“Fácil de desmontar, difícil de contrariar”, era assim que o Sérgio Conceição analisava o Sporting antes do jogo e deveria ter sido assim a sua análise depois do jogo. Como outros antes, o Sérgio Conceição queria medir-se com o Rúben Amorim e dar-lhe uma lição tática. Não se queria afirmar o jogo próprio, mas negar o jogo do adversário. Esta forma de abordar os jogos tem levado sempre ao mesmo resultado: condicionar o adversário condiciona o jogo da própria equipa [aquela coisa da Juventus oferecer um golo no início jogo não acontece todos os dias].
O Porto compreendeu a forma de jogar do Sporting, condicionou-a, mas não a contrariou. É verdade que o Sporting teve muitas dificuldades para sair a jogar, jogando comprido mas sem dispor de um ponta-de-lança que sirva de referência, ganhando a primeira bola, segurando-a e assim permitindo o avanço do resto da equipa. Mas também é verdade que pressionar alto, evitar a troca de passes entre os centrais, não deixar avançar pelo meio, não permite ao adversário outra alternativa que não seja a de responder na mesma moeda: bola na frente, pressão sobre os centrais e dificuldades de construção pelo meio também.
E assim se condicionou o jogo de um lado e do outro. Condicionou-se o ataque, mas nunca se contrariaram as defesas. Se de um lado se enfiavam bicas e mais bicas na bola para a frente, do outro fazia-se o mesmo. O jogo foi pouco mais do que isto, em particular a primeira parte: uma partida de “flippers” ou de “pinball”. Os defesas ou os guarda-redes de cada equipa davam na bola com quantas forças tinham e esperavam marcar pontos acertando nos pinos, fossem os seus colegas ou adversários. Espremendo, espremendo bem este festival de biqueiros, resultam dois acasos: o remate de pé direito do Taremi contra o seu pé esquerdo, ricocheteando a bola para o pé direito outra vez e saindo pela linha de fundo, e o “anda Matheus, anda!”, gritado pelo Rúben Amorim, com o Matheus Nunes a arrancar a meio do seu meio campo, a ganhar metros a um Octávio à beira de uma apoplexia, a correr pelo meio campo do Porto fora até se isolar e rematar por cima da baliza.
As conferências de imprensa dos dois treinadores foram reveladoras. De um lado, a compreensão das insuficiências, da incapacidade de chegar ao ataque. Do outro, a frustração mal disfarçada, a arrogância. Não, não houve falta de mérito próprio ou mérito do adversário. Houve azar. Houve árbitro, que marcava faltas, muitas faltas aos jogadores do Sporting, faltas não desejadas pelo Porto, quebrando o ritmo de jogo. O banco do Porto levantou-se muito mais vezes a protestar para que o árbitro não marcasse faltas aos jogadores do Sporting do que o banco do Sporting aos jogadores do Porto: doze a quatro nesse jogo de “fair play”. Noutro gesto de grande desportivismo, o novo Stéphane Demol do Porto desejou-nos boa sorte para a Liga dos Campeões da próxima época.