segunda-feira, 2 de julho de 2018

Ela dá pra qualquer um, Maldita Geni!

Há um amor não correspondido no futebol pós-capitalista. Quanto mais fanáticos são os adeptos, menos jogadores do clube existem. Tudo isto, porque ser rico é agora a aspiração natural de todo o jogador moderno, e ser fanático é o novo normal para os pobres deste colégio interno. Este amor incorrespondido dissimula-se nas vitórias, mas é uma sarjeta nas derrotas. 

As academias são já apenas aviários. Pais & Filhos esperam da engorda uma outra vida, que a puta da vida não lhes deu. Sociedades, como a Vieira & Mendes, esperam apenas embalar estropícios a 15 milhões,  couverts com coxas de Gonçalves ou asas de Varela.

O Sporting, por agora, tem apenas uma fábrica de embalar desilusões, onde toda a causa nos querem fazer crer como justa e toda a maçã parece nascer com bicho. Pelo caminho fica um rasto de desamor e traição.

Aurélio, o velho Aurélio, que  nem Gepeto, continua a fazer-nos sonhos. Não nos importamos de os vender, desde que fiquem bem colocados no campeonato dos vendidos e alimentem o nosso amor platónico, ronronando numa qualquer rede social. Não gostamos é que nos arranhem, que desapareçam, que fujam para casa da mãe, mesmo que lhes mandem pedras, porque eles são bons é de apanhar.

De todas as implicações deste desencontro, a financeira é a menos importante. Trata-se da morte da nossa identidade comum. Sem ídolos, ela não existe. Sem mitos, já nada temos a dar ao futuro. Explica-se, também por isso, a guerra fratricida que hoje grassa. Calou-se o grito em uníssono pelo “Rui” e já só se ouve um marulhar desavindo.  Perdemos o Olimpo e sem Olimpo, não somos Atenienses, nem Gregos. Somos cidadãos sem mundo, estranhos aos nossos comuns. Comuns, aos que nos deviam ser estranhos.

Mas mesmo no futebol pós-capitalista o amor não cessa e também não aprende. Por cada Leão que partir, outro Matheus se levantará. Até que a incúria propicie uma nova deserção, ou o saber e a tenacidade permitam nova riqueza num outro leilão. Mas quando o Matheus se levantar, sei que seremos novamente Atenienses, independentemente de quem se sente na tribuna ou no banco. É o nosso destino coletivo, que renasce a toda a nova época e que nunca acabará.

8 comentários:

  1. TENHO UM IDOLO ,o BRUNO , QUE NÃO NOS ABANDONA , .

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  2. Só se for o Bruno César. Bruno Gimenez, Bruno de Carvalho e Bruno Fernandes, todos renegaram o Sporting.

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  3. Caro Sérgio,
    Não sei o que é melhor: o “post”, o título do “post” ou a música que não mais parou na minha cabeça depois de o ler. Contrariamente ao que se vai lendo e ouvindo, a ilusão é sempre a mesma e renova-se todos os anos, uma e outra vez.

    Quando começa o campeonato e as camisolas listadas entram em campo, nada mais interessa a não ser o momento. A bola que entra ou que não entra, a vitória que se celebra como se fosse a primeira, a derrota que não se digere como se o mundo fosse acabar no dia seguinte. Saiu o Figo, o Quaresma, o Ronaldo. Vão sair outros. Mas quando entrarem no campo os que ficarem e os que ainda vierem, volta tudo ao princípio e é como se fosse a primeira vez. Se o futebol não servir para isto não sei para que serve ou, antes, sei muito bem: não serve para nada. Se o futebol não for o eterno retorno à infância, temos imaginação suficiente para ocuparmos o tempo como adultos que somos.

    Um abraço,

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    1. Caro Rui,
      É por isso mesmo que o mais urgente é a bola começar a rolar de novo. Nunca mais é agosto.
      Abraço

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    2. Pois. Mas havia um combate a fazer-se contra a batota instalada. Parou o combate a sério. Vai ficar o a fazer de conta, dentro das 4 linhas. Agora só pavilhão. E e ...

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    3. Parou o combate a sério? Não pode parar, nem vai parar. Com ou sem Sporting. O Porto não vai parar até impor uma nova ordem. Era bom que tivéssemos uma estratégia mais efetiva de futuro com menos tiros nos pés.

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  4. Excelente texto Sérgio e excelente lembrança.
    A Geni foi vítima das suas circunstâncias e, mesmo entregando-se e salvando a cidade do Zepelim prateado, não se livrou da sua ingratidão. Por vezes os que servem, bem ou mal, parece que são feitos para apanhar e bons de cuspir.
    Abraço

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    1. Caro Trindade,
      Aos Deuses tudo se lhes permite, menos que nos abandonem (“senhor, porque me abandonaste!”) Mas neste caso, tudo se lhes permite desde que ganhem.
      Abraço

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