Na terça-feira, jogava-se o jogo pelo qual esperava há dezanove anos. Em bom rigor, só no final sabia [e soube] que era o que esperava. Durante estes anos, outros jogos houve que podiam ser como este, o jogo por que tanto esperava. Não eram ou acabaram por não ser porque acontecia Sporting. Sporting também é nome próprio de qualquer acontecimento natural ou sobrenatural desde que disponha de duas características relacionáveis: elevada improbabilidade e impacto profundamente negativo no Sporting como equipa ou clube de futebol. Há vários exemplos: o falhanço a um par de metros da linha de baliza do Bryan Ruiz na época de 2015/16, a falta do Luisão sobre o Ricardo na época de 2004/05 ou o golo marcado com a mão pelo Ronny – jogador do Paços de Ferreira – na época de 2006/07.
Um sportinguista experimentado pressente quando pode acontecer Sporting e na terça-feira os sinais não deixavam margem para grandes dúvidas. Os sinais começaram cedo, logo na primeira parte. Pressão alta, Feddal a antecipar e a ganhar a bola, Nuno Santos a partir à desfilada com ela até a chutar, de longe, contra o poste. Canto do lado esquerdo, centro do Nuno Mendes e cabeceamento ao lado do Paulinho. Pedro Porro a respeitar a desmarcação do Pedro Gonçalves e a meter-lhe a bola para ele pressionado rematar fraco, fraquinho, acabando a passar ao guarda-redes. Jogada do lado esquerdo do Pedro Porro que vai metendo para dentro, à procura do melhor momento para rematar, até o conseguir e a bola embater num defesa e deixar o João Mário completamente isolado que remata ao lado. Nuno Santos e Nuno Mendes engendram um ataque pelo lado esquerdo com o segundo a rematar à barra. Outro canto do lado esquerdo, novo centro do Nuno Mendes e Gonçalo Inácio a entrar ao primeiro poste e a cabecear ao lado.
Subitamente um sinal contraditório: Feddal a lançar comprido para o João Mário que avança, flete para o meio, dá de caras com dois adversários, rodopia para o lado contrário e mete a bola no Nuno Santos que, isolado do lado esquerdo, a centra para o meio onde estava o Paulinho a encostá-la com a canela para a baliza. Um pouco mais tarde, novo sinal: jogada do Boavista pelo lado esquerdo do ataque, centro rasteiro para a entrada da pequena área, remate de primeira de um avançado para o lado direito do Adán quando este se deslocava para o seu lado esquerdo e defesa instintiva com a mão. Talvez não fosse acontecer Sporting, talvez!
No início da segunda parte, os sinais de que ia acontecer Sporting voltaram com maior intensidade ainda. Excelente tabelinha entre o Nuno Mendes e o Paulinho com este a acertar com a bola no guarda-redes na marcação de uma “penalty” em corrida. Bola metida pelo Pedro Gonçalves para magnífica desmarcação do Paulinho que demora tanto, mas tanto a tentar dominar a bola com o pé direito para a passar para o pé esquerdo que acaba por a rematar contra as pernas de um defesa. Nova jogada do Pedro Gonçalves pelo lado esquerdo, centro para a pequena área e o Paulinho a meio metro da baliza a acertar de raspão com a cabeça na bola e a fazê-la passar ao lado. Desmarcação do Pedro Gonçalves para as costas da defesa, passe perfeito do João Mário e remate ao poste. Nova desmarcação e novo “penalty” em corrida marcado pelo Paulinho, agora por cima da baliza. Paulinho, sempre o Paulinho a procurar que acontecesse Sporting. Tão pouco tempo no clube e já uma elevada compreensão do destino, do seu destino.
A equipa estava a jogar bem e o Rúben Amorim hesitava e não fazia substituições, quando havia jogadores que não podiam com uma gata pelo rabo. Faltava que os jogadores do Boavista fizessem o que era suposto fazer para que acontecesse Sporting. Os minutos foram passando e nada, não havia maneira de acontecer Sporting. Pela minha cabeça ia passando o pior: o golo do Boavista, a derrota contra o Benfica e um último jogo contra o Marítimo a fazer reviver velhos fantasmas. O jogo acabou e não aconteceu Sporting. Será que não aconteceu Sporting ou não aconteceu de todo? Somos campeões?
Caro Rui,
ResponderEliminarparabéns por escrever a crónica que esperava há 19 anos!
Todos nós, Sportinguistas, sabíamos que podia acontecer Sporting... foi por isso que não vi o jogo na televisão, mas sim no portátil, com o cursor do rato na baliza adversária, como quem indica o caminho do golo...e fui tentando várias combinações de cruzamento de pernas para ver qual daria resultado para a obtenção do tal resultado...
Sabia que eu, na mesma maneira que estes jogadores sempre acreditaram, teria que acreditar que seria possível não acontecer Sporting...e por isso fui acreditando e vendo os segundos darem lugar aos minutos... e estes se irem acumulando ao bater do coração...para no fim me perguntar: Somos Campeões?
PS: o Paulinho é um verdadeiro matador, penso que na terça deve ter matado muita gente do coração.
Saudações Leoninas caro Campeão Rui!
Sérgio
Caro Sérgio,
EliminarO Paulinho ia-nos matando, é um facto. Depois de ver tanta oportunidade falhada, estava mesmo à espera que acontecesse Sporting. Deve ser da estrelinha do Rúben Amorim.
SL
Pois, é mesmo, mas mesmo isto...
ResponderEliminarFaltou-lhe falar num outro sinal que claramente indicava que ia ser mais um daqueles momentos "Sporting": a lesão do Pedro Porro...
Vi nas lágrimas do nosso lateral a antecipação do choro de todos os sportinguistas por mais um daqueles momentos que tudo indicava que ia de novo suceder.
Felizmente não aconteceu e posso agora ver com serenidade os dois próximos jogos do SCP, do principio ao fim, sem que a minha frequência cardíaca atinja os 100 bpm sem me mexer do sofá...
José Carlos
Caro José Carlos,
EliminarÉ verdade. Faltou a referência à lesão do Pedro Porro. Parecia que estava tudo alinhado para a desgraça-
SL
Caro Rui Monteiro
ResponderEliminarAinda tenho esperança que se faça justiça ( o processo ainda está a decorrer ), mas ganhamos o campeonato de 2015/2016. As falcatruas do benfica fora muitas nesse campeonato. Basta ler os emails e o caso da " Mala Chao "
No Campeonato da mão do Rony, se não estou enganado, perdemos no último jogo. O Sporting estava já ao intervalo a ganhar 3/0 à Académica e a um ponto do Porto. O Porto estava ao intervalo empatado com o Aves 1/1 e precisava de ganhar. Mais, se o Aves perdesse descia de divisão. Era o jogo de vida e de morte para ambos. Foi neste jogo que o Pinto da Costa se achou mal ao intervalo e desceu ao balneário ( do Porto ou do Aves, nunca se soube ). Na 2.ª parte, o Porto marcou mais 2 golos e muito facilitados pelo guarda-redes do Aves, ganhando o campeonato e o Aves foi para a 2.ª Divisão. Já agora, sabe quem era o guarda redes do Aves nesse jogo? NUNO ESPIRITO SANTO. Sabe para onde ele foi na época seguinte? Para o Porto. Sabe quanto jogos fez na época seguinte pelo Porto? Nenhum.
Tudo normal, não é verdade Sr. Pinto da Costa.
Um abraço
Meu caro,
EliminarVamos festejar este e logo pensamos nesses que ficaram lá atrás. O que se passou e se tem passado é uma vergonha, que nos envergonha a todos como portugueses. Quem sabe se com este vitória do Sporting os ares do futebol português não mudam?!
Um abraço
Caro Rui Monteiro,
ResponderEliminarQuem esperou 19 anos para ser campeão, podia esperar 19 anos e dias por esta crónica tão desejada!
Por incrível que pareça e ao contrário de muitos jogos este ano (os últimos minutos de alguns deles, nomeadamente com o Porto e sobretudo Braga, não consegui ver) estava tranquilo.
Conforme e bem descreveu nos últimos anos talvez tenha acontecido muito Sporting e esta 3ª feira tínhamos mesmo de vencer, por ELES e por NÓS!
Viva o Sporting!
Frederico Fernandes
Caro Frederico Fernandes,
EliminarNão vi os últimos jogos. Neste estava confiante. Não, não era possível acontecer uma desgraça. Conforme o Paulinho ia falhando comecei a ficar em pânico e só não deixei de ver porque estava com uma pessoas amiga.
SL
19 anos de indiretas e picardias
ResponderEliminarRespondidos com competência
Mas a resposta à tua Magnífica crinica está nas palavras semanas antes do grande Pinto da Costa
“Em condições normais o Porto é campeão “
Viva a anormalidade de ganhar quando temos que ganhar
Espero que esta aura de anormalidade aguente mais dois jogos
Muitos parabéns meu amigo
Forte Abraço
Caro António,
EliminarO PdC mandou-nos duas arbitragens bastante normais para o padrão habitual contra o Braga e Nacional. Mesmo assim, não deu. Este ano foi ano de anormalidade.
Grande abraço
Caro Rui,
ResponderEliminarEste era o momento porque tanto esperámos e a sua crónica também não desiludiu. Parabéns.
Também ainda não acredito bem no que se passou. Todos sabemos que em condições normais o Porto ganharia, o Rui aproveitou aqui para mencionar alguns exemplos dessa normalidade. Por algum motivo os astros andaram desalinhados e até conseguimos ganhar com o Godinho.
Tudo fica bem quando acaba bem. Mas hoje volta a normalidade. Como já tinha aqui previsto, com Tiago Martins. O futebol Português continua a não enganar, mas parece-me que o Sporting conseguiu enganar o futebol Português. E isso é motivo de ainda maior orgulho.
Saudações Leoninas e Viva o Sporting, Somos Campeões!
Caro João,
EliminarMelhor comentário da época: "O futebol Português continua a não enganar, mas parece-me que o Sporting conseguiu enganar o futebol Português". É isto mesmo.
SL
Caro Rui,
ResponderEliminarsó para lhe deixar um abraço (de campeão - já nem me lembrava como é que eram)!
De Jardel a Paulinho, houve poucos Liedsons, alguns Kokes, Diabys, Purovics e Saleiros.
Houve, também, Slimanis, Dosts e, imagine-se, Monteros (uma ligeira provocação).
A espera foi tão longa como o foi o desejo pela festa.
Somos Campeões! Mas, antes, durante e depois disso, seremos sempre Leões. E é isso que nos mantém por cá, quer nos Dias de Sporting, como nos Dias à Sporting (que são tantos...).
Um grande abraço