Não vi o jogo da segunda mão da Taça de Portugal [do Sporting] contra o Benfica ou não o vi em direto, melhor dizendo. Não estava com os melhores dos pressentimentos e resolvi dar uma volta a pé pela cidade, cumprindo o ritual dos dez mil passos diários a que me obriguei. Foi um dia frio e chuvoso e, à noite, embora deixando de chover, o tempo manteve-se frio e a ameaçar mais uma bátega a qualquer momento. Praticamente não se via vivalma ou um simples automóvel a passar e o silêncio revelava uma cidade suspensa no tempo enquanto o jogo decorria.
Com o telemóvel sem som, sem som de notificações, procurava interpretar o silêncio ou este ou aquele ruído, por mais reduzido que fosse. A meio do passeio noturno consultei a aplicação que mede os passos e a [extensão da] deslocação. Vi que tinha umas mensagens de uns amigos. Embora uma ou outra fosse mais enigmática, parecia haver uma crescente euforia. Não resisti e consultei o resultado: as equipas estavam empatadas, dois a dois. Conclui o resto do passeio com os sentidos ainda mais alerta. Não havia barulho e sem barulho o Benfica não podia estar à frente da eliminatória, mas podia tê-la empatado.
Conforme me aproximava de casa, começou a aparecer um ou outro automóvel e uma ou outra pessoa a fazer o habitual passeio noturno com o cão pela trela. O jogo parecia ter-se concluído e continuava a não haver barulho numa terra de benfiquistas. Dois mais dois costumam ser igual a quatro, mas no futebol e no futebol português pode ser o que um homem quiser, se o homem tiver um apito na boca. Só quando cheguei a casa é que voltei a olhar para o telemóvel. Tinha mais uma série de mensagens de amigos e numa delas viam-se a festejar.
Sentei-me e vi o jogo do início. A primeira parte foi do Benfica e a segunda mais repartida, com o Sporting a criar as melhores oportunidades de golo [dois golos e dois remates com o Gyökeres e o Paulinho isolados] e o Benfica a dispor da bola [mais tempo] e a atacar mais. Vi [e ouvi] a conferência de imprensa do Rúben Amorim. Interpretou bem o jogo a meu ver. O Benfica pressionou e pressionou bem e o Sporting teve dificuldades em circular a bola até se libertar para o ataque. O Benfica teve mérito, mas, sem o Pedro Gonçalves [e o Paulinho no seu lugar] e o Trincão em modo complicativo, a jogar para o seu umbigo, era certo e sabido que [mais cedo do que tarde] o Benfica recuperava a bola e intensificava a pressão.
Com as substituições ao intervalo, o Sporting conseguiu libertar-se [mais] para o ataque, pelo Geny Catamo, baralhando as marcações da defesa e do meio-campo e deixando [mais] soltos o Gyökeres e o Paulinho. O Benfica insistia uma e outra vez nas jogadas pelo lado direito do ataque, onde o lateral direito [Bah] combinava bem com o Di Maria, neutralizando o Matheus Reis, nem sempre bem ajudado pelo Bragança ou pelo Morita por dentro, aparecendo o Neres a arrastar ainda a marcação do Inácio e abrindo a defesa para exploração de uma qualquer penetração do Rafa ou de um centro para o segundo poste. Conforme o tempo ia passando, o Benfica queria, mas não podia [nem conseguia, muito menos], o Sporting não queria ou queria, tão-só, que o jogo acabasse.
[Tratou-se de uma boa partida de futebol porque o árbitro deixou jogar, apesar das permanentes simulações do Di Maria ou do Rafa. É estranho, muito estranho mesmo. Sportinguista escaldado de água fria tem medo e, portanto, atenção, muita atenção à arbitragem do próximo jogo no sábado]
Esse assunto da arbitragem já foi tratado! Como eu previ e não falhei AS Dias. O homem que não tem problema de expulsar o Gonçalo Inácio sem qq problema, esse tratiliteiro de Alvalade, mas uma dificuldade atroz de expulsar o Otamendi, esse jogador de trato suave e educado. Sábado, só há um resultado possível para nós a vitória é que o nosso calendário até ao fim é mais complicado e eles estão em campo para manipular arbitragem e opinião pública.
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarEste jogo com o ASD é o equivalente ao jogo contra o Braga na época do último campeonato. Vão acontecer coisas e milagres, sendo que o milagres também são coisas.
SL
Caro Rui,
ResponderEliminarDei comigo a ver o jogo, debaixo de uma pilha de nervos a pensar "Mas porque é que me sujeito a isto?". Amanhã poderei ir ao estádio, onde a experiência é outra, mas numa oportunidade futura vou procurar desligar da televisão, aplicar a sua abordagem e passear em modo offline!
Sobre o jogo concordo com a sua análise. Talvez acrescentasse que se o Roger Schmidt foi melhor na abordagem inicial (ainda que sem resultado prático por via da capacidade que o Sporting teve de sofrer), o Rúben Amorim foi melhor nas alterações durante o jogo. De certa forma aconteceu o contrário do que havia acontecido na 1a mão, com a diferença que nessa ocasião o Schmidt só mexeu já perdia 2-0. Moral da história: os treinadores também contam e Amorim esteve muito bem, ganhou este jogo mesmo empatando!
[Amanhã será outro dia, outro jogo. Penso que Amorim teve bem no pós-jogo ao colocar o ênfase em falar para dentro e evitar que os seus jogadores entrem com excesso de confiança. Já o rival optou por colocar o ênfase em falar para fora e pressionar as equipas de arbitragem. Vejamos qual a estratégia mais eficaz...]
SL
Caro João,
EliminarO nervoso miudinho não passa com o passeio. É só uma outra forma de nervoso miudinho. O Benfica esteve melhor mas não criou muitas oportunidades. O Sporting esteve pior mas não esteve pior no número de oportunidades (na segunda parte). O Benfica põe as fichas no árbitro. O Sporting põe as fichas nos jogadores. Os árbitros são mais fiáveis, é um facto.
SL
Ora bolas ... gramo de vir aqui parasitar a costumeira e inteligente galhofa !! desta vez não tive direito a nada senão coisas sérias ... ora bolas ...
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarNão há galhofa neste texto. Espero voltar a ela no próximo, pelas melhores razões.
Abraço,
RM
Outro enorme para si Rui. Foi um desabafo. O Rui costuma encarregar-se de reconfigurar os mind sets das pessoas. Como nunca é demais elogiá-lo aproveitei para me queixar .. uma vez ...
Eliminar... sites de "conversas sérias" é o q não falta para aí. Este é verdadeiramente exemplar. Só o Pedro Azevedo (vénia) se aproxima a espaços. ( e um outro génio de q, lamentavelmente me esqueci do nome agora, do Expresso...)
EliminarEspero que, no próximo sábado, continuemos a...
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=aGSKrC7dGcY
Caro Vítor Rodrigues,
EliminarJá experimentámos de diferentes formas, com mais ou menos berraria, com mais ou menos silêncio. O Rúben Amorim procura responsabilizar mais os jogadores. A conversa (justa) dos árbitros tende a desresponsabilizá-los e gera uma profecia que se cumpre a si mesma.
SL
RM
A minha alusão ao Enjoy the Silence deve-se ao silêncio que se segue sempre que a agremiação de Carnide tem um resultado como o desta terça-feira. Lembro-me sempre desta música, que é um bónus, antes tais resultados.
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