Muitas pessoas se deslocam ao Algarve para o “réveillon”. Há programas para todos os gostos e feitios [e carteiras]. Não me pareceu estranho, portanto, que os jogadores [do Sporting e do Portimonense] se estivessem a preparar para uma passagem de ano num local mal iluminado e congestionado como a grande área do Portimonense. Na Sportv não se queria nada com a passagem de ano e insistia-se que se tratava de uma tática. Percebe-se, é uma tática, mas uma tática comercial: se se vende uma partida de futebol como uma partida de futebol não pode parecer que se está a vender outra coisa mesmo sob a ameaça dos jogadores fazerem o comboinho a qualquer momento. Quando assim é, quando assim acontece, sempre se pode falar de autocarros, mas este canal de televisão é demasiado sofisticado para recorrer a linguagem futebolisticamente vulgar [ia dizer foleira ou de tasca].
Como os jogadores do Sporting insistiam em movimentar-se a passo de caracol e a trocar a bola mais devgar ainda, não havia oportunidades de golo e um amontoado de jogadores podia passar por uma tática e, sim, quem não tem Pinheiro caça com Paulinho [tão cedo não tento outro trocadilho destes]. O árbitro via-se e desejava-se para que a tática não se desmanchasse e passasse efetivamente por tática: falta ali que não é, falta acolá que não é mas passa a ser, falta que é mas não é, conversa paternal com os jogadores do Portimonense. A primeira parte foi isto, conversa da treta na Sportv, árbitro e mais árbitro e bola, bola a sério, bem, nem vê-la. O zero a zero ao intervalo fazia-nos suspirar por um “réveillon” a ver o Big Brother com a sogra e os sanguessugas dos cunhados [e cunhadas].
A segunda parte foi completamente diferente, não porque fosse diferente mas porque o Pote resolveu testar se o artelho do pé direito ainda estava atarraxado, depois de uma amável calcadela de um lateral direito que insistia em não levar a sério os [sábios] conselhos do árbitro. Sempre a farejar o golo, o Gyokeres lançou-se desabrido atrás da bola e quando a encontrou limitou-se fazê-la encontrar a baliza. É estranho, muito estranho que este avançado loiro de olhos azuis não se interrogue sobre o sentido da vida quando se encontra isolado, limitando-se a empurrar a bola com o pé que tem mais à mão. Não há uma dúvida, uma perplexidade, um questionar-se sobre a sua razão de ser: quem sou? para onde vou? preciso de levar uma muda de roupa interior? Não há diálogo possível entre dois avançados, quando um [o Paulinho] se questiona permanentemente, fazendo da bola e do jogo o contexto para esse questionamento, enquanto o outro marca golos só porque sim, porque está dentro de campo e gosta de fazer macacadas depois de os marcar.
No Sporting detesta-se esta simplicidade, esta falta de consciência do dramático e permitiu-se imediatamente que um grandalhão marcasse o golo do empate com o ombro, embora rodando a cabeça como se de um Jardel se tratasse. Estavam criadas as condições para o desespero, para a desesperança, para que acontecesse Sporting como sempre tende a acontecer. Mas o árbitro não foi na cantiga e roubou descaradamente o Portimonense. Não, não, o Sporting não precisava de um “penalty” ou de uma expulsão do adversário, mas, tão-só, de um pontapé-de-baliza mal marcado. Um pontapé de canto transformado num pontapé-de-baliza e bola no calcanhar do Paulinho que se faz tarde. Golo e escândalo. Como é possível? Não se estava mesmo a ver? Ninguém conhece o calcanhar de ouro? O homem que se questiona e ao questionar-se imprime à bola e aos adversários movimentos que se cruzam e entrecruzam e que têm tanto de anárquico como de eficazes? Passada a angústia, o Paulinho voltou a demonstrar-nos que é preciso ter sangue-frio para se ser como só ele é, para nunca se deixar tentar pela facilidade, pelo golo fácil e tranquilizador [se fosse o Rúben Amorim, tinha regressado a Lisboa a pé para se continuar a questionar durante a viagem].
[Esta postada serve para desejar um excelente ano de 2024 a todos e todas as sportinguistas. Prometo voltar se os sportinguistas tiverem a mesma paciência comigo que têm com o Paulinho, o Esgaio ou o Trincão e se a articulação entre o tarso e metatarso do anelar da minha mão direita estiver em melhor estado do que o esqueleto do St. Juste]
Brilhante! Um regresso pela porta grande. Um óptimo ano de 2024 para si e para o nosso Sporting!
ResponderEliminarCaro Pedro,
EliminarUm excelente 2024 para si e para os seus. Para o nosso Sporting também, mas deixemos isso para o Rúben Amorim.
Grande abraço,
RM
Que saudades, Rui! Welcome back! :)
ResponderEliminarObrigado, meu caro. Vamos ver se se repete [ou não]. Aparentemente ainda não perdi completamente o jeito, segundo me dizem.
EliminarAbraço,
RM
Bom Ano Novo!
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarUm excelente ano de 2024 para si e para os seus.
Abraço,
RM
Excelente, como sempre!
ResponderEliminarObrigado, meu caro.
EliminarAbraço,
RM