Ontem, contra o Guimarães, a expetativa era grande. Nesta altura, a expetativa é sempre grande, cada jogo é um Brexit. A carne estava toda no assador, não faltando a Dona Dolores para esconjurar maus-olhados. Jogava-se às casinhas e ao cai que não cai da Direção para se saber se ganhava a democracia da bancada ou a democracia do voto.
O Silas não tem o Nível IV mas tem a escola toda do futebol português. Antecipando um Guimarães a jogar à bola no campo todo, organizou a equipa para jogar em contra-ataque, metendo o Jesé em vez do Luiz Phellype. Com bola, pediu paciência, muita paciência, que os seus jogadores ficam com os bofes de fora rapidamente se o jogo acelera. Pediu paciência e muita confiança em Coates e, especialmente, em Mathieu, que está em todo lado ao mesmo tempo, fechando no meio e na lateral, saindo com segurança em passes curtos ou longos. Com os inconsequentes Eduardo e Doumbia no ataque organizado, pede-se-lhe que descubra o Acuña ou o lateral do outro lado, invertendo a natural circulação da bola.
De repente, duas cavadelas, duas minhocas, com o Vietto a demonstrar superior inteligência e capacidade técnica, passando a bola no momento certo para isolar, primeiro, o Jesé e, depois, o Acuña. As jogadas acabaram da mesma forma: bola dentro da baliza e guarda-redes deitado. Na PlayStation os nossos são bons. E o jogo podia ter ficado arrumado no início da segunda parte se não fosse a coerência do árbitro. Não viu o “penalty” sobre o Bruno Fernandes a meia-dúzia de metros e voltou a não o ver na televisão, depois do VAR o ter visto. Como diria o Einstein, só a infinita estupidez humana é certa.
O 4x3x3 do Silas tem o problema de o Bolasie e, principalmente, o Vietto não acompanharem a movimentação dos laterais contrários quando estes atacam. Como o Doumbia e o Eduardo não ajudam a fechar por dentro, o Rosier e o Acuña ficam entregues à sua sorte. Embora a sorte do Acuña seja o azar dos adversários, do outro lado, com o Rosier, não se passa o mesmo. E o cântaro foi à fonte tantas vezes quantas as necessárias até se levar o golo do costume. Os minutos seguintes pareciam prenunciar o pior. Mas um bom central, como o Coates, não escolhe baliza, sobretudo quando o guarda-redes sofre de bicos de papagaio.
O jogo estava resolvido e o restante tempo constituiu um prelúdio para o que se iria passar a seguir. Ganharia a democracia da bancada ou a democracia do voto? Quando se ganha, a maioria da bancada alia-se à maioria do voto. A democracia da bancada depende dos resultados, são eles que determinam os movimentos sociais. Sem resultados, aquilo que pode parecer uma minoria rapidamente se transforma numa maioria. Com resultados, uma minoria é uma minoria. Ontem, a maioria foi uma, no próximo jogo se verá. A democracia da bancada volta dentro de momentos no próximo estádio.