quarta-feira, 22 de julho de 2020

Será que Jesus já regressou?

Ontem de manhã, enquanto tomava café, assisti a uma reportagem da CMTV a partir Aeroporto de Lisboa, da Portela ou Humberto Delgado, conforme os gostos e feitos. Uma repórter [é assim que se diz, não é?] informava-nos que Jesus estava de regresso, havendo dúvida se se encontrava ainda sobre o Oceano Atlântico ou se, entretanto, tinha atingido a costa do continente africano. 

“Será que Jesus já regressou?”; esta dúvida assolou-me de quando em vez o pensamento durante o resto do dia. 

O Sporting jogava contra o Setúbal. Vi entrar em campo os nossos jogadores acompanhados de onze separadores de autoestrada, em betão. Iniciado o jogo, ou a bola ou os nossos jogadores iam embatendo nos referidos separadores. Nem a bola nem os jogadores os ultrapassavam, embora tombassem sempre que a bola neles embatia ou os jogadores neles tropeçavam. Cada vez que tombavam, entrava a assistência rodoviária da Brisa para os voltar a pôr de pé. Ao intervalo, a equipa do Sporting dispunha de mais de 70% de tempo de posse de bola, concluindo-se, assim, que sempre que a bola saía do campo o tempo de (não) jogo contava para os separadores. 

“Será que Jesus já regressou?”; voltava-me ao pensamento enquanto esperava pela segunda parte. 

Os separadores de autoestrada voltaram e permanceram muito arrumadinhos a cumprir a sua função de separar. E assim se continuou o resto do tempo: de um lado, a baliza, do outro, a bola e os jogadores do Sporting. A bola continuou a embater nos separadores e os jogadores também. Os separadores continuaram a tombar, continuando a entrar também a assistência rodoviária da Brisa para os pôr de pé. Um ou outro separador foi ficando lascado de tanto tombo, sendo necessário substituí-lo, chegando a entrar um separador muito forte [na área da resistência dos materiais também se pode utilizar a expressão "gordo"?], um superseparador ou um separador em betão pré-esforçado, em linguagem técnica. No final, a equipa do Sporting dispôs de mais de 70% de posse de bola, contando como tempo de (não) jogo dos separadores as saídas de bola do campo. O jogo concluiu-se empatado, demonstrando-se a superior qualidade de construção dos separadores, apesar dos problemas de dimensionamento, com um centro de gravidade demasiado distante do chão, gerando problemas permanentes de estabilidade estática.  

Será que Jesus já regressou?

13 comentários:

  1. O Sporting está no ponto para jogar à rabia. O que não é pouco, pois significa solidez defensiva. Só que é mantida com falta de audácia lá na frente, a que se soma a "verdura" do onze. E funciona contra camiões e contentores, mas não será tão eficaz com equipas como aquela que vamos defrontar na jornada derradeira.

    Há muito potencial colectivo que tem de vir ao de cima. Se calhar, é mais fácil com jogadores que somem raça e experiência (o que não quer dizer nem violência, nem idade).

    Mas só o final da próxima janela de transferências pode ditar se há de facto uma mudança de rumo desta direcção, para lá da sua propaganda silenciosa (literalmente). E que seja mesmo dela, e não apenas de Ruben Amorim. Nenhum treinador deve ter tudo às costas. Mesmo que queira, como aconteceu com outros que estão prestes a ressuscitar onde foram crucificados.

    Para já, o que tem vindo a lume no papel de atear carvão e o passado recente aconselham pelo menos reserva. Mas só isso já é uma conquista, pois há um par de meses, nem isso havia. Se fizerem o que fizeram até aqui, não há nada para ninguém. E não pode haver para eles também.

    PS: MESMO ASSIM, lá ficou um erro grave do árbitro, segundo os paineleiros do apito do boletim da fruta, a espoliar o Sporting dos 3 pontos. Se não fosse isso, estávamos (eu estaria) a dizer as mesmas coisas, mas concluindo que... lá ganhámos. Só que não. O portageiro achou que não chegava para levantar a cancela.

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    1. Meu caro,

      Acho que há um pouco de Paulo Bento no Rúben Amorim. A equipa está mais compacta a defender mas no ataque falta o Liedson. No jogo de ontem, no meio daquilo tudo, numa hesitação, num atraso ou noutra coisa qualquer o Liedson tinha marcado.

      Os sportinguistas têm que compreender que o problema não são os jogadores, nunca são os jogadores. Já tivemos grande equipas com grandes jogadores e equipas muito fracas como a actual. No final, ganham o mesmo. Basta pensar mais recentemente o jogo contra o Moreirense e, pelo vistos, o jogo de ontem. Será que se diria o mesmo se tivéssemos mais quatro pontos?

      SL

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  2. rui monteiro , grande sentido de humor a juntar á realidade .

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    1. Obrigado. A realidade dispensa o humor ou, de outra forma, não vale a pena fazer humor quando o humor acontece durante noventa minutos, jogo após jogo.

      SL

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  3. Mais uma vez brilhante !

    Só um pequeno reparo. O JJ aterrou no Aeródromo de Tires.

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    1. Obrigado. Será que a CMTV sabe disso? Às tantas ainda estão à espera dele. Eu fico à espera do habitual milagre do Ferrari, que o Rui Vitória não sabia conduzir.

      SL

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  4. Caro Rui, grande posta!

    Os separadores fazem parte da bola não jogada. Temos de começar a jogar com uma equipa de demolições. E outra a auxiliar oftalmologicamente os árbitros.

    Jesus está entre nos, isso merece um abraço

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    1. Obrigado Gabriel.

      Não peço uma equipa de demolição completa. Bastava o Liedson. A expectativa do regresso do Jesus foi maior do que a expectativa do regresso de Jesus.

      Um abraço

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  5. Caro Rui,

    Excelente post!

    Na preparação para um campeonato português a sério um jogo contra separadores de autoestrada e respetivas equipas de manutenção e reparação é fundamental. Neste jogo-treino ficou claro que nos falta a componente das demolições. Como refere Liedson era bastante forte nesse capítulo.

    Identificado o problema temos várias semanas pela frente para encontrar uma solução. Pode vir do mercado, do exército de emprestados (Gelson Dala?) ou, em última análise, passar a jogar com o Coates na área adversária desde os primeiros 10 minutos e não apenas nos 10 últimos...

    SL

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    1. Caro João,

      A ideia de colocar o Coates desde os primeiros dez minutos e não apenas nos últimos dez minutos, é um grande passo para a humanidade e, em particular, para Sporting.

      SL

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  6. Lembro-me de um gozo cla´ssico, da lampionagem, alegando ter havido um treino do Sporting contra onze bidons e ninguém ter conseguido marcar sequer um golito.

    O jogo a que se refere o postal deve ter tido separadores de um lado e bidons do outro. Arbitrado por um pino, claro.

    Talvez com um pinheiro, daqueles bem enraizados, nos tivesse-mos safado...

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    1. Meu caro,

      O tal pinheiro tinha-nos dado jeito. A melhor forma de ultrapassar separadores que, como próprio nome indica, separam é passar-lhe a bola por cima. Para isso é preciso estar lá o pinheiro (ou um eucalipto, como o Bas Dost).

      SL

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    2. Isso! Um eucalipto é que era!

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