terceira lição também já foi aqui discutida: a incapacidade de "queimar tempo" e "congelar o jogo" foi notória. Não digo que o Sporting precise de saber fazer o que tantas vezes se vê em Portugal: queimar metade dos 90 minutos. Mas ser capaz de queimar metade dos últimos 10 a 15 minutos é fundamental.

domingo, 17 de agosto de 2014

Um jogo demasiado fácil

O jogo de ontem, contra a Académica, foi demasiado fácil e foi exatamente por isso que se tornou difícil. A Académica entrou à Paulo Sérgio, de caras. Vimos aquele filme várias vezes em Alvalade. Os jogadores a tentarem pressionar alto, correndo que nem uns malucos atrás da bola. Com dois, três toques os jogadores do Sporting estavam isolados no meio-campo com a defesa completamente desequilibrada. Os lances de ataque com perigo sucediam-se a uma ritmo elevado. Marcou-se um golo. Podiam-se ter marcado mais dois ou três.

Por volta da meia hora o Sporting baixa o ritmo. A Académica respira fundo. O árbitro começa a colocá-los próximo da nossa área. Falta de um lado, falta do outro e a Académica foi despejando umas bolas para dentro da área. Do outro lado não havia faltas. De repente, sem se saber porquê, o Sporting viu-se a ter que defender. A dúvida começou-se a instalar na cabeça dos jogadores. Todos sabemos como é, quem não marca sofre.

A segunda parte voltou ainda mais embrulhada com a saída do Cédric. O Sporting ainda foi criando oportunidades. Mas, por isso ou por aquilo, não marcou. A Académica tem o primeiro lance de golo com um cabeceamento ao lado. De repente, o William Carvalho faz uma falta estúpida e leva o segundo amarelo. As dúvidas adensam-se.

A Académica continua sem grande jeito. Umas biqueiradas para a área à espera que numa molhada alguma coisa pudesse acontecer. Numa dessas molhadas, um nabo qualquer chuta com o pé que tinha mais à mão e a bola, às três tabelas, só é parada pelo Patrício.

Foi nesta fase que o Sporting me surpreendeu. Fomos uns passarinhos. Continuámos a jogar o jogo pelo jogo. Ninguém procurou segurar a bola e ganhar a falta. Quando havia falta, ninguém se rebolava pelo chão aos gritos. O André Martins leva uma calcadela e, em vez de se rebolar no chão aos gritos, limita-se a calçar a chuteira, que lhe tinha sido arrancada, e a voltar a entrar em campo. Ninguém pressionou o árbitro. O lateral direito fez meia dúzia de faltas e não levou amarelo.

O lance mais caricato deu-se aos oitenta e cinco minutos. O Carrillo segura a bola na frente. Espera a desmarcação do Rosell, dá de calcanhar, o Rosell centra de primeiro, o Montero remata e o guarda-redes meio com as mãos meio com a cabeça cede canto. Quando se esperava que o Jéfferson viesse do outro lado do campo a passo, demorando pelo menos meio minuto, para marcar o canto, eis que o Carrillo coloca a bola para a bater. Quando se esperava também que a atrasasse para alguém e que a procurassem manter em conjunto, ganhando uma falta, um novo canto ou um lançamento, perdendo-a na pior das hipóteses para a lateral, faz o centro para a área. O bandeirinha diz que a bola saiu. Um lance que devia ter permitido que o Sporting mantivesse a bola dois ou três minutos no campo do adversário e que este, para sair, tivesse que recuar a equipa, deu origem rapidamente a um ataque do adversário.

O último lance da partida ainda é mais caricato. O lateral faz três faltas seguidas. O árbitro, a custo, lá marcou falta. O Capel, em vez de parar o jogo e esperar que os centrais e a restante equipa subisse para dentro da área, resolve passá-la de imediato permitindo que o árbitro desse o jogo por terminado.

O que impressionou no treinador não foram as substituições. O André Martins estava morto e o Carrillo também. Era difícil dizer qual deles estava mais morto. O Carrillo estava um pouco mais vivo, como se viu. O problema não foram as substituições, altamente condicionadas pela lesão do Cédric. O problema foi que o Sporting continuou a jogar o jogo pelo jogo após a expulsão do William Carvalho. O Marco Silva está habituado ao Estoril. No Estoril isso é possível. No Sporting não é. É mais difícil jogar o jogo pelo jogo quando se joga sempre a subir e o adversário sempre a descer.

sábado, 16 de agosto de 2014

O circo desceu à cidade

Não se podem falhar tantas e tão boas oportunidades de golo. Aos trinta, trinta e cinco minutos, o jogo podia estar acabado. Mas não. Ou falha o último passe ou falha o remate. Remata-se quando se deve passar. Passa-se quando se deve rematar. Sobretudo, hesita-se sempre no momento na definição.

Depois começou o típico jogo que vamos ter que enfrentar ao longo da época. Faltas de um lado marcadas que do outro não são. Amarelos para um lado e falta de amarelos do outro. E jogo foi-se embrulhando.

Até que se deu a expulsão do William Carvalho. A partir daí, era sofrer até ao fim. Sofreu-se mal. Levámos um golo nos descontos em que, entre o Carrillo e o Paulo Oliveira, se perde duas vezes a bola.

Moral da história, ou se resolvem os jogos quando é possível ou vamos ter este filme mais vezes. Nada que não estejamos habituados. Se o Marco Silva não está, é importante que se habitue.


(Foi evidente o momento em que o jogo virou. Não foi na expulsão do William Carvalho. Foi quando o árbitro não marcou duas faltas seguidas sobre o Cédric. Se alguém tinha dúvidas, deixou de ter. O circo tinha regressado à cidade e o espetáculo ia começar)

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O único grande reforço

O Sporting ficou em segundo lugar na época passada. Deu luta até ao fim. Não foi por acaso. As nossas maiores debilidades foram os extremos e o médio mais ofensivo. Só que os jogadores dessas posições são raros e caros. Sendo assim, não era fácil encontrar reforços que entrassem diretamente na equipa titular.

O grande reforço para esta época é a manutenção do William Carvalho. Com ele, não é fácil apanhar a equipa descompensada, não é fácil pressioná-la. Está sempre no sítio certo, seja a atacar ou a defender. Quando avança a equipa avança. Quando recua a equipa recua. Com a bola, encontra sempre a melhor solução e o colega menos pressionado pelos adversários. Se não encontra de imediato, segura-a o tempo que for preciso, não a perde. Parece que tem uma “playstation” na cabeça.

Sem ele, todos os outros seriam sofríveis. Com ele, o Maurício não parece ter custado uma bagatela. O Rojo fica menos amalucado. O Cedric e o Jéfferson atacam e defendem com confiança. O Adrien não tem medo de perder a bola e pressiona mais à frente. Se alguém se sentir atrapalhado com a bola só precisa de a remeter para aquele porto seguro. De vez em quando, surpreende os adversários com uma arrancada, um passe vertical, que deixa para trás meia equipa adversária.

Se ficar, o Sporting será forte. Se sair, o Sporting será sofrível.


(O Slimani também merece uma referência. Em Portugal, qualquer equipa precisa de um “pinheiro”. Quando se encontra um “pinheiro” que marca golos, só por muito dinheiro é que uma equipa se desfaz dele)

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A entrevista do Presidente e o que ficou subentendido

Dos nossos jogadores mais cobiçados, Rojo, Slimani e William, o Rojo é o menos importante.

O Rojo é um cromo. No princípio da época passada ninguém dava um tostão furado por ele. O número de golos que o Sporting sofreu por culpa do seu posicionamento, de andar a correr atrás dos jogadores adversários para as laterais deixando a zona central em inferioridade numérica, de se esquecer de avançar ou recuar e deixar os avançados isolados.

Com o Jardim as coisas melhoraram e muito. Mas melhoraram e muito pelo posicionamento coletivo e, sobretudo, pelo William Carvalho. Passou a existir alguém que pela forma como se posiciona é um autêntico semáforo para o resto da equipa, com a vantagem de não deixar a zona central parecer um autêntico baldio.

O Rojo fez um Mundial sofrível, como aliás foi sofrível o Mundial da Argentina. Repetiu a lateral esquerdo o que fazia connosco a central. Pau sempre que necessário e, depois, aquela forma de jogar um pouco à maluca. Os golos em que participou são o sinal disso mesmo. As botas, o corte de cabelo, o ar determinado e empenhado, o ter jogado a final, valorizaram-no. Ainda bem.

Com o negócio que o Sporting fez com a aquisição do Rojo, nenhuma proposta de compra interessa. Por muito que paguem, a parte do Sporting mal chega para os gastos na sua aquisição. O que é que o Sporting pode fazer? Fazer valer os seus direitos desportivos e só vender quando alguém se chegar à frente da maneira certa. O Sporting não pode ganhar o que está previsto contratualmente. É preciso que alguém pague mais ao Sporting seja de que maneira for. Se para receber mais alguém tem que receber menos, que assim seja. Foi isto que disse, a meu ver, o Presidente na entrevista de ontem.


(A Direção do Sporting sempre soube que as saídas do Dier e do Rojo eram inevitáveis. Está a jogar com o tempo para ganhar o mais possível. Pelo caminho contratou três centrais para os substituírem. Espera-se que o Marco Silva faça com eles o que o Jardim fez com o Rojo ou com o Maurício. É para isso que lhe pagam)

O Dier outra vez

Desta vez são o Slimani e o Rojo. Os jogadores querem ganhar mais. É legítimo. Os clubes dispõem dos seus direitos desportivos. Só estão disponíveis a transaccioná-los se ganharem o mais possível em termos, quer desportivos, quer financeiros. É legítimo também.

A legitimidade é maior ainda. Os riscos dos clubes ao fazerem contractos de três, quatro ou cinco anos são enormes. Para acertar num Slimani é necessário enfiar três barretes, ou Purovics como se quiser. A venda do primeiro não precisa só de gerar lucro por si só. Tem que pagar os Purovics também.

Os jogadores são aliciados com salários mais elevados. Os fundos pretendem recuperar o capital no mais curto espaço de tempo e com a maior rentabilidade possível. Os empresários dos jogadores ganham mais quanto maior for o número de transacções que conseguirem com o mesmo jogador.

Os clubes o que é que podem fazer? Se não têm cheta, cedem. Se não estiverem com uma mão atrás e outra à frente, estão dispostos a perder tudo e colocam os jogadores a treinar na equipa B. A solução acaba por ser a meio caminho das duas opções extremas, mas mais próxima da primeira. Os clubes fingem que não cedem e acabam por ceder num “timing” diferente e envolvendo um outro clube qualquer.

A moral da história é sempre a mesma. O futebol é um negócio peculiar. Todos os que estão envolvidos nele ganham e enriquecem, com excepção das empresas que efectivamente prestam o serviço.

domingo, 10 de agosto de 2014

Passando pelas brasas

O trabalho tem sido muito e debaixo de alguma pressão. O cansaço é muito. Os dias de Tróia a comer arroz de lingueirão e chocos de coentrada ainda estão longe.

Sento-me à secretária a ver se cato um “streaming” marado qualquer para ver o jogo do Sporting contra o Nacional de Montevideu. A expectativa não era muita. O jogo contra o Gijon deixou-nos desconfiados.

Não jogámos mal. Estamos bem no que já estávamos. No que não estamos bem, também nunca estivemos. Vi o jogo enquanto ia passando pelas brasas.

A defesa parece continuar sólida. Aparecem jovens promessas da Academia. Contratam-se mais uns tantos centrais, mas o Maurício parece não dar hipóteses a ninguém. Não é brilhante, mas não perde a primeira bola de cabeça. O jovem francês não parece mau. É lento, mas é grande. Os laterais também não comprometeram a defender. O Montevideu não criou uma oportunidade de golo nem esteve perto de a criar.

O meio-campo é o que conhecemos. Com o Willian Carvalho somos uma equipa. Sem ele, somos outras. Não está ainda em grande forma. No entanto, agora que ganhou estatuto já dá umas porradas como devem ser dadas. O Adrien e o André fazem o que podem e sabem. Nem sempre sabem ou podem tanto como gostaríamos.

O pior está no ataque. O Carrillo, uma ou outra vez, parece que sabe o que está a fazer. O Heldon nem isso. A quantidade de jogadas promissoras de ataque que acabam num centro para a molhada é impressionante. Todos os defesas sabem sempre o que os nossos extremos vão fazer. Ou isto muda ou vamos ter uma época como a do ano passado. Sempre a sofrer o tempo todo. Fomos felizes. A felicidade não dura sempre.

O Slimani continua com vontade, mas, hoje, só a vontade é que pôde ser avaliada. O Mané esteve melhor hoje. Fez umas arrancadas pelo meio interessantes.

O Marco Silva não estragou nada. Há quem pense que é pouco. Não é. Mas precisa de fazer mais alguma coisa no ataque. Não se podem desperdiçar lances sobre lances de ataque por má decisão dos extremos.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A história do Dier contada às crianças

Li no blog a Norte de Alvalade a entrevista do Dier ao Record. A entrevista é esclarecedora sobre o que escrevi aqui.

Os jogadores querem receber a mais alta remuneração possível com a mais baixa cláusula de rescisão possível também. Os clubes querem pagar a mais baixa remuneração possível com a mais alta cláusula de rescisão possível também.

É possível encontrar um ponto de equilíbrio por vezes. A maior das partes das vezes não é.

Quando os jogadores são bons, saem quando lhes aparece a proposta mais vantajosa possível. Os clubes tentam ganhar o maior encaixe possível com essa saída.

Quando os jogadores são maus, os clubes tentam rescindir com eles pagando o menos possível ou dispensando-os para os locais mais improváveis. Os jogadores resistem enquanto podem para obterem a maior indemnização possível.

No fim, isto é bom para os clubes que apostam na formação? Não é. Mas é bom para os jogadores e para os clubes que os recebem.

sábado, 2 de agosto de 2014

Sem violinos

No jogo contra a Lazio, a equipa do Sporting deixou-me sentimentos mistos. Continuamos a fazer bem aquilo que sabíamos fazer bem. Talvez estejamos a fazê-lo melhor. Boa pressão colectiva à perda de bola. Recuperação rápida e circulação adequada da bola. Controlo do jogo com a bola e a jogar a um dois toques.

É impressionante a forma como Willian Carvalho faz sempre tudo bem. Houve picanha a mais nas férias, mas isso passa. O Adrien está igual ao da época passada, o que nos deixa confiantes. O André Martins parece jogar em terrenos onde pode receber mais à vontade e ficar mais enquadrado com a baliza.

A defesa está como na época passada. Continua a não dar muitas abébias. Pior o Jéfferson. Está um autêntico buraco a defender. A atacar continua rápido e acutilante, mas a decidir mal. O Cédric está melhor. Parece cada vez mais seguro a defender e tem um melhor “timing” de ataque.

Falta qualquer coisa no ataque. O Capel entope com más decisões lances sobre lances de ataque. É um desperdício. O Carrillo parece estar melhor. Não parece um corpo estranho, como muitas vezes acontecia. Não está sempre encostado à linha, movimenta-se melhor, pede mais à bola e perde-a menos. O Montero faz tudo bem menos metê-la lá dentro.

Mas tudo isto é pouco. De vez em quando é preciso uma arrancada, um desequilibro na zona central, um remate espontâneo de fora da área. Talvez o Mané possa fazer na zona central o que fez, por vezes, na época passada. Mas é arriscado quando se perde a bola e a equipa não está preparada para isso. Talvez se arranje um extremo que dê outras garantias e que marque mais golos que o Capel e o Carrillo juntos. Talvez o Ryan Gauld seja o dez que tanto ansiávamos. De outra forma, continuamos a apelar ao São Slimani.

É necessário treinar as bolas paradas. No ano passado não me lembro de marcarmos um golo de livre. Este ano vamos pelo mesmo caminho. O André Martins não é jogador para resolver este problema. O golo contra o Belenenses contou com um guarda-redes mal colocado, que se lançou à bola tarde e a más horas e que voou como se fosse um sapo.

A melhor maneira de se fazer bem alguma coisa é não se fazer asneiras. O Marco Silva não está a fazer asneiras. Aposta no que está bem, não inventa, e vai vendo como é que os reforços podem acrescentar alguma coisa à equipa. Só que se confunde não fazer nada com não fazer asneiras. Às vezes, não fazer nada é asneira.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Dier ou a história mil vezes contada

Explicar a saída do Dier não implica nem juízos morais do atleta e do seu representante nem juízos de inteligência e sportinguismo de qualquer direção. Os incentivos estão alinhados para que estes casos se desenvolvam sempre da mesma maneira.

A formação só tem interesse para um clube se permitir reduzir os custos salariais da equipa principal de futebol. Só que ninguém sabe de ciência certa quais dos jogadores promissores são eleitos para a equipa principal. Por outro lado, nenhum clube está interessado em ter uma folha salarial que nunca mais acaba com contratos por muitos e bons anos.

Como a incerteza é elevada, os clubes tendem a renovar contrato com um número de jovens jogadores superior ao que é aproveitado para a equipa principal. Esta opção só faz sentido se os contratos forem de curta/média duração envolvendo níveis salariais estandardizados. De outra forma, os custos associados aos dispensados tenderiam a não compensar a redução da massa salarial da equipa principal.

Os jogadores de futebol ficam numa encruzilhada. Este modelo beneficia os que vão vingando e penaliza os que não vão vingando. Os que vão vingando sabem que o tempo corre a seu favor. Os que não vão vingando sabem que o tempo corre contra os seus interesses.

Os clubes, ao distribuírem os recursos disponíveis por o maior número de contratos possível, como forma de reduzir o risco, ficam numa encruzilhada também. Dificilmente conseguem renovar contrato com aqueles que vão vingando.

 Esta situação é mais crítica no Sporting do que em qualquer outro clube por uma simples razão: é a equipa que mais jovens jogadores da formação promove à equipa principal. Esta razão é aditivada pela notoriedade da formação do Sporting. Não há perneta nenhum que ao ser promovido à equipa principal não seja visto como um futuro Ronaldo, Quaresma, Nani, Figo ou Moutinho.

O negócio da venda dos jogadores da formação é tão bom como a venda de jogadores jovens adquiridos a outros clubes. O Porto que o diga. Só é necessário mais dinheiro à cabeça. Sendo assim, sem alteração da legislação atual, só aposta na formação quem é parvo.

Em síntese, o jogador e o seu representante fizeram o que se esperava. Esta direção e a anterior fizeram o que puderam. Moral da história: nenhuma ou, se quiserem, esperemos que o Ryan Gauld nos compense da saída do Dier.