domingo, 13 de maio de 2018

“Without lap, there is no tactics' king of portuguese football”, como diria o Carvalhal

Após a vitória do Tondela na Luz, começou a conversa de que o zero a zero em Alvalade contra o Benfica chegava. O discurso do Jorge Jesus não deixava dúvidas: tínhamos mais medo de perder do que vontade de ganhar. Essa estratégia foi executada com o rigor possível de quem joga para não perder, sabendo-se, como se sabe, que quem joga assim está mais próximo de perder e mais longe de ganhar. Empatámos, mas o empate só serviria se fosse seguido por uma vitória no Marítimo.

Pelos vistos, tínhamos medo de perder, jogámos para não perder, não perdemos, empatámos, mas não sabíamos o que fazer a seguir quando se pedia a vitória. Pedia-se, hoje, a vitória. Esperava-se a reedição dos jogos contra o Porto e contra o Atlético de Madrid para, respetivamente a Taça de Portugal e a Taça UEFA, quando nenhum outro resultado que não a vitória servia. Só que esses jogos foram o engano da época. Não sabemos jogar para ganhar como nunca soubemos durante a época toda. Como de costume, esperávamos ganhar nos descontos, com o Rui Patrício a safar-nos nas situações mais aflitivas, mas a sorte não dura sempre: perdemos nos descontos com o Rui Patrício a enterrar-nos.

Repetiram-se todos os erros. Erramos e cada jogo que passa erramos melhor. Entrámos com a equipa presa por arames. Os dois laterais não apoiam o ataque e, mesmo assim, são os dois primeiros jogadores a arrebentar. O caso do Piccini é que não se compreende, definitivamente. O jogador mal se conseguia mexer. O Ristovski cumpriu sempre que entrou, especialmente a dar profundidade no flanco. Assim, o Gelson Martins foi deixado à sua sorte no lado direito, sem qualquer apoio no ataque e com a necessidade de apoiar a defender, não tendo praticamente tocado na bola na segunda parte em condições de desequilibrar.

Do lado direito estávamos conversados, mas do lado esquerdo não estávamos melhor. Jogámos com os estafados Coentrão e Acuña e quando quisemos mudar tínhamos esse poço de energia e de velocidade que é o Bryan Ruiz. O que diria o Jorge Jesus do Iuri Medeiros, ou de qualquer um dos seus outros pequenos ódios de estimação, se marcasse um livre perigoso a nosso favor diretamente pela linha de fundo? No meio, viveu-se a confusão do costume sempre que jogam o William Carvalho e o Battaglia. Quando joga sozinho, o Battaglia sai a todos e vai a todas, limpando tudo até onde a vista alcança o horizonte. Quando joga com o William Carvalho, elabora-se em cima do joelho um Tratado de Tordesilhas qualquer sem que fique claro quem faz o quê, atrapalhando-se ambos.

O jogo de ataque ficou entregue ao Bas Dost e ao Bruno Fernandes. O Jorge Jesus tem-nos transformado numa equipa de comandos ou de outro tipo de tropas especiais a quem se entrega um “kit” do Rambo e se coloca atrás da linha do inimigo, esperando que ganhe a guerra sozinho. O Bas Dost está mesmo condenado a disputar sempre a bola na área contra três ou quatro adversários sem que tenha qualquer colega por perto. Mesmo ajudada pelo Gelson Martins, uma equipa de comandos como esta pode arranjar umas escaramuças, pode desestabilizar o inimigo, pode ajudar a ganhar uma ou outra batalha, mas não ganha sozinha a guerra. Nessas circunstâncias só o Rambo e não tenho a certeza que o possa fazer no campeonato português como a mesma facilidade com que o fez no Vietname ou no Afeganistão.

Com exceção dos dois golos, que foram mais obra do acaso do que outra coisa, os primeiros setenta a setenta a cinco minutos constituíram simples prelúdio para a ponta final, onde é necessário “put all meat in the barbecue”, como diria o Carvalhal. Começámos com um ponta-de-lança para acabarmos com três. Eram tantos que nem sobrou espaço na área para lá se meter o Coates também, o autor das vitórias épicas nos últimos minutos. Não subiu para a área e mesmo assim ele e o William Carvalho não foram suficientes para travar um avançado do Marítimo que ao querer ver-se livre da bola acertou-lhe nas orelhas e permitiu ao Rui Patrício o único frango desta época.

Definitivamente, ficou demonstrado que, sem colinho, o Jorge Jesus não passa de mais um cromo, embora o cromo mais caro do futebol português. Cinco anos depois com milhões e milhões euros gastos em camiões e camiões de jogadores e no treinador mais caro de sempre continuamos na casa de partida, isto é, em terceiro lugar e mais próximos do quarto do que do primeiro lugar. Este treinador e estes jogadores são os outros, aqueles que não são do Presidente, que, assim, não tem responsabilidade nenhuma. Continua a fazer aquilo em que é melhor: falar de si próprio, deixando ao “Facebook” e ao seu pai a responsabilidade de resolver aquilo que a ele e só a ele lhe compete.

(Há razões para ter esperança. Na final da Taça de Portugal, contra o Aves, há sempre a possibilidade se ganhar por “penalties”, situação de jogo muito treinada pelo Jorge Jesus e que muitos resultados positivos nos tem proporcionado)

16 comentários:

  1. Nem com o Rambo se ganhou as guerras do Vietname e do Afeganistão. JJ ao fim de tantos anos ainda não aprendeu a corrigir os erros mais básicos. A falta de rotação rebenta as equipas na fase da decisão. Aposta tudo em chegar a março/abril na luta. Mas pelo caminho escavaca a equipa. E a falta de aposta pelo jogador jovem português continua lá. Matheus, Iuri e Geraldes seriam ajudas preciosas para esta equipa e para fazer a tal rotação.

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    1. Meu caro,

      À fadiga física e anímica de quem joga soma-se a fadiga anímica de quem sabe que nunca vai jogar. Não compreendo como é que se pode treinar de forma empenhada quando certo jogadores sabem de ciência certa que nunca vão calçar, mesmo quando os outros estão em coma ou para lá caminham.

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  2. Caríssimo Rui:
    No sábado, preparava-me eu para um fim de semana descansado quando, ao abrir o Espesso (perdão, o Expresso), dou por mim a pensar que a senhora da papelaria se enganou e me deu o Pravda. Páginas de fotos de um senhor em frente a estandartes, com zonas de sombra e luz a acentuarem a pose determinada e guerreira.
    Mas não, era o nosso presidente, que, à moda do chefe dos saudosos gauleses do Astérix, nos ía arengar.
    Ao fim de meia página e de não ter existido ainda uma resposta à primeira pergunta do jornalista ( os discursos do presidente lembram-me sempre a anedota dos meus tempos de liceu, do tipo que saía da loja de desporto com um barco e o material de pesca de alto mar completo, quando tinha ido comprar... bom, eu um dia conto) dei por mim, posto que não há palavras cruzadas no Expresso, a anotar com uma esferográfica, o número de vezes que era mencionada a primeira pessoa do singular na entrevista.
    Tarefa árdua, tive que ir à Staples buscar mais canetas. Penso que a certo ponto adormeci, pelo que o efeito foi o pretendido.
    Saí de Lisboa, só regressei ontem à noite. Nova tarefa ciclópica, desta vez na net: tomar nota das vezes que os que aí comentam se referiam ao orgão reprodutor masculino (versão vernácula). Creio que nenhum de nós terá alguma vez visto nas Caldas da Rainha, famosa pela malandrice no artesanato de barro, tanta pila como está descrita naquele blogue. Caramba, é coisa para o Guiness, mais que o pontapé do ex-guarda redes do benfas, cá em casa conhecido pelo vómito, pelas reacções adversas que o chazinho da Luz uma vez lhe provocou em campo.
    De todo o modo, não pude chegar ao fim da tarefa, faltaram-me de novo as esferográficas.
    Enfim, terminei a noite a pensar que a malta do Sporting não só é a mais crédula que há, julgando que ìamos à Madeira ganhar, depois de termos tentado estragar a relva o menos possível na recepção aos nossos caceteiros vizinhos (caceteiros com denominação de origem protegida, dos que não se podem castigar), como tive a definitiva certeza de que Arquitectura também não é a especialidade da casa.
    Já o suspeitava desde termos aceite fazer um Estádio desenhado por um renomado lamp.
    Agora, ao ver a malta não perceber nada de volumetrias, e pensar que JJ e BdC podem conviver na mesma sala, com o tamanho de egos que têm...
    A junção de egos gigantes só resultou uma vez, dando até origem a um nome giro:
    quando disseram a Keith Moon, baterista dos "The Who", que Robert Plant e Jimmy Page iam formar uma banda, ele terá dito "it will go like a lead balloon", ou seja, vai voar como um balão de chumbo. O Page achou graça, trocou balloon por Zeppelin e deixou "led" em vez de "lead".
    O facto é que os tipos ainda tocam, mas cabelos compridos à parte, não vejo semelhança nenhuma deles com os nossos dois figurões.
    A história da passagem destas duas personagens pelo Sporting tem um fim anunciado, e que há muito está escrito. Dizer que "o presidente do futuro é o presidente adepto como EU (olha, mais um, este escapou-me)", ou que "os penalties não se marcam por acaso, se treinam todos os dias", encerram em si o destino deste choque de estrelas. E nós sabemos o que sucede quando estrelas chocam, não sabemos?
    Grande Abraço,

    José Lopes

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    1. Caro José Lopes,

      O seu comentários está excelente como sempre. Não li a entrevista. O facto de existir é todo um programa.

      Esta luta de egos tem alguma piada. Uma vez estive para comprar um livro de uma destas edições de autor. O título era absolutamente extraordinário: "Fernando Pessoa Contra o Homem-Aranha". Este é um destes casos, só não sei que é o Fernando Pessoa nem o Homem-Aranha, nem sequer isso vem ao caso.

      Abraços

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Viva,
    venho dar ênfase a esse pensamento sobre o nosso presidente. Se ele nos faz crer, dia após dia, que os problemas do Sporting são os jogadores mimados, o treinador (falta-me adjectivos para o treinador, só me ocorrem coisas que necessitam de bolinha).... resumindo, se a culpa é de todos os outros então no final a culpa só pode ser do Bruno de Carvalho, porque ele é que é o Presidente, ele é que manda neles todos, por isso a culpa deste arrasto, visto que ele sabe melhor que todos nós que a culpa é dos outros, então cabe-lhe a ele tratar do assunto!
    É muito fácil andar para aí a espingardar e depois esperar que tudo se resolva como por magia...
    Fartinho desta merda toda... prefiro ver bom futebol e perder que assistir a esta decadência de jogo; prefiro ver bom futebol e perder que assistir a este desfilar de parvoíces do presidente.... até porque continuamos sem saber se o facto de ganhar nos ajudará a aturar um futebol de merda com um presidente lunático.
    Saudações leoninas...

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    1. Querem ver que o presidente vem aqui ler? E vai daí suspende o treinador antes da final da taça... cancelem a Netflix... cancelem as edições Maria... nada chega aos calcanhares desta novela... e um tipo pensar que já viu tudo e de tudo!

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    2. Devo ter apanhado o síndrome do presidente ... já respondo a mim mesmo... mas ocorreu-me a cereja no topo do bolo... o Bruno de Carvalho vai ser o treinador na taça....

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    3. Meu caro,

      Não me interprete mal, mas seguindo a máxima do BdC, é preciso ganhar fama de maluco se se quiser ter sucesso. Tudo o que se possa fazer para se ganhar esta fama é sempre pouco.

      SL

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  5. Os maiores FLOPS da História tiveram eleições retumbantes. Se sobrevivi a um Santana Lopes, Zé Bettencourt, Godinho Lopes sobreviverei a este. Já faltou mais...

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    1. Meu caro,

      Resisto você e resistiremos todos. A vida é uma coisa tão lixada que se morre por isso. Até gramámos com o Paulo Sérgio e tudo.

      SL

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  6. O fcp agradece a vossa vassalagem. Terceiro lugar que deveria ser quarto, atrás do braga. Agora é passar o verão a ver os gigas de emails e dizer sempre mal do Benfica. Para o ano a realidade volta a bater-vos à porta. 17 anos and we keep counting ...

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    1. Olha "pulha" corrupto, apesar da nossa derrota e de jogarmos muito pouco, só a miopia do árbitro e do video-árbitro possibilitou que não tivesses ficado em 3º já na passada semana. Sabes porquê "anónimo" que nem o teu nome assumes, velhaco, porque se nós jogamos pouco a equipa do teu "clube mafioso" não joga nada. Sabes quantos pontos fez a teu corrupto clube esta época na Champions? Sabes quantos golos marcou? Sabes quantos golos sofreu? Certamente não esqueceste isso "pulha" corrupto. E certamente o S.C. Braga (4º classificado) teria feito melhor. "anónimo" nem o teu nome assumes...nem vergonha tens...

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    2. Meu caro,

      O FCP agradece e, pelos vistos, o Benfica ainda mais. Dado por dado, o segundo lugar foi um pouco mais oferecido. Enfim, o Porto quer um campeonato? Ora aí está, bem passado e tudo. O Benfica quer um segundo lugar? Ora aí está também, com molho bechamel e tudo.

      Para o ano damos mais presentes. É só pedir. Agora deve-se pedir com educação.

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  7. Simplificando o texto, derrota anunciada com erros graves de Jorge de Jesus, não passava pela cabeça de ninguém levar a jogo Piccini e William, vindos de lesões; sem William o Sporting ganhou tudo; inacreditável a substituição de Battaglia.
    Faltou a JJ o colinho do outro lado, um penaltzinho, um golo em fora de jogo, limpinho/limpinho. JJ também foi vitima do esquema, agora esta no fim da picada.
    Finalmente o gozo que vai dar ver as toupeiras embrulharem mais umas quantas derrotas NA liga dos Campeões, porque não jogam a ponta de um corno.
    SL

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    1. Caro João,

      Em Portugal, tem-se a mania de contar com o dito no traseiro da galinha. Antes de mais é preciso apurarem-se para a fase de grupos. Aliás, no nosso caso acontecia exactamente o mesmo e também já estávamos a fazer contas ao dinheiro.

      SL

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