domingo, 30 de maio de 2021

Homenagem aos golos que não o foram

A época do Sporting foi de tal forma próxima da perfeição que não é fácil fazer um balanço, escolher os melhores momentos ou os mais decisivos. Imaginar em Agosto de 2020 que uma equipa com reforços desconhecidos ou duvidosos, uma direção em guerra com as claques, um clube com feridas abertas do passado, liderado por um treinador sem formação para tal e com vários jogadores inexperientes pudesse catapultar o Sporting para uma época brilhante.

Talvez por isso mesmo vou tentar uma abordagem diferente. Em vez de recordar os muitos golos importantes da época - onde haveria lugar, por exemplo, para um do esquecido Vietto, vários inesperados de Coates e um par deles de um insuspeito Matheus Nunes - proponho refletir sobre os golos que não o foram.

Na minha opinião houve três momentos que foram particularmente marcantes, todos eles muito diferentes. Como não consigo ordená-los por importância, vou abordá-los por ordem cronológica.

O primeiro golo que não o foi teve por protagonistas o Coates e o Luís Godinho, árbitro que tinha tido um brilhante desempenho no Sporting - Porto cerca de um mês antes. O lance ocorre ao minuto 90 e nasce de um pontapé de saída, o Sporting havia acabado de sofrer o empate, mas não se 'ficou': bola para um lado, para o outro lado, cruzamento de Porro e golo de Coates. Godinho decidido valida o golo (tal como no Sporting - Porto assinalou falta, grande penalidade e vermelho), VAR chama Godinho por causa de um pequeno toque (que existiu, tal como no Sporting - Porto) e Godinho ao ver as imagens decide exatamente ao contrário que havia decidido no Sporting - Porto (afinal o pequeno toque desta vez contou). E assim se perdiam 2 pontos, mas ganhava um slogan, uma ideia, uma ambição. A partir daqui para onde foi um foram todos, numa viagem que só acabou no Marquês (e em tantas outras praças e ruas deste país e de muitos outros!).

O segundo lance nada tem a ver com este, até porque a bola nem chegou a entrar na baliza. Ocorreu já passado quase meio campeonato no Estádio do Dragão, num jogo em que o Porto precisava desesperadamente de ganhar. Depois de uma primeira parte morna, o Porto entrou com tudo na segunda parte e parecia estar a 'encostar o Sporting às cordas'. Até que aos 73 minutos o Matheus Nunes desata a correr de baliza a baliza e falha por centímetros um golo que seria penalização excessiva para um Porto perdulário. Não sabemos se foi pelo susto de uns ou pela confiança de outros, mas a verdade é que a partir daí houve mais uma clara oportunidade para o Porto (logo no minuto seguinte) e o jogo voltou à temperatura da primeira parte. Depois deste empate já só o Amorim conseguia pensar jogo a jogo!

Mas as coisas não haveriam de ser assim tão fáceis (o Amorim tinha razão em pensar jogo a jogo). Depois de vários jogos ganhos no limite, lá veio um em que o limite se virou ao contrário e acabámos empatados no último minuto. Como seria previsível a equipa tremeu e chegou a Faro a um mês do fim do campeonato a jogar contra uma equipa que desesperava por pontos. Quem achou que o Sporting sofreu para sair a ganhar ao intervalo mal podia imaginar o que seria a segunda parte, com o Farense a entrar muito forte. Aos 53 minutos Pedro Henrique isola-se e, num bom movimento técnico, tem um penalty em movimento a que Adán responde com uma defesa tão fabulosa como decisiva. Ainda houve mais oportunidades de parte a parte, mas este lance sem dúvida que deu muita alma ao Sporting, que assentou defensivamente e arrancou a ferros o muito necessário regresso às vitórias.

Haverão certamente muitos outros momentos importantes mas espero que recordar estes ajude a reforçar ainda mais o sorriso que persiste na cara dos Campeões de verde e branco!

4 comentários:

  1. Este campeonato ganho pelo Sporting com 5 pontos de avanço sobre o FCP(deveriam ter sido 9), a 2 jornadas do fim, teve qualquer coisa de épico. E depois de ter ganho a Taça da Liga..

    Na época anterior forte contestação a Varandas e Amorim? por ter perdido 0 3ºlugar para o Braga. Em Março manifestação de 2000 a dizer "Varandas esta casa não é tua".
    Tudo levava a crer que nos preparávamos para esperar mais 20 anos.
    Amorim já na época anterior, quando chegou ao clube , debaixo da contestação de alguns(poucos) , diz " E se correr bem?"
    Amorim tem grande parte do mérito, porque potenciou a formação e esteve participante na aquisição dos reforços. Acabaram os flops, terminaram as comissões.....
    Claro que Varandas e Hugo Viana correram um grande risco nesta contratação. Se tivesse corrido mal, adeus viola!
    Mas, e se corresse bem? Amorim além de todas as qualidades que se lhe reconhecem, acabou com o pessimismo dos Sportinguistas de anos anteriores, devolveu o orgulho aos adeptos.
    Agora ganhar o bicampeonato , "jogo a jogo"
    SL

    João Balaia

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  2. Caro João Balaia,

    Obrigado pelo comentário. Já antes do campeonato começar que estávamos à espera que 'acontecesse Sporting'. Depois foi o campeonato todo à espera que 'acontecesse Sporting'. Não aconteceu, o que aconteceu foi de facto uma vitória épica.

    O mérito de Rúben Amorim é indiscutível, apesar das escassas qualificações para o cargo e de todos os castigos. O mérito de Varandas e Viana também é notório, quanto mais não seja por deixarem Amorim liderar. Muitas vezes não fazer nada para deixar alguém fazer melhor é ainda mais difícil. Depois do desastre que foi a preparação da época 19/20 Varandas e Viana mostraram uma surpreendente humildade (sim, surpreendente!) por deixarem Amorim fazer o trabalho épico que fez!

    Agora vejamos se o rumo é para manter.

    SL

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