“Espero que o Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, Cardeal Ângelo Becciu, e o Papa Francisco estejam atento ao jogo de hoje porque o irmão Amorim se prepara para fazer mais um milagre!”. Esta mensagem de um amigo despertou a minha curiosidade. Mas um sportinguista que se preze sabe que o jogo, qualquer jogo, vai correr mal e preocupa-se mais com os suplentes (que terão de entrar, dê por onde der) do que com os titulares. Procuro saber da lista dos suplentes e descubro que, para o ataque, temos o Joelson Fernandes e o Tiago Tomás. Espanta-me não tanto os jogadores mas o facto de ainda estarem acordados aquela hora (fiquei o jogo todo à espera de ver uma das mães entrar pelo campo a mandá-lo para cama, levando-o por uma orelha para casa).
Há tantas táticas quantas as cabeças. Há as lineares, as que apelam a figuras geométricas e as que as combinam. A que mais me fascinou sempre foi o 4x4x2 losango do Paulo Bento (o losango constituía referência para o posicionamento dos quatro jogadores do meio-campo), por ter o precedente histórico de Aljubarrota e de D. Nuno Álvares Pereira, Santo Condestável. O Amorim é radicalmente inovador e opta pelo 5x2x3 pentágono, constituindo a figura geométrica referência para o posicionamento dos três centrais e dos dois médios. Atente-se que um losango pode ser um quadrado, bastando que os quatros ângulos sejam retos, enquanto um pentágono nunca o pode ser. Um quadrado é um polígono, um losango é um polígono e um pentágono é um polígono e, como se demonstrou, nem todos os polígonos são iguais e uns são mais iguais do que outros.
Esta aposta pentagonal inédita dispõe de uma grande virtude: deixa o Coates no vértice mais recuado e mais próximo do guarda-redes com um enorme raio de ação e sem sobreposição com o raio de ação do Eduardo Quaresma e do Borja. Este círculo transforma-se assim num buraco negro onde os adversários vão sendo sugados e desparecendo conforme dele se aproximam. No passado, com o Mathieu, havia respeito e compreensão mútua. O Coates cortava umas bolas, abafava uns adversários mas sentia-se obrigado a deixar fugir uma ou outra peça de caça para o seu companheiro do lado. Agora, não tem dúvidas, é tudo dele até onde a vista alcança. Por isso ou porque a equipa reage bem à perda de bola e pressiona de imediato o adversário, mesmo que tenha de recorrer à falta nos locais do campo onde devem ser efetuadas, a verdade é que existe mais consistência na defesa.
A defesa está melhor e recomenda-se (mais um boa exibição do Max que começa a comparar com vantagem com o Rui Patrício para o mesmo estrato etário), mas o ataque é o que sobra, o que resta, não constituindo uma função autónoma. O primeiro golo é o resultado de se ter recuperado a bola e tão-só, tendo a bola se encarregado de fazer o resto. A bola procurou fugir o mais que pôde mas acabou sem sorte nenhuma. Fugiu ao Ristovski, fugiu da biqueira das botas do Plata, fugiu das canelas de um defesa do Gil Vicente, voltou a fugir do Plata, fugiu de outro defesa do Gil Vicente até ser apanhada em cheio pelo pontapé do Wendell. Esta falta de autonomização do ataque é que explica o atraso de calcanhar do Plata quando se encontrava completamente isolado, autolimitando-se em função do jogo (defensivo) de equipa.
Na segunda parte, tudo parecia diferente. O Wendell isolou-se, procurou dominar a bola com todo o cuidado e encaminhar-se para o guarda-redes sem que restassem dúvidas sobre as suas intenções: atirar-lhe a bola à ventas com quantas forças tivesse. O guarda-redes ainda se tentou desviar, mas não teve tempo e não conseguiu. Logo a seguir, o defesa direito do Gil Vicente desmarcou o Plata para este dominar a bola e a encostar para o segundo golo (tentem imaginar que em vez do Plata era o Jesé). Foi uma prenda de anos, uma prenda dos 114 anos do Sporting. Fiquei à espera que, no final do jogo, os jogadores adversários fizessem uma rodinha e nos cantassem os parabéns também. A partir daquele momento, o único motivo de interesse era ver jogar o Tiago Tomás e o Joelson Fernandes. No entanto, 0 Doumbia ainda tentou estragar tudo, demonstrando cabeça de iniciado, mas era tarde de mais.
Desde o desconfinamento futebolístico, registámos mais três pontos do que o Porto, mais oito do que o Benfica e mais nove do que o Braga. O Vítor Oliveira diz que não chega, é pouco. O Vítor Oliveira ganhou o estatuto de senador dos pobres, dos sobe-e-desce. Subiu de divisão uma série de clubes ao longo de várias épocas e tem o seu mérito. Contrariamente ao que se diz, no início da sua carreira teve as suas oportunidades. Andou pelo Braga e pelo Guimarães, de onde saiu pichado de alcatrão e penas. Percebe-se o ressentimento: podia ter sido um Peseiro, um Rui Vitória ou um Lage em mais barato. Não havia necessidade, sinceramente!