sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Quem falha assim não é gago

 

Quem falha assim não é gago: começava desta forma a minha mensagem a um amigo após o jogo de ontem entre o Sporting e a deusa da caça; amigo esse que deve ter amigos na Procuradoria-Geral da república, com claras ramificações no jornal A Bola, já que este hoje (quase festivamente – eu diria) dava aos escaparates uma capa cujo título em grandes parangonas dizia: quem falha assim passa em segundo.

Sabemos que o jornal A Bola anda ansioso por fazer uma capa europeia glorificando o seu protegido, e o máximo que conseguiu foi saudar a vitória blaugrana sobre o Porto, mostrando Félix e Cancelo batendo no peito adornados com a seguinte frase: assim custa mais.

Pois custa. O Sporting entrou em modo não é preciso sermos desmontados, tendo em conta que toda a gente sabe mais ou menos como a gente joga, ainda para mais com o Esgaio mascarado de Porro, quer dizer, o Esgaio mascarado de Esgaio mascarado de Porro, e o Trincão entretido com o facto de ser um jogador de alta competição às pinguinhas. Não era fácil entrar assim, ao mesmo tempo que a linha defensiva jogava roleta russa com o fora de jogo, tantas foram as vezes que aquele moço do ataque da Atalanta com tatuagens ficou praticamente cara a cara com o redes leonino sempre ensaiando o mesmo movimento de caça ao leãozinho, até que deu sorte, como diz um amigo meu com experiência em telenovelas brasileiras. Quem não deu sorte foi o Pote que tem jogado, a espaços, disfarçado de Paulinho, confundindo a equipa adversária ao mesmo tempo que se confunde a si próprio.

Na segunda parte, com o Edwards e Catamo em campo, e com os tipos da Atalanta cansados de correr e de ver o Sporting trocar a bola como quem joga ao meiinho, começamos a nossa odisseia do costume, isto é, começamos a jogar futebol e a falhar golos. É claro que o Edwards marcou (e falhou antes disso um golo dado), é claro que jogamos contra dez, mas o que ressalta, para além das bolas nos postes, é a falta de golos, sumo pontífice do jogo da bola. O Pote desperdiçou (às vezes julgo ver ali alguma displicência de craque de trazer por casa), duas ou três oportunidades, e depois a equipa recebe ordens do banco, ou talvez de alguma entidade divina, não sei, ordens de começar a fechar o tasco, dando oportunidade à equipa adversária de respirar e de ganhar peito quando estava com o rabo entre as pernas, passando de caçador a caçado.

Quem falha assim não é gago nem pode ter grandes ilusões.

domingo, 19 de novembro de 2023

Tropeçar em si próprio

 

Por razões pessoais e profissionais e de manifesto desinteresse pelo mundo da bola e seus arredores, o que talvez inclua grande parte do país, não foi possível apresentar a minha versão dos factos que rodearam o último dérbi. Em primeiro lugar já não me recordo da última vez que o Sporting ganhou um jogo na luz para o campeonato, nem sequer tenho lembrança próxima de qualquer vitória em clássicos recentes (Porto ou Benfica). São factos, discutíveis para alguns, mas factos.

Posto isto, que não interessa para nada, é preciso notar que o jogo foi sorrateiramente inclinado para o Benfica pela arbitragem (o que até nem ia dando em nada). Na primeira parte não me recordo de qualquer falta assinalada ao Benfica, já o Sporting não leu a sebenta do costume e um desorientado Inácio deixou-se ir à confiança. Basta atentar no dualidade de critérios demonstrada no amarelo ao Edwards, deixando os entretidos malabaristas Rafa e Di Maria, entre outros, mostrar todos os seus dotes artísticos com a conivência dos juízes.

Posto isto, que já se sabia que possivelmente iria acontecer, é preciso notar que o Sporting entrou no jogo em jeito de pisa ovos, demorando a perceber que este Benfica é só fumaça, acabando a primeira parte com um grande golo (e jogada) de um jogador que o ano passado, por exemplo, não faria falta nenhuma, segundo informações próximas. Na segunda parte concretizou-se a tentativa de inclinação do campo e, talvez por isso, o nosso adversário praticamente não conseguiu criar qualquer perigo, tal era o declive que certamente os estonteava.

A entrada de Paulinho, surpreendente para alguns, não apanhou de surpresa aqui o escriba, já embalado com um bom tinto e embaciado pelo fumo de alguns cigarros, porque o ano passado Paulinho já assumia lá na frente um papel de defesa avançado, competindo com o Coates para o óscar de melhor central de lança. Só é chato para o Bragança, que assim ficou a perceber que, para o treinador, talvez o lugar dele seja no meio, mas do banco de suplentes.  

A mensagem do treinador foi eficaz, ficando o adversário confuso com a sua fumaça, o declive acentuado do campo e a nova dinâmica leonina, cujas pedras se amontoavam num caos de aparente lucidez futebolística. Esse amontoado caos de aparente lucidez futebolística resultou num acumulado de jogadores do Sporting dentro da pequena área (outros marcando com os olhos) o que possibilitou a possibilidade (deixem passar) de um jogador do Benfica rematar à baliza com todas as condições possíveis e imaginárias para fazer um golo num treino entre familiares próximos. O que se passou a seguir foi mais uma faúlha para juntar às pilhas do pacemaker que, como todos sabemos, é meio caminho andado para qualquer sportinguista.

Dos dirigentes do Sporting, paladino incluído, nem uma palavra sobre a inclinação do campo, não fossem para o ano deixar de ter direito a camarote presidencial e, quem sabe, a um voucher com tudo incluído. Nem nos miaus deste ano se miou sobre o assunto, apenas um bramido para o império mumificado das antas, e uma palavrinha de relance para o trinador (esta palavra existe) dos milhafres, como se agora um presidente tivesse de se dirigir a um funcionário de outro clube. São factos, embora sem grande interesse, de facto.

 

 

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Blá-blá-blá minha machadinha

 

Ninguém sabe como a janela com terraço (enorme) e marquise do mercado vai fechar, já com o comboio em andamento. Felizmente o Benfica já é campeão antecipado e assim fica tudo muito mais fácil, sabemos com o que contar e podemos até vender metade da equipa por simples devaneio.

Estando o campeonato entregue aproveitei para estar com o rebento e comer em família umas sardinhas no pouso habitual da Figueira, mais precisamente em Buarcos. De qualquer forma parece que já não havia bilhetes (mas já lá vamos). Ninguém explicou em inglês ao Viktor Gyökeres que o campeonato era um pró-forma e vai daí o rapaz (grande jogador) levou a coisa a sério e marcou dois golos antes dos vinte minutos de jogo. O resto da rapaziada deve ter ficado em choque, incluindo o adversário, pouco habituado a um Sporting crente na possibilidade (remota) de marcar golos na baliza adversária. Andamos mais de um ano a dizer que não precisávamos de um avançado e agora, ainda por cima com o Benfica já campeão, aparece um rapaz a exemplificar o teorema de Pitágoras da bola. Não podia ser, pois não?

O que vale é que o Trincão continua inconsequente, insistindo na mesma finta do recreio da infância em Braga, e o Pote lá foi falhando o melhor que pôde, para a coisa não destoar muito, sabendo nós que o rapaz é muito ciumento (lembram-se do Sarabia?) e tão expressivo corporalmente que se nota a milhas. Não foi preciso muito mais, a malta acreditou que o jogo estava ganho, o Benfica campeão, e até o Amorim deu um jeito espalhafatando o jogo com as suas substituições, tudo para criar a ilusão de que estávamos perante adversários do mesmo escalão (sabem qual é o orçamento o Vizela?). O resto foi o blá-blá-blá do costume, desorientação orientada na defesa (aquele primeiro golo do Vizela é um déjà-vu de um déjà-vu), e orientação desorientada no ataque. Valeu o Paulinho a fazer de Coates, com um golo a central de lança. Tudo acabou bem, as sardinhas estavam boas, o tinto papava figos, nem deu para enervar muito com o título já entregue.

Uma palavra mais para o anúncio do estádio esgotado (com exceção da parte visitante), anúncio esse que deve ter afastado alguns adeptos/sócios verdadeiramente interessados em ver o jogo, para depois mais uma vez, constatarmos que grande parte dos gamebox não põe lá os pés. Estão de férias todo o ano. Um amigo que lá esteve também me relatou o silêncio ensurdecedor do estádio em certos momentos, nada a ver com o rugido que já por lá ecoo, blá-blá,blá…

domingo, 23 de julho de 2023

Com tranquilidade

 

Segundo a CMTV estamos perante um Super Benfica, possivelmente um Benfica galáctico, talvez mesmo intergaláctico. Interrogam-se os mais avisados comentadores sobre a pertinência de termos o desperdício de tempo gasto em mais um campeonato, quando tudo indica que este estará mais que entregue. O ano passado estava decidido em Dezembro (e depois teve que de ser disputado até Maio, um pormenor esquecido), este ano tudo leva a crer que estará no papo no final de Julho, quando muito Agosto, mas sempre antes de o campeonato começar.

Assim está perfeito, o Sporting poderá começar a preparar a temporada ainda com mais tempo do que este ano e o anterior. Poderá prepará-la com mais de um ano de antecedência, aproveitando esse longo defeso para acertar agulhas e alinhavar novas táticas, sem ter de se preocupar com uma janela de mercado que de tão longa mais parece uma marquise dos anos oitenta, já que terá várias janelas e alguns postigos de mercado ao longo desse ano e talvez o Jeremiah St. Juste tenha tempo de resolver a sua lesão, voltar a lesionar-se e ninguém dar conta.

O Sporting precisa de tempo. Precisou de mais de um ano, após a saída abrupta e nunca realmente explicada (entre tantas outras) do Slimani, para perceber a necessidade de um avançado, um ponta de lança, ou mesmo alguém que faça a vez do Coates nos últimos minutos dos jogos. Tudo leva o seu tempo, estudar os possíveis alvos, ficar em quarto lugar, vender os restantes jogadores do meio campo, para finalmente investir sem qualquer possibilidade de erro, assim se deseja.

A suposta aposta na formação e na contratação de jovens jogadores começa a dar frutos, como se poderá constar na lista de dispensas ou emprestados: Tanlongo, Fatawu, Marsá, Sotiris, entre outros, tudo malta com um largo potencial à sua frente, segundo os responsáveis leoninos. Já para não falar de Vinagre, mais um elemento do carrossel Mendes, que andará à roda até fazer sangue como o genial Tiago Llori.

Temos tempo, assim o afirma a onda vermelha mediática, este ano está entregue, a não ser que surja um ou outro contratempo, mas isso apenas se o campeonato desnecessariamente começar.

Parece que continuamos a ter áreas especiais para adeptos em Alvalade. Para mim Alvalade sempre foi especial no seu todo. Muito especial. À justiça o que é da justiça, de resto o que interessa é encher a casa (fora de casa cá nos arranjamos), mesmo que seja apenas para jogos a feijões, tendo em conta o campeonato estar decidido, segundo informações fidedignas da CMTV e do jornal A Bola, entre outros.   

domingo, 4 de junho de 2023

Quem não trabuca, não manduca

 

Não podemos deixar de nos sentir satisfeitos com a época que agora findou: um 4ºlugar no campeonato, atrás de um clube com metade do nosso orçamento; afastados precocemente da taça de Portugal por uma equipa com um potencial futebolístico incomum, chamada de Varzim Sport Club, restando-nos o tradicional quase no que toca à taça da liga, e um outro quase que chegávamos às meias-finais da taça UEFA, acoplado à tradicional sigla: injustiça. Foi um ano em cheio, sem dúvida, relativamente ao futebol profissional, reforçado com um grande desempenho da equipa B (as modalidades ainda estão em curso).

Nada disto teria seria possível sem um planeamento atempado, ajustado às necessidades do plantel, antecipando saídas e colmatando eventuais défices do ano anterior, permitindo assim um equilíbrio sóbrio entre a vertente futebolística e a financeira. Este ano que passou foi um exemplo a ser seguido como case study de uma boa gestão de um plantel profissional com aspirações legítimas.

Isso mesmo se refletiu na ocupação do estádio, sempre com grandes enchentes, sem clareiras manifestas, nem áreas terra de ninguém, possibilitando um ambiente de grande festa e de constante pressão no adversário. A união dos sportinguistas foi freneticamente defendida pelos órgão diretivos, com ações de (re)aproximação ente (supostas) facões antagónicas, promovendo e elevando o nome do clube como o grande bastião da diferença no futebol português.

Por tudo isso (e mais alguma coisa), a decisão dos administradores da SAD de se autoaumentarem (mesmo quando se venderam jogadores para equilibrar as contas), juízes em causa própria, agindo em nome do clube e sem darem cavaco aos sócios, só pode ser considerada justíssima e devidamente enquadrada no espirito de diferença que é a imagem do clube (e, pelos vistos, da SAD). Cada um tem aquilo que merece, ou como dizia o Maradona: a los que no creían, que la chupen.

 ....

Nota sem importância: diz-me um amigo meu que a grande diferença entre Mourinho e Conceição são os títulos europeus (o que não é pouco). De resto, a mesma escola de fanfarronice, mau perder, grande educação, défice de atenção, e uma tendência infantil para aquilo que ficou conhecido como mind games que não passam, afinal, de arruaças mentais. Subscrevo.

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Alvalade vai dar à luz II

 

Mais uma vez Alvalade não chegou sequer aos 40 000 espectadores (em toda a liga não atingiu esse número), mesmo vendendo bilhetes aos adeptos adversários por portas travessas à 10 A, adeptos esses que comemoraram a cortesia com fumos e pirotecnia das suas cores, colorindo assim a festa. Ou terão sido malandros sportinguistas que se fazendo passar por benfiquistas compraram bilhetes a outros sportinguistas para festejar condignamente? Aposto que a direção do Sporting ainda não se lembrou dessa possibilidade. Fica aqui a deixa, com uma boa risada.

Confesso que percebo cada vez menos de futebol e seus arredores. Apenas sou um espectador assíduo desde puto de jogos da bola, em vários formatos, incluindo ao vivo. Agora o jogo é atravessado por especialistas de trazer a bola por casa, experts numa arte cientificamente comprovada, ou numa ciência comprovada artisticamente por artistas televisivos.

Entramos no jogo manuseando o campeão anunciado desde o ano passado. Aquilo parecia um passador com tons avermelhados de vergonha. Será o Santa Clara? - Interroguei-me. Marcamos dois e poderiam ser mais alguns, não é Pote? Na segunda parte entramos, por opção própria, em formato Covilhã (sem desprimor), até eu percebi a mensagem de recuo e abram alas ao campeão. Saiu o Edwards para comprovar que não queríamos alguém que levasse a bola por ali fora criando desequilíbrios, saiu o Trincão supostamente cansado, parece que apenas contra o Arsenal estes jogadores tinham pernas. Terá sido do jogo a meio da semana contra os Coldplay para a liga conferência das bandas musicais? Como não percebo nada de futebol, mas alguma coisa de música e festas, parece-me que quisemos muito participar na festa.  Até o Paulinho falhou mais um, mas toda a gente sabe que ele é muito melhor à baliza.

Uma confraria de equívocos poderia resumir a segunda parte do Sporting no jogo de ontem, mas não tenho tanta certeza assim. Estou apenas aborrecido por não perceber nada de futebol, todavia, uma pergunta me assalta o cérebro: será que o grande equívoco não terá sido a nossa primeira parte? Se calhar não estava nas previsões que corresse assim tão bem. 

quinta-feira, 18 de maio de 2023

Alvalade vai dar à luz

 

Parece que se andam por aí a vender bilhetes a benfiquistas para o jogo. Vendidos por gente da casa. Não é de admirar, parte dos detentores de gamebox não chega a por os pés em Alvalade. Fica a sugestão de alugar ao adversário parte daquela bancada sempre vazia atrás de uma das balizas. Temos de ser uns para os outros. Festa é festa. 

domingo, 14 de maio de 2023

Dantes o futuro era melhor


Estava para escrever que na primeira parte a equipa do Sporting não entrou em campo, mas na realidade entrou e espalhou a sua beleza cheia de tique(s)-taka sem balizas. Era como se estivéssemos num eterno meiinho, não fosse a equipa adversária ter metido na cabeça que existia uma baliza, pelo menos uma baliza junto à defesa do Sporting, e ter metido a bola dentro dessa mesma baliza (o Coates ficou muito desiludido com a postura belicosa da equipa adversária). Quando se joga dessa forma (e o Sporting jogou este ano muitas vezes assim) tem de se avisar a equipa opositora do tipo de jogo que se vai jogar. Existem vídeos disponíveis na Internet sobre como se joga futebol com balizas.

Por falar em outra coisa, para além do jogo, conseguimos ouvir os assobios à equipa da casa, curiosamente vindos de locais normalmente ocupados por “gente de bem”. A coisa não ganhou contornos sonoros dramáticos porque em Alvalade (mais uma vez) estiveram pouco mais de 27 000 espectadores (só por curiosidade na semana passada um Vitória-Vizela teve mais de 20 000 espectadores). Aposto que este ano um novo record de vendas de game-box será publicitado com mais um grande planeamento de época.

A irritação da primeira parte já me tinha levado ao terceiro copo de um tinto encorpado que tinha servido de lastro às pataniscas de bacalhau, um tipo sabe bem que o Sportinguismo é meio caminho andado para um pacemaker…

Na segunda parte, para além das alterações (obviamente necessárias) na equipa, os jogadores foram submetidos a um tratamento revolucionário que os convenceu da existência de, pelo menos, uma baliza, a mesma em que tinham sofrido o golo na primeira parte. Não foi, de todo, fácil este procedimento realizado em tão pouco tempo e com recursos limitados (ter-se-á que vender mais um jogador para melhorar este aspecto). Em sequência, os jogadores do Sporting ganharam uma nova consciência do jogo, começando a tentar jogar futebol, algo que normalmente dá resultados, mesmo quando a concretização das jogadas fica dependente do acaso, porque normalmente quando se remata à baliza as probabilidades de marcar crescem exponencialmente. Foi assim que aconteceu o primeiro (auto)golo.

O segundo golo corresponde à fase central de lança que já aqui tínhamos aludido, uma fase que no Sporting tem feito escola, embora sem grandes seguidores pelo mundo fora, tirando alguns finais de jogos embalados em desespero. Após este golo o árbitro ainda tentou o bailinho da Madeira, conseguiu a proeza de enviar o Adán para a bancada no dérbi, e mais não fez porque tanto um acobardado bandeirinha como o VAR lá tiveram que retificar o óbvio desvario. Até porque toda a gente sabia que naquele lado do campo não havia baliza.



domingo, 23 de abril de 2023

Central de lança

Nunca fui apreciador de vitórias morais, ainda menos de derrotas imorais. O futebol, para mal de alguns dos nossos pecados, tem balizas. No meu bairro, quando era puto, não raro, fazíamos olhos moucos às balizas, deixando de fora até as pedras que as desenhavam, ficando a bola para nosso eterno deleite.

No final do jogo em Turim não faltaram panegíricos (elogios exacerbados) ao Sporting Europeu de Amorim. Finalmente o Sporting batia-se de igual com grandes colossos do futebol (sequência do Arsenal). Vindos do espaço, pensaríamos que o Sporting teria ganho o jogo, não apenas (supostamente) uma equipa. Sou dos que reconhece o dedo de Amorim no Sporting europeu. Forçosamente teremos, igualmente, de reconhecer o dedo de Amorim no Sporting nacional, ou para consumo interno. O jogo com o Arouca foi mais uma posta suculenta a juntar a um ano verdadeiramente embaraçoso (o orçamento do Braguinha não chega a metade do Sporting), tão bem planeado que em Janeiro já estávamos em serviços mínimos.

O jogo desta semana com a Juventus veio dar continuidade ao Sporting europeu, versus, está muito difícil marcar golos, embora os Italianos o façam sem saber ler e muito menos escrever. Está muito difícil marcar golos, ou, que porra, não se consegue introduzir a bola na baliza do adversário, a não ser com penáltis ou um coelho saído do Pote, não é uma questão nova. Aliás, para provar a sua antiguidade clássica, lá terminamos o jogo com o velho Coates a arfar na grande área adversária. O homem começa a não ter idade para tamanha discrepância posicional. Se calhar não precisamos de um ponta de lança, mas de um novo (ou mais novo) central de Lança.

 

Nota: finalmente ultrapassamos os 45 000 espectadores num jogo em casa, embora a direção do clube tivesse anunciado com pompa lotação esgotada dias antes. A média para o campeonato é mais um embaraço desta época, pouco mais de 25 000, ou seja, pouco mais de 50% de taxa de ocupação, pese o anúncio (mais uma vez com pompa) no início da época de record na venda de game box. Talvez esteja na altura de pararmos com divisionismos e da direção “tentar” apagar os fogos injetando gasolina 98. É só uma ideia.

sábado, 4 de fevereiro de 2023

E agora algo completamente diferente

 

Manuel Mota no Rio-Ave x Sporting: o optimista não sabe o que o espera (Millor Fernandes);

Rui Costa desdobra-se em aparecimentos: o conceito de plágio criativo;

Pinto da Costa não sabe quem é Fran Navarro: Al Capone não sabia em que rua ficava o Canadá;

Chegou um jogador Vegan para o Sporting: pelo menos não vem para encher chouriços;


domingo, 29 de janeiro de 2023

Taça Pinheiro Baptista

 

A defesa da tradição não se faz apenas através da vivência do folclore ou da conservação das instituições, inúmeros eventos permitem-nos experienciar ao vivo e a cores a manutenção do costume nas comunidades. Ontem tivemos a possibilidade de observar isso mesmo num jogo tradicional de futebol (e já tínhamos saudades), fazendo parte do elenco a equipa do Futebol Clube do Porto, a equipa de arbitragem dirigida pelo sr. Pinheiro, e uma terceira (por acaso o Sporting) equipa que estava lá para encher chouriços. O Sr. Pinheiro Baptista fez o que lhe competia na defesa da tradição, já por ele várias vezes, inclusive, cumprida. O Sr. Pinheiro Baptista, assim como o modus vivendi do Porto faz parte da riqueza intrínseca da tradição, aliás, expressa no dia anterior pelo porta-estandarte Pepe. Por momentos parecíamos estar confortavelmente instalados nos anos 90 do século passado.

O Sporting tentou jogar futebol com as limitações que lhe são conhecidas, e ainda assim poderia perfeitamente ter estragado ou adiado, pelo menos, o desenrolar da tradição, não fosse Adán ter transformada a sua baliza numa capoeira e a baliza adversária ser mais uma vez uma espécie de domínio inalcançável, tantas são as oportunidades esbanjadas, algo que também começa a ser parte inegável da tradição. A tradição continua sobrevivendo, igualmente, na enorme massa adepta verde e branca, verdadeiro suporte da grandeza do Sporting (vejam os jogos nos Norte do país).

Esta posta, como um jogo tradicional de futebol (sem Pinheiro Baptista), tem duas partes. Vamos à segunda:

Como diria Maricá, citado por Millor Fernandes: só com a ação se escapa da inércia. Presumo que o contrário também seja verdadeiro. O Sporting estava agindo, diziam-nos, logo em Abril de 2022, preparando atempadamente a época seguinte (com a mesma equipa técnica das duas épocas e meia anteriores). Logo chegou um vaso de porcelana chamado Jeremiah St. Juste, antes fosse de vidro, teria sido igualmente frágil, mas mais barato. A época continuou sendo preparada no enorme terreno de pousio que é o defeso no futebol nacional. A malta chega a esquecer-se que existe uma coisa chamada bola, como se estivéssemos nas gigantescas férias de verão dos idos 80 do século passado, em que a malta se esquecia que alguma vez tivesse frequentado um estabelecimento de ensino. Ainda bem que estava tudo pensado ao detalhe.

Cedo se percebeu que o Sporting tinha uma equipa vulgar que simulava caçar com gato, julgando-se cão: escrevinhámos sobre esse pormenor de simulacro que aos poucos tomou de assalto os balneários e algumas cabeças dotadas de livre arbítrio. Só não conseguíamos convencer os adversários, apenas os sportinguistas. Amorim lá foi explicando em várias das suas roupagens: economista das tardes da Júlia, administrador não executivo e até treinador. Não apreciei, apenas, as suas recentes declarações sobre a “distância” para os nossos rivais. Se se estava referindo a ovos para a omeleta deveria tirar da equação o Braga. De resto, apelar ao bom senso referindo a questão dos orçamentos talvez resulte em contexto europeu, não no lodaçal da bola cá do burgo. Perdemos vários jogos com equipas cujo orçamento não dá para mandar cantar um central de porcelana do Sporting.

(Nota extravagante ao meio da posta: já repararam que a média de espectadores do Sporting no campeonato não chega a trinta mil? E isso após o anunciado record de vendas de gamebox, uma box, poucos games assistidos).

Com tanto planeamento e boa gestão de recursos chagamos ao jogo da época (ainda por cima tradicional) com pouco espaço para os feijões. No final o presidente descobriu a pólvora outra vez e explicou que somos resistentes. Pois somos. E, o senhor, será que é?