O distanciamento social é fundamental para quebrar cadeias de transmissão mas nem sempre é possível evitar o contacto e o risco de contágio no que respeita à seleção nacional. O Fernando Santos faz a convocatória, promove a requisição civil e não há remédio, os jogadores têm de ir e não há volta a dar. No regresso vêm com um vírus altamente transmissível: o empate. É um vírus especialmente peganhento e não há remédio nem vacina, é esperar e ver se passa, fazendo quarentena e testando, testando sempre. Os jogadores estão assintomáticos, parecem como sempre até serem testados, jogo atrás de jogo. Há duas semanas que davam positivo até que, na sexta-feira, contra o Farense, o teste deu negativo.
O vírus pega-se mais depressa aos
treinadores do que aos jogadores. Quando se começa a ver muitos jogadores no
meio-campo, muita troca de bola para os lados e tentativas de meter este ou
aquele jogador mesmo que não seja na sua posição natural, é o sinal, o sinal de
que o treinador contraiu o vírus do empate. Se o Bragança está a jogar bem e o João
Mário não está a jogar mal, então a solução é colocar os dois a jogar, mesmo
que o segundo tenha de deixar a sua posição natural, no centro, um pouco à
frente do Palhinha. Perde-se velocidade, verticalidade, acutilância para se
ganhar posse de bola e maior proteção da defesa, o clássico modelo de jogo do
Fernando Santos. Há quem diga que se passou do 3x4x3 para o 3x5x2, com o Pedro
Gonçalves a jogar mais no meio. Nos jogos, vejo o João Mário mais numa ala, na
ala esquerda, só que uma coisa é o João Mário outra, bem diferente, é o Nuno
Santos. Os laterais encontram-se entregues à sua sorte (ou azar) e a capacidade
de pressionar alto e de surpreender o adversário reduz-se.
Este jogo não foi um bom teste
para confirmar este diagnóstico. O Farense enfiava biqueiradas atrás de biqueiradas para a frente e pressionava, procurando ganhar a primeira ou a segunda bola
como se não houvesse amanhã. Num campo onde se espera ver jogar um Merlin ou um
Cavinato, esta tática (?) faz andar a bola aos trambolhões, aos trancos e
barrancos. O ressalto, a confusão e a trapalhice constituem o novo normal e os
lances de perigo resultam de acasos, de bola paradas, de um ou outro
contra-ataque. Esta tática e a dimensão do campo dificultam a análise e
ninguém consegue dizer quem jogou melhor, quem mereceu ganhar, admitindo que o
resultado não bastasse.
O jogo decide-se sempre pelos
golos que se marcam e não se sofrem e, assim, o Sporting mereceu ganhar porque,
bem, porque ganhou. Relativamente aos dois últimos jogos, que empatámos, concedemos
mais oportunidades de golo ao adversário e valeu-nos o Adán, que fez uma ótima
exibição. Mas tivemos mais oportunidades de golo e o Beto, guarda-redes do
Farense, fez melhor. Há duas defesas completamente impossíveis, após
cabeceamento do Coates e de remate enquadrado do Paulinho com a baliza
completamente aberta à sua frente. Destas, das que parecem golos cantados,
o Adán fez uma só [fez mais umas tantas mas os jogadores do Farense estavam em
fora-de-jogo, não contando para as estatísticas]. Se o melhor em campo é o
jogador que mais influenciou o resultado, então prémio devia ter sido atribuído
ao Beto e não o Adán [embora continue a merecer uma estátua].
“E se for falso negativo?”, é
a pergunta que fazemos. É que o Rúben Amorim está de quarentena, na
bancada, a ver os jogos enquanto combina as compras da semana e trata de outras
miudezas do seu dia-a-dia. Segundo o Conselho de Disciplina, os sintomas, os verdadeiros sintomas não são os
empates mas os palavrões. Num clube de aristocratas, de croquetes, como se costuma dizer, que
não ganha o campeonato há um ror de tempo, o empate não é, nunca pode ser
sintoma de doença, nem da doença dos empates. Melhorámos com um treinador sem estes sintomas no banco, embora preferisse o Emanuel Ferro,
um nome mais sólido, num momento em que todos tremem.
Caro Rui:
ResponderEliminarIsto das viroses hoje em dia é algo de muito flutuante, com riscos muito grandes.
Quem viu o Famalicão jogar contra o Sporting, na passada semana, em Alvalade, até ficou a pensar que lhes teriam dado alguma vacina, tal a energia e garra que colocaram em campo no jogo inteiro. Já hoje, uma semana depois, contra o Portimonense, o efeito deve ter passado, porque jogaram atabalhoada e lentamente e, naturalmente, perderam.
Aliás, ultimamente, decerto pela energia de alguma ben$ão de algum papa, as equipes que jogam contra o Sporting demonstram uma energia muito acentuada. É caso de estudo!
Um grande Abraço
José Lopes
Caro José Lopes,
EliminarCada vez que uma equipa destas joga contra nós é como se os seus jogadores estivessem a jogar o último jogo das suas vidas, é um facto. Há várias razões para isso e as principais não são muito lisonjeiras para estes jogadores e estas equipas, é um facto também. É um caso de estudo como diz. Porventura, deve ser da cor das nossas camisolas.
Abraço
Paulinho que é, seguramente, bom jogador precisa de um requerimeto em papel selado para rematar à baliza. Como o papel selado saiu de cena ainda o Paulinho 2 não era nascido o melhor é atirar à baliza sem papel . De preferência sem atirar ao boneco, como em Faro.
ResponderEliminarSL
João Balaia
Caro João,
EliminarO Paulinho quer ser aceite pelos outros, pelo grupo. Foram dois falhanços miseráveis. Se era para passar, então passou mal, quando chutou, na outra situação, acertou no boneco quando o mais simples talvez fosse não acertar.
SL
Caro Rui,
ResponderEliminarMais uma excelente crónica! É um deleite ler este blog!
Recordo-me da imunidade adquirida pelo defesa central mais influente do segundo classificado, quando, no jogo em Portimão, se lesionou. Mais tarde, o seu treinador disse tudo, quando se referiu à utilização de outro jogador pela seleção do México: "É o clube que lhe paga..."
Para esta gente o futebol não é um desporto e o campeonato não é uma competição. Ambos são uma guerra! Que o Sporting Clube de Portugal seja campeão e lhes ensine o que eles nunca aprenderam.
Abraço e SL
Obrigado, meu caro.
EliminarNós pagamos aos jogadores e pagamos com este vírus do empate por eles irem jogar com o Fernando Santos. Ninguém sai de uma convocatória e dos jogos da seleção sem saber empatar, sem empatar sempre que possível, sem empatar a toda a cela.
Abraço
Ultimamente as equipas do topo da tabela andam todas a jogar mal ou pouco e daí os empates ou derrotas no caso da equipa da Luz. Nesse caso, a táctica dos 11 contra 10 não foi possível implementar no Sábado passado. O inefável Carvalhal também coleccionou 2 empates e já não se diz que o Braga é a equipa que melhor joga em Portugal. No último embate, o Intelectual Geraldes, agora jogador do RAV, falhou um golo de baliza aberta para não se esquecer da sua ineficácia enquanto jogador do Sporting. Já o FCP de Conceição, o aprendiz de mestre e depois de jogar contra o Tondela cujos jogadores não queriam correr, jogou, ontem, com um Nacional, muito fraco, mas em que alguns jogadores, apenas alguns, queriam jogar e quiçá vencer o FCP; mas outros, aparentemente não queriam, casos flagrantes do GR, que cerca dos 20 minutos quis resolver o jogo desmarcando perigosamente os avançados portitas. Já antes e depois de uma correria do Camacho, travada em falta pelo Zaidu, especialista em dar cacetada, o Bessa faz uma paradinha para indicar ao Marchesin para que lado da baliza iria marcar o penalti. Enfim, os Nacionalistas vão a caminho da 2ª Liga mas com alguns jogadores mais confortados, para irem às compras aos Centros Comerciais. Em resumo, o Conceição ultrapassou o Mestre, tem jogado contra 11, mas, desses 11, alguns não jogam ou até jogam pelo FCP, caso do GR Nacionalista. Finalmente e quanto ao Sporting parece que a táctica é, apenas, todos a defender e depois esperar que o Pote marque golo pois o melhor "9" do campeonato, embora tenha melhor toque de bola que o Sporar, enferma, como este último, de algum divórcio com a baliza. Pelo meio, Ruben Amorim incentiva osJovens da equipa e os mais velhos como o Adan, Coates, Feddal, João Mário, Paulinho e até Palhinha agradecem o Cartão Jovem, com descontos na Carris.
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarParafraseando Mark Twain, os elogios aos Carvalhal e ao Jorge Jesus eram manifestamente exagerados. O Porto é diferente. O Porto não tem ilusões, nunca joga nada e habituam-se assim e a ganhar assim. Nós somos diferentes, não basta ganhar, é preciso ganhar por mais do que um a jogar bem ou então não é ganhar. Estamos a aprender a ganhar, tão-só, jogando bem ou mal, pouco importa.
SL
Caro Rui,
ResponderEliminarMais uma vez uma brilhante crónica que consegue explicar o momento atual do Sporting. Sem dúvida que o vírus dos empates alastra pela seleção de Santos e pode estar por trás dos empates do Sporting. Em Faro pode ter sido um falso negativo, mas também pode ter sido apenas um erro do VAR, que ao contrário dos colegas de jogos anteriores se mostrou em má forma.
Entretanto a minha recomendação está em linha com a sua: eu apostava no Emanuel Ferro, que depois de trabalhar com o Silas e outros afins só pode ter desenvolvido muitos e bons anticorpos contra o vírus dos empates! (e a prova está no desempenho que tivemos enquanto foi ele o treinador principal)
SL
Caro João,
EliminarEstou de acordo consigo relativamente ao Ferro. Depois do Silas, se ele não tem anticorpos, então ninguém tem.
SL