sexta-feira, 29 de junho de 2018

A política de Bruno de Carvalho ou a política e o Bruno de Carvalho

Há dias, o Rui Tavares na sua crónica no Público afirmava que o tempo de exposição mediática do Bruno de Carvalho no último mês antes da Assembleia Geral tinha sido de cerca de mil horas. Não há acontecimento que se assemelhe, tufão, terramoto ou guerra. É um sinal inequívoco de uma doença qualquer que nos afeta coletivamente.

Para não ficar deprimido, tendo a procurar explicações mais (i)lógicas. A agenda mediática no ano passado foi dominada pela tragédia dos incêndios. O Governo teve de ser remodelado, para dar conveniente resposta política. O Eduardo Cabrita foi nomeado Ministro da Administração Interna. Quem o conhece, sabe bem que com ele nada se passa, nada acontece. Adormece-se a si próprios e adormece-nos tão bem que a própria realidade fica adormecida. Transporta tudo e todos para a "twilight zone".

A agenda mediática do Bruno de Carvalho tem tudo a ver com esta (não) opção política. É melhor para este efeito do que o próprio Campeonato do Mundo. Involuntariamente este ano não vai haver incêndios, pelo menos mediaticamente. Se houver, não tenham dúvidas que a Proteção Civil não só nos vai avisar de qualquer risco como também da próxima conferência de imprensa ou do último “post” do Bruno de Carvalho.

3 comentários:

  1. Vivi muitos anos no estrangeiro, e nunca vi um fenomeno como este, vivemos num país muito estranho, muito estranho mesmo.

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    1. Meu caro,

      Quando o Guterres se demitiu, os noticiários do dia seguinte abriram não com a demissão dele mas com a demissão do Toni, treinador do Benfica nessa altura. Isto é uma doença que não se consegue explicar. Como doença que é deve ser tratada (como doença).

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  2. Há uma lógica que preside à mediatização dos factos e dos personagens que tudo faz para manter a "realidade" aprisionada dentro da bolha mediática.
    O discurso oficial sobre a realidade é mais plausível, e melhor aceite como objecto de consumo, do que o debate sobre a dita. A discussão sobre o futebol serviu para preencher a baixo custo o tempo que a narrativa sobre a realidade não ocupava.
    Progressivamente a importância relativa das coisas inverteu-se: hoje a narrativa, ainda que a oficial, sobre a realidade, ocupa pequenos espaços periféricos deixados livres pelo futebol. Há um detalhe: não há nenhum debate, apenas a boçal fulanização da coisa. Bruno de Carvalho assenta como uma luva neste universo.
    Talvez Guterres tenha percebido que seria assim que gostaríamos de viver. Talvez tenha sido esta a perspectiva do pântano que tanto o assustou.
    Mais tarde o Miguel Sousa Tavares há-de dizer-nos.

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