Tal como acontece nos Governos, uns virão para jogar à defesa, outros mais à direita, aqueloutros mais à esquerda, uns serão mais sarrafeiros, outros mais elegantes, mas, poucos, muito poucos, saberão rematar à baliza e, menos ainda, conseguirão marcar golos… Uma parte manter-se-à no banco à espera da sua oportunidade…
Nestes tempos de constituição de equipas, a comunicação social prodigaliza-se a lançar nomes, sobre nomes… Como é que surgem esses nomes?
Nas últimas décadas do Século XX, os nomes das “unhas” dos futuros plantéis futebolísticos, eram resultado de um apurado trabalho de campo dos jornalistas desportivos… Em circunstâncias muitas vezes penosas - como por exemplo, durante uma mega “tainada” no Restaurante Sapo, ou numa noite mais quente no Pérola Negra, os jornalistas desportivos lá conseguiam que algum dirigente futebolístico, entre mais um copo e, vamos lá, uma boa garfada, se descaísse com um rumor, um boato, um mexerico…. Alguns desses dirigentes ambicionavam, também, reforçar a sua notoriedade pública, pelo que, em troca de uns elogios e uma seta para cima numa próxima edição, lá orientavam umas informações privilegiadas para aquele amigalhaço dos media…
No Século XXI, a coisa profissionalizou-se… Os principais clubes têm spin doctors para organizar meticulosamente as suas fugas de informação... Entraram também em campo as agências de comunicação... Nas contratações, os rumores tornam-se, agora, cada vez mais, parte do próprio processo negocial. Os clubes ou empresários “plantam” na comunicação social que o Manchester, o Milão ou a Juventus estão “danadinhos” para adquirir um jogador da nossa equipa, tentando que um qualquer Génova morda o “isco” (vou parar já aqui com isto das aspas para não parecer o Freitas Lobo…)… Quando queremos baixar o preço de um jogador a contratar, passamos aos jornais que temos uma ou duas alternativas mais baratas em carteira … Queremos subir o preço da venda de um jogador? – OK, então fazemos correr o rumor que o jogador está a ser disputado por um rival directo do clube interessado, ou por um clube estrangeiro – ultimamente, o Besiktas, ou o Real Madrid…
Salvo raras excepções o jornalismo português – o político, o económico, mas também o desportivo – continua a ser bem caracterizado pelo genial Eça neste seu excerto das Farpas escrito há quase 140 anos: “A imprensa de Lisboa não tem opinião. Aquelles dos seus membros que por excepção presentem as idéas proprias, vivas, originaes zumbindo-lhes importunamente no cerebro, enxotam-as como vespas venenosas. É que a missão do jornalismo portuguez não é ter idéas suas, é transmittir as idéas dos outros. Por tal razão em Lisboa o homem que pensa não é nunca o homem que escreve. O jornalista nunca se concentra, nunca se recolhe com o seu problema para o meditar, para o estudar, para o resolver. Nunca procura a verdade. Procura apenas a solução achada pelo publico, pelo publico d'elle, pelo seu partido politico, pelos consocios do seu club, pelos seus amigos, pelos seus protectores, pelos seus assignantes”.
Sem comentários:
Enviar um comentário