terça-feira, 15 de março de 2016

Jornalistas e treinadores de bancada

Há dias, no Lateral Esquerdo, escrevia-se sobre os treinadores de bancada. O registo não era o mais simpático para os ditos. Não me revejo nessa leitura da realidade. Mas esta minha apreciação não é muito relevante nem a razão para escrever esta "posta" .

Lemos livros e comentamo-los sem nos pretendermos substituir aos escritores. Vemos exposições e comentamo-las sem nos pretendermos substituir aos artistas plásticos. Vamos ao cinema e comentamos os filmes sem nos pretendermos substituir aos realizadores e atores. Podia continuar neste registo sem nunca mais parar.

As manifestações culturais, artísticas e desportivas, têm várias razões de ser. Uma delas é a de serem apreciadas. Mesmo que sejam poucos, estas manifestações não existem sem espetadores (sem o “c” esta expressão presta-se a todos os equívocos). Com as redes sociais, a opinião dos espetadores popularizou-se sociabilizou-se. Sinais dos tempos e nada mais.

O problema não está nos treinadores de bancada. Para bem do futebol, ainda bem que existem e espera-se que sejam cada vez mais. O problema é que a relação entre o futebol e os seus públicos, como qualquer outra manifestação desportiva ou cultural, deve ser mediada pelos jornalistas. Não se exige aos jornalistas o mesmo que se exige a um treinador de bancada.

A um treinador de bancada não se deve exigir mais nada para além do respeito pelos adversários. Aos jornalistas exige-se que conheçam tecnicamente bem a realidade sobre a qual informam. O problema está exatamente aqui. A maioria dos jornalistas desportivos não se diferencia do comum treinador de bancada, com a agravante de não fazerem qualquer declaração de interesses. Com melhores jornalistas, a discussão pública sobre o futebol seria seguramente mais qualificada. Os treinadores de bancada, como eu, agradecem.

10 comentários:

  1. http://benficavencedor1904.blogspot.pt/2016/03/inacio-e-devedor-ao-fisco-por-isso-tem.html

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    1. Boa merda de blog. É mesmo à lampião bêbado e ignorante. O Orelhas ficou rico a dar calotes, como os 600 M€ ou os 17 M€ do BPN. Continuem a comer gelados com a testa e a dar a peida ao Orelhas.

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  2. Caro Rui,

    Bem o entendo. Já aqui o havia dito, num comentário sobre a agenda jornalística, ainda não imaginava sequer fazer parte desta grande equipa.

    Ainda assim, teremos que acrescentar os aguadeiros, mescla de comentadores jornaleiros a soldo de interesses instalados. São muitos. Como se diz na minha terra: mas que as mães! A sua elegância sente-se a léguas de distância...

    Um abraço


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    1. Caro Gabriel,

      Sobretudo na televisão, há uma mescla de pessoas que fala de futebol que é indiscernível. Dizem todos a mesma coisa, sejam jornalistas, treinadores, ex-treinadores, jogadores, ex-jogadores, paineleiros ou rapazes com Ipad.

      Ninguém percebe a razão de tanta notoriedade. Ou, pelo contrário, percebe-se bem demais.

      Um abraço

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  3. Caro Rui
    Parabéns pela posta. Eu, admito sem dificuldade que não sou treinador, nem de bancada. Raramente lá vou e, tal como o Cajuda, tenho dificuldade em perceber as imensas geometrias do jogo. Já o trabalho da comunicação social da especialidade, mais próxima do meu galho, mereceria outro empenho meu. Tivesse eu tempo e arriscaria uma abordagem psicológica, dado que, na maior parte dos casos, estou em crer, se trata de gente com baixa autoestima, pessoas que se sentem inadequadas para enfrentar os desafios da vida, que não acreditam nos seus potenciais, tudo isso fruto, normalmente, da frustração de se ter ambicionado ser um dia jornalista “a sério” e se ter acabado ali. Não que as outras áreas do ofício andem muito melhor, mas depois da necrologia e das notícias da esquadra do bairro a informação desportiva fica logo a seguir. De seguida tentaria uma análise sócio económica e, numa perspetiva marxista que raramente falha nestas abordagens mais simplistas, procuraria explicar a história real desses agentes a partir das condições materiais que os condicionam. Só isso já me levaria ao volume II, quem sabe o III, daí que nem comece. Aliás, assumindo desde já um preconceito metodológico, para mim, o cerne da questão do jornalismo desportivo está mesmo na “produção material da vida”, segundo Marx, ou nos tostões, como mais prosaicamente diz o povo.
    Abraço

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    1. Caro Trindade,

      Não sei se a perspetiva marxista ajuda. De facto são as condições sociais de produção que geram o conceito de classe em si e para si.

      Percebe-se as condições sociais de produção dos jornalistas. Não se percebe é como dessas condições não se gera uma classe em si e para si. Pelos vistos, a dialética entre os detentores dos meios de produção e os trabalhadores não se aplica. Estão ambos do mesmo lado.

      Um abraço

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  4. sempre achei que jornalismo desportivo estava para Jornalismo, como música militar estava para Música...

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    1. Meu caro,

      Há mais parecenças na música. Os militares tocam. Mal, mas tocam.

      SL

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  5. E por falar em artistas, já saiu o comunicado "forte" do Sindicato dos Jornalistas relativamente aos jornalistas que foram "amparados" na Assembleia Geral do FCP?

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    1. Meu caro,

      Não se compara um par de sopapos com uma "postada" no Facebook.

      SL

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