sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O Porto, os Super Heróis e a Liga da Injustiça

Há alguns anos atrás, a Câmara Municipal do Porto organizava, no início de cada época, o Troféu Internacional da Cidade do Porto, em parceria com o Porto e o Boavista. A exemplo dos tradicionais “veraniegos” espanhóis, também neste caso a lotaria saía normalmente sempre aos da casa. No dia em que tal não sucedeu, o Vereador do Desporto da Câmara Municipal do Porto (infelizmente já desaparecido), por sinal um ex- dirigente do Futebol Clube do Porto, acusou directamente o árbitro desse jogo de não ser… patriota…
Mais de uma década depois dos árbitros patriotas, entramos, agora, pelas sábias palavras de Pinto da Costa, na era dos árbitros heróis. Os nossos irmãos brasileiros dizem que "o juiz de futebol é o único ladrão que rouba na presença de milhares de pessoas e ainda vai para casa protegido pela polícia...". O Porto, pelo contrário, não tem dúvidas em atestar a massa com que são moldados os heróis da arbitragem nacional.
Seguidor das ancestrais tradições romanas, o Porto aclama sempre os seus heróis, reconhecendo justamente o seu quinhão de mérito nas vitórias portistas. Mas, adaptando à sua maneira a velha máxima de Roma, o Porto também… “não paga a traidores”. Independentemente dos resultados, independentemente de ser nos seus jogos ou nos desafios dos adversários mais directos, o Porto trata sempre de forma exemplar os seus heróis, mas também os traidores.
No ano passado, o Porto teve apenas três empates no campeonato, momentos em que, como veremos, a sua reacção foi sempre exemplar:
- No Guimarães 1 – Porto 1, Villas Boas foi expulso por contestar a arbitragem. No dia seguinte, Pinto da Costa sugeriu amavelmente que o árbitro do jogo (Carlos Xistra), deveria pedir férias (presume-se que com destino ao Brasil…). Porém, as críticas de Pinto da Costa não se cingiram apenas ao homem do apito, orientando-se também para a nomeação de Alberto Braga, lembrando que “na época passada tirara dois golos limpos ao FC Porto frente ao Paços de Ferreira”.
- No Sporting 1 – Porto 1, Villas Boas foi de novo expulso por contestar a arbitragem. Após a divulgação da nota do árbitro, o mesmíssimo Villas Boas não se coibiu de a classificar como ridícula, considerando que a arbitragem tinha sido “tão má", que havia tido "influência directa no resultado nos mais variados sentidos”.
- Por fim, no Porto 3 – Paços de Ferreira 3. Mesmo com o Porto há muito tempo campeão, após este empate caseiro, Pinto da Costa não resistiu a um amigável aviso a Cosme Machado, árbitro do encontro: “ Estamos só numa tentativa de terminar o campeonato sem perder, mas vai-me preocupar se esse trio continuar em actividade na próxima época”.
A exemplar atenção do Porto para com os árbitros não fica apenas pelos jogos que não consegue vencer. No célebre Benfica 1 – Porto 2 do apagão, Pinto da Costa criticou violentamente (com razão, diga-se - não é isso que está em causa, mas sim o tipo de registo utilizado) a nota atribuída a Duarte Gomes, considerando-a "um escândalo".
Mas o Porto dedica também particular atenção à actuação dos árbitros nos encontros onde intervêm os principais rivais. Nas reacções a essas actuações o Porto revela sempre, como adiante confirmaremos, imenso cuidado para não fazer qualquer tipo de insinuações sobre a falta de isenção ou de honestidade dos árbitros em causa. Foi, pois, por certo, por temer quaisquer posições de força por parte da Liga ou da APAF, que, por exemplo, em 20/1/2011, Pinto da Costa, quando questionado sobre se gostaria de contratar outro jogador do Benfica, respondeu com a elegância que o distingue: “Para quê? Não nos interessa. Se calhar do Benfica o único que eu gostava era o Elmano Santos”, aludindo ao árbitro madeirense que dirigiu o Académica-Benfica, onde os “encarnados” venceram com um golo duplamente ilegal de Saviola.
Todo este tratamento carinhoso aos árbitros foi dado pelo Porto na época 2010/2011, num campeonato que, sublinhe-se, venceu (justamente, como é óbvio) com 21 pontos de avanço em relação ao segundo classificado… Do lado de Vitor Pereira, dos árbitros visados, da Liga, ou da sempre corajosa APAF, o silêncio em relação a este tipo de amabilidades portistas não foi apenas ensurdecedor, mas também esclarecedor (ou mais simpaticamente até, enternecedor...).

Nesta nova época, é caso para perguntar: com tantos heróis a ajudar, para quê substituir Villas Boas, para quê substituir Falcão? Neste momento, o único insubstituível é, de facto, o… Vitor Pereira, sim, evidentemente, esse mesmo, o Super Herói…

7 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  2. href="http://chiclasdementol.blogspot.com/2011/08/voces-sabem-do-que-ele-esta-falar.html

    ResponderEliminar
  3. Lapidar!
    Não nos calemos nunca que alguém há de ouvir a razão.

    MTP

    ResponderEliminar
  4. excelente.

    gostava de pegar neste artigo e enfiá-lo pela goela do luis sobral abaixo.

    ResponderEliminar
  5. Caros amigos,

    Obrigado pelas Vossas simpáticas palavras. Mais do que a actuação do Porto (que nem sempre da forma mais correcta, é verdade, procura defender os seus interesses), o que aqui está em causa é a habitual duplicidade dos dirigentes de instituições como a APAF, Conselho de Arbitragem da Liga, da Presidência da Liga e, claro, dos próprios árbitros. Todos eles, à sua maneira, são fracos com aqueles que entendem ser fortes e fortes com aqueles que entendem ser fracos. A nós resta-nos, pois, explicar-lhes que pertencemos aos fortes... Saudações leoninas.

    ResponderEliminar