Hoje não arrisquei nada. Voltei ao Tribuna, para a mesma mesa e a mesma cadeira da primeira parte do jogo contra o Estoril. Aviei também uma tosta-mista e uma Coca-cola com duas pedras de gelo, enquanto lia o Público e o Jornal de Notícias. Quando começou o jogo, o ritual estava cumprido.
O Jorge Jesus também não inventa nada (o Bruno César não foi uma invenção, foi uma necessidade). O Teo voltou a jogar de início. Neste jogo todos percebemos finalmente a insistência. O Teo acrescenta algo de invulgar à equipa, deixando o adversário sem capacidade de reação às suas jogadas. À falta de melhor definição, acrescenta o que poderíamos chamar de aselhice virtuosa ou virtuosismo aselha. A forma como entrou simultaneamente com o pé e com a cabeça à bola no primeiro golo deixou o guarda-redes desconcertado. Não fez melhor figura o guarda-redes com a notável rosca do quarto golo. O chuto metade na bola metade na atmosfera implica um cálculo mental só à disposição dos predestinados. Pelo meio, uma assistência para o segundo golo resultante de tanta atrapalhação e hesitação que deixou a defesa do Arouca sem capacidade de antecipar o que se iria passar.
Os golos de que mais gosto são os de canto. Neste caso, não demonstram, somente, a tal aselhice virtuosa ou virtuosismo aselha. Demonstram treino. Bola tensa para o meio, cabeceamento das nossas torres e entrada do avançado ao segundo poste. Também é diferente ter o Bruno César a marcar com bolas tensas ou o João Mário a bombear bolas cheias de altura e de efeitos para a molhada.
O João Mário esteve magnífico. Tem o defeito de precisar de vinte e quatro oportunidades para marcar uma. Hoje teve quarenta e oito. Tudo o resto faz sempre bem. O Adrien também faz tudo bem, mesmo quando perde a bola no meio-campo e permite a principal oportunidade de golo do Arouca. No terceiro golo, aquela tabela com o Slimani, o ziguezaguear entre os adversários e a assistência quase sem querer já não se viam desde que o Zidane pendurou as botas.
Os centrais, a continuarem a jogar assim, vão-me obrigar a rever alguns dos conceitos que tinha como adquiridos. Porventura, posso vir a reconhecer que os centrais também podem saber jogar à bola. Nunca vou abdicar é da necessidade de baterem nos adversários.
Não houve muito mais nada que mereça grandes referências. O Bruno César pareceu-me bem a lateral. Passou a ter uma boa desculpa para não correr tanto. Alguém precisa de explicar ao Bryan Ruiz que os golos se marcam como no quinto golo e não com tentativas umas atrás das outras de fazer um chapéu ao guarda-redes de qualquer parte do campo. O Schelotto continuou a alternar entre qualquer coisa e outra coisa qualquer. O Slimani está um senhor. Não importam os golos. O que importam são as assistências. De calcanhar ou de outra forma qualquer.
(Afiambrámos o Benfica em futsal. Ou muito me engano ou um tal de Fortino era capaz de nos dar jeito na equipa de futebol de onze. Mesmo que não jogasse, podia ensinar os outros a dominar uma bola sob pressão dos adversários, a jogar de costas para a baliza, para fazer passes para os remates dos colegas, ou a marcar golos de cabeça)
O futebol tem destas coisas...
ResponderEliminarAndou-se a falar toda a semana da Slimanidependencia e da defesa coureacea do Arouca, que ia já com 5 jogos consecutivos sem sofrer.
Pois bem, toma lá 5 golos, sem unico remate do Slimani :-)
Meu caro,
EliminarÀs vezes de onde menos se espera é que aparecem coisas. Não consigo classificar os golos do Teo de outra forma, sem tirar mérito aos lances e à forma como ele se desmarcou para disputar as bolas.
SL
Ora bem, este Guterres vale muito mais que o Gutiérrez, J Dario é um senhor jogador tal como J Mário, ESlimani não é goleador como Slimani mas assiste bem.
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarA versão contrafeita do Teo é melhor do que a original. Que jogue sempre esta.
SL
Vamos lá ao post :)
ResponderEliminar1. Tribuna até ao fim! E com o ritual cumprindo, se for possível.
2. Teo Guterres - "aselhice virtuosa": está caracterizado. "A forma como entrou simultaneamente com o pé e com a cabeça à bola no primeiro golo deixou o guarda-redes desconcertado." - as mulheres ainda insistem em dizer que os homens não conseguem fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. Olhe para o Teo vai à bola com pé e cabeça e, ainda, desconcentra o gk adversário.
3. "é diferente ter o Bruno César a marcar com bolas tensas ou o João Mário a bombear bolas cheias de altura e de efeitos para a molhada." Tão óbvio, mas tão óbvio que só irrita como é que se mantém o erro de J. Mário marcar os cantos. Ainda acredito que, até ao final da época, o Adrien deixe de marcar livres.
4. "Alguém precisa de explicar ao Bryan Ruiz que os golos se marcam como no quinto golo e não com tentativas umas atrás das outras de fazer um chapéu ao guarda-redes de qualquer parte do campo." Se um dia deixarem-lhe marcar um pontapé de baliza vai tentar picar sobre o gk? Ruiz não é Gaitan (a quem tudo é permitido)
https://www.youtube.com/watch?v=S-UQKa5LMDM
5. Schelotto. Por favor JJ, pára com isto, tá? Já tivemos a nossa dose de Grimi, Had, Miguel Lopes, Balajic, Vinicius, Saber, etc. O futebol não é aquilo...
ps: ontem, o Slimani não terá sido o Fortino do futebol de 11? "dominar uma bola sob pressão dos adversários, a jogar de costas para a baliza [apoio frontal e tabela com Adrien para o golo de J. Mário], para fazer passes para os remates dos colegas [assistência para J. Mário e golo de Ruiz]..." Só faltou "marcar golos de cabeça".
grande abraço!
Meu caro,
EliminarAquela hora do dia dá jeito o Tribuna. Vamos ver se mantêm os jogos a essa hora.
Mete-me confusão a falta de aproveitamento das bolas paradas. O Jorge Jesus sabe como fazer. Os laces dos golos são preparados nos treinos. Com os cantos batidos assim, se a bola passa o primeiro poste, como as nossas torres, é meio golo. O timing da desmarcação do Teo é perfeito.
Às vezes o Ruiz exagera. Em todos os lances quer sempre meter uma nota artística. Em muitas situações só é preciso fazer o óbvio. ainda se percebe a primeira tentativa. A segunda é estúpida.
O Scheolotto é uma surpresa. Entra na equipa exatamente quando o João Pereira estava melhor. Não vejo o que a equipa ganhou com isso. A defender o Scheolotto deixa sempre a equipa à beira de um ataque de nervos.
O Slimani esteve muito bem. Esteve como o Fortino. Só faltou o golo de cabeça e cabeça para estar calado.
Um abraço
Caro Rui,
ResponderEliminarPenso que uma palavra resume o jogo de ontem: eficácia. Se virmos bem as coisas não tivemos muito mais oportunidades que contra Rio Ave, Guimarães ou Benfica e o Arouca até foi mais perigoso que qualquer uma destas equipas. O nosso problema este ano é mesmo esse: desperdício.
Resta salientar os golos do Teo. Estamos perante uma nova realidade no Sporting. Estávamos habituados à versão "avançado que só marca quando é difícil, se for fácil falha" protagonizada de forma notável por Postiga e (um pouco menos) por Montero. Agora temos um novo fenómeno, um: "avançado que só marca quando se atrapalha com a bola". Nós precisamos sempre de ter um avançado diferente, e isso parece estar assegurado.
Também sabemos que Jorge Jesus tem de ter sempre as suas teimosias. Assim como assim, Bruno César e Schelotto nem são versões muito más desse número. Vimos bem pior nos nossos rivais.
SL,
Caro João,
EliminarDefendo isso desde sempre aqui no blog: em Portugal, uma equipa como a do Sporting, tem de jogar com dois avançados. O problema é encontrar dois bons avançados que se complementem.
Com dois bons avançados, estamos sempre mais próximos de ganhar o jogo. De outra forma, está a defesa toda de olhos no Slimani. Esta situação agrava-se pela dificuldade de os médios entrarem e marcarem golos. O João Mário marcou dois, mas falhou pelo menos outros dois, porventura mais fáceis do que os que marcou.
SL