A época de 1999-2000, quando, quase vinte anos depois, voltámos a ser campeões, foi memorável. Talvez tenha sido a última ou, mesmo, a única em que sofri seriamente com os jogos e o percurso do Sporting.
Retenho dessa época várias imagens, sensações, jogadas, golos. Algumas heróicas, outras nem tanto. Tínhamos um treinador, contratado como adjunto à espera de um salvador, que assistia aos jogos apertando uma santa nas mãos e que sempre que esta lhe faltava substituía o inevitável Pedro Barbosa pelo não menos inevitável Toñito. Tínhamos o melhor guarda-redes do mundo que, cansado de o ser, tinha decidido vir para o Sporting.
Mas tínhamos o Acosta e isso quase sempre chegava. Nós sabíamos, os adversários sabiam, o que acontecia quando tinha a bola e olhava a baliza.
O Secretário sabia o que ia acontecer quando fez o atraso suicida em Alvalade que acabou nos seus pés. Nós também sabíamos.
O Jorge Coroado ainda tentou desafiar o destino quando o mandou repetir o penalty que tinha marcado contra o Campomaiorense no jogo da segunda volta. Ele repetiu-o, da mesma maneira e com os mesmos resultados, com a determinação e confiança de quem o poderia continuar a fazer pela noite fora.
Mas lembro-me com especial comoção do jogo com o Marítimo, a três jornadas do fim. O Porto, depois de ter estado a ganhar por 3-1, deixou-se empatar com o Farense. O jogo do Sporting com o Marítimo era um pouco mais tarde. A nossa vitória colocava-nos a um pequeno passo do título. Vi o jogo num café em Viseu rodeado de amigos.
O jogo foi o suplício do costume. Não éramos, nunca éramos, muito melhores do que os outros e, portanto, o resultado era incerto. As imagens do jogo, como sempre acontece quando as transmissões são do Estádio dos Barreiros, eram péssimas. Sempre que havia um pontapé de baliza, um passe mais longo ou um centro a bola teimava em fugir do ecrã.
Até que o Acosta fez o que sabíamos que ia fazer. Uma simulação, uma finta e o defesa a fazer penalty. Acosta marca. Numa jogada pela esquerda, um jogador do Sporting centrou para o segundo poste, a bola atravessou toda a defesa e alguém, fora do ecrã, apareceu a marcar. Não precisámos da imagem para nada. Nós sabíamos quem tinha sido.
Chamávamo-lo, e chamamos, “Matador”.
(*) Este título merece uma pequena nota biográfica. O Acosta era um jogador entradote, cujos cabelos grisalhos o faziam parecer um pouco mais velho do que era, que sofria de ciática. Chegou a meio da época anterior e não só desiludiu os sportinguistas como foi alvo de chacota de alguns deles e dos nossos adversários. No princípio da época seguinte esteve para ser dispensado pelo Matterazi.
Existe uma jogada, não sei se nessa época, se noutra, em que Peter Schmeichel lança a bola, à mão, para as bandas do meio campo, recebida por Acosta que cavalga por ali fora e marca golo.
ResponderEliminarNão me lembro da época, da equipa contrária ou dos outros 9 jogadores do Sporting que estavam em campo; mas lembrar-me-ei desta jogada para sempre.
Que tal mudar o título para “Secretário: Um Herói improvável.” Eu bem me lembro daquele passe maravilhoso que ele fez aos 32 minutos e 14 segundos para o Acosta, e que originou o segundo golo do Sporting contra o Porto no jogo do título. Esta parceria entre o Porto e o Sporting não fica por aqui. De acordo com a potente base de dados que tenho em mãos neste momento, as chuteiras do Acosta também foram compradas numa loja do Porto na rua da Almada no “Silva das botas”.
ResponderEliminarCaros leitores,
ResponderEliminarO Secretário foi um actor menor nesta história. Foi o Secretário como podia ser qualquer outro. Admito, foi um golpe baixo.
Que me perdoe o leitor portista e o Acosta. Nenhum deles merecia que eu metesse o Secretário nesta história.