sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Voltei a "sofrer" pelo Sporting

Podem estranhar o título que resolvi dar a este post, mas a verdade é que esta 5ª feira voltei a "sofrer" pelo grande Sporting. Claro que nos últimos anos tenho sofrido e muito com o Sporting, mas ontem "sofri" pelo Sporting.

Voltei a sentir aquele nervoso, a cada lance parecia que ia rebentar com os nervos. Voltei anos atrás e lembrei-me dos dias em que fugia de casa para ir à bola. Lembrei-me da excitação dos dias que antecipam os jogos, do apito inicial que não chega ... de ver passar os minutos imaginando as grandes jogadas, e os golos que me enchiam a alma!

O Sporting está de volta... e a minha alegria pelo futebol também.

P.S. Depois de um primeiro teste em 10 contra 11 durante 40 minutos, seguem-se 90 minutos de 11 contra 14 este Domingo. Vamos ver se o "chefe da fruta e do café com leite" nos dá descanso.

Preparação para o jogo contra o Bruno Paixão

Nem a pedido se arranjava um treino melhor para preparação do próximo jogo contra o Bruno Paixão. Bem andou o treinador da Lazio quando substituiu o central que há muito devia estar na rua. Não o substituiu para o poupar ao vermelho. Isso nunca iria acontecer, fizesse o que fizesse. Substituiu-o para poupar o árbitro a tanta falta de vergonha, pois é um árbitro que lhes pode fazer muita falta no futuro.

À equipa e aos jogadores não se pode apontar nada. Não somos a melhor equipa do Mundo. Os jogadores não são os melhores do Mundo. Agora querem - e querem muito - marcar golos e ganhar jogos. E isso é claro para todos, principalmente para os adversários. Eles querem isso, nós queremos o que eles querem e eles sabem que nós sabemos que querem isso. Depois é um estádio em festa.

Podia falar de qualquer um dos jogadores. Apetece-me falar do Capel, até porque os comentadores não falam dele como devem. Quando recebe a bola e se vira para o defesa é como se lhe perguntasse para que lado quer ser passado. Se se encosta para o lado de fora, passa-o pelo lado de dentro. Se dá mais o lado de fora, é mesmo por ali que o passa. Nem sempre decide bem, mas nunca perde a bola e, na pior das hipóteses, arranca uma falta. Os defesas direitos das outras equipas quando entram já sabem que é para sofrer.

O Domingos disse que só uma grande equipa ganhava à Lazio. Nós somos uma grande equipa, então. Mas só uma verdadeira equipa é que ganha nas condições em que hoje o Sporting ganhou. Não estamos só a jogar bem. Estamos a ganhar uma verdadeira equipa. Só uma verdadeira equipa é que ganha títulos.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Há pessoas que não devem ser contrariadas

Nada me descansa mais do que ir ao Flávio ao fim do jantar ler a imprensa diária. Leio sempre o Diário do Minho e o Correio do Minho. Afinal, sempre vivo em Braga, embora ainda me custe a acreditar. Quando estou muito cansado, às vezes, também leio “A Bola”. Ontem foi um dia desses.

Sousa Tavares afirma que o Sporting ganhou ao Paços de Ferreira, ao Zurique, ao Rio Ave e ao Setúbal por sorte. Sendo assim, pergunta-se, legitimamente (segundo ele), o que acontecerá ao Sporting quando deixar de ter sorte. Há pessoas que em certas circunstâncias não devem ser contrariadas. Ainda hoje a minha mãe afirma que sempre fui muito estudioso. Nunca lhe disse a verdade, para ela não me ver com os olhos que nunca me viu. É melhor assim, para os dois.

Cruz dos Santos também é daqueles que não devem ser contrariados. Afirma que o Cardozo viu bem o amarelo porque “esperneou, tal como o Fucile”. Espernear é um verbo a que não recorro muito, mas vou ter que o usar mais vezes. Pelos vistos, as tecnicidades do futebol assim o obrigam.

Fui ao dicionário ler o seu significado. Significa o mesmo que “agitar muito as pernas” ou “pernear”. De “pernear” é que não me lembrava de todo. Continuei a pesquisa no dicionário. Pernear é o mesmo que “mover violentamente as pernas, saltar ou dar pulos”. Assim, o Cardozo “agitou muito as pernas”, “moveu violentamente as pernas”, “saltou” ou “pulou”. Como “agitar muito as pernas”, “saltar” ou pular” não são motivo de falta, então, o Cruz dos Santos considera que o Cardozo “moveu violentamente as pernas”. Ora, foi mais ou menos isso que vi também. Não percebo é porque conclui pelo amarelo.

A situação do Fucile é mais intrigante. O que vi foi o Fucile a levar as mãos à cabeça. Quanto muito, poderá ter esbracejado; esperneado é que não.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Shock and awe

Há coisas que parecem estar a mudar. Não sabemos se, globalmente, essa mudança se confirma e se, mesmo confirmando-se, chega para as nossas ambições esta época. Mas esperemos que, pelo menos, a táctica do “shock and awe” dos primeiros quinze minutos da primeira e da segunda partes do jogo contra o Setúbal se repita.

domingo, 25 de setembro de 2011

O Leão e o Choco (*)

Estava um Leão a saciar a sua sede nas margens do Tejo quando um Choco, afastando-se do seu estuário natural do Sado, se aproximou pela beira da água e, passando ostensivamente pelo Leão, colocou-se numa zona mais abaixo.
- Chamo a tua atenção para o facto – disse o Choco – de não ser normal a água correr para montante. Assim, estando eu onde estou, não poderei contaminar a água que estás a beber. Não tens, pois, o menor pretexto para me atacares.
- Não fazia a menor ideia – respondeu o Leão – de que precisava de um pretexto para gostar de filetes de choco frito.
Foi o fim do pequeno lógico.
(*) Adaptada de “O Lobo e o Cordeiro” de Ambrose Bierce

sábado, 24 de setembro de 2011

O Céu deve ser uma coisa assim

Uma “Vale do Rico Homem”, Reserva 2007, cigarros na dose certa, entusiasmo transbordante e três bolas lá dentro. O Céu, se existir, deve ser uma coisa assim.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O ridículo pode matar (as pessoas erradas)

Comecemos pelos factos. Na última época, o Rui Patrício foi, a léguas de distâncias, o melhor jogador do Sporting. Na época passada, o Rui Patrício foi o melhor guarda-redes do campeonato. O Rui Patrício é o melhor guarda-redes português. Este ano, o Rui Patrício tem responsabilidade num só golo sofrido, não tendo, porém, responsabilidades em nenhum ponto perdido. Este ano, o Rui Patrício defendeu remates que, com qualquer outro, seriam golos. Fez a melhor defesa até ao momento do campeonato (defesa a um remate de cabeça no jogo contra o Marítimo).

No jogo com o Rio Ave as coisas não correram bem. Provavelmente, tem tudo que ver com os livres indirectos. Que os adversários e os comentadores de camisola vestida e bandeirinha, venham atribuir responsabilidades ao Rui Patrício é uma coisa. Outra bem diferente é que o próprio treinador as venha fazer em público. Nenhum líder de uma organização que se preze, seja no futebol seja noutra actividade qualquer, faz críticas públicas a quem faz o seu trabalho. Ainda para mais quando as críticas são injustas. Em Paços de Ferreira as coisas foram vergonhosas. Foram tão vergonhosas que as críticas foram efectuadas nos seguintes termos: o árbitro errou, mas o Rui Patrício errou também, porque não intuiu que o árbitro ia errar. O ridículo devia matar as pessoas certas; pelos vistos mata as erradas.

Quando se está a um certo nível, como o Rui Patrício está (podendo evoluir ainda mais; coisa que a maior parte dos guarda-redes deste nível, face à idade, já não pode), a diferença não está nos frangos. Está na sorte de dar os frangos certos, isto é, os frangos que não influenciam o resultado final.


Comparando com os guarda-redes dos nossos rivais na época actual, o Rui Patrício não fica atrás de nenhum deles. O Artur deu um frango contra o Guimarães absolutamente monumental. Foi mais ou menos como o do Rui Patrício só que a bola ia bem mais devagar e foi rematada a muito maior distância da baliza. Quanto ao Helton, lembrem-se, sem se rebolarem pelo chão à gargalhada, do golo do Shakhtar Donetsk.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O eterno “Peter Pan”

O Pereirinha entra para atacar, mas também para defender. Outras vezes, entra para defender, mas também para atacar. Pede-se-lhe que transporte a bola, mas que efectue tabelas em progressão com o João Pereira também. Pede-se-lhe que combine com o João Pereira, mas que também transporte a bola. Joga junto à lateral, mas também deve mover-se para posições mais interiores. Joga em posições mais interiores, mas também deve deslocar-se para as laterais.

Como se lhe pede tudo e nada ao mesmo tempo, o resultado é coisa nenhuma. Talvez lhe devam ser pedidas coisas muito concretas.

Se é para jogar a atacar, então, os resultados devem ser medidos pelo que faz no ataque, como: centros, contra-ataques, desmarcações dos avançados e remates que dão golos. A participação nos golos é a única e objectiva medida da eficácia de quem joga no ataque.

Se é para jogar a defender, então, tiram o João Pereira e põem-no lá a ele. Aliás, já fez esse lugar e deu boa conta dele.

De outra forma, nem a avô morre nem a malta almoça. Nem convence nem evolui. Resta-lhe a cara de bom menino que tem. Nós, os mais velhos, gostamos de miúdos assim. Fazem-nos sempre lembrar um filho ou um sobrinho que, sem talento ou vontade, nunca saiu de casa dos pais, embora continue – como bom rapaz que é - a fazer a cama bem feita, a dobrar o pijama e a manter o quarto arrumado.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

À bruta

Quando cheguei ao Flávio já estávamos a ganhar dois a zero. Ainda fui a tempo de ver um fora-de-jogo mal marcado ao Wolfswinkel, que partia isolado para a baliza. Depois voltámos ao costume: o meio-campo a dar baldas sobre baldas. Ninguém pressiona, ninguém defende. Os extremos encostam-se às laterais quando perdemos a bola e fica um campo de ninguém onde o adversário anda com a bola como quer.

Como o Rio Ave também não dava uma para a caixa, acabei por ler todos os jornais e revistas disponíveis. Li “A Bola”, o “Diário de Notícias”, o “Correio do Minho”, o “Diário do Minho”, a “Nova Gente”, a TV Mais” e a “TV 7 Dias”. Fiquei bastante esclarecido quanto à imprensa escrita portuguesa.

Na segunda parte, saí deste torpor pelas piores razões. O João Pereira, em mais uma balda, perdeu a bola e o Patrício deu um frango. Aliás, o Patrício esteve numa tremedeira permanente. Deve ser dos livres indirectos e do parvalhão do Domingos, que, em vez de efectuar as críticas que tem de fazer em privado, vem-nas fazer para as conferências de imprensa. Para a comédia se transformar em farsa, levámos o dois a dois, em mais uma jogada em que a nossa ala direita, o João Pereira aditivado pelo Pereirinha, estava a dormir.

Depois foi o que se viu. Quem não tinha percebido a utilidade do Onyewu, deve ter ficado esclarecido. Em situações desesperadas, os jogos ganham-se à bruta; não se ganham com meninos e boas intenções.

Em conclusão, se a máquina de calcular não me atraiçoa, estamos a cinco pontos do Benfica e do Porto. Se ganharmos o próximo jogo, ficamos a menos pontos ainda do Benfica, do Porto ou de ambos. Tal como ao Mark Twain, também me parece que as notícias sobre a nossa morte são manifestamente exageradas.

O Benfica tem mais banco

O Benfica conseguiu substituir melhor o Duarte Gomes do que o Porto o Rui Silva. Para já, parece ter um banco melhor em quantidade e qualidade.

Razão tinha o Pinto da Costa quando os classificou, a eles e a todos os outros como eles, de heróis. De facto, tratam-se de homem extraordinários pelas suas qualidades e realizações. Não era por acaso que os Gregos designavam assim os homens com características divinas. Para certas coisas, confia-se tanto ou mais neles do que em Deus.

domingo, 18 de setembro de 2011

Desfalcados

O Porto e o Benfica não vão poder contar com, respectivamente, o Rui Silva e o Duarte Gomes. Apesar de, aparentemente, jogarem na mesma posição, têm características muito diferentes. O Rui Silva é um “box to box”. Tanto vai atrás dobrar o Otamendi como, a seguir, está na frente a apoiar o Hulk. O Duarte Gomes é muito mais ofensivo. Joga em apoio permanente ao ponta-de-lança. Nem o Aimar consegue deixar o Cardoso tantas vezes em situação de golo.

Apesar de tudo, os respectivos plantéis são extensos e com muita qualidade. Não temos dúvidas que ambos serão bem substituídos.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A vontade de pôr a bola lá dentro

Em minha casa não há Sportv. Em contrapartida, posso deixar os sapatos mais ou menos ao acaso. Mesmo assim, de vez em quanto, são levantados autos de averiguação e, em situações extremas, os respectivos processos. Foi o Tratado de Tordesilhas possível, que mais se parece com a vulgar violência doméstica. Apesar de tudo, não me batem e isso é um avanço civilizacional.

Não vejo, portanto, os jogos do Campeonato do Mundo de Rugby. Só vejo os resumos que, normalmente, são uma síntese dos ensaios. As imagens são poderosas. O que impressiona é o olhar dos jogadores, de quem ataca e de quem defende. Quem ataca só pensa em colocar a bola do outro lado da linha e nada mais. Quem defende sabe que os outros só querem isso e nada mais também, e que estão dispostos a tudo para o conseguir. Uns e outros olham-se nos olhos e ninguém tem dúvidas.

Conta tudo, a inteligência, a táctica, a força, a velocidade. Mas duas coisas contam mais do que tudo o resto. O jogo colectivo, ninguém, mas mesmo ninguém, arrisca perder um ensaio para satisfazer o seu ego. A vontade, todos, individualmente e em conjunto, querem por a bola do outro lado da linha. Essa vontade é completamente sôfrega. Não dá um momento de descanso ao adversário, não permite tréguas.

No futebol gosto de golos assim. Com jogo de equipa e vontade. O segundo golo contra o Zurique foi soberbo. A partir de certa altura, percebemos que os jogadores do Sporting vão para o golo. O olhar do Insúa não deixa dúvidas. O Wolfswinkel percebe-o antes de todos os outros. Simula que vai ao primeiro poste, desvia-se e encosta para a baliza. Tarde demais para o guarda-redes, que só percebeu tudo uma fracção de segundos depois. Fica-me na memória a cara do defesa central, de quem tinha vontade de se meter num buraco e desaparecer.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Livrei-me do Sporting; vamos ver se me livro do trânsito também

Há duas maneiras de acabar mal o dia. Uma é a ver um jogo miserável do Sporting. Outra é metermo-nos no trânsito para sair do Porto. Havia o risco de experimentar as duas numa sequência infernal. Foi com este estado de espírito que me desloquei à Galiza (cervejaria, entenda-se) para ver o jogo.

Perdi o primeiro quarto de hora. Parecendo que não, o trabalho perturba muito o futebol. Quando cheguei, estávamos a ganhar um a zero. Logo a seguir marcámos o dois a zero. O Wolfswinkel “à mama” não perdoou. Se há coisa que gosto é de vê-las lá dentro, especialmente, quando são assim, sem espinhas. Sem um toque a mais ou a menos, uma finta a mais ou a menos.É difícil habituarmo-nos à vontade do Wolfswinkel e do Rubio de marcar golos. Sem o Postiga, marcamos golos mas perdemos na nota artística. Não é a mesma coisa.

Depois assistimos a mais uma desmonstração da falta de agressividade e de capacidade defensiva do nosso meio-campo. Cada jogador do Zurique com a bola parecia o Messi. O que vale é que iam esbarrando à vez no Onyewu, no Rodriguez ou no Rinaudo. Quem diz que o André Santos é um substituto do Rinaudo, que devem ser os mesmo que diziam que o Pedro Mendes era um bom trinco, não deve estar bem da cabeça.

Para não nos desabituarmos, gamaram-nos mais uma vez. Os amarelos foram escolhidos para que ninguém fosse para a rua. O penalty da ordem não faltou também. Mesmo assim não nos anularam nenhum golo. As coisas estão de tal forma que o Wolfswinkel marcou o golo e ficou logo em estado de ansiedade. Só o festejou dez minutos depois.

Livrei-me do Sporting. Espero que o trânsito me deixe em paz também.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Tribunal de “O Jogo” ou "Sistema ao Cubo"?

Em teoria, o Tribunal de “O Jogo” pretende ser uma espécie de órgão de limpeza a seco do sistema. Nódoas, detritos ou dejectos, nada escapa à sua acção. Penalties ridículos assumidos como verdades como punhos? Penalties inequívocos transformados em meros choques entre jogadores na disputa da bola? Foras de jogo em que se deve dar o benefício à equipa que ataca ou que defende, consoante seja aquela que se pretende beneficiar? A intensidade dos contactos, às vezes, não conta para nada, pois o que interessa é se há acção faltosa, outras vezes, é decisiva para fundamentar as apreciações às decisões arbitrais? Lances faltosos idênticos, julgados, às vezes, como simples faltas, outras vezes, como acções para amarelo, ou, quando dá jeito, até para vermelho? Bolas na mão, ou mãos na bola, consoante a vontade do freguês? Tudo isto e muito mais, pois, no Tribunal de "O Jogo", a imaginação é um armazém de factos gerido em parceria pelo poeta e pelo mentiroso (Ambrose Bierce, pois claro...).
Sem surpresa, os intérpretes do Tribunal de “O Jogo” são sempre 3 ex-árbitros de futebol. Actualmente o trio é composto pelos nossos conhecidos Jorge Coroado, Paulo Paraty e Pedro Henriques. Trata-se, portanto, de três ilustres ex-árbitros designados para ajudar os actuais homens do apito a evitar que o futebol degenere e se torne num desporto imprevisível.
No entanto, ao lermos as suas hilariantes análises somos levados a concluir que, em vez de órgão de limpeza a seco do sistema, esta é, afinal, a secção humorística do simpático jornal desportivo nortenho (uma espécie de “O Sistema ao Cubo”, com diversão garantida).
No recente jogo do Sporting em Paços de Ferreira, Paraty, analisando com rigor científico o lance do atraso fantasma de Rodriguez, acaba por concluir pelo acerto da decisão de Paulo Baptista, pois, diz ele, independentemente de haver ou não intenção do peruano, “o facto é que há um passe objectivo ao guarda-redes e que este joga a bola com a mão”. Pedro Henriques também tenta concluir que a acção é faltosa, mas, mais trapalhão, acaba por fazer um auto-golo com a argumentação utilizada: “Rodriguez, ao querer interceptar a bola, acaba por mudar a sua trajectória, atrasando-a na direcção da sua área, onde Rui Patrício acaba por agarrá-la. Acção passível de livre indirecto”... Paraty e Henriques têm toda a razão. O que dizem tem toda a lógica. O meu cão tem quatro patas. O teu gato tem quatro patas. Logo, o teu gato é o meu cão...
Já Jorge Coroado, normalmente, para o bem ou para o mal, o mais heterodoxo deste trio maravilha, entende que não houve atraso, pois “a bola foi jogada pela canela de Rodriguez e ressaltou para trás”. Mas judiciosamente acrescenta: “Rui Patrício segurou-a, mas devia saber, por experiência própria, que gato escaldado de água fria tem medo...”. Depreende-se, pois, da análise de Coroado que há regras no futebol português que só se aplicam aos guarda redes do Sporting e que, compreensivelmente, estes deveriam estar mais atentos a isso… Todos nós sabemos - e Pedro Proença também - que, na verdade, sempre assim foi e sempre assim será…
Depois, em relação à entrada assassina de Luiz Carlos, que, contra equipas com camisolas azuis ou encarnadas, poderia ser facilmente interpretada como lance para vermelho directo (ou amarelo alaranjado, como dizem os comentadores quando acham que foi lance para cartão vermelho, mas não é de bom tom dizer isso em público), Coroado considera que o jogador pacense “fez, simplesmente, pé em riste, jogo perigoso, justificando, somente, o livre indirecto assinalado”. Pelo contrário, há duas jornadas atrás, no lance da carga (legal ou ilegal, era a dúvida) de um defensor do Beira-Mar sobre Van Wolfswinkel na sua área, Coroado mostra o seu lado humanista, preocupando-se com a integridade física do jogador... aveirense: “Van Wolfswinkel já estava desequilibrado na altura do contacto. Na queda, aterrou em cima do joelho do adversário, que podia ter-se magoado”.
Para além da comédia, há também “espaço e volume” para a ficção. Por exemplo, no terceiro penalty de Duarte Gomes contra o Guimarães, Pedro Henriques entende que “N'Diaye, com o braço levantado acima da cabeça, ocupa espaço e ganha volume, tocando deliberadamente na bola. Grande penalidade bem assinalada”… Afastado da arbitragem na sequência de um célebre Benfica - Nacional (onde cometeu a temeridade de anular bem um golo que daria a vitória aos encarnados nos últimos segundos do jogo - O Tempora! O Mores!), Pedro Henriques melhorou entretanto a sua visão e, depois de várias repetições televisivas, consegue, agora, com a preciosa ajuda do seu olho de águia, observar também que:   “El Adoua, com o braço direito, de forma deliberada, intercepta a trajectória da bola”… Como dizia o grande Barão de Itarare, quem foi mordido por cobra até de minhoca tem medo…

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Contos do Gin Tónico

Pior do que as arbitragens, só os comentários sobre elas. Os árbitros são maus, sobre isso ninguém tem dúvidas. Quando o deixam de ser, passam a bons comentadores de arbitragem e sobre isso já ninguém tem dúvidas.

No célebre livre indirecto nas Antas há uns anos, o argumento “a posteriori” foi o de a bola ter sido dirigida objectivamente ao guarda-redes e de isso ser demonstrável pelo facto de ele não ter tido necessidade de se deslocar para a agarrar. Essa teoria fez tanto vencimento que o Vítor Pereira elaborou uma norma a dizer coisa parecida, que passou a vigorar na jornada seguinte. Com essa norma se legitimou uma decisão anterior, como se a norma pudesse ter efeitos retroactivos. Depois de cumprido esse efeito, a norma desapareceu da mesma forma que apareceu (sem ninguém perceber).

A norma não dava para esta vez e, portanto, esperava com interesse as explicações. A coisa piorou. A imaginação está a faltar e, por isso, ficámo-nos pelo “parece que”, “pode ser interpretado como” e coisas afins. As explicações para os penalties do Benfica foram muito interessantes também. O jogador queixa-se de a bola lhe ter acertado na barriga ou da cabeça, logo não há dúvidas que a cortou com o braço.

Não costumo ler e, muito menos, comprar jornais desportivos. “O Jogo”, então, é um autêntico mistério para mim. Há dias enviaram-me este conjunto de comentários ao lance do penalty não assinalado na Luz a favor do Feirense. Todos são extraordinários, cada um à sua maneira. O conjunto é tão coerente como qualquer um dos “Contos do Gin Tónico”, do Mário – Henrique Leiria. Mas o último comentário, do Paraty, devia integrar uma colectânea de escrita surrealista. É qualquer coisa do tipo: “foi penalty, mas o árbitro não viu nem podia ter visto. Há mesma hora estava na Fonte dos Passarinhos, no Calvário, a beber uma mini e a comer um pires de tremoços, enquanto lia o último New York Times Book Review”.

domingo, 11 de setembro de 2011

Duarte Gomes é um excelente "playmaker" mas ainda falha no último passe: Porquê ficar por um "hat trick" se se pode fazer um "poker"?

Mais uma jornada da Liga e... volto a ser atormentado pelos meus sonhos leoninos... Ontem, sonhei que um árbitro, assumido adepto do nosso clube, oferecia ao Sporting, de mão beijada, não um, não dois, mas três penalties...! Ao longo da sua carreira ou durante a actual época? - perguntam vocês. Não, meus amigos, tudo no mesmo jogo!!!
Quem seria esse árbitro dos meus sonhos? O Bruno Paixão? O João Ferreira? O Duarte Gomes? Sim, "pode ser", esses têm provas dadas. Esses ou quaisquer outros. Desde que seja alguém mais baratinho que o Messi ou o Cristiano Ronaldo, mas que, como eles, tenha a capacidade de, sozinho ou em combinação ofensiva, fazer três assistências para golo no mesmo jogo...
Nesses meus sonhos, confesso que também não sou muito esquisito quanto ao tipo de penalties que os árbitros marcam a favor do Sporting. Uns, amigos do seu amigo, gostam mais de nos dar uma mãozinha (ou várias até)… Outros, de forma mais discreta, preferem empurrar-nos para a frente… Inspirados pelo Banco Alimentar, a dádiva e a partilha são os valores que os regem. Qualquer tipo de ajuda vale, porque, afinal, as pessoas devem estar primeiro…

No final desses meus sonhos, o treinador adversário nunca diz, em tom incendiário, que o Sporting foi claramente favorecido pela arbitragem para poder continuar na luta pelo título (com contas complicadas de cabeça e tudo...); pelo contrário, esse treinador adversário dos meus sonhos, sem embargo de um ou outro lamento pontual sobre os penalties sofridos, nunca deixa de dar o benefício da dúvida ao árbitro, concluindo, de forma conciliatória, que as três equipas em campo erraram e que "temos de errar todos menos”... Já o pândego do nosso treinador garantirá, como é habitual, com todas (bem, quase todas…) as letras, que fomos prejudicados, asseverando que existiram quatro e não apenas três penalties…

Que diabo, ó Duarte Gomes, afinal se podemos entrar na história com um "poker", porquê ficarmos por um banal "hat trick"?

sábado, 10 de setembro de 2011

Construir a equipa a partir de factos e não de teorias

Início do jogo, início da palhaçada. A palhaçada continua. Lançamentos laterais, livres, cantos, de tudo um pouco. A palhaçada mais engraçada foi o livre contra o Sporting depois do Capel agarrar a bola para marcar o lançamento de linha lateral.

Para que a palhaçada em Paços de Ferreira fosse plena, nada melhor que reproduzi-la em estúdio. O Batatinha e Companhia efectuaram o trabalho com zelo para alegria da pequenada.

Depois tudo acabou com a típica moral da história dos jogos de futebol. É preciso ter jogadores na área que tenham com única preocupação a bola e a baliza. Nada de conversas das desmarcações para arrastar os defesas, das tabelinhas com os médios e por aí fora. Só fome de golos, bola lá dentro e mais nada.

Esperemos que o Domingos tenha apreendido qualquer coisa também e comece a construir a equipa a partir de factos e não de teorias. É preciso o Onyewu para defender o primeiro poste nas bolas paradas. O Rubio e o Wolfswinkel, para mim, ficavam. A ideia de ter um avançado sozinho e, ainda para mais, o Bojinov, que não é propriamente um ponta-de-lança fixo, talvez resulte contra equipa com outra qualidade. Para as equipas do campeonato nacional é uma forma de dar descanso às defesas contrárias. O resto que os coloque como quiser, mas que não pareça que se andam a atrapalhar no meio-campo.


Pelos vistos, a palhaçada já vinha da Luz. Até agora, o Porto tinha beneficiado de dois penalties sem que o Benfica beneficiasse de nenhum. Era preciso pôr as coisas nos seus devidos lugares.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Genial

Se pudesse voltar atrás, seria do Porto. Os pais têm sempre razão. Só mais tarde é que percebemos as razões deles. Avisado andava o meu pai quando queria que fosse do Porto. Só que não posso voltar atrás. Resta-me continuar com todos os vícios: o do Sporting, o de fumar, e o de fumar mais quando vejo os jogos do Sporting.

Isto tudo para falar da recente candidatura do Filipe Soares Franco à presidência da Federação Portuguesa de Futebol. O Porto, no ano passado, encenou a dissidência com o Fernando Gomes e, depois, mandou os clubes da Liga Orangina promover a sua candidatura a Presidente da Liga. Este ano, sacou esta candidatura do Filipe Soares Franco.

Tudo está tratado. O que interessa, sobretudo o Conselho de Arbitragem, mas também o Conselho de Justiça e o Conselho de Disciplina, fica com quem sabe e com quem se sabe. O Filipe Soares Franco assume o papel de Rainha de Inglaterra na presidência. Que ninguém se queixe de falta de abrangência da candidatura e de isenção.

Tudo isto, ainda para mais, sai barato. Custa um simpático salário de Presidente, pago, pelo menos em parte, por todos nós, sportinguistas e benfiquistas incluídos, à custa do apoio do Estado português à Federação Portuguesa de Futebol (que, agora, reúne todas as condições para dispor em pleno do estatuto de Utilidade Pública).

Genial, não acham?

Havia gente que roubava...

Numa surpreendente declaração durante um reunião de esclarecimentos aos sócios do grande Sporting, o nosso Presidente informou que antes de ele chegar ao Clube "Havia gente que roubava!" e que agora esses meliantes foram despedidos.

Infelizmente e como é habitual nestas situações, nada de concreto.
Uma declaração que nada acrescenta ao Clube e aos seus funcionários.

Será que era o médico que roubava aspirinas?
Ou o Couceiro levou uns coletes e pinos para casa?
Ou terá sido o Hildbrand que levou umas cervejas e um par de luvas?

Uma sessão de esclarecimentos que não esclarece.

Assim se transforma uma boa ideia numa ideia de merda!

Saudações Leoninas,

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O Postiga não nos engana quando nos engana

Finalmente percebi a utilidade do Postiga. O Paulo Bento, na entrevista da passada terça-feira, explicou-a muito bem. Na novilíngua do futebolês nacional, explicou que o “Postiga, com as sua permanentes movimentações exteriores, permite abrir espaços interiores por onde podem jogar os seu colegas que vêm do exterior”. Como vêem isto não é fácil de perceber; e é compreensível que alguém como eu, que só lê o Correio da Manhã, tenha dificuldades em lá chegar.

Se bem percebi, o Postiga é bom ponta-de-lança porque não é ponta-de-lança. Entra como e para tal, mas engana. Faz-se de ponta-de-lança mas é médio ou extremo. Os seus colegas dedicam-se ao engano também. Entram como médios ou extremos, mas são na verdade pontas-de-lança. Esta arte do engano tem tudo para correr bem. A questão dos golos parece ser de somenos.

Se tivessem sabido disto no seu tempo, o Jardel, o Romário ou o Marco van Basten poderiam ter tido carreiras bem sucedidas. O Rooney, o Drogba ou o Falcão ainda vão a tempo de se emendar. Menos-mal, portanto.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Desertores e mercenários

Ontem voltaram a chover no molhado. Não satisfeito com toda esta história do Ricardo Carvalho, o Paulo Bento voltou a falar nela. Uma certa frontalidade quando se está na “mó de baixo”, como quando estava no Sporting e falava dos árbitros, é uma forma de coragem; quando se está na “mó de cima”, como é actual situação de seleccionador nacional, é uma forma de soberba. Começo a considerar que o Paulo Bento não é corajoso, mas, simplesmente, conflituoso. Digo isto com muita pena, aliás.

Nesta entrevista, como na do Ricardo Carvalho, o jornalismo baixa ao nível mais rasteiro. Nada de perguntas incómodas e um ambiente de sã convivência como se entrevistado e entrevistador(es) estivessem em amena cavaqueira entre amigos. Nada a que não estivéssemos habituados, mesmo na televisão pública.

Ninguém se dá ao trabalho de salientar, pelo menos, as contradições dos argumentos. Chamar mercenário ao seleccionador é uma ofensa. Chamar a um jogador desertor, é o recurso a uma metáfora militar que muito se adequa ao futebol e ao desporto em geral. Um jogador não treinar, por estar em recuperação, e jogar a titular (como foi o caso do Pepe) é a mesma coisa que um jogador não treinar, por também estar em recuperação, e não jogar de todo ou só entrar na segunda parte (caso do Ricardo Carvalho). Tudo isto sem contraditório e num tom de absoluta consensualidade.

O Ricardo Carvalho esteve muito mal. Até agora ainda não vi que o Paulo Bento tivesse estado melhor. Só que os dois não estão ao mesmo nível. Pede-se mais ao Paulo Bento, tenho muita pena.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Saudades do Cruz dos Santos e do Freitas Lobo

Hoje, eu e o meu amigo Júlio Pereira, regressámos ao trabalho. Acabaram as longas tardes a ler o Cruz dos Santos ou o Freitas Lobo. Depois destas leituras nunca mais voltaremos a ser os mesmos. Há lesões que ficam para toda a vida.

A táctica no trabalho é mais exigente do que a do Domingos. Não basta pressionar o adversário. Não basta circular bem a bola. Não basta ir rematando de vez em quando à baliza e marcar um ou outro golo. É preciso fazer isto e muito mais com toda a gente a assobiar, mesmo que seja para o lado. E não há desculpas. É escusado fazer beicinho.

Enfim, vamos ver se conseguimos aguentar mais um ano, até às próximas férias. Vamos ver se sobra paciência e algum tempo para vir aqui, entretanto, mandar umas bojardas.

domingo, 4 de setembro de 2011

Sai uma zona mista e uma meia de leite para as mesas do costume…

Chama-se “Zona Mista” e passa na RTPN, televisão pública paga por todos nós. Tanto quanto se consegue depreender do formato, pretende ser um programa de debate semanal sobre a actualidade futebolística onde… adepto do Sporting não entra. Ou seja, uma espécie de tosta mista, com uma fatia de Benfica e uma fatia de Porto, condimentada com abundante molho ketchup do habitual moderador Hugo Gilberto. Os dois ingredientes principais são representados pelo João Gobern e pelo Bruno Prata, jornalistas da Antena 1 e do Público, respectivamente, que aqui fazem uma perninha enquanto comentadores televisivos de futebol.
O Bruno Prata, reconheça-se, é, normalmente, apesar de tudo, o participante mais equilibrado do “Zona Mista”. Tem, contudo, nas últimas semanas e como aqui já foi dito, criticado acerrimamente o Sporting pelas suas tomadas de posição sobre a arbitragem. Diz o simpático jornalista nortenho do Público que, no fundo, o Sporting quer é ser tão beneficiado como o Porto ou o Benfica.
Será que Bruno Prata pretende insinuar que o Porto e o Benfica têm sido sistematicamente os dois clubes mais beneficiados pela arbitragem nacional ao longo das últimas décadas? É certo que o Sporting apenas foi campeão duas vezes nas últimas três décadas, por mera coincidência em anos em que vigorava o sorteio mais ou menos puro para a nomeação dos árbitros. É certo que alguém com a clarividência do Rui Jorge – actual seleccionador nacional de sub 21 – que passou pelo Porto e pelo Sporting disse várias vezes: “Joguei seis anos no FC Porto, sete no Sporting e é uma questão de ver quantas vezes fui expulso num lado e noutro. Pergunto: será que mudei tanto a minha atitude e personalidade desde que fui para Alvalade? Eu tenho a certeza de que fui sempre igual." É certo que alguém com a credibilidade do Paulo Bento – actual seleccionador nacional – que passou pelo Benfica e pelo Sporting afirmou repetidamente que O Sporting tem sido manifestamente prejudicado [pelas arbitragens]. Porquê? O clube é muito simpático, por isso tem esse retorno”… Mesmo assim, é a primeira vez que um reputado jornalista desportivo coloca a hipótese do Porto e do Benfica serem sistematicamente beneficiados pelas arbitragens nacionais, constituindo, sem dúvida, essa afirmação de Bruno Prata uma flagrante injustiça para os nossos dois maiores rivais, como o Diabo Vermelho de Gaia ou o Guarda Abel facilmente lhe poderão explicar.
Mas, quanto ao resto, convenhamos que Bruno Prata diz a mais pura das verdades. Enquanto fervoroso adepto sportinguista, confesso que, nos inícios de época ou em momentos decisivos da Liga Portuguesa, eu próprio tenho, por vezes, o impulso secreto de que fala o Bruno Prata. Sim, aqui entre nós que ninguém nos ouve, eu sonho por vezes em ter arbitragens tão isentas quanto as que se passam nos jogos do Porto e do Benfica. Nesses momentos, os meus instintos mais primários dão-me para ansiar por penaltys a favor do Sporting, imaginem lá, por agarrões em cantos. Noutras ocasiões, sonho ver marcar penalty a nosso favor em jogadas em que, por exemplo, um bulldozer como o Onyewu, depois de receber um piparote de um qualquer médio lingrinhas adversário, se esparrama no área contrária como se tivesse sido atropelado por um carro blindado. Também tenho desejos insanos por golos leoninos obtidos em fora de jogo ou, do lado contrário, por fiscais de linha que cortem mais jogadas que o Ricardo Carvalho ou o Piqué juntos. Mais, os meus delírios leoninos incluem igualmente a total inimputabilidade dos nossos jogadores no plano disciplinar – calcadelas à uruguaia, cotoveladas à paraguaia, chapadas à espanhola, sarrafadas à argentina, varridelas à brasileira, tudo isso, jogo após jogo, passa completamente em claro, dentro ou fora da nossa área. Pelo contrário, nesse meu campeonato imaginário, os adversários do Sporting raramente acabam o jogo com onze jogadores em campo e são condicionados, logo à partida, com amarelos à medida. Mesmo assim a minha imaginação, lamentavelmente, tem muitas dificuldades para acompanhar a realidade -  afinal, só vamos na terceira jornada…
Felizmente, ao acordar no dia seguinte, vejo que quem está nomeado para os jogos do Sporting, do Porto ou do Benfica são árbitros como o Proença, o Olegário, ou o João Ferreira e, imediatamente, esses meus maus instintos desportivos dissipam-se como por magia… Depois, enquanto saboreio a minha tosta mista matinal, vou lendo ou ouvindo os habituais comentários do Cruz dos Santos, do Paraty, ou do Pedro Henriques e fico ainda mais tranquilo sobre as nomeações e as arbitragens passadas ou futuras… Afinal, como toda a gente sabe e os excelentes comentadores que temos não se cansam de nos recordar, a isenção da arbitragem nacional dá totais garantias que, após as trinta jornadas da Liga Portuguesa, o deve e haver dos erros dos homens do apito resulta sempre num saldo nulo para todos os Clubes que nela participam, em particular, entre os três grandes…
Enfim, como dizia Ambrose Bierce, um lugar-comum é isto mesmo: uma moral sem história, uma ideia que ressona em palavras que fumegam, nada mais que uma meia de leite-e- moralidade…

Mercado, liderança e exemplo

1. Durante a transmissão do jogo Chipre – Portugal, os nossos jornalistas, sempre cheios de preconceitos e de teias-de-aranha na cabeça, perguntavam-se e perguntavam como é que era possível o Sporting ter vendido o avançado titular da selecção nacional por um milhão de euros. A pergunta certa não é essa. A pergunta certa é: como é que ninguém está disposto a dar mais de um milhão de euros pelo titular da selecção nacional? Ainda por cima, quem deu um milhão não foi um clube de futebol mas uma coisa que mais parece uma “off shore”. Não nos estão todos os dias a informar que por definição o mercado é omnisciente?

2. O Ricardo Carvalho respondeu no mesmo tom ao Paulo Bento. Quando o seleccionador nacional se coloca ao mesmo nível dos jogadores, não é de estranhar. Pelos vistos, a estupidez não pára por aqui e o Paulo Bento prepara-se para continuar com esta conversa. A liderança é um pouco inata mas também se aprende. Aconselho a que a FPF obrigue os seccionadores e lerem o Goleman ou outro qualquer do género. Se não perceberem, podem enviá-los sempre para uma reciclagem na Harvard Business School.

3. Gosto do Cristiano Ronaldo. Dele, do seu futebol, da família, das namoradas, do filho encomendado; de tudo. Mas do que mais gosto é de o ver em campo. Não há nada mais incentivador para um jogador do que os assobios da bancada. Ele sabia, nós sabíamos, que acabaria a mandá-los calar e a dar-lhes autógrafos. Mal esboçou a finta do segundo golo, todos sabíamos que a bola já só parava lá dentro. Depois ainda se deu ao requinte de, com uma arrancada no fim do jogo, acabar de destruir a defesa, incluindo o guarda-redes, do Chipre. As respostas aos assobios dão-se em campo. Pode ser que as nossas Marias Amélias aprendam alguma coisa com ele.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O Porto, os Super Heróis e a Liga da Injustiça

Há alguns anos atrás, a Câmara Municipal do Porto organizava, no início de cada época, o Troféu Internacional da Cidade do Porto, em parceria com o Porto e o Boavista. A exemplo dos tradicionais “veraniegos” espanhóis, também neste caso a lotaria saía normalmente sempre aos da casa. No dia em que tal não sucedeu, o Vereador do Desporto da Câmara Municipal do Porto (infelizmente já desaparecido), por sinal um ex- dirigente do Futebol Clube do Porto, acusou directamente o árbitro desse jogo de não ser… patriota…
Mais de uma década depois dos árbitros patriotas, entramos, agora, pelas sábias palavras de Pinto da Costa, na era dos árbitros heróis. Os nossos irmãos brasileiros dizem que "o juiz de futebol é o único ladrão que rouba na presença de milhares de pessoas e ainda vai para casa protegido pela polícia...". O Porto, pelo contrário, não tem dúvidas em atestar a massa com que são moldados os heróis da arbitragem nacional.
Seguidor das ancestrais tradições romanas, o Porto aclama sempre os seus heróis, reconhecendo justamente o seu quinhão de mérito nas vitórias portistas. Mas, adaptando à sua maneira a velha máxima de Roma, o Porto também… “não paga a traidores”. Independentemente dos resultados, independentemente de ser nos seus jogos ou nos desafios dos adversários mais directos, o Porto trata sempre de forma exemplar os seus heróis, mas também os traidores.
No ano passado, o Porto teve apenas três empates no campeonato, momentos em que, como veremos, a sua reacção foi sempre exemplar:
- No Guimarães 1 – Porto 1, Villas Boas foi expulso por contestar a arbitragem. No dia seguinte, Pinto da Costa sugeriu amavelmente que o árbitro do jogo (Carlos Xistra), deveria pedir férias (presume-se que com destino ao Brasil…). Porém, as críticas de Pinto da Costa não se cingiram apenas ao homem do apito, orientando-se também para a nomeação de Alberto Braga, lembrando que “na época passada tirara dois golos limpos ao FC Porto frente ao Paços de Ferreira”.
- No Sporting 1 – Porto 1, Villas Boas foi de novo expulso por contestar a arbitragem. Após a divulgação da nota do árbitro, o mesmíssimo Villas Boas não se coibiu de a classificar como ridícula, considerando que a arbitragem tinha sido “tão má", que havia tido "influência directa no resultado nos mais variados sentidos”.
- Por fim, no Porto 3 – Paços de Ferreira 3. Mesmo com o Porto há muito tempo campeão, após este empate caseiro, Pinto da Costa não resistiu a um amigável aviso a Cosme Machado, árbitro do encontro: “ Estamos só numa tentativa de terminar o campeonato sem perder, mas vai-me preocupar se esse trio continuar em actividade na próxima época”.
A exemplar atenção do Porto para com os árbitros não fica apenas pelos jogos que não consegue vencer. No célebre Benfica 1 – Porto 2 do apagão, Pinto da Costa criticou violentamente (com razão, diga-se - não é isso que está em causa, mas sim o tipo de registo utilizado) a nota atribuída a Duarte Gomes, considerando-a "um escândalo".
Mas o Porto dedica também particular atenção à actuação dos árbitros nos encontros onde intervêm os principais rivais. Nas reacções a essas actuações o Porto revela sempre, como adiante confirmaremos, imenso cuidado para não fazer qualquer tipo de insinuações sobre a falta de isenção ou de honestidade dos árbitros em causa. Foi, pois, por certo, por temer quaisquer posições de força por parte da Liga ou da APAF, que, por exemplo, em 20/1/2011, Pinto da Costa, quando questionado sobre se gostaria de contratar outro jogador do Benfica, respondeu com a elegância que o distingue: “Para quê? Não nos interessa. Se calhar do Benfica o único que eu gostava era o Elmano Santos”, aludindo ao árbitro madeirense que dirigiu o Académica-Benfica, onde os “encarnados” venceram com um golo duplamente ilegal de Saviola.
Todo este tratamento carinhoso aos árbitros foi dado pelo Porto na época 2010/2011, num campeonato que, sublinhe-se, venceu (justamente, como é óbvio) com 21 pontos de avanço em relação ao segundo classificado… Do lado de Vitor Pereira, dos árbitros visados, da Liga, ou da sempre corajosa APAF, o silêncio em relação a este tipo de amabilidades portistas não foi apenas ensurdecedor, mas também esclarecedor (ou mais simpaticamente até, enternecedor...).

Nesta nova época, é caso para perguntar: com tantos heróis a ajudar, para quê substituir Villas Boas, para quê substituir Falcão? Neste momento, o único insubstituível é, de facto, o… Vitor Pereira, sim, evidentemente, esse mesmo, o Super Herói…

Um certo sabor a sangue

Ser seleccionador nacional não é tarefa fácil. É o único que persegue o seu interesse próprio, tendo que convencer ao mesmo tempo os jogadores do contrário, isto é, que estão a jogar em defesa dos superiores interesses da nação e, mesmo, deles próprios. A ele pagam-lhe; aos jogadores, para além de uns trocos, a pátria agradece.

Enquanto os jogadores são novos e têm grandes aspirações e desejos de conquista, esta patranha ainda pode pegar. Quando já têm uma certa idade e estão mais próximos do fim da carreira, percebem o logro em que estão metidos.

É preciso compreender este contexto para se perceber a reacção do Ricardo Carvalho. Ninguém, no seu juízo perfeito, admite que as coisas foram tão simples como nos querem fazer crer: o Ricardo Carvalho sabendo que não ia ser titular decidiu pura e simplesmente vir-se embora sem dar explicações a ninguém. Até pode ser assim, mas é assim com muita conversa (ou falta dela) pelo meio. Que o Ricardo Carvalho tem culpas, disso também ninguém tem dúvidas. Só que esta explicação, por si só, é curta. Até porque na hierarquia de uma equipa de futebol, os treinadores e jogadores não estão ao mesmo nível.

O que mete alguma confusão é a conferência de imprensa onde o Paulo Bento foi explicando toda esta trapalhada com especial deleite, não percebendo que é o único que persegue o seu interesse próprio e que, ainda para mais, está a envolver directamente o clube e o treinador que lhe cedem os quatro, agora três, principais jogadores. Quando perder, porque todos acabam por perder, este caso vai-o assombrar.

Os problemas deste tipo não se resolvem; evitam-se. Estive sempre do lado do Paulo Bento quando estes episódios se sucederam no Sporting. Mas começam a ser casos a mais e nos mais diversos contextos. Dá ideia que promove estes conflitos e o extremar de posições para afirmar a sua autoridade.

(Declaração de interesses: O Ricardo Carvalho é o melhor central português de sempre. Ainda é hoje, para mim, o melhor central do Mundo)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Há estarolas que são mais iguais do que outros (cont.)

A história do Djaló é bastante diferente da do Postiga.

A primeira vez que dei com ele, foi quando marcou uns golos ao Benfica no Torneio do Guadiana em 2006. Adivinhava-se-lhe, como a tantos outros das nossas camadas jovens, um futuro promissor. E foi do futuro que passou a viver a partir daí.

Era um jogador muito espontâneo, de remate fácil e difícil de marcar. Nunca foi, mesmo assim, uma aposta forte para titular. No princípio, jogava como segundo ponta-de-lança com o Liedson. Mas, como disse, nunca foi aposta segura. No tempo de Paulo Bento, várias alternativas se procuraram para jogar com o Liedson: Deivid, Bueno, Alecsandro, Purovic, Tiuí, Postiga ou Derlei.

Não se tendo afirmado no centro do ataque, foi sendo, pouco a pouco, desviado para as alas. Aí é que as coisas ainda mais se complicaram. Nunca teve técnica para jogar em espaços onde o espaço rareia. Foram muitas mais as vezes que saiu com a bola pela lateral ou pela linha de fundo do que aquelas em que fez qualquer coisa de útil.

A estrela foi-se progressivamente apagando e passou a patinho feio. Mas, valha a verdade, nunca foi considerado uma vedeta nem se deu ares de o pretender ser, muito menos dispôs dos favores da crítica.

Mesmo assim foi um jogador útil nas primeiras épocas. Uma segunda opção, mas uma segunda opção útil. Marcou 23 golos para o campeonato em cinco época, não sendo uma primeira opção e nem sempre jogando no centro. A ele lhe devemos, em grande medida, a Supertaça de 2008, quando marcou dois golos contra ao Porto.

Um dia, perguntaram ao Litos porque razão não se tinha confirmado como um grande jogador, ao nível do Futre, depois dos juniores. Em resposta, simplesmente afirmou que não dispunha da mesma qualidade de muitos outros e da qualidade que lhe pressentiam quando era jovem. Às vezes as explicações para o sucesso ou insucesso de jogadores como o Litos e o Djaló são simples. Vivem do futuro até que, um dia, o presente lhes bate à porta.

(Estas histórias do Postiga e do Djaló no Sporting merecem uma conclusão, uma moral final. Fica para amanhã, se tiver tempo)