sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

É desta que acaba o futebol para totós?

Num prazo de seis dias, a equipa do Sporting faz a pior e a melhor exibição da época. Várias explicações são possíveis. A primeira que nos vem à cabeça é que a equipa turca do Basaksehir só pode ser má, muito má ou péssima; também é possível que o Silas tenha feito de sábado para quinta-feira um Curso de Educação e Formação (CEF) ou um Curso de Especialização Tecnológica (CET) com equivalência a treinador de nível IV; ou que esta equivalência tenha sido obtida através de um processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) após dezena e meia de jogos como treinador do Sporting. Mas a explicação, a verdadeira explicação é outra. Não quero parecer imodesto, mas tenho como certo que o Silas leu e refletiu sobre o que vinha escrevendo. 

Deixámos de assistir à habitual saída de bola para o ataque, envolvendo o ensarilhamento de meia dúzia de jogadores que vão evoluindo da ansiedade ao desespero até perderem a bola e deixarem a defesa exposta. As reposições de bola pelo guarda-redes passaram a ser feitas através de pontapé para a frente. Os centrais deixaram de passar bolas sem fim entre si e com os médios, saindo-se para o ataque pelos laterais e com passes verticais para os extremos ou para o Sporar, quando descaia para esse lado para proporcionar essa linha de passe. De repente, em dois, três passes rápidos, a equipa do Sporting encontrava-se a jogar no meio-campo do adversário. Não é Guardiola quem quer, não é Iniesta nem Xavi quem quer também e houve uma só equipa como essa do Barcelona, a do Barcelona e nesse concreto tempo histórico. 

Os jogadores afinal não eram os piores do mundo, o sistema tático é que não era o mais adequado ou confortável para eles jogarem. Ainda houve duas inovações táticas, porque o Silas não resiste e desta vez não se saiu mal. A equipa passou a jogar num 4x4x2 ou num 4x2x3x1, conforme se defendia ou atacava, com o Vietto no meio, em apoio ao Sporar, e o Jovane Cabral e o Bolasie nas laterais. O Vietto passou a dispor de um raio de ação maior e o Jovane Cabral e o Bolasie foram especialmente contundentes no ataque. O Sporar passou a estar mais apoiado e, com mais bola, revelou que sabe desmarcar-se para proporcionar linhas de passe, sabe recuar para apoio à progressão dos médios, sabe decidir o melhor momento de chegada à área e, finalmente, sabe fazer golos. Mas a principal alteração tática, aquela que baralhou completamente os turcos, foi ver-se o treinador-adjunto (Silas) de pé junto à linha lateral e o treinador principal (Ferro) sentado no banco. 

Ajudou, ajudou muito começar a ganhar, para tranquilizar a equipa, mas a primeira parte foi um festival de oportunidades perdidas. O árbitro anulou-nos (bem) um golo por fora-de-jogo e aparentemente não viu uma calcadela no Battaglia que devia ter originado “penalty”. O VAR não assinalou nada também e fica-se na dúvida se existe uma orientação da UEFA qualquer, como algumas que nos vão explicando os nossos ex-árbitros e atuais comentadores de arbitragem, que impede a marcação deste tipo de “penalty” a não ser que a falta envolva serrar o tornozelo com uma motosserra. O segundo golo foi de manual, com a bola a sair do lado direito do ataque para o meio, onde o Bolasie desmarca o Ristovski do lado esquerdo para este centrar de primeira e o Sporar encostar. Fomos para o intervalo a ganhar por dois a zero, mas se tivéssemos marcado mais dois teria sido mais adequado ao que uma e outra equipa jogaram e às oportunidades criadas. 

Voltámos bem na segunda parte e rapidamente chegámos ao terceiro golo, com o Vietto a marcar. Em seguida, o Jovane Cabral isolou-se, chegou primeiro do que o guarda-redes à bola, que entretanto se tinha saído, e foi abalroado. “Penalty” clássico, de manual e, mais uma vez, nem o árbitro nem o VAR marcam nada. Ainda se pode compreender a decisão do árbitro devido à rapidez do lance e à distância entre ele e o local da falta, mas a (não) decisão do VAR só se pode dever ao facto de se tratar um bar manhoso, uma taberna das antigas onde ainda se bebe vinho a martelo. 

Por volta dos sessenta minutos arrebentámos, recuámos, a equipa do Basaksehir passou a jogar no nosso meio-campo e o Silas borregou. A primeira substituição, com a entrada do Pedro Mendes, ainda se compreende, admitindo-se que o Sporar tinha estoirado, mas a segunda foi à treinador português, a apostar na retranca para defender o resultado. Não estando de boa saúde, a substituição do Jovane Cabral é explicável. O que não explicável é a entrada do Doumbia para posição incerta, obrigando o Vietto a fechar do lado esquerdo até se compreender que não tinha vida para isso e voltar-se a trocar e a colocar nessa posição o Wendell. O Sporting só voltou a equilibrar o jogo e a colocar os turcos à defesa com a entrada a quatro minutos do fim do Plata, ficando evidente que devia ter entrado mais cedo, em vez do Doumbia; o Doumbia, a entrar, teria de ser sempre para o lugar do Wendell, dado que não se muda de tática certa para outra incerta ou razoavelmente indefinida, existindo as mais sérias reservas de que alguma vez tenha sido sequer treinada. 

Para se ter um jogo à Sporting, era preciso conclui-lo à Sporting com um golo sofrido à Sporting: bola ao segundo poste, o Ristovski a perder o duelo de cabeça, o Coates a olhar para ontem, o Neto a compensar e a encostar ao avançado que aproveita a oportunidade para enfiar um mortal encarpado e o árbitro a marcar “penalty”. Podíamos ter resolvido a eliminatória mas se a resolvêssemos não éramos o Sporting. O pior pode não ser perder o segundo jogo e a eliminatória. O pior pode ser passá-la e viver a angústia de não se saber se o Silas volta a ler este blogue ou outro material didático equivalente, mandando o José Pedro, o verdadeiro treinador-adjunto, atirar para o lixo os fascículos de uma coleção sobre futebol para totós  editada pela Planeta DeAgostini que lhe andou a comprar.

11 comentários:

  1. Caro Rui Monteiro
    Ontem e para variar, já não disse, o Sporting não joga nada, barafustei, apenas, contra os golos falhados e o idiota do árbitro britânico, por sinal, muito credenciado, mas, na realidade, como se viu ontem, mais um incompetente.
    Mas, quanto ao jogo e à extraodinária melhoria, face ao último jogo, da equipa de Silas, eu diria e para fazer juz ao meu nome, que é uma "melange" das razões que aponta,ou seja, uma táctica mais simples e obejectiva, por parte de Silas e uma equipa turca fraquinha, ou pelo menos, mal preparada para o jogo de ontem. Mas talvez esteja a ser injusto e no próximo Domingo ,a nossa equipa vai demosntrar que a exibição de ontem não foi singular, isto é, vêm aí mais. Oxalá.
    SL

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    1. Aguardar para perceber se é para continuar.

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    2. Meu caro,

      Foi a primeira vez que vi jogar esta equipa turca. Só podemos falar pelo histórico mais recente. Por esse histórico, não parece uma equipa fraca. Acho que vinham preparados para a tática habitual de engonha do Silas e foram surpreendidos pela verticalidade do nosso jogo. Desse ponto de vista, o Jovane Cabral empresta essa verticalidade e com o Bolasie chagamos com mais rapidez à frente sem as habituais e enfadonhas trocas de bola.

      Estou como Hélder Mestre, quando afirma que é esperar para ver. O primeiro perigo é o Silas voltar a inventar. O outro problema é se a tática resulta com equipas mais fechadas e que dão pouco espaço. A verdade é que com as anteriores já nem as conseguíamos colocar à defesa, passeando-se no nosso meio-campo a trocar calmamente a bola.

      SL

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  2. Caro Rui,

    O Sporting ontem entrou em campo. É uma melhoria assinalável.
    O Silas não tentou inventar a roda. Outra melhoria. Um golo cedo é sempre um bom martini com cerveja. Os Turcos não bebem álcool e isso deve tê-los confundido.

    Um abraço

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    1. Caro Gabriel,

      O golo cedo ajudou, é um facto, mas o descomplicador do Silas ajudou ainda mais. Com o Jovane e o Bolasie, embora não sejam uns primores, a equipa chega mais depressa ao ataque e há mais contundência.

      SL

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  3. Quem leu o post foram os turcos e embora turcos ficaram gregos.
    Quando abriram os olhos ja tinha o golo do Coates que desta vez não se enganou na baliza.
    Pela primeira vez Silas ficou aos saltos com o golo de Sporar.
    Na próxima 5ªa feira quero ver, novamente, Silas aos saltos com um golo que ate pode ser do Max.
    A sério, o Sporting marca na Turquia e passa a eliminatória. Como diaria Futre com Jovane, Plata e Camacho vão vir amanhas que cantam.
    SL
    João Balaia

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    1. Caro João,

      Pela primeira vez, vimos o Silas aos saltos. Isso é bom, liberta a tensão.

      De facto, os turcos leram o "post" e pensaram que o filme se ia repetir. O Silas jogou com o "post" para os baralhar. O problema é que nos anda a baralhar há quase duas dezenas de jogo para conseguir embaralhar os turcos.

      SL

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  4. A equipa turca não é fraquinha e mostrou alguma qualidade na última meia hora. A eliminatória está em aberto e o Sporting continua, apesar de uma melhor exibição, pouco sólido e constante. A primeira parte em Istambul será muito decisiva. Importante marcar um golo. Mas não será fácil...

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    1. Caro Vítor Cruz,

      Pela classificação no campeonato e resultados europeus, manifestamente a equipa turca não pode ser considerada fraca. O golo cedo e a boa exibição do Sporting fez parecer o jogo fácil.

      Em Istambul, se for a contexto do costume, vai ser um jogo difícil. Ou o Sporting marca ou vai-se ver aflito. Aliás, se for para lá defender o resultado, temo o pior.

      SL

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  5. Não sei se era uma resposta para o Rui, mas não depositaria muita fé no fim do futebol para totós, uma vez que Jorge, o Silas, lá descobriu numa nota de rodapé de um dos fascículos que uma equipa grande tem de saber jogar em vários sistemas.

    Mas o que me está mais a custar a digerir é aquele parágrafo que ensina o treinador a justificar os resultados insuficientes da sua equipa com o facto de o seu melhor jogador não estar a 100% focado no grupo, principalmente depois do mesmo já lá não estar, e de nada se lhe poder apontar em termos de atitude ao longo de todo o tempo em que representou o Sporting.

    É a elegância e a coragem para tótós.

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    1. Meu caro,

      Quando ouço o Silas dizer que treina vários sistemas para o alterar em qualquer momento do jogo fico com os poucos cabelos que tenho em pé (o facto de me estimular o couro cabeludo é a única vantagem que vejo neste discurso e, pior do que isso, nesta prática).

      O Silas é da velha escola do treinador português. Manhoso, com discurso redondo, sem se comprometer com nada, tendo como grande objetivo sobreviver, hoje no Sporting, amanhã noutro clube qualquer.

      SL

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