A continuar assim, não tarda a pedir uma licença sem vencimento para continuar a ver jogos atrás de jogos e a escrever crónicas atrás de crónicas ou a juntar-me aos polícias, militares, funcionários de repartição, médicos ou professores que lutam por melhores condições de trabalho. A FIFA e a Liga simplesmente não respeitam os tempos de descanso necessários para que os bloguistas ou blogueiros [ou “bloggers”, não sei bem] se possam recuperar para o jogo seguinte e a crónica seguinte. Não há novas formas de ver os jogos ou novas ideias jogo sim, jogo também, quando se está permanenentemente à beira do esgotamento, do colapso. Com dificuldades, com muitas dificuldades, confesso, vou tentar dizer qualquer coisa sobre o jogo [do Sporting] contra o Rio Ave sem chorar [e sem me rir também].
Este [tipo de] jogo constitui um clássico época atrás de época. O Sporting e o Benfica estavam empatados. Na próxima jornada, o Benfica vai ao Dragão. Se o Sporting ganhasse hoje, a próxima jornada poderia ser [quase] definitiva para o encaminhamento do campeonato. Era preciso evitar males maiores [ou definitivos, melhor dizendo], salvaguardando os superiores interesses do futebol português e arredores. O jogo foi organizado para defesa desses superiores interesses e esses superiores interesses foram salvaguardados como se esperava e se planeara, mais "penalty", menos "penalty", mais cartão amarelo, menos cartão amarelo, mas sempre com muitas faltas e faltinhas. Um jogo difícil tornou-se, assim, impossível [e não, não vou falar do árbitro].
Na primeira parte, contra o vento, fizemos um jogo razoável. Foi possível fazer o jogo habitual, construindo a partir dos centrais e empurrando o Rio Ave para a defesa. Apesar disso, muitas transições ofensivas se permitiram e, logo na primeira, um chouriço transformou-se num golo [e não, não vou falar do árbitro]. O Sporting reagiu bem, empatou, passou para a frente e, bem, quando se ia para o intervalo, o árbitro marcou “penalty” a favor do Rio Ave [e não, não vou falar do árbitro]. O jogador queixou-se da cara, mas deve ter sido das nossas caras de parvos [e não da dele], quando vimos um defesa rachar a perna ao meio do Trincão sem que nada fosse assinalado [e não, não vou falar do árbitro].
Na segunda parte, demorámos quase meia-hora a perceber o que se estava a passar [e não, não vou falar do árbitro]. Com o Rio Ave a pressionar alto e o Sporting a insistir no mesmo modelo de jogo, nem a avó morria, nem a malta almoçava. Era preciso sentido de urgência e nada melhor do que ficar a perder [o Adán foi altruísta ao arranjar um “penalty” absolutamente estúpido só para acordar a equipa]. Em desespero, percebemos que a melhor forma de jogar era em desespero de causa. Com o vento a favor, era preciso jogar comprido e procurar ganhar na frente, a primeira ou a segunda bola [e não, não vou falar do árbitro], ultrapassando a pressão do Rio Ave. Com o Coates na frente, essa tática do tudo ao molho e fé em Deus tinha condições para resultar. Resultou uma vez e poderia ter resultado mais uma ou outra, mas não, não esperem que fale do árbitro, pois não vou falar do árbitro. Percebido?
Foram-se os anéis, mas sempre ficaram os dedos [até ver]. Com um jogo em atraso, continuamos a depender de nós [e do Porto também] para chegar ao fim do campeonato em primeiro. Quinta-feira há mais. Depois de quinta-feira, há mais ainda, no domingo. Depois de domingo, há ainda mais na quarta-feira seguinte. Há mais, sempre mais um jogo, mais uma crónica, até o médico deixar ou a família me internar.