sexta-feira, 25 de outubro de 2019

A cinética da bola

Dois momentos definem o jogo de ontem contra o Rosenborg: o Coates enfia uma canelada na bola para aliviar e fá-la embater no Doumbia e ressaltar para a barra; o Vietto remata à entrada da área contra um adversário, a bola faz um balão, o Pedro Mendes disputa-a e cai, aparecendo o Bolasie a enfiar-lhe uma marrada que a faz tabelar, primeiro, na canela de outro adversário e, depois, no braço do guarda-redes e entrar na baliza. Estes dois momentos definem com exatidão a mudança tática operada na equipa do Sporting. Em condições normais, com outro treinador, no primeiro momento, a bola teria entrado e, no segundo, batido na barra. 

O jogo teve três partes: do início ao primeiro momento; do primeiro ao segundo; do segundo até ao momento em que se agitaram lenços brancos. O início e o fim estão pré-determinados, não dependem das ocorrências do jogo: vai-se ver o jogo no pressuposto de que ele se inicia e que no final se vaia o Varandas. A cinética da bola vem por acréscimo. Os adeptos vão ao estádio para ter razão, independentemente do resultado. Quando finalmente lhes derem razão, a sua vida será um profundo vazio. É que as suas profecias autorrealizam-se e a vitória de cada um, da sua razão, será a derrota de todos.

8 comentários:

  1. Este texto, como é clássico no futebol, "teve duas partes distintas", a primeira, absolutamente brilhante, e a segunda, nem tanto. Não me parece que todos os adeptos tenham razão. Uns têm "a sua razão" (como diria o Dr. Costa sobre o Eng.º Sócrates). Os adeptos que têm (já e evidentemente) razão serão, efectivamente, no final, inevitavelmente, parte de um todo derrotado (se acredita no contrário, faço-lhe um bom preço pelos Jerónimos). E, apesar de terem, desde o início, razão, ainda assim, serão qualificados como os culpados da derrota de todos, quando não escolheram, nem o risível lote de "atletas" que, nos últimos 2 anos, integrou o plantel do SCP, nem os "treinadores" que os desorientam, nem os directores "profissionais" que os escolheram (?), nem o amador, muito bem remunerado que "preside" a toda esta miséria. SL! JPT

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    1. Caro JPT,

      Antes de mais, o agradecimento pela referência ao primeiro parágrafo do texto. Talvez seja o que melhor sintetize o que se passou no jogo de ontem. A cinética da bola determinou a nossa vitória, como tantas vezes tem determinado as nossas derrotas.

      O Sporting é um clube, uma associação. É o que é como resultado das nossas escolhas colectivas. Não há o nós e os outros. O que me anda a meter impressão nos adeptos do Sporting é a auto-flagelação como se não chegasse ter o Varandas. Vai-se um jogo para se sofrer e, por vezes, festejarmos. Porque razão se vai a um jogo se é para nos chatearmos e chatearmos alguém? É uma coisa que não percebo. É preciso respeitar o jogo e os seus noventa minutos sagrados. São a razão de ser de tudo.

      SL

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  2. Caro Rui Monteiro,
    Costumo lê-lo com (muita) satisfação pela qualidade da prosa.
    Hoje excedeu-se! Parabéns pelo brilhantismo... os 4 últimos períodos do 2º parágrafo são isso mesmo... simplesmente brilhantes!
    SL
    LV

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    1. Caro LV,

      Obrigado pela referência. A loucura vai tão longe que há quem prefira a derrota à vitória para ter razão, como se ter razão tivesse algum interesse quando a bola começa a girar e os nossos com a camisola às riscas começam a jogar.

      SL

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  3. Caro Rui Monteiro,

    Há já um certo tempo que, por aqui, não me manifesto. Isso não significa que aqui não venha "evely day" (como dizia um chinês antes de entrar no trailer de Essex).
    Tive que ler duas vezes mas isso é porque não ando em rejuvenicemento propriamente dito.
    O Sr árbitro Visser (pescador em português) não ficou muito contente com o resultado (eu foi mais pela exibição) mas lá terminou o jogo apesar de tudo!
    E, já agora, que acha daquele lance- da RCM- no jogo (que eu não vi) do benfica contra o Lyon? Quase tão caricato como o do segundo golo do benfica, digo eu!

    Abraço com SL à mistura.

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    1. Caro Aboim Serôdio,

      Bons olhos o vejam!

      O Benfica dispõe de uma cinética que envolve a bola e não só. O guarda-redes oferece-lhes um golo e a realização não permite que o VAR veja um penalty. Fizeram o pleno.

      SL

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  4. O Sporting apresentou um bailarino novo : Pedro Mendes. Estava lá, presente de corpo inteiro, atrapalhou os defesas Bolasie dá uma tremenda cabeçada que ao ir para a baliza tinha que ser golo, com ou sem ajudas.
    Silas, o garimpeiro, parece ter encontrado a luz, depois de Pedro Mendes ai está Matheus Nunes, e os senhores que se seguirem. Jogam melhor que os flops contratados. O problema é que não geram "comixões". Como diria o outro . "é tão fácil roubar um clube, nem é precido ter conta bancária".
    POIS!

    João Balaia

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    1. Caro João Balaia,

      O Sporting precisa de uma abanão, de alguém que mexa com o jogo. Espero que o Silas aposte em alguns dos mais novos para ver se a equipa se mexe. Com os habituais, não vai lá.

      SL

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