“Deviam ter vergonha”. Recebi qualquer coisa assim através
do whatsapp. Essa e outras frases vinham embaladas (como tudo hoje em dia) em
imagens. Imagens com análises, regras de arbitragem, piadas secas ao sol da
Nazaré, etc. Mas todas com um denominador comum: a vitória do Sporting com um
golo do Coates nos descontos (ou Bruno de Carvalho com um bigodinho). Percebi,
mais uma vez, aquilo que já havia dito por aqui: o Sporting (quando) deixou de
ser um clube simpático, e (re)começou a intrometer-se na luta pelos títulos,
pelas receitas, a mexer-se nos corredores mofentos do poder da bola, passou a
ser um incómodo, primeiro causando apenas algum prurido, depois elevando as
comichões ao nível das chagas pestíferas que não se podem espalhar, e que se
devem combater como uma verdadeira doença. Exagero para que percebamos o que
está em causa: poder (e tudo o resto acoplado).
Compreende-se nos muito jovens, ou nos peixes, mas em todos
os outros, a ausência de memória (mesmo recente), não se devendo a doença, é
coisa muito estranha, devidamente assinalada nos anais da sabedoria popular: casa de ferreiro espeto de pau; olha para o
que eu digo, não olhes para o que eu faço; com papas e bolos se enganam os
tolos; depois de fartos, não faltam pratos;
Ou para baixo todos os
santos ajudam. Se ajudam. Recordam-se, os Sportinguistas, do 7º lugar no
consulado de Godinho? Eu recordo bem umas palavras do Papa, perdão, de Pinto da
Costa, que, de forma condescendente e paternalista, afirmava o seu apoio a
Godinho, acrescentando que o futebol português precisava de um Sporting forte.
Claro que sim. Claro que sim. Estávamos próximo do abismo e as pancadinhas nas
costas soavam a finados.
As virgens ofendidas desta semana (onde se incluem alguns
brafiquistas), os moralistas que bradam pelos bons costumes e peroram (gosto
desta palavra) sobre liberdade de imprensa, entre outras divagações que
confrangem (neste momento) o meu desempenho mental, fazem o costume em
situações desta natureza: berram alto enquanto varrem o seu próprio lixo para
debaixo do tapete que, por sua vez está debaixo do sofá, bem escondido, junto
ao armário dos esqueletos.
Ninguém se lembra, assim de repente, do guarda Abel, do
túnel das antas e seus sucedâneos, o túnel do Braguinha, depois túnel brafiquista,
ou do túnel da Luz?, para não nos alongarmos mais em subterrâneos. Ninguém se
lembra da fruta, do calor da noite, das reuniõezinhas em casa do presidente,
das escutas, da porrada aos jornalistas, do boicote às televisões ( e aquele
famoso ataque à SIC ali à Boavista?), do só queremos
Lisboa a arder, blá blá blá? Ninguém se lembra de um presidente (eu ajudo –
chamava-se Vieira) a invadir um estúdio de televisão, o mesmo presidente que
fora sócio (ainda será?) de todos os clubes possíveis e imaginários, desde que
lhe permitissem subir a pulso para perto da fruteira, de quem era (nessa
altura) amigo? Houve um filme, patrocinado, sobre a fruta, não se lembram? De
perseguições a árbitros não vale a pena falar, estão registadas pelas paredes (e
nas mentes) dos próprios. Mas, será que ninguém se recorda do boicote ao leite
Parmalat? Intervalo.
Com as substituições, vieram os vouchers (os outros tinham a
agência Cosmos, recordam-se?), os emails, a cartilha, os padres, as freiras. Substitui-se
o dourado do apito, pela batina. Um papa pelo outro. Cada um com a sua guarda
de honra, subordinados, beija-mão, comentadores independentes, tudo à volta da
gamela. Mas uma gamela devidamente institucionalizada. E a farpela, neste país,
é tudo.
Dentro das (como se diz) quatro linhas, já se sabe. Ninguém
se recorda daqueles famosos envolvimentos
aos árbitros, de jogos como o de Campo Maior, ou, mais recentemente, dos
minutos de compensação no Restelo, onde o Belenenses quase se surpreendia a si
próprio. Ninguém se recorda da mão de Vata, nem interessa.
Nota 1: Tenho pena que as directrizes de Bruno de Carvalho não
tenham chegado aos blogues. Como não sou comentador (dos encartados televisivos),
não compro jornais, nem assisto aos ditos programas de entretenimento
futeboleiro, fico sem vontade de fazer um daqueles gestos que caracterizam o Zé
Povinho. Fica o desafio.
Nota 2: o Porto acaba de ganhar ao Estoril. Já ninguém se lembra dos tais descontos, nem se falará do primeiro golo do porto. Limpinho, claro.
Excelente meu caro. acho ate que a lista não é exaustiva.
ResponderEliminarQuanto ao presidente, o 1 golo do porto ontem fala por si e pelo futebol tuga. Para não falar do jogo do estorio que foi miserável.
Sl
leão de leiria
Caro leão, obrigado.
EliminarA lista não foi nada exaustiva, tem razão. De resto,é preciso muito sentido de humor.
Sl
E quando um espontâneo no final de um jogo nas antas que não correu bem bem saltou as tábuas e aviou umas pinhas em direcfo no jornalista da rtp..., isso é que eram bons fempos...!
ResponderEliminarMeu caro,
ResponderEliminarParece que ninguém se lembra. Disso e de outras situações.
Os bons velhos tempos estão de volta...
SL