segunda-feira, 26 de abril de 2021

Normal anormalidade ou anormal normalidade?

Não vi o jogo contra o Braga. Não vi porque não quis ver. Não ando bem-disposto e o futebol ainda mais mal disposto me deixa. Artur Soares Dias, o homem que impediu a vitória contra o Famalicão após ter vislumbrado pela televisão um ligeiro roçagar do braço do Coates num borboto da camisola do guarda-redes, era uma garantia de que mais bem-disposto não ficaria. Estava enganado, o homem trocou-nos as voltas e ao trocá-las trocou-as ainda mais aos do Braga, foi assim que entendi a conferência de imprensa de Carlos Carvalhal.  

O Braga estava a jogar belissimamente nos primeiros vinte minutos, quando estavam onze contra onze, com oportunidades atrás de oportunidades. Vem Artur Soares Dias e zás, expulsa o Gonçalo Inácio, e quebra a hegemonia até então do Braga. Viam-se os jogadores do Braga a gesticular e a apontar para outro jogador como responsável pela falta, incrédulos, sem nenhuma vontade de ver expulso o Gonçalo Inácio e de jogar contra dez quase oitenta minutos. Como nos explicou o treinador do Braga, jogar contra o 5x4 ou o 5x4x0 do Sporting não é para qualquer um: é preciso andar com a bola de trás para a frente e de frente para trás, rodear a defesa, jogar entrelinhas e mais outras coisas igualmente difíceis.

Foi difícil, muito difícil para o Braga, que só conseguiu criar dez oportunidades de golo, segundo Carlos Carvalhal, muito aquém do potencial da equipa quando joga contra onze e não contra dez, deduz-se. Era também a isto que se referia Pinto da Costa a propósito da normalidade e da sua relação com a previsível vitória do Porto no campeonato. Em condições normais, onze contra onze, o Braga teria ganhado ou não fosse a equipa que melhor joga em Portugal. Em condições anormais, a vantagem é desvantagem, onze parecem dez e dez parecem onze, e tudo se inverte, tudo fica de pernas para o ar, como é característica da anormalidade. 

8 comentários:

  1. Caro Rui,
    eles querem todos é nos fazer passar por anormais, com a conversa deles.
    Talvez o segredo desta caminhada tenha a ver com isso mesmo, com o facto de nós nos deixarmos passar por anormais, mas nós , melhor do que ninguém, sabemos que o normal é anormal e de forma normal vamos mantendo o anormal, que é a única forma de o Sporting poder ser campeão neste lodo normal que é o futebol português.
    Saudações leoninas,
    Sérgio

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    1. Caro Sérgio,

      Fomos nos fazendo de desentendidos, como se o campeonato não nos dissesse nada e só nos interessasse o jogo seguinte. Só que após um jogo outro se segue até ao fim. Não davam nada por nós até que chegou o mês de janeiro onde tínhamos a Taça da Liga, jogos contra o Benfica, Porto e Braga e tantos jogos como os adversários. Era suposto termos caído com estrondo. Nada disto, ganhámos e ampliámos a vantagem. Só aí é que começaram a perceber que talvez fosse de nos levar a sério.

      SL

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  2. Excelete crónica, explicou muito bem o que se passou na cabeça do Carvalhal, e olhe, não é facil!
    O problema do Braga é que não tem Porro, nem Matheus Nunes.

    Contava-me, há uns 50 anos, um tio que emigrou para o Brasil, antes da segunda guerra Mundial : O Botafogo era uma equipa vulgaríssima mas tinha o Garrincha que quase sòzinho ganhava os jogos.
    As individualidaes ainda decidem e o Matheus já o tinha feito contra o Benfica.
    SL

    João Balaia

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    1. Caro João,

      Ouvia-se o Carvalhal e era como se se estivesse a queixar de jogar contra dez, como se o prejudicado tivesse sido o Braga. Finalmente, uma troca de olhares entre Porro e Matheus Nunes e está ao caso arrumado.

      SL

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  3. Ontem vi a verdadeira versão do Bobi e do tareco. O final do jogo com entrada " à Porto " no campo, por aqueles energúmenos, finalizando com a agressão ao jornalista d TVI ( estou curioso para saber a opinião - sempre atenta nestas coisas- do Miguel Sousa Tavares jornalista da TVI sobre esta agressão ao seu colega, pelo seu Porto ) culminando com a ameaça pelo Pinto da Costa e a investida dos seus " guarda costas ". Isto é, o melhor dos filmes italianos - em primeiro , no Estádio, " FEIOS, PORCOS E MAUS " do Hetor Schola e no final as melhores imagens da vendeta de " O PADRINHO."
    E andamos nós indignados com a justiça ou injustiça no caso Sócrates e ninguém se indigna com estes bandalhos do Porto que prevaricam há mais de 30 anos.
    Até quando?
    Um abraço.

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    1. Meu caro,

      Isto parece um filme a preto e branco, uma coisa do tempo da lei seca no Estado Unidos. Só faltou o James Cagney a fazer o papel de rufião.

      SL

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  4. Caro Rui,

    Também ouvi, incrédulo, a conferência de imprensa do Carvalhal. Foi o momento alto da noite, depois de um jogo intenso mas estragado aos 20 minutos por uma daquelas decisões que só vemos mesmo contra o Sporting.

    A verdade é que a anormalidade anda muito normal, ou talvez seja este um novo normal, como dizem. Não sabemos. Até ver 2 cm ainda são mais de 10 cm, e uns treinadores fazem, mas outros que não fazem parece que pagam mais do que os que fazem.

    Parece que não digo coisa com coisa. Pode ser do novo normal, ou simplesmente estar pasmado com a fabulosa época deste Sporting de miúdos e graúdos de quem já ninguém esperava nada.

    Venha o Nacional, que o jogo também vale 3 pontos.

    SL

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    1. Caro João,

      Ninguém percebe nada, é um facto. Até eu estava a ficar descrente. Do nada, de repente, dá-se a volta a um jogo praticamente perdido. É preciso muita crença para se dar a volta a um jogo como o do Braga.

      SL

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