segunda-feira, 1 de abril de 2024

Assim e em forma de assim

Depois de alguns jogos, voltei ao Flávio para ver o Sporting contra o Estrela da Amadora. Costuma dizer-se que não se deve regressar onde se foi feliz. No Flávio já fui feliz, infeliz e nem feliz nem infeliz e, assim, posso sempre regressar. A média aritmética desta [in]felicidade é uma coisa em forma de assim, como diria o Alexandre O'Neill. No Flávio, o meu estado [de espírito] médio é este e o estado médio do futebol português não é melhor. Não havia razão para este jogo ser melhor do que a média, isto é, para que este jogo não fosse uma coisa em forma de assim também.

O início foi auspicioso: canto a favor do Estrela da Amadora, centro [tenso] ao primeiro poste, ninguém ataca a bola com determinação, ela passa e o Franco Israel sai da baliza para evitar o pior e consegue fazer pior do que o pior que pairava na sua cabeça quando decidiu o que decidiu. Se se sofre um golo deve-se sofrê-lo da forma mais inexplicável possível para que não se corra o risco de ser classificado como frango. O soco na bola foi efetuado de tal forma que gerou um efeito que, em vez de a projetar para a frente, levou-a a embater no poste da própria balizar e a permitir um cabeceamento, na recarga, para o primeiro golo [do Estrela da Amadora]. O Franco Israel propocionou-nos uma autêntica aula de física aplicada, uma aula de engenharia.

A resposta foi imediata. Havia um jogador de risco ao meio muito parecido com o João Félix. Tinha jogado do Barcelona, aliás. Um pastelão com fintas e fintinhas até perder a bola e nos fazer perder a paciência. Embora seja muito parecido, com o mesmo risco ao meio e tudo, há um jogador novo [Trincão, de seu nome] que não está para brincadeiras e joga como se não houvesse amanhã. Pegou no jogo e só descansou depois de lhe dar a volta, depois de o virar do avesso. Centro para a entrada da pequena área e cabeçada do Paulinho para o primeiro golo. Corrida em ziguezague pelo meio-campo fora, remate colocado à entrada da área, guarda-redes a defender como podia e Nuno Santos a empurrar a bola para a baliza. Em pouco tempo, em pouco mais de um quarto de hora, estávamos a ganhar por dois a um e a aguardar que o Gyökeres [também] molhasse a sopa, como habitualmente.

Na segunda parte, mais minuto, menos minuto, esperava-se pelo golo fatal, o golo da confirmação. Estranhamente, o Trincão, o tal rapaz novo, foi substituído pelo João Félix ou por outro do mesmo género [de risco ao meio]. Por isto ou por aquilo, por falta de jeito, por jeito a mais, o golo não apareceu e foi-se instalando a ansiedade que sempre antecede o “acontecer Sporting”. Sem direito a dois ou três “penalties”, Rúben Amorim teve que fazer as substituições que se impunham e o assunto do jogo passou a ser a possibilidade de uns tantos levarem cartão amarelo e ficarem indisponíveis para o jogo que se segue, contra o Benfica. A preponderância deste tema na análise antes, durante e após o jogo é bem reveladora do tal futebol luso em forma de assim. E foi assim e em forma de assim que o Sporting geriu o jogo até ao final sem um susto, um tremelique ou um remate do Estrela da Amadora.  

[Mais vale tarde do que nunca. Continuamos jogo a jogo, crónica a crónica, mais “penalty”, menos “penalty” do Benfica, mais confusão, menos confusão do Porto, mais árbitro, menos árbitro. É sempre assim, é sempre em forma de assim, é sempre esta estranha forma de vida] 

3 comentários:

  1. Como foi visto nesse tal Flávio e perdeu, naturalmente, o sotaque Polaco que, pelos vistos, tem vindo a ser tão vantajoso, tentemos recapitular a coisa a nosso favor: „To było tak i w takiej formie”.

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