sábado, 25 de dezembro de 2010

Super Mário: Histórias da época em que o Pai Natal vestiu de verde

Estádio da Luz, 15 de Dezembro de 2001. Aos 86 minutos de jogo o Sporting perdia 2-0 contra o Benfica e parecia irremediavelmente derrotado. Pior do que isso, com esta derrota quase certa o Sporting cederia o comando do Campeonato ao Benfica a duas jornadas do final da primeira volta.

Os media desportivos lisboetas e a enorme falange encarnada nas bancadas da Luz ululavam exultantes pela mais do que certa vitória benfiquista e consequente liderança do campeonato. A partir de certa altura, além dos habituais olés, os sempre simpáticos adeptos da agremiação de Carnide colocaram (premonitoriamente, diria eu) barretes vermelhos à Pai Natal e entoaram aos adeptos e jogadores leoninos o tradicional cântico “A todos um Bom Natal!”
No campo o jogo arrastava-se para o fim. Com duas ou três excepções, os leões pareciam conformados com uma derrota que parecia inevitável. Phil Babb – um dos últimos “xerifões” a sério que passou pela defesa do Sporting, era uma dessas excepções e decidiu cortar pela raiz o coro de olés com uma cordial varridela a Mantorras que ia sassaricando à sua frente. Ricardo Quaresma era outro que, com as suas geniais diabruras pelas alas, ia procurando fugir ao destino.


Até que… o inevitável aconteceu e… Super Mário apareceu. Um penalty ganho por Jardel com a ajuda do futuro candidato à Junta de Freguesia de Almargem (Marco Caneira, actualmente um pouco à margem, mas que nessa altura muito jeito nos deu), Golo de Jardel! Um minuto depois, cruzamento de Rodrigo Tello bombeado para a área, esperem lá, o Super Mário anda por ali de costas para a baliza, sim, ainda por cima (des)marcado pelo “passarinho” do João Manuel Pinto, não querem ver que… sim, Bis de Jardel! Benfica 2 – Jardel, perdão, Sporting 2! Caiu o Carmo e a Trindade e, no dia seguinte, antecipando-se por uns dias à queda de António Oliveira (o “Toni”) no Benfica, caiu... João Soares em Lisboa, caiu... Fernando Gomes no Porto e até… o Governo do outro António Oliveira (o “Guterres”) caiu!
Oito dias mais tarde, dia 22/12/2001, o Sporting recebe o Setúbal no último jogo do ano. Mais uma vez, era fundamental ganhar para dobrarmos o ano em primeiro. Mais uma vez, a exibição da equipa leonina, deixou muito a desejar. Mais uma vez, tudo parecia correr mal - inclusivamente, com a gravíssima lesão de Marius Nicolae, o Sporting, que já tinha efectuado as três substituições, ficou reduzido a dez jogadores (o Setúbal chegou mesmo a falhar um golo de baliza aberta por Marco Ferreira).

E, mais uma vez, aos 92 minutos, o inevitável aconteceu. Em desespero de causa, Beto, a partir do nosso meio campo, bombeia a bola para a molhada (na cuidada expressão técnica do Jornal A Bola, tratou-se de… um milimétrico passe em profundidade), Super Mário, à entrada da área, rodeado “apenas” pelos dois (desamparados, pois claro) centrais setubalenses, recebe-a no peito, de costas para a baliza, roda sobre si próprio e, de primeira, sem a deixar cair, cola-a no canto inferior esquerdo da baliza de Bossio. Jardel, isto é, Sporting 1 – Setúbal 0!
Super Mário, com os seus 42 golos no Campeonato, ofereceu-nos, praticamente sozinho, não apenas o melhor Natal das últimas décadas, como, depois, o próprio título de Campeão Nacional – o último do Sporting Clube de Portugal – e a vitória na Taça. Por isso e mesmo com todos os conflitos da sua responsabilidade que marcaram a restante carreira de Jardel no Sporting, nunca esqueceremos e estaremos sempre eternamente gratos a Super Mario por essa época inesquecível. Valeu, Jardel, o nosso Papai Noel! E, claro, desejo a todos...um Bom Natal!

7 comentários:

  1. Duas notas:

    - o 2º golo na Luz foi a passe de Tello.
    - no jogo com o Setúbal a lesão de Niculae é provocada por Ico, com o árbitro a deixar passar a consequente grande penalidade.

    Jardel, o verdadeiro fenómeno. É impossível esquecer.

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  2. Caríssimo,

    Este era o "post" que gostava de ter escrito. Lembra-me muito bem desse jogo. Vi-o durante um jantar com uma série de amigos meus benfiquistas. Tive sempre a premonição que aquilo que aconteceu iria acontecer. Disse-o durante o jantar. Estava à espera que o Jardel resolvesse.

    Também me lembra muito bem do jogo contra o Setúbal. Foi um jogo muito difícil sem grande oportunidades. Mas o Jardel estava lá. O Jardel nunca nos desiludia.

    Um abraço

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  3. Caro Cantinho do Morais,

    Como é evidente, tem toda a razão - o cruzamento é de Tello e não de Quaresma (já corrigi no post). De facto, nem nestas coisas simples uma pessoa pode confiar nos tipos da Sport TV que elogiam o cruzamento de Ricardo Quaresma...

    Em relação ao lance de Ico e Nicolae, infelizmente, recordo-me como se fosse hoje - na prática, acabou com a carreira daquele que era, para mim, depois de Jardel, o ponta de lança mais notável que actuava em Portugal. Se este lance tivesse provocado uma lesão grave num avançado de elevado potencial do Benfica ou do Porto, estou certo que ainda hoje viveriam de dividendos com a comunicação social a recordar a entrada assassina que praticamente encerrou a carreira de Nicolae ao mais alto nível.

    Caro Rui,

    Nesse campeonato, quando Jardel chegou e começou a jogar (salvo erro, em Leiria, onde empatamos, depois da vitória sobre o Porto na primeira jornada e as derrotas no Restelo e com o Alverca em casa) estávamos nos últimos lugares da classificação A partir daí, quando Jardel jogava, entrávamos sempre a ganhar no mínimo por 1-0. Era só evitar sofrer golos e esperar que sucedesse o... inevitável. Que saudades!

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  4. Com o Leiria, mas parece-me que na Marinha Grande... a estreia do 16!!!!

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  5. Caro Pai da Leoa,

    Agora que fala nisso, também fico com a ideia que esse jogo foi, de facto, na Marinha Grande :). O que me lembro mesmo é que o Treinador do Leiria era o José Mourinho e que, mesmo reduzido a 10 jogadores desde o início da segunda parte, o Leiria deu-nos um massacre de bola, chegando ao empate por Silas e estando até muito próximo da vitória. Mário Jardel, na altura ainda com uma proeminente barriguinha devido à paragem anterior, marcou de penalty o nosso golo. Era só o aperitivo...

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  6. O jogo foi mesmo em Leiria. Não foi na Marinha Grande.
    E o Mourinho na 2ª parte com menos 1 deu-nos um banho táctico, passou a jogar homem para homem na defesa, mas ganhou superioridade numérica no meio campo. Andámos a cheirar a bola.

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  7. OK, pronto, o João, de forma precisa e segura, quase diria, à Mário Jardel, volta a dar vantagem a Leiria :). Para todos os efeitos, confirmo que esse jogo foi mesmo entre as equipas do Leiria e do Sporting :). Saudações leoninas.

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