segunda-feira, 22 de julho de 2019

Quem nunca erra e raramente tem dúvidas que levante o dedo

Ainda nem começámos a jogar a sério e já sentenciámos o destino da equipa. Nunca acertamos numa contratação e os jovens da formação são bons até ao momento em que os vimos a jogar pela equipa principal. Oscilamos entre a responsabilidade da direção e a do treinador. Como estamos habituadíssimos a ganhar com diferentes treinadores e direções, estranhamos que só se ganhem duas taças em meia-época com estes. Quando se avança com este argumento, aparece sempre o do Bruno Fernandes contra o resto do mundo, como se o Real Madrid não tivesse dependido do Ronaldo e o Barcelona do Messi. Ninguém se recorda da época que vinha fazendo com o Peseiro, como se o Keizer não tivesse mérito no seu desempenho posterior. 

O “flop” do ano é o Vietto. O destino está traçado e o decreto passado. O Keizer tem-no colocado a jogar do lado esquerdo, não sendo extremo e jogando, ainda para mais, com o pé trocado, como o Raphinha. Quem critica esta opção parece defender o regresso ao “cruza-bola” do Jorge Jesus, com o Bas Dost a fazer de poste no qual a bola possa tabelar. Também ninguém se parece lembrar da fase inicial do Keizer no Sporting, como se as goleadas não tivessem resultado de um modelo de jogo que procurava a supremacia na zona central exatamente por se dispor de extremos que procuravam jogar por dentro (o Nani era o Vietto daquele momento) e, assim, fornecer linhas de passe e abrindo caminho à progressão dos laterais, que jogavam mais projetados. O Bas Dost fartou-se de marcar, bem como o Nani e o Bruno Fernandes, apesar de ter passado a ser mais do que um mero poste. 

O que tenho visto nos jogos de pré-epoca é uma tentativa de reencontrar esse modelo de jogo. Só que não é possível implementá-lo sem dois laterais que deem profundidade. O Ristovski e o Rosier ainda não jogaram e nem o Thierry Correia, nem, muito menos, o Ilori são laterais desse tipo. Do outro lado, o Abdu Conté não é o Acuña. Acredito que com laterais mais projetados, o sistema de jogo que está a ser treinado possa resultar. O Sporting precisa de mais jogadores que cheguem nos momentos certos à área para finalizar. O problema não está no ataque. O problema está no meio-campo, onde se continua a emperrar na saída de bola. Porventura, jogar com três centrais ou com dois e mais o Borja a disfarçar quando se dispõe da bola, possa ajudar a resolver este problema, adiantando os médios, deixando mais espaço entrelinhas e obrigando os adversários a não marcar tão alto ou a pagar o preço de deixar espaço entre os avançados e os médios. 

Não sei, ninguém sabe, se tudo isto vai resultar. A ver vamos com disse o cego. Não parece é útil deixar de recorrer à cabeça para se procurar entender o que pode estar a ser treinado, através da análise dos jogos da pré-época. A alternativa é afirmar que a Direção só compra barretes, o treinador é uma anedota e os jogadores são todos pernetas. Essa atitude é muito comum e só tem vantagens. Se correr mal, podemos sempre dizer que tínhamos razão. Se correr bem, sempre podemos dizer ainda que avisámos a tempo. Quem assim procede, nunca se engana e raramente tem dúvidas. Sou dos que acredita no modelo da tentativa e erro como forma de progresso científico e do nosso bem-estar coletivo.

10 comentários:

  1. Revejo-me completamente nesta analise. Até parece que está a falar para mim. Infelizmente já levámos com tantos barretes que tudo o que mexe só pode ser do mesmo. Mas só pode ser bruxaria o facto de termos 6 laterais (B. gaspar, Ristovski, Rosier, Jeferson, Borja e Acuna) e termos de andar a meter putos de 17 anos + o Lori.

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    1. Meu caro,

      É preciso dar tempo ao tempo. É preciso perceber se existe um modelo de jogo que esteja a ser testado. É preciso perceber que se estão a fazer experiências.

      SL

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    2. Caro Cardosao, sejamos intelectualmente honestos (mesmo como bruxas podemos tentar sê-lo...), BG sabemos todos que vai ser dispensado (e bem dizemos todos nós!), ainda não o foi porque queremos rentabilizar a sua recente participação na CAN e ver se alguém paga por ele. Ristovky e Rosier estão magoados. Jeferson foi dispensado (e bem, dizemos todos nós!), Borja tem uma semana e meia de treinos, e no único jogo em que poderia ter jogado tinha 3 dias de treinos... Acuña chegou ontem... e Pronto, restam os miúdos e o LLori... (sim, ninguém gosta de o ver a DD...). Se lhe parece que o Rui está a falar para si, se calhar está... eu quando vejo o LLori a DD digo coisas que depois reparo que o Rui também está a falar para mim... Saudações Leoninas!

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    3. Não sou particularmente bom a usar a cabeça (talvez mesmo pelo contrário) mas no que respeita a Ilori nem a central o suporto. E então se desatar a pensar no negócio de aquisição do rapaz e em como foi despachado o Demiral...

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  2. Basta retirar uma peça do tabuleiro para ficarmos convencidos que o problema não é nem será o modelo de jogo.
    É rever os números de Bruno Fernandes na época passada, retira-los da equação e ver o que sobra do Keizerball.
    SL

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    1. Meu caro,

      Esse argumento é frágil. É o mesmo que dizer que o Zidane é um nabo porque se não fosse o Ronaldo não teria ganhado nada. Com o Peseiro, o Bruno Fernandes não estava a jogar nada. Algum mérito terá tido o Keizer no desempenho dele.

      SL

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    2. Com Peseiro tinhas Jovane e Nani a jogar e com números espectaculares de golos e assistências.
      A verdade é que não testamos ninguém na posição de Bruno Fernandes nesta pré-época. Se sair voltamos a inventar um modelo de jogo.
      SL

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    3. Meu caro,

      Quanto à primeira parte do comentário, assim não brincamos. Não se compara ninguém ao Peseiro. É uma questão de respeito por qualquer cidadão nacional ou estrangeiro com profissão de treinador. Quando o Peseiro não consegue que um dos melhores médios da Europa jogue, está tudo dito. O resto foi sangue suor e lágrimas contra o Portimonense, o Loures e o Estoril e golos em desespero do Nani (o Jovane, embora marcando, foi mais decisivo nas assistências e nos penalties, se bem me lembro).

      Quanto à segunda parte, a conversa é diferente. Aparentemente não temos Plano B se o Bruno Fernandes sair. Mas a situação do treinador não é simples. Não pode fazer de contas que ele não treina e não faz parte da equipa. Enquanto fizer, não tem outro remédio. Sem o Bruno Fernandes, as coisas vão ser muito mais complicada. Mas isso diz mais do Bruno Fernandes do que propriamente do treinador.

      SL

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  3. Caro Rui Monteiro
    A sua linha de raciocínio faz sentido se for temperada com algum optimismo. Infelizmente as exibições do Sporting, até agora, não fomentam optimismo, mesmo que moderado. Enfim,há que ter crença e eu compreendo esse estado de espírito mas confesso que no último jogo, com o Club Brugge, já dei comigo a sentir alguns sinais de irritação.
    SL

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    1. Meu caro,

      Tem razão. Não sei se é otimismo ou se é o pressuposto otimista de admitir que o Keizer sabe o que está a fazer e treina em função disso. Quero acreditar que a colocação do Vietto e do Raphinha visa ganhar o espaço interior no ataque e ao aproximá-los estarem em melhores condições de pressionarem a bola quando a perderem. Este era o modelo inicial do Keizer. Este modelo pressupõe laterais que ganhem a profundidade nas alas e as explorem.

      Procuro acreditar que é isso que se anda a treinar e que nos jogos se procura fazer o que se treina só que não resulta por causa da falta dos referidos laterais. Na verdade pode não ser nada disso e tudo se resume ao pressuposto inicial estar errado. É possível e provável que simplesmente o Keizer ande à deriva. Os jogos deram mais essa imagem do que aquela que pretendi apresentar ao procurar interpretar o que tinha visto.

      SL

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