quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Hugo, der Libero!

O libero – livre em italiano - é, no futebol, o defesa central de sobra que deve compensar possíveis brechas abertas por companheiros, quer na zona central da defesa, quer nas laterais. Por vezes, o libero tem, também, funções de elemento surpresa na construção do jogo ofensivo, procurando provocar desequilíbrios no meio campo adversário.

Franz Beckembaur, o Kaiser, com a elegância e o seu porte erecto, as suas passadas largas e a cabeça sempre erguida, além da grande visão de jogo, terá sido, porventura, o mais conhecido dos liberos do futebol mundial.

Hugo, o simpático pivot do Trio de Ataque da RTPN, homónimo do pequeno Troll das plataformas de videojogos, não tem a elegância do Kaiser, nem muito menos a sua visão de jogo. Actuando como libero do Benfica no Trio de Ataque, o Hugo procura compensar essas limitações naturais com um estilo mais à italiana – duro, ríspido e esforçado. Se a defesa do seu Benfica está em risco, o Hugo, qual “milhafre”-real, ganha asas e ataca as suas presas, em alguns casos, com uma fúria, convenhamos, um pouco… troll.

Quando António Pedro Vasconcelos (até há pouco tempo o mais heterodoxo – e por isso o mais divertido - representante benfiquista da tribo dos comentadores), sente qualquer tipo de dificuldade de cobertura no debate com os seus colegas de painel, logo acorre, rápida e afanosamente, o nosso Hugo, quer para cortar a palavra ao adversário, quer mesmo para ele próprio contra-argumentar, de forma, por vezes, um pouco à margem das regras, com qualquer um dos “Ruis”. Entusiasmado com o seu próprio desempenho, o Hugo, quando recupera a bola (no caso a palavra), surge inclusive, por vezes, como elemento surpresa do ataque benfiquista, procurando, em dupla com o António Pedro, criar desequilíbrios nos adversários através de sucessivas jogadas de dois para um.

Depois de um estágio no “Zona Mista”, fazendo dupla benfiquista com João Gobern, em combates semanais com o difícil Bruno Prata do Público, o chefe Carlos Daniel (também ele benfiquista, embora com um estilo, se não mais elegante, pelo menos mais dissimulado) cedeu ao Hugo o lugar de pivot do Trio de Ataque. E o mínimo que se pode dizer é que o Hugo dá tudo o que tem – e, portanto, a mais não é obrigado - para cumprir a sua missão, arriscando mesmo, por vezes, ser ele o representante mais genuíno do Benfica no painel.

Na passada terça feira, por exemplo, quando confrontado por alguém com as três derrotas consecutivas do Benfica, o Hugo teve que “dobrar” o melhor que pôde o (na altura distraído) António Pedro Vasconcelos, dizendo, em tom mais ríspido, que se tratavam apenas de duas derrotas em jogos oficiais e que se fôssemos a contar com os desafios particulares, o Benfica até tinha goleado em vários desses encontros. Depois, já em situação ofensiva e em dupla com o António Pedro, perguntou-lhe, em tom irónico, quem assusta actualmente mais o Benfica, se o Sporting ou se o Sporting de Braga. De seguida, menos insinuante, entrou de sola sobre a suposta habitual má forma de Liedson nos inícios de época. E por aí adiante.

Enfim, não levemos a mal o nosso simpático libero Hugo, pois, como recorda Duda Guennes no seu genial Brasil Brasileiro, ”todo torcedor de futebol é um exagerado e passional até à medula”. Conta o grande Duda, que Ari Barroso, jornalista e flamenguista doente, não simpatizava muito, por razões óbvias, com o botafoguense Garrincha. “Certa vez, transmitindo na rádio um jogo do Botafogo contra o Flamengo, narrava as acontecências (sic) da partida, quando Garrincha dominou a bola pela direita. Ari, com evidente má vontade, ia dizendo: “Garrincha com a bola. Vai driblar. É claro. Vai driblar de novo. Vai perder a bola. Olha aí, uma finta prá lá, outra prá cá. Mais outra. Assim não dá. Garrincha passa pelo adversário. Assim também não é possível. Passa por outro. Garrincha vai driblar de novo. Vai perder. Por que ele não centra logo? Claro que vai perder. Golo de Garrincha!”. Só que falou isso com o maior desprezo e ódio. Desprezo e ódio”. (…).

Mas o “torcedor” é volúvel e muda de opinião como… quem muda de camisola. Volta a contar Duda que “na fase final da Copa de 1958, depois de Garrincha ter “entortado” a defesa soviética e centrado para Vavá marcar o primeiro golo, o mesmo Ari Barroso rompeu aos berros: “É o maior! É o maior! Que beleza, meu Deus! Que beleza! O Garrincha é o maior génio que já houve neste País! Que beleza! Beleza pura!”…

3 comentários:

  1. Mais um post excelente! De facto o Hugo Gilberto parece aqueles "canitos" como se diz no alentejo que não mordem mas não nos largam os calcanhares ladrando insistentemente.

    Rui

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  2. Excelente o seu texto. Não assisto às performances do Hugo, porque deixei há tempos de ver o programa.

    A propósito da história do Duda Guennes, deixo uma, em que Manuel Fernandes, substitui Garrincha, e em vez do Ari está um ferrenho sócio sportinguista, meu amigo e vizinho de lugar cativo, no Sector 3 do antigo Estádio de Alvalade.

    Anti-comunista, "achava", não sei porquê, que M. Fernandes era comunista. De cada vez que Fernandes falhava, levantava-se e gritava: "Vai para Moscovo ó comuna, que aqui não fazes falta nenhuma"!

    Logo a seguir o Manel marcava o golo da ordem, e ele era o primeiro a saltar do lugar e a aplaudir. Depois, sentava-se, olhava para os nossos sorrisos de gozo e dizia. "Bem, também não é preciso exagerar. O sacana é comuna, mas faz-nos muita falta!"

    E eu, que deixei de ir a Alvalade com os disparates do Santana "presidente", e que desde então não vejo melhoras, digo: a falta que nos faz hoje um Manuel Fernandes.

    Carlos Serra

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  3. Caro Carlos Serra,

    Essa "estoria" que conta do nosso grande Manel é genial e ilustra bem a natureza volúvel dos adeptos de futebol. Inesquecíveis as imagens que ainda tenho do Manel no campeonato ganho com Allison, no famoso 7-1 ao Benfica ou no 4-2 ao Southampton de Kevin Keegan.

    Saudações leoninas,

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