- Respondam lá, homens de estreita fé: Não sendo talentos espontâneos, mas estando presos por um leonino contrato, não se obrigam Suas Exªs Bettencourt, Couceiro ou Costinha a ser notáveis Dirigentes leoninos?
Pudera! Suas Exªs estão presos por um contrato! Podiam Suas Exªs ser espíritos ligeiros, podiam não ter a mínima ideia do que é ser um dirigente de um clube de futebol, podiam não ter qualquer outra habilitação ou aptidão senão saber dar uns chutos numa bola, ou nem sequer isso, nós estaríamos, ainda assim, descansados. Suas Exªs obrigaram-se por leonino contrato a ser notáveis dirigentes leoninos; suas Exªs são homens honrados; suas Exªs serão notáveis dirigentes leoninos. Acreditamos em Suas Exªs. Conhecemo-los. Se, por exemplo, tivéssemos contratado com o Sr. Bettencourt que, por 30 mil Euros mensais, seria um defesa direito melhor que o Abel, temos a inteira certeza que Sua Exª, trabalharia, treinaria e lutaria sob as sábias orientações do Mister Paulo Sérgio, mas seria um defesa direito melhor que o Abel. Se Suas Exªs tivessem sido contratados para ser candeeiros do Rossio, Suas Exªs cumpririam com valor o seu contrato, e seriam nobres candeeiros do Rossio!
A fé jurídica não admite conciliações. Sim, sempre quereríamos ver agora, que Suas Exªs se atrevessem a não ser notáveis dirigentes leoninos! Em Portugal, parecendo que não, há tribunais! Seguiríamos o trabalho de Suas Exªs, acto por acto, decisão por decisão, e quando Suas Exªs não fossem notáveis, remeteríamos, de imediato, o caso à Boa Hora.
É assim! O contrato não foi escrito e registado para que o Sporting tenha dirigentes medíocres. Que os Senhores Bettencourt, Couceiro e Costinha se lembrem desta responsabilidade. Suas Exªs são rapazes inteligentes, espirituosos, delicados: mas não basta, têm que ser notáveis Dirigentes! Contrataram-nos para isso, têm que o ser! Cara alegre e espírito desafogado! É para ali!
Em Portugal só assim se podem alcançar grandes homens! É obrigá-los por um contrato – de preferência, por objectivos! Que significaria num País como Portugal abandonar os homens à sua iniciativa? Que intento é este de deixar a cada um a liberdade de ser medíocre? O português só poderá ser inteligente, obrigado por um contrato! Só poderá ter génio, amarrado de pés e mãos! Que o génio seja, pois, imposto, tal como o antigo serviço militar obrigatório. Recrutem-se, de imediato, génios pára-quedistas para Tancos, mas recrutem-se, também, de volta, génios pára-quedistas para os bancos! O Sporting agradece!
(*) Adaptado de “As Farpas” (O talento espontâneo e o talento por contrato), de Eça de Queiroz
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