Entrámos com a cabeça a pensar em desculpas. Faltava saber se era do relvado, da distância e do tempo de viagem, do frio ou da falta dele no estádio, do “jet lag” ou de tudo um pouco. Só assim se explica a forma vagamente displicente como entrámos no jogo, dando quase meia parte de avanço. O golo do Astana logo aos seis minutos só se explica por essa displicência ou por a defesa ainda estar enregelada e não se conseguir mexer.
A primeira parte foi difícil. Segundo o Jorge Jesus, aparentemente fomos surpreendidos pelo lado esquerdo da defesa e pelo meio. Surpreendidos pelo lado esquerdo pode ser. Pelo meio é que não. Ao colocar no meio o Bryan Ruiz o objetivo só podia ser o de sermos surpreendidos e, por isso, não pode haver surpresa nenhuma. Não fomos mais surpreendidos porque o Rui Patrício nunca nos surpreende mas surpreende sempre quem não o (re)conhece, seja o adversário ou o Ribeiro Cristóvão, que, na análise final do jogo, ao comentar o seu aniversário e os trinta anos afirmou que estava em tempo de fazer uma grande carreira. Convém que alguém o informe que, para além de tudo o mais, o Comendador Rui Patrício é campeão europeu e foi considerado o melhor guarda-redes desse Campeonato da Europa.
A lentidão do Bryan Ruiz não permitiu que acasalasse com o Bruno Fernandes (para se acasalar decentemente, no mínimo espera-se que chegue ao seu par no momento certo para que se possa consumar) e o Bruno Fernandes teve que acasalar sozinho. Fez dois remetes com selo de golo e marcou um daqueles cantos que costumam acabar na cabeça de um dos nossos grandalhões e que são meio caminho andado para o golo. Com esse meio caminho e a cabeçada do Coates, o Doumbia, na recarga, fez o golo. Como vem sendo hábito, o golo foi anulado. Também não foi por acaso e, por isso, não fomos surpreendidos. Este (lindo) serviço nem sempre precisa de vídeo-árbitro, bastando para tanto que o árbitro seja francês.
Entrámos na segunda parte com a cabeça virada do avesso, deixando-a livre para pensar em jogar à bola e não em desculpas. O primeiro golo, do Bruno Fernandes, foi de “penalty”, depois de um defesa ter cortado a bola com a mão quando o Doumbia se preparava para cabecear ao primeiro poste. O Acuña, que tinha acordado, humilhou três adversários do lado direito da defesa e centrou tenso para o segundo poste, onde estava o Gelson Martins para rematar de primeira e fazer o segundo golo, aproveitando a forma como o Bryan Ruiz ao tentar cabecear atrapalhou o defesa. O terceiro golo foi uma excelente jogada coletiva, com o Acuña a desmarcar o Bruno Fernandes do lado esquerdo que centrou atrasado para o Doumbia encostar.
Em praticamente dez minutos, entre o Acuña, o Bruno Fernandes, o Gelson Martins e o Doumbia, o Sporting acabou com o jogo e fez o resultado final. A entrada do Montero ainda permitiu que inteligentemente sacasse o segundo amarelo a um defesa e finalmente se passasse a jogar dez contra dez. O Astana entregou-se definitivamente e os jogadores foram-se entretendo com a bola para passar o tempo e evitar desgaste físico e alguma lesão, a fazer recuperação ativa na linguagem do Freitas Lobo ou do Carlos Daniel. O Gelson Martins ainda teve mais um golo nos pés, mas o guarda-redes defendeu. O Astana rematou ao poste, mas foi evidente o diálogo e a combinação entre o Rui Patrício e o dito poste, não chegando a existir propriamente qualquer sobressalto.
Na parte final, o jogo foi-se arrastando, embora monotonia por monotonia a pior tenha sido a dos comentários dos rapazes da SIC. Todos os argumentos serviram para desvalorizar a vitória do Sporting. Ninguém se lembrou que o Benfica foi lá empatar a dois há cerca de três anos ou que o Astana nunca fez menos pontos na Liga dos Campeões que o mesmo Benfica esta época. Os rapazes do Astana não estavam em forma devido à paragem do campeonato. O Astana tinha vendido entretanto o seu melhor jogador. O Astana é uma péssima equipa e qualquer outro resultado do Sporting que não fosse a vitória era uma vergonha. A Liga Europa é competitiva, mas não tem os grandes tubarões europeus. E mais isto e mais aquilo. Se uns queriam esfolar, o Ribeiro Cristóvão estava para matar. Talvez seja melhor para a próxima inverterem a ordem, matando primeiro e esfolando depois.
Mais uma excelente análise caro Rui. É impressão minha ou podia gerar-se um belo acasalamento entre o Doumbia e o Bas Dost ou ? Aquela jogada do Acuna se fosse outro jogador argentino cujo o nome acaba em "Ervi" seria pura magia, como não foi, o termo "ressalto", no contexto meramente depreciativo, entenda-se, assentou claramente melhor. Saudações.
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarA jogada do Acuña foi absolutamente excepcional. Não é preciso ser sportinguista para apreciar, basta gostar de futebol. Há muita gente que nem de futebol gosta. Temos de filmar os treinos do Acuña a dar toques de calcanhar.
SL