sexta-feira, 7 de maio de 2021

Acabar com este martírio

Não estou preparado para isto, isto de ganhar campeonatos [escrevo “ganhar” e penso se não seria mais adequado recorrer a expressão mais neutra, como “disputar”]. As últimas semanas tornaram-se num martírio. Sofri a bom a sofrer nos três empates quase seguidos, com o Moreirense, o Famalicão e a B-SAD, e desisti, não vendo o jogo contra o Braga. Ganhei coragem e regressei contra o Nacional. Aguentei a primeira parte e desisti também. Contra o Rio Ave nem tentei, nem um “zapping” para amostra. Acabado jogo e conhecido o resultado, ouço o Joaquim Rita afirmar: “O Sporting teve uma entrada leonina!”

Quando se ouve uma afirmação como esta fica-se com enorme curiosidade. Ontem, fui à procura da gravação do jogo e vi-o. Não, não é a mesma coisa que ver em direto. É um género de massa com frango do dia anterior aquecida no micro-ondas. Não estamos a jogar também, estamos a ver sabendo como tudo acaba [e acaba bem]. Não vale a pena mudar de canto do sofá ou trocar uma camisola puída do campeonato 1999/2000 por uma outra não menos puída do campeonato 2001/2002. É ver e burocraticamente tomar umas notas mentais para não menos burocraticamente escrever este “post” como mais uma página de um diário de bordo. 

Se as entradas do Sporting são leoninas por definição, desta vez também o foram por ação. Até ao primeiro golo, foi um massacre. As oportunidades sucediam-se aos pares, cada remate originava uma recarga, e no meio desta avalanche, de defesas improváveis e de bolas nos postes, o Rio Ave ia-se safando como podia. A equipa pareceu mais solta e mais dinâmica no ataque [até cansa de ver jogar o Pedro Gonçalves], pressionando bem na frente e deixando o adversário com poucas alternativas que não fosse a de se ver livre da bola para onde estava virado. Um a zero ao intervalo foi pouco, muito pouco. 

Na segunda parte, o Rio Ave resolveu fazer pela vida, colocando o nosso Mané [salvo seja] na frente e o nosso Coentrão [salvo seja também] mais atrás, do lado esquerdo, a fazer os lançamentos. Nós entrámos desconfiados, hesitantes e mais recuados, dando a iniciativa de jogo. Do lado direito da defesa, com o João Pereira sob pressão, temia-se o pior. O Rúben Amorim acordou para a vida, tirou o Nuno Santos [que saiu com cara de pouco amigos] e meteu o Matheus Nunes a fechar o lado direito do meio campo. Passado uns minutos, na sequência de um livre no nosso meio campo e de mais uma tentativa de desmarcação do Pedro Gonçalves nas costas da defesa, a bola é aliviada para a entrada da área, o Paulinho domina-a no peito, coloca-a no chão, enfia-lhe uma pantufada com o peito do pé, não dando quaisquer hipóteses de defesa ao guarda-redes [um golo à Ronaldo ainda antes de chegar o Ronaldo]. O resto do jogo foi o cumprimento da necessária formalidade de se jogar noventa minutos. O Rio Ave nem próximo esteve de criar uma oportunidade e nós, por isto ou por aquilo, acabámos por não concluir devidamente uns tantos contragolpes. 

Entretanto, o Benfica empatou-se e, ao empatar-se, empatou o Porto também. Estamos a dois pontos da vitória no campeonato, quando faltam três jornadas. Como é que foi possível chegar até aqui? Como é que isto se tornou sério e a sério? É importante acabar com isto [isto é aquilo que referi inicialmente] e quanto mais depressa melhor, para cada um voltar à sua vida, sem ansiedades, voltando a ver jogos sem a pressão de ter de os ganhar e a dizer mal dos jogadores e dos treinadores. 

15 comentários:

  1. Sim, por favor, vamos lá despachar isto.
    Já não me bastavam os nervos nas jornadas anteriores, contra o Rio Ave acabei o jogo à beira de desenvolver alergias como o outro, enquanto respondia ás msgs de lampiões com um sorriso e "vocês sabem lá".

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    1. Meu caro,

      Vivo à beira de um ataque de nervos há mais de um mês. Isto não faz nada bem à saúde.

      SL

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  2. Caro Rui, onde é que se celebra em Braga, sendo caso disso?

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    1. Eu vou festejar em Barcelos.

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    2. Meu caro,

      Primeiro é preciso ganhar e ganhar não é uma formalidade.

      Não sei, manifestamente. Há um Núcleo em Braga. Fui lá uma ou outra vez ver uns jogos. Sou capaz de fazer como de costume e ir ao café sofrer como sempre.

      SL

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  3. Caro Rui Monteiro:

    Parece que o Papa vem, para o ano, a Portugal e vai fazer um roteiro dos milagres. Será que depois de Fátima vai passar pelo balneário do Sporting?
    Abração

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    1. Meu caro,

      O Papa vem e aproveita-se para canonizar o Rúben Amorim. Milagre como este não se arranja tão cedo.

      SL

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  4. Caro Rui,
    é de facto um martírio, mas como dizia o outro "only pain is real"!
    faz já algumas semanas que eu ando de calculadora na mão... e se por um lado não me importava nada de ser campeão na segunda, por outro lado acho que esta equipa merece uma invasão de campo na terça feira, mesmo que sejam só os apanha-bolas.....
    Mas, volto a dizer, mais importante que ser campeão, a grande alegria é ver uma equipa de putos e de malta que não custou uma fortuna, feliz da vida, a dar o máximo em todos os jogos... e isso vale mais do que uma champions ou um campeonato....
    é incrível, mas o ser campeão é quase secundário....
    se ver o Pedro Gonçalves cansa, que dizer do Palhinha que se atira a cada bola como se disso dependesse a vida humanana! ou ver o Nuno Mendes levar paulada a torto e direito e continuar como se nada se tivesse passado...

    Saudações leoninas
    Sérgio

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    1. Caro Sérgio,

      O Porto não vai facilitar, desenganem-se. Vai ser necessário ganhar em campo e ganhar não é uma formalidade.

      Esta equipa e este treinador foram absolutamente brilhantes. Como disse várias vezes, esta época dava uma série da Netflix.

      SL

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  5. Caro Rui Monteiro,
    Eu tenho visto todos os jogos que interessam ao Sporting e até aluguei a BTV para ver o SLB-FCP, mas claro que já coloquei uma nota na Agenda para desligar esse canal, na primeira oportunidade. Mas, indo ao que interessa, também já não estava habituado a este sofrimento, NORMALMENTE, nesta altura do campeonato o nosso lugar na classificação pouco interessava, todavia e apesar de algumas Arbitragens e VARiações NORMAIS, encomendadas pelo suspeito do costume, esta época é até ao fim, ou quase. Pois, quanto mais cedo terminar o sofrimento, tanto melhor e se os Leões de Faro conseguirem fazer uma gracinha, ficarei muito feliz mas imagino que se algo estiver a correr mal para os Animais (mitológicos) o árbitro ou o VAR coloquem tudo como NORMAL. Assim, estou a preparar-me para festejar, somente, a partir de terça-feira.
    SL

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    1. Meu caro,

      Vai ser preciso ganhar em campo, não tenho dúvidas. Convém não facilitar nem deitar os foguetes antes da festa. Este é só mais um jogo na sequência de outro. Enfim, é só mais um jogo do jogo a jogo do costume.

      SL

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  6. Caro Rui,

    Não estamos de facto preparados para estas coisas, mas o Rui está muito preparado para escrever crónicas burocráticas. Excelente texto, como sempre a análise acerta na mouche e ainda acrescenta um toque de humor.

    Felizmente já lá vai o tempo em que, em matéria de Sporting, só mesmo a leitura das suas crónicas nos deixava com um sorriso nos lábios. Agora o custo desta situação é enorme: esta equipa merece tanto, mas tanto, o que está a viver que nos deixa em pânico a pensar em tudo o que um Sportinguista pensa quando as coisas estão a correr bem [e que os outros nem sabem, nem sonham]

    Venha o Boavista, agora sim o jogo mais importante de sempre!

    SL

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    1. Caro João,

      Venha o Boavista primeiro. É preciso ganhar em campo. Se ganharmos e, assim, ganharmos o campeonato, desconfio da minha utilidade social futura.

      SL

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  7. Caro Rui Monteiro
    Dois longoooos pontos, é como ir de Viseu à Serra da Estrela. Ainda deve estar frio por lá, mas o queijinho, o pão e o vinho da Serra aquecem e bem! Aqui não há nada que aqueça. Nunca mais é terça -feira!

    Booa semana de trabalho. Quarta cá estarei à espera da sua crónica. Campeão, de certeza.
    SL

    João Balaia

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    1. Caro João,

      Esperemos que sim! Foi à espera dessa crónica que andei a escrever mais de um década.

      SL

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