Ainda nem começámos a jogar a sério e já sentenciámos o destino da equipa. Nunca acertamos numa contratação e os jovens da formação são bons até ao momento em que os vimos a jogar pela equipa principal. Oscilamos entre a responsabilidade da direção e a do treinador. Como estamos habituadíssimos a ganhar com diferentes treinadores e direções, estranhamos que só se ganhem duas taças em meia-época com estes. Quando se avança com este argumento, aparece sempre o do Bruno Fernandes contra o resto do mundo, como se o Real Madrid não tivesse dependido do Ronaldo e o Barcelona do Messi. Ninguém se recorda da época que vinha fazendo com o Peseiro, como se o Keizer não tivesse mérito no seu desempenho posterior.
O “flop” do ano é o Vietto. O destino está traçado e o decreto passado. O Keizer tem-no colocado a jogar do lado esquerdo, não sendo extremo e jogando, ainda para mais, com o pé trocado, como o Raphinha. Quem critica esta opção parece defender o regresso ao “cruza-bola” do Jorge Jesus, com o Bas Dost a fazer de poste no qual a bola possa tabelar. Também ninguém se parece lembrar da fase inicial do Keizer no Sporting, como se as goleadas não tivessem resultado de um modelo de jogo que procurava a supremacia na zona central exatamente por se dispor de extremos que procuravam jogar por dentro (o Nani era o Vietto daquele momento) e, assim, fornecer linhas de passe e abrindo caminho à progressão dos laterais, que jogavam mais projetados. O Bas Dost fartou-se de marcar, bem como o Nani e o Bruno Fernandes, apesar de ter passado a ser mais do que um mero poste.
O que tenho visto nos jogos de pré-epoca é uma tentativa de reencontrar esse modelo de jogo. Só que não é possível implementá-lo sem dois laterais que deem profundidade. O Ristovski e o Rosier ainda não jogaram e nem o Thierry Correia, nem, muito menos, o Ilori são laterais desse tipo. Do outro lado, o Abdu Conté não é o Acuña. Acredito que com laterais mais projetados, o sistema de jogo que está a ser treinado possa resultar. O Sporting precisa de mais jogadores que cheguem nos momentos certos à área para finalizar. O problema não está no ataque. O problema está no meio-campo, onde se continua a emperrar na saída de bola. Porventura, jogar com três centrais ou com dois e mais o Borja a disfarçar quando se dispõe da bola, possa ajudar a resolver este problema, adiantando os médios, deixando mais espaço entrelinhas e obrigando os adversários a não marcar tão alto ou a pagar o preço de deixar espaço entre os avançados e os médios.
Não sei, ninguém sabe, se tudo isto vai resultar. A ver vamos com disse o cego. Não parece é útil deixar de recorrer à cabeça para se procurar entender o que pode estar a ser treinado, através da análise dos jogos da pré-época. A alternativa é afirmar que a Direção só compra barretes, o treinador é uma anedota e os jogadores são todos pernetas. Essa atitude é muito comum e só tem vantagens. Se correr mal, podemos sempre dizer que tínhamos razão. Se correr bem, sempre podemos dizer ainda que avisámos a tempo. Quem assim procede, nunca se engana e raramente tem dúvidas. Sou dos que acredita no modelo da tentativa e erro como forma de progresso científico e do nosso bem-estar coletivo.
Revejo-me completamente nesta analise. Até parece que está a falar para mim. Infelizmente já levámos com tantos barretes que tudo o que mexe só pode ser do mesmo. Mas só pode ser bruxaria o facto de termos 6 laterais (B. gaspar, Ristovski, Rosier, Jeferson, Borja e Acuna) e termos de andar a meter putos de 17 anos + o Lori.
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarÉ preciso dar tempo ao tempo. É preciso perceber se existe um modelo de jogo que esteja a ser testado. É preciso perceber que se estão a fazer experiências.
SL
Caro Cardosao, sejamos intelectualmente honestos (mesmo como bruxas podemos tentar sê-lo...), BG sabemos todos que vai ser dispensado (e bem dizemos todos nós!), ainda não o foi porque queremos rentabilizar a sua recente participação na CAN e ver se alguém paga por ele. Ristovky e Rosier estão magoados. Jeferson foi dispensado (e bem, dizemos todos nós!), Borja tem uma semana e meia de treinos, e no único jogo em que poderia ter jogado tinha 3 dias de treinos... Acuña chegou ontem... e Pronto, restam os miúdos e o LLori... (sim, ninguém gosta de o ver a DD...). Se lhe parece que o Rui está a falar para si, se calhar está... eu quando vejo o LLori a DD digo coisas que depois reparo que o Rui também está a falar para mim... Saudações Leoninas!
EliminarNão sou particularmente bom a usar a cabeça (talvez mesmo pelo contrário) mas no que respeita a Ilori nem a central o suporto. E então se desatar a pensar no negócio de aquisição do rapaz e em como foi despachado o Demiral...
EliminarBasta retirar uma peça do tabuleiro para ficarmos convencidos que o problema não é nem será o modelo de jogo.
ResponderEliminarÉ rever os números de Bruno Fernandes na época passada, retira-los da equação e ver o que sobra do Keizerball.
SL
Meu caro,
EliminarEsse argumento é frágil. É o mesmo que dizer que o Zidane é um nabo porque se não fosse o Ronaldo não teria ganhado nada. Com o Peseiro, o Bruno Fernandes não estava a jogar nada. Algum mérito terá tido o Keizer no desempenho dele.
SL
Com Peseiro tinhas Jovane e Nani a jogar e com números espectaculares de golos e assistências.
EliminarA verdade é que não testamos ninguém na posição de Bruno Fernandes nesta pré-época. Se sair voltamos a inventar um modelo de jogo.
SL
Meu caro,
EliminarQuanto à primeira parte do comentário, assim não brincamos. Não se compara ninguém ao Peseiro. É uma questão de respeito por qualquer cidadão nacional ou estrangeiro com profissão de treinador. Quando o Peseiro não consegue que um dos melhores médios da Europa jogue, está tudo dito. O resto foi sangue suor e lágrimas contra o Portimonense, o Loures e o Estoril e golos em desespero do Nani (o Jovane, embora marcando, foi mais decisivo nas assistências e nos penalties, se bem me lembro).
Quanto à segunda parte, a conversa é diferente. Aparentemente não temos Plano B se o Bruno Fernandes sair. Mas a situação do treinador não é simples. Não pode fazer de contas que ele não treina e não faz parte da equipa. Enquanto fizer, não tem outro remédio. Sem o Bruno Fernandes, as coisas vão ser muito mais complicada. Mas isso diz mais do Bruno Fernandes do que propriamente do treinador.
SL
Caro Rui Monteiro
ResponderEliminarA sua linha de raciocínio faz sentido se for temperada com algum optimismo. Infelizmente as exibições do Sporting, até agora, não fomentam optimismo, mesmo que moderado. Enfim,há que ter crença e eu compreendo esse estado de espírito mas confesso que no último jogo, com o Club Brugge, já dei comigo a sentir alguns sinais de irritação.
SL
Meu caro,
EliminarTem razão. Não sei se é otimismo ou se é o pressuposto otimista de admitir que o Keizer sabe o que está a fazer e treina em função disso. Quero acreditar que a colocação do Vietto e do Raphinha visa ganhar o espaço interior no ataque e ao aproximá-los estarem em melhores condições de pressionarem a bola quando a perderem. Este era o modelo inicial do Keizer. Este modelo pressupõe laterais que ganhem a profundidade nas alas e as explorem.
Procuro acreditar que é isso que se anda a treinar e que nos jogos se procura fazer o que se treina só que não resulta por causa da falta dos referidos laterais. Na verdade pode não ser nada disso e tudo se resume ao pressuposto inicial estar errado. É possível e provável que simplesmente o Keizer ande à deriva. Os jogos deram mais essa imagem do que aquela que pretendi apresentar ao procurar interpretar o que tinha visto.
SL