Estava a ver na televisão uma peça sobre a morte de um grande homem, Moniz Pereira. Este grande senhor do desporto nacional, foi incansável no seu trabalho, foi de extrema dedicação, querer, disciplina e perseverança e assim fez de nós um país maior e um povo melhor. Infelizmente logo de seguida assisti ao vídeo promocional da Volta a Portugal que passa na RTP. Se por um lado vemos uns que se agigantam e com eles nos agigantam, por outro vemos outros que na sua estreiteza mental tudo parecem fazer para nos diminuir enquanto povo e país. Foi o reviver de uma visão bolorenta do país.
No referido vídeo promocional vê-se, ao som de um animado e
estridente grupo folclórico, uma série de figurantes com capacetes de
ciclistas. A particularidade, sublinhada de forma substancial pela banda
sonora, é o facto de todos os figurantes, que procuram representar os
portugueses de norte a sul, envergarem trajes regionais ou de ranchos
folclóricos.
Ficou-me a ideia de que saindo-se dos arredores do gabinete
onde foi imaginada esta brilhante campanha promocional, o que vamos encontrar,
para além da habitual e elogiada paisagem e gastronomia, são uns rústicos,
parolos ou saloios pouco importa, cristalizados no tempo a quem simpaticamente a
RTP emprestou uns capacetes para lhes emprestar também a modernidade. A Volta a
Portugal fica assim anunciada como uma volta por um pitoresco Portugal dos Pequeninos.
Deve ser do calor mas só posso concluir que o António Ferro
fez escola na RTP e que a sua mensagem patriótica, paternalista e ruralista está
para durar. Poderia perder mais algumas linhas numa análise mais profunda à
deturpação sociológica e antropológica que estas mentes, provavelmente circunscrevidas
pelo “brunch” nos Olivais e o “sunset happy hour” em Chelas, ou
vice-versa, fazem do país onde (não) vivem, mas tenho a malta à espera na
camioneta e tenho é que pegar no acordeão e fazer-me à estrada e cantar os feitos
dos grandes como o Moniz Pereira e esquecer o Portugal dos pequeninos e os seus
estereótipos.
O meu aplauso de pé, sem acordeão, bombo ou ferrinhos!...
ResponderEliminarObrigado meu caro mas olhe que por vezes um bombo faz algum jeito para sublinhar algumas ideias.
EliminarSL
Outro. Ja' o acho ha' uns 30 anos...altura em que era adolescente.
ResponderEliminarAcredito pois, infelizmente, há coisas que tardam a mudar.
EliminarSL
Excelente post. Aconselho apenas a rever "circunscrevida" para "circunscrita". E depois de o fazer pode apagar este comentário.
EliminarMuito boa análise do nosso país...
Obrigado. Quanto ao conselho que também agradeço, não vejo necessidade de alterar pois “circunscrita” pode soar melhor mas “circunscrevida” é um sinónimo reconhecido, até pelo corretor de texto do Word e quanto ao significado pretendido, ajustada pois:
Eliminarcir·cuns·cre·ver |ê| - Conjugar
(latim circumscribo, -ere)
verbo transitivo
1. Traçar em redor de.
2. [Geometria] Traçar uma figura geométrica por fora de outra (ex.: circunscrever uma circunferência a um triângulo).
3. Marcar os limites de. = DELIMITAR, LIMITAR
4. Ter em si. = ABRANGER, CONTER, ENCERRAR
5. Impedir a propagação de (ex.: circunscrever uma epidemia; circunscrever um fogo).
verbo pronominal
6. Ter como limite; ter determinado limite (ex.: não tem arrojo e circunscreve-se aos lugares-comuns). = LIMITAR-SE
Palavras relacionadas:
circunscrito, circunscritamente, limitado, limitar, circunscritivo, confinar, delimitar
"circunscrever", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/circunscrever [consultado em 05-08-2016].