segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Narrativas, urdiduras e conspirações

Mais do que uma tática ou um estilo de jogo, o Rúben Amorim tem imposto uma narrativa: o jogo a jogo, o fazendo e aprendendo, o indo e vendo. Não se trata de uma contranarrativa relativamente à narrativa dominante, das expetativas que alguém se encarrega de realizar, tornando-as inevitáveis e, por fim, autorrealizáveis com o passar do tempo e por volta do Natal. Para se impor, esta narrativa tem de ser plausível na explicação dos factos, sendo os factos reais ou presumidos como tal. Os factos, as vitórias e a ausência de derrotas, são interpretados e reinterpretados como novos factos, onde os golos marcados e a segurança defensiva se transformam em acaso. O acaso não contraria a narrativa dominante e, assim, ninguém se sente desconfortável com esta nova narrativa que não parece distinta, especialmente os adversários.

Muitos treinadores têm sido derrotados, mas sem insatisfação, sem acrimónia. O Carlos Carvalhal talvez tenha sido o mais eloquente na expressão da vitória moral. O Pepa esteve bem por três vezes, destacando sempre a capacidade da equipa em se manter firme na defesa da sua ideia e princípios de jogo. No sábado, o Paulo Sérgio foi um pouco mais original, atribuindo à palermice dos seus jogadores os dois golos sofridos e a derrota. Quem ouviu, até pensa que as bolas entraram na baliza por livre arbítrio, por vontade própria, por obra a graça do Divino Espírito Santos [seria pior se atribuísse os golos à palermice da carecada na bola do Coates para a entrada de supetão do Feddal e à palermice do remate seco ao primeiro poste do Nuno Santos]. O jogo contra o Portimonense talvez tenha sido uma palermice, mas, a sê-lo, foi a palermice do costume: controlo do jogo e do adversário com e sem bola o tempo todo e pouco ou nada a dizer sobre a vitória.  

O meu amigo Júlio Pereira associa a imposição, a dominância desta narrativa, assente nas profecias do passado e que agrada a todos, ao simples facto de termos exportado sete treinadores para outras tantas equipas do campeonato: Jorge Jesus, Carlos Carvalhal, Paulo Sérgio, Jesualdo Ferreira, Silas, João Henriques e Miguel Cardoso [o Júlio conhece toda a gente que passou pelo Sporting seja em que função ou categoria profissional for e, se ele diz, está dito e não vale a pena questionar]. Ninguém melhor do que eles a conhece e, não, não andaríamos a contratar e despedir treinadores como se não houvesse amanhã se não existisse um plano [até começo a suspeitar que a contratação do Jesé e do Bolasie obedeceu também a um plano que, mais cedo do que tarde, iremos compreender]. 

O plano ultrapassa o simples ganha e perde campeonatos e envolve geoestratégia internacional. Alguém acredita que se exporta um Peseiro para a Venezuela se não for para derrubar o regime de Maduro? Como treinador da Coreia do Sul, o Paulo Bento não traz outra tranquilidade às relações sempre tensas no Pacífico e com o regime de Kim Jong-un? Talvez só tenha falhado o envio de Carlos Queiroz para o Irão [é malta rija que não se deixa levar nem com sanções económicas e ameaças militares]. O Varandas é um Putin com menos fanfarronice e operações plásticas [mas com a irritante mania de andar de gabardine]. À atenção dos gabinetes de comunicação do Benfica e do Porto: depois do apito dourado e do polvo encarnado, está em ação a centopeia verde [consultei a Wikipédia e fiquei a saber que as mais vulgares são amarelo-acastanhadas].

8 comentários:

  1. Amarelos andam os azuis e nos outros, os vermelhos, nem se nota, anda tudo muito corado, de uma ponta à outra.
    Espero que, muito em breve, até os azuis mudem a cor para corado, vermelhusco, qualquer coisa serve.

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    1. Meu caro,

      Os nossos amigos da Segunda Circular estão um pouco descoloridos, é verdade. Só podemos desejar o que nos costumavam desejar nos últimos anos: precisamos de um Benfica forte!

      SL

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  2. O Joaquim Rita chamou aos jogadores do Sporting, pardalada. Nem mais, pardais que roubam(a bola) num ápice. Não há espantalhos, e tem aparecido muitos, que os afuguentem.
    O Rita vai ter de mudar o adjetivo porque de passarada estamos conversados.
    E O jj quer penaltis!!!
    SL

    jOÃO bALAIA

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    1. Caro João,

      Ouvi essa do Rita e deu-me uma enorme vontade de rir (aquele raciocínio tinha sido desenvolvido noutro programa, por outros intervenientes, mas a propósito do Benfica e da atual aposta na sua formação).

      Quantos aos pássaros e à passarada nada tenho a opor. É que temos tido pouca passarada e muitos passarões nos últimos anos.

      O JJ percebeu que com penalties é mais fácil. O Sérgio Conceição e o Porto sabem disto há mais tempo. Nos últimos dois jogos, já vão três. É preciso mantê-los à tona custe o que custar.

      SL

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  3. Caro Rui Monteiro,
    Não vou comentar esse seu post até porque ainda o não li!
    Espero ler um saboroso sobre o Marítimo-Porto que não vi. Não vi mas acompanhei pelo Flashscore (antigo Mismarcadores) e adivinho que tenha sido cheio de algumas peripécias. Como sei que anda (?) pelos lados de Braga permitir-me-ia pedir-lhe que aconselhasse o Salvador a protestar pois ele (o Braga) é o mais prejudicado questão dos milhões da Champions.
    Vi num jornal qualquer o "clip" do penalty do "formado" no Porto sobre o "formado" no Sporting e pareceu-me manha! Creio que o infractor até nem amarelo levou por ter facilitado a vida ao árbitro.
    Já nem pena sinto por o futebol ser assim no país onde nasci mas já adivinho o nosso próximo jogo em Contumil.
    Resistiremos como gente de bem.

    Abraço
    SL

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    1. Caro Abóim Serôdio,

      Tem toda a razão. Em condições normais, o Braga estava em segundo lugar. Nos últimos dois jogos, o Porto teve três penalties. O de ontem fez-me lembrar um falta bem mais grave sobre o Matheus Nunes no jogo contra o Santa Clara que toda a gente disse que o árbitro fez bem ao não assinalar o penalty.

      Abraço

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  4. Caro Rui,

    Obrigado por nos elucidar sobre este fantástico plano, que passa por infiltrar agentes nos adversários. Vamos ver como corre no Sábado, num clube que já se livrou dos infiltrados que lá andaram, como Mourinho ou Bobby Robson, mas que diria com poucos motivos de queixa quanto ao desempenho dos mesmos...

    Com o plano a funcionar melhor ou pior, esta semana vão mais 3 pontos para a contabilidade, num jogo sem as espinhas que vimos por outras paragens. E o próximo jogo parece que vai ser mesmo o mais importante, lá vai o Rúben Amorim ter de se aplicar para explicar que no final do dia, só pode valer 3 pontos!

    SL

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    1. Caro João,

      Este plano é um plano a muito, muito longo prazo com correções de trajetória. Para se exportar o Queiroz para o Irão foi preciso despachar o Robson para o Porto. Quanto ao Mourinho, vou ter que estudar melhor o assunto porque, assim de primeira, o objetivo foi ficar com o Inácio para o substituir passado uns jogos pelo Manuel Fernandes.

      O Rúben Amorim vai ter mesmo de se aplicar. Em 20 jogos, o Porto leva 12 penalties e, nos dois últimos, leva três. Aparentemente os penalties de que se queixa o Benfica são marcados ao Porto. Também é preciso evitar pernas e narizes partidos. Vai ser preciso por o Adan a treinar penalties e os restantes jogadores a aprender a jogar de armadura. Também é preciso estar preparado para ganhar o jogo porque, se assim for, ainda vai ser preciso evitar os perdigotos do Conceição.

      SL

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