Com a saída do Rúben Amorim para o Manchester United instalou-se a [grande] confusão no Sporting em pouco mais de uma semana. É obra! Assiste-se a uma luta de argumentos [mais emocionais do que racionais] entre sócios, adeptos e comentadores [com e sem cartilha]. Ainda não se chegou a consensos, mas para lá se vai caminhando: todos estamos gratos ao Rúben Amorim, aqueles que o queriam como treinador do Sporting e aqueles que simplesmente o abominavam. Não se pretende tanto agradecer-lhe, mas, por oposição, concluir que o João Pereira não serve e o Varandas ainda menos.
O Rúben Amorim não se portou muito bem. Assumiu o compromisso de levar esta época do princípio ao fim, tendo como objetivo o bicampeonato. Assumiu esse compromisso perante os sócios, os adeptos e, pior do que isso, os jogadores, condicionando as suas opções. Apareceu-lhe uma daquelas propostas que acontece uma vez na vida. É complicada a decisão, todos nós sabemos bem o que isso é. Quantas e quantas vezes assumimos compromissos relativamente aos quais nos arrependemos? Arrependemo-nos, mas cumprimos, é a nossa palavra.
É que se havia circunstâncias que podiam impedir o cumprimento desse compromisso, então não havia compromisso nenhum e tudo não passava de banha da cobra. Se havia essas circunstâncias e eram do conhecimento da Direção, então, não deveria ter começado a época sequer. Não se pode é constituir uma equipa de futebol para dar resposta às idiossincrasias técnico-táticas de um treinador como o Rúben Amorim e, depois, ficar com a criança nos braços.
A equipa do Sporting é uma obra de autor. No seu contexto, o Rúben Amorim é um género de Manuel de Oliveira do pontapé na bola. Não conheço nenhuma equipa que jogue como o Sporting. Não conheço nenhuma equipa que tenha um plantel como o nosso, constituído por 6 ou 7 defesas centrais, nenhum defesa lateral [mesmo contando com o Esgaio e o Fresneda], extremos que fazem de laterais e de extremos ao mesmo tempo e [só] três jogadores do meio-campo. Com a forma de jogar do Sporting e o seu plantel, que treinador [desempregado] com experiência e curriculum está disposto a pegar na equipa e fingir que é o Rúben Amorim, deixando tudo como está? Esse treinador não existe [ou ainda não existe, podendo ser o Rúben Amorim se continuar a perder jogo sim, jogo também].
Não era simples [nem isenta de controvérsia] a substituição do melhor treinador do Sporting dos últimos cinquenta ou sessenta anos. O Varandas devia ter sido claro quanto a isso e às dificuldades que por aí vinham. Não o foi, porventura porque os sócios e adeptos nunca costumam estar disponíveis para ouvir a verdade ou por amizade e deferência com o Rúben Amorim. Preferiu explicar-nos que estava tudo previsto e que o Rúben Amorim estava a ser clonado há muito tempo, como se isso fosse possível. O João Pereira foi corajoso e aceitou o desafio. Parece-me uma missão impossível, mas continuo a pensar que seria uma missão impossível para qualquer outro treinador.