Saio mais cedo do trabalho. Dirijo-me à pastelaria da esquina para ver o jogo do Sporting. Encontro lá dois colegas a lanchar. Um é sportinguista, o outro é benfiquista. Olho para a televisão. Descubro, com surpresa, que estamos a ganhar um a zero.
Pergunto como é isso possível. O benfiquista, chocarreiro, diz que foi um golo aos repelões. Perdoo-lhe, como eles perdoaram ao Cardoso. Vejo a repetição do golo com o meu amigo sportinguista. Verificamos, como todo o rigor analítico, que se o André Santos quis fazer o que fez, então, o golo é uma jogada de manual. Mais, uma jogada de manual com intervenção do Abel (o que é, parecendo que não, uma contradição).
O jogo vai decorrendo morno. Até que o Torsiglieri avança determinado pela esquerda. Finta um adversário para dentro. Tabela com um colega, vai buscar a bola mais à frente e vira o jogo de flanco para o Vukcevic. Grito: “onde é que andava este homem?!”. O ânimo esmorece quando a bola vai para o Abel, que se desmarca pela direita. “Agora é que isto não dá em nada”, digo eu. Sai um cruzamento perfeito. Alguém salta, cabeceia e …. é golo. Ninguém percebe quem marcou. “Foi o Torsiglieri”, avanço eu. Vários jogadores se abraçam. Parece que todos estão a abraçar o Postiga. Eu e os meus dois amigos não queremos acreditar: o Postiga marcou um golo. O Postiga descobriu, dentro de si, o seu outro eu, o seu “alter ego” (pelo jeito, deve ser o Jardel).
A segunda parte não nos proporciona outra epifania. Para tornar o jogo mais emocionante, o Tiago dá um frango. Acabamos o jogo a defender de dentes cerrados, com quatro centrais, dois laterais direitos e um esquerdo e dois trincos (o Postiga permaneceu em campo para os do Lille continuarem a ter medo de nós).
Ganhámos. O nosso treinador afirma que não há um Sporting para consumo externo diferente do que joga na Liga. Está contente. Aquilo tem o dedinho dele e ele sabe que nós sabemos. Sorri como quem diz: “é a táctica”.
Sem comentários:
Enviar um comentário