terça-feira, 30 de julho de 2019

“O Golas”

Vi o jogo contra o Valência, na apresentação da equipa do Sporting aos adeptos e sócios, disputando o Troféu dos Cinco Violinos. Repetiu-se a tática contra o Liverpool com alterações pontuais de alguns jogadores: jogou o Bas Dost em vez do Luiz Phellype, o Coates em vez do Neto e o Thierry Correia em vez do Ilori. As alterações justificam-se pela maior qualidade relativa dos, agora, titulares. Continuou, assim, a aposta no Bruno Fernandes do lado esquerdo, esperando-se que estivesse no local certo sempre que necessário, independente de ser à direita, ao meio, à esquerda, atrás ou à frente, enquanto se procurava encaixar o Vietto no meio. À falta de melhores alternativas, o Bruno Fernandes tem a prorrogativa de fazer passes de trinta metros, sobrevoando a defesa contrária à procura do Raphinha e foi assim que se chegou ao golo, concluindo-se este movimento com um remate de primeira de Bas Dost que nem hipóteses de reação permitiu ao guarda-redes. 

O avanço do Doumbia, quando dispúnhamos da posse de bola, originou bons momentos de controlo de bola no ataque, que foi sempre muito móvel, mas que não dispõe no Bas Dost o jogador ideal para este efeito, dado nem sempre recuar para tabelar entrelinhas ou se deslocar em desmarcações para abrir espaço para entrada de trás. Os seus movimentos são na linha de fora-de-jogo, na tentativa de estar no sítio certo à hora certa para finalizar. O resultado foi uma boa primeira parte mas em que nos limitámos a fazer cócegas em vários períodos de tempo. A defender, não estivemos mal, com exceção das bolas paradas, repetindo-se os sustos do jogo contra o Liverpool. Cada bola metida ao segundo poste originava um “Nossa Senhora nos acuda”, com a equipa do Sporting em desvantagem numérica e sem o Borja perceber que deve fazer como os adversários e saltar para cabecear. Levámos um golo como se estivéssemos numa peladinha e não aconteceram mais desgraças por mero acaso e falta de pontaria dos calmeirões do Valência. 

A organização deste jogo tinha como objetivo preparar a equipa do Sporting. Aparentemente, também tinha como objetivo preparar os árbitros para o campeonato que está a chegar. Foi evidente que os árbitros estão numa fase mais avançada de preparação da temporada do que a equipa do Sporting. Na primeira parte, o livre à entrada da área por suposta falta do Doumbia constituiu o primeiro aviso. Na segunda parte, o árbitro não foi de modas e assinalou “penalty” por outra suposta falta do Mathieu, quando, na melhor das hipóteses, o Coates terá chocado com o jogador do Valência. O Renan Ribeiro defendeu e assim se perpetua o mito que faz com que entremos no jogo da Supertaça sem necessidade de ganhar durante o tempo normal. Na tropa, a uma organização destas, chama-se treino com fogo real. Este contexto real acentuou-se com as repetições da SporTv, ignorando-se olimpicamente os lances mais controversos a nosso favor e não sendo esclarecedoras nos lances a favor do adversário. 

E o Valência acabou por chegar ao dois a um, num lance em que o Coates sai a jogar à Beckenbauer e perde a posição, o lançamento do Bruno Fernandes é intercetado pelo adversário que de imediato mete a bola nas costas da defesa, onde aparece um avançado a passar para o meio para outro encostar. As repetições não permitiram verificar se o primeiro jogador estava em fora-de-jogo, mas, seja como for, em situação de fogo real o Mathieu teria chegado a tempo, não permitindo que a bola entrasse no meio. Entretanto, começaram as substituições. Percebemos que existem os primeiros, os segundos e os terceiros substitutos. Os primeiros são o Acuña, o Luis Neto, o Luiz Phellype e o Diaby. Os segundos são o Tiago Ilori e o Eduardo. Os terceiros são o Miguel Luís, o Eduardo Quaresma, o Daniel Bragança e o Gonzalo Plata. 

Estamos habituados a tudo e a todos os resultados (há uns anos atrás, com o Domingos, levámos três do Valência na apresentação da equipa). Mas, como inteligentes que somos, gostamos de perceber o que nos é dado observar. Por muita reflexão que possamos fazer, ninguém compreende a posição ocupada pelo Diaby na hierarquia da equipa. Ficámos a saber que umas golas de proteção contra incêndios afinal são inflamáveis. Porventura, não são golas com esse fim, mas destinadas promover a saúde pública, reduzindo-se o número de fumadores e combatendo-se o tabagismo. É sempre possível encontrar uma explicação para o que aparentemente não tem. Por mais criativa que seja, é importante que nos encontrem a razão para o Diaby continuar não só na equipa como a constituir uma das principais alternativas aos titulares, em detrimento do Camacho, do Gonzalo Plata ou do Jovane. Ou o Marcel Keizer arranja uma explicação ou passará a ser mais um das golas.

16 comentários:

  1. Caro Rui, à falta de outro meio para entrar em contacto consigo, venho pedir-lhe se pode deixar na caixa de comentários de um dos meus Posts o seu email (tem moderação, pelo que obviamente não o publicarei), de forma a que eu lhe possa endereçar um convite para uma iniciativa que vou levar a cabo no âmbito do meu blogue, da qual gostaria de ter a sua colaboração.

    Um abraço

    PS: o seu texto, top como sempre.

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  2. Caro Rui,

    esqueci-me propositadamente no meu texto anterior do Diaby. Percebo que fique no plantel (entre outros). Com ele em campo será sempre mais fácil arranjarmos uma boa justificação para um resultado menos conseguido. Germina algures uma ideia de que os equívocos salvam. Mas quem?

    Um abraço

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    1. Caro Gabriel,

      O Diaby era o ausente mais presente do seu "post". Não sei se a referência ao bombo não é lisonjeira. O bombo não tem culpa nenhuma e é um instrumento tão respeitável como qualquer outro e não merece qualquer associação ao Diaby.

      Um abraço

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  3. O miúdo Bragança, muito bom, faz-se craque!

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    1. Meu caro,

      É pena que o tenhamos visto jogar muito pouco. Do que vi gostei. Quer ter a bola e não tem medo de conduzir o jogo da equipa, passando bem e a propósito.

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  4. Caro Rui Monteiro
    Golas? As de poliester? Mas o Ministro Eduardo Cabrita já esclareceu que isso não é assunto que deva ser mencionado, por pouco que não proibiu, ainda se irritou, em tom levemente stalinista. Voltando à sua crónica, eu diria que as tais golas não são para fogo real, só são adequadas para os treinos. Com golas ou sem elas, somámos mais um derrota na pré-época, com zero vitórias, há que dizê-lo. Mas sinto que a maioria dos sportinguistas acredita que o caminho até à Supertaça, seja o de derrotas e emapates até à vitória final.

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    1. Meu caro,

      Afinal as golas não são inflamáveis, embora não sirvam para nada na mesma. É um género de Diaby da proteção civil.

      O Keizer aprendeu e aprende com os erros, nunca os repetindo. Aprendeu a jogar com os rivais, Porto e Benfica. Nesses jogos, sabe equilibrar. Os do Benfica andam eufóricos e isso, normalmente, é meio caminho para a desgraça. Até agora não ganhámos. A margem de manobra para melhorar é a maior possível. É a famosa convergência para a média dos acontecimentos.

      SL

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  5. Eu sou optimista e quero acreditar que:
    - o Diaby jogou para termos uma hipótese de o podermos vender (infelizmente só se agravou o problema).
    - o Plata só jogou 3 minutos para podermos comprar os restantes 50% do passe a um preço mais acessível.

    Nesta pré época a minha maior desilusão foi o Borja. Tinha ficado com boa impressão dele na temporada passada e achei que finalmente resolvemos o problema do lateral esquerdo, mas infelizmente estava enganado. Parece ser um lateral mediano com e sem bola e muito fraco nas bolas paradas defensivas. Nesta posição temos um desnível gigantesco para os rivais (grimaldo/telles).

    Por outro lado ganhamos um excelente lateral direito (Thierry) apesar de ainda estar muito verdinho. Se o Rosier for muito bom podemos eventualmente jogar com o Thierry na esquerda (fez muito bem a posição contra o Liverpool), caso contrário terá de ser o acuna a fazer a lateral esquerda.

    SL

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    1. Caro Francisco Lima,

      Quero acreditar que tem razão. De outra forma, seria um desperdício andar a queimar jovens promissores para se apostar num perneta.

      O Borja nunca soube atacar, fazer um cruzamento. Evita expor-se, voltando para trás ou passando para trás. No entanto, parecia não defender mal. Não atacando bem e defendendo menos mal, o Keizer até apostava nele no sistema dos três centrais. Nos últimos dois jogos tem sido um autêntico buraco. Pelo nosso lado esquerdo passa tudo e a culpa não é da cobertura, como se viu quando jogou o Thierry Correia. Nas bolas paradas, nem sequer se sabe fazer às bolas.

      SL

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  6. Pegando no comentário do Francisco Lima diria que o Borja é o nosso jogador mais afortunado. Porquê? Porque se Mr Keizer tivesse optado pelo Plano A - que consiste em colocar Vietto na ala esquerda e Bruno Fernandes no seu lugar natural - a estas horas já teria sido cedido definitivamente ao Moreirense, onde poucas hipóteses teria de discutir a titularidade com o Abdu Conté.
    A questão do Diaby é uma eterna questão já que a sua duração está umbilicalmente ligada à duração de Mr. Keizer. Como nós queremos todos que o Sporting ganhe e isso significa o sucesso do nosso treinador estamos todos obrigados a suspirar para que em Maio de 2020 o bom do Diaby continue a dominar a bola com a canela - é difícil - e a tropeçar quando finalmente se isolava - também não é fácil - enquanto entre Camacho,Jovane e Plata lá se irão revezando na avara e inconsequente utilização dos 5/6 minutos por jogo - na melhor das hipóteses - que o nosso treinador lhes reserva para medir o seu - deles -coeficiente de aproveitamento das oportunidades, o famigerado cao, que nos últimos anos tem ajudado a despachar vários Franciscos Geraldes da sua condição de eternos candidatos a um lugar no Sporting.
    Quanto às golas parece que a eminente venda de Bruno Fernandes irá funcionar como a gola que cobrirá todos os inconseguimentos que Mr Keizer conseguir - uso uma expressão recentemente utilizada pelo Pedro Azevedo, cuja paternidade se deve à Assunção Esteves - sendo que para seu conforto e protecção as golas do Sporting não foram adquiridas pela equipa especializada em combustões sob orientação do ministro Eduardo Cabrita.

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    1. Caro JG,

      Não fiquei muito impressionado com o Abdu Conté, é um facto. Mas também é um facto que o rapaz esteve sempre entregue à bicharada. O Borja esteve mais protegido e foi um buraco ainda maior. A atacar é uma completa nulidade.

      A política do Sporting há anos que não se compreende. Porventura, os jogadores que vêm da formação não têm a qualidade daqueles que nos safaram a época do Sá Pinto e do Varcauteren e que foram resgatados pelos Jesualdo Ferreira. Agora, praticamente não aproveitamos um. Em contrapartida, continuamos a contratar jogadores medianos, jogadores que não fazem a diferença.

      Se o Bruno Fernandes for vendido temos mais desculpas. Não sei se teremos desculpa.

      SL

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  7. Caro Rui deixo aqui algumas perguntas para quem souber a resposta.
    O que tem Diaby que Matheus nao tenha?
    O que tem Eduardo que Bragança nao tenha?
    O que tem Vietto que Dala nao tenha?
    O que tem Borja que Nuno Mendes nao tenha?
    O que tem Ilori que Ivanildo nao tenha?
    Ah e a ultima...será que é Vercauteren que vem para o lugar de Keizer em Dezembro?

    Obrigado e um abraço

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    1. Caro Pedro,

      Evidentemente, nenhum deles. Em muitos casos a relação é a contrária. Os segundo têm o que não têm os primeiros. Aparentemente o Keizer era para apostar na formação. Não se compreende!

      Um abraço

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  8. Caro Rui Monteiro,
    Há já uma semana que me encontro muito a norte da Espanha e, mesmo com 12 anos, encontrei o meu computador em boas condições de funcionamento muito melhores que as do que deixei na Espanha que só tem 5 anos!
    Foi com ele que assisti ao primeiro jogo do Sporting nesta pré-época e, até porque sabia que era a SportTv a transmitir o jogo para Portugal, preferi o livestreaming da GOL TV onde os locutores pronunciam quase correctamente o nome do Keizer!
    De uma maneira geral concordo com a sua análise mas eu sou um leigo em futebol. Não conhecia alguns dos jogadores e continuo a os não conhecer. Não gostei muito do Vietto, nem do Ilori e gostei do Thierry e também do Bruno Fernandes. Quanto a este acho que seria bom para o Sporting se ele se mantivesse mas também para ele próprio e cheira-me que ele está consciente disso apesar da ridícula insistência da CS.
    Não sei quem escolhe os árbitros para estes jogos amigáveis mas o Pinheiro ainda não chega a uma sequoia. Aquele penalty não o era...
    Não me pronunciarei sobre as "golas" mas parece que é um ano de eleições em Portugl e os políticos portugueses não são melhores que os jornalistas.
    Se a RTPi não o transmitir espero ver a final da Super Taça pelo computador e espero que ganhe o Sporting!

    SL

    PS: Se o Gabriel Pedro me vier a ler o tal medicamento chama-se Dominal onde só duas letras diferem de Demiral.

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    1. Caro Aboím Serôdio,

      O Bruno Fernandes é o craque do Sporting. Se for para algumas das equipas que se referem, não só não será o craque como terá que partilhar protagonismo com outros jogadores.

      Tenho uma fezada para a final da supertaça. Quando as coisas correm mal, mais dificilmente podem piorar. É mais uma intuição matemática e estatística do que outra coisa qualquer.

      SL

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  9. Caro Rui,
    Ainda em Coimbra fui bem sucedido nas cadeiras de "Probabilidades, Erros e Estatística" e também de "Cálculo das Probabilidades" e, nesse tempo, ninguém falava da Murphy's Law que não é a que cita mas que vale para qualquer equipa que se prepara para um derby nem que seja no Algarve.
    Vi ontem o Grande Área e fartei-me de rir! A RTPi promete transmitir a supertaça mesmo anunciando o resultado de antemão e, ao que parece, fá-lo-á em directo! Também tenho uma fezada no nosso Sporting.
    Assisti às entrevistas com Keizer e Lage (Leige digo eu) e compreendi melhor o Keizer que o José Miguel Nunes (?) mas eu sei falar Nerlandês e isso ajuda!
    Li num sítio qualquer que varandas terá chamado JM para negociar BF! That's a real pitty que eu compreendo sem aplaudir! Estamos tramados mas isso não é novo!

    "Qui vivra verra" e eu espero viver mais algum tempo!

    Abraço verde (dum velho sportinguista)

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