quinta-feira, 22 de abril de 2021

Até ao fim

O Sporting corre o risco de não ganhar o campeonato, foi o que mais ouvi e li ontem e hoje, depois do empate contra a B-SAD [uma equipa de futebol sem adeptos com nome de laranjada]. Nos últimos jogos, a equipa apresenta um jogo empastelado, com muita troca de bola atrás e no meio e pouca capacidade de gerar desequilíbrios ofensivos, diz-se também. Onde é que está a novidade? A novidade é que corremos o risco de perder o campeonato em maio na pior das hipóteses. Essa é a novidade, pois o que estamos habituados é a correr o risco de o perder e a perdê-lo muito antes, muitas vezes antes de se iniciar. Quanto ao estilo de jogo, o que mudou é que nos últimos quatro jogos sofremos quatro golos, uma média de um por jogo, abaixo do desempenho até então. No passado goleávamos por um a zero e agora um golo [ou dois, como ontem], não chega para ganhar.    

Ontem não começámos mal, bem pelo contrário, mas, primeiro tiro, primeiro melro, para a B-SAD. Biqueirada para a frente [para tirar a bola da zona de pressão, como dizem os atuais entendidos do futebolês nacional], bola ganha na lateral, Gonçalo Inácio não pressiona como deve, Palhinha distrai-se e não acompanha a desmarcação nas suas costas, Coates vem à dobra e a bola passa-lhe pelo meio das pernas [tendo as pernas praticamente fechadas], Matheus Reis chega tarde e não se consegue antecipar e um avançado limita-se a encostá-la para a baliza. Continuámos como se nada fosse e criámos um par de oportunidade [o Tiago Tomás tem de aprender a acertar na baliza mesmo quando remata de olhos fechados], com o João Mário a falhar um “penalty”, para colocar a cereja em cima do bolo da primeira parte.

Ao intervalo, sai o Tiago Tomás e entra o Nuno Santos, iniciando-se a segunda parte com mais velocidade e intensidade e mais um par de oportunidades falhadas, com o Palhinha voltar a ganhar de cabeça nas bolas paradas e a não marcar. Mas um azar nunca vem só e novo tiro, novo melro, para a B-SAD, agora com elevada nota artística do Adán, que foi assolado por quatro ideias ao mesmo tempo para se desfazer da bola e, depois de um curto-circuito nas sinapses, acabou por a deixar direitinha para um avançado a voltar a encostar para a baliza. Dois remates à nossa baliza e estávamos a perder por dois a zero. Há quem chame a isto eficácia, tendo a chamar-lhe galo, conceito que tem vindo a ser desenvolvido nas universidades mais prestigiadas do mundo. 

Perdido por cem, perdido por mil, entrámos no modo onde vai um, vão todos, com o Coates a ponta-de-lança, o Tabata e o Nuno Santos abertos nas alas, o Jovane um pouco mais atrás, o meio-campo entregue ao Bragança e ao Pedro Gonçalves e o Nuno Mendes e o Matheus Nunes transformados em centrais para melhor se transportar a bola para a frente. Atacando a toda a largura, o B-SAD teve de se ajustar e o congestionamento no centro foi-se desfazendo. Com mais linhas de passe, o transporte de bola passou a ser mais simples, o cerco apertou-se e a vontade, a crença fez o resto. De um péssimo resultado chegou-se a um mais ou menos, mantendo-se a invencibilidade, o melhor registo de sempre de um clube centenário. 

Este final de jogo abre uma esperança. No pior dos contextos, a perder por dois a zero, os jogadores não desistiram e evitaram males maiores. Não, não é para todos. Mas é preciso refletir e retirar ilações deste resultado e desta série de três empates em quatro jogos. É necessário perceber bem o papel desempenhado pelo Paulinho: ou é um avançado que recua em apoio e é necessário que alguém entre em profundidade ou, então, acaba por ser mais um jogador de meio-campo sem conseguir chegar à área em tempo oportuno [a solução talvez seja a de o colocar mais na frente, menos móvel e mais posicional]. As alas não podem ficar exclusivamente para os laterais pois, caso sejam bloqueados [o Pedro Porro não se consegue libertar sozinho das marcações, contrariamente ao Nuno Mendes], estamos condenados a congestionar a zona central e a não dispor de espaço. O Nuno Santos e o Tabata demonstraram que se pode contar com eles para dar mais largura ao ataque. O meio campo está muito estático: se se compreende o posicionamento do Palhinha, compreende-se menos que o segundo médio não se liberte mais para o ataque ou, de outra forma, está-se sempre em desvantagem a atacar. A defesa está a vacilar [o Matheus Reis não deixa de ser um lateral adaptado] e é necessária mais concentração. Estes são os palpites de um treinador de bancada. O Rúben Amorim é que sabe e tem demonstrado que sabe. Vai ser até ao fim, jogo a jogo, sendo certo que não venceremos nem perderemos o campeonato antes de ele acabar. 

9 comentários:

  1. Olá Rui,
    Antes lia muitos blogs. Agora já não leio quase nenhum. Todos somos adeptos, mas cansa ler quem escreve sempre como um adepto desesperado (ou super esperançado). Eu gosto dos realistas e ponderados. Por isso os seus posts são dos poucos que ainda leio. Tem tudo o que eu procuro num bom post, e ainda consegue acrescentar a ironia (para mim a melhor forma de humor), e o bonus de aprender sempre qualquer coisa de cultura, seja literária ou outra qualquer (hoje foi cultura pop, e laranjada B-Sad fez me rir num dia onde não tive outra oportunidade de o fazer). Obrigado e por favor continue!
    SL
    Roberto

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    1. Caro Roberto,

      Muito obrigado.

      Convém ser realista e não dramatizar. Nada está ganho, nada está perdido e no balanço dos ganhos e perdas estamos quatro pontos à frente. Só é pouco porque chegámos a ter dez pontos de avanço.

      SL

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  2. Viva,
    começo por dizer que estou de acordo com o Krpan... e por falar en Krpan.... faz-nos falta um ponta de lança com golo... se tivessemos um, a nossa vantagem seria bem maior ainda... o Coates a ponta de lança tipo Jardel não seria nada má ideia... mesmo sabendo que nos faz falta um Coates lá atrás, mas hoje mais do que nunca, faz-nos falta o Coates à Jardel lá na frente.

    Por último, uma palavra para os adeptos do Sporting... parem de ter medo... parem de dizer que já estão mesmo a ver, só para o sofrimento ser menor no caso de não vencermos o campeonato... para mim, mais importante que ser campeão... (até porque isso de ser campeão é festejo de 7 dias e depois começa tudo de novo)... dizia eu, mais importante que ser campeão é andar na luta, é ter vontade que venha o próximo jogo...é ver que no 11 estão jovens formados no Sporting e não emprestados com nomes esquisitos...
    ...por isso, não tenham medo de perder, e aproveitem para se deliciarem com esta época do Sporting.
    Saudações Leoninas,
    Sérgio

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    1. Caro Sérgio,

      Já escrevi sobre isso uma vez, embora não me lembre quando. Não sei sequer se demora 7 dias. Ganha-se e dois de ganhar esquece-se e pensa-se no próximo. O que conta, o que verdadeiramente conta é o processo, a sucessão de jogos e as alegrias (e tristezas) de cada um.

      Este ano tem sido uma delícia. De repente, uma equipa de miúdos, dos nossos miúdos, com mais uns tantos graduados que precisavam de uma última oportunidade, tornam-se invencíveis. Não há nada que nos tire as alegrias que nos deram.

      SL

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  3. Rui Monteiro, como agora se diz , vimos o mesmo jogo, você ai no belo Minho, eu na Sintra dos Palácios.
    O Sporting corre o risco de não ganhar o campeonarto há 19 anos. Essa é que é essa. Mas nunca, nesses anos, esteve tão póximo.
    Os adeptos sportinguistas deixaram-se contagiar pela comunicação social, paga para ajudar o dono.
    A Direção também está muda, ao contrario do "papa do norte" que teima em ir e não ir. Manda sempre as suas conhecidas bocas e sai em todos os jornais. Do Sporting aparece, de vez em quando, o Director de informação em traje de gala! Vistam os macacos, apoiem a equipa, não deixem Amorim sòzinho com as feras!
    SL

    João Balaia

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    1. Caro João,

      Será frustrante se não ganharmos, é um facto. mas temo-nos divertido ao longo da época e nada impede que nos continuemos a divertir até ao fim. Em janeiro, quando os outros deixaram de ter competições europeias e passámos a jogar tantos jogos como eles e a defrontá-los diretamente, também nos davam como acabados. Não conseguiram e conseguimos ampliar a vantagem.

      O jogo contra a B-SAD só tem uma qualificação: galo, muito galo. Nos últimos jogos, é cada tiro, cada melro. Não dura sempre.

      SL

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  4. Caro Rui,

    Excelente análise, não só do jogo, como do momento. Penso que os Sportinguistas se queixam de barriga cheia. Andamos há quase um ano a ver jogar uma equipa com tantos jogadores Portugueses, muitos dos quais jovens da formação do Sporting, a dar tudo em campo e sem se deixarem perder. É verdadeiramente histórico. Ao invés de andarmos preocupados com as grandes desgraças que aí podem vir, devemos desfrutar do momento.

    Isso não nos deve impedir de ver o que não está bem. A defender a equipa parece estar mais exposta. O modelo de jogo já é mais conhecido pelos adversários. Não se percebe se a equipa consegue explorar da melhor forma o facto de ter agora um ponta de lança a sério, ou se pelo contrário nos torna mais previsíveis. Tenta-se também aproveitar a boa forma do Bragança dando-lhe os minutos que merece, mas no global não sabemos se temos conseguido tirar benefício. Não sei se o Jovane, o Nuno Santos e o Tabata não poderiam aparecer mais. Muitas dúvidas, já poucos jogos para as esclarecer pelo que o melhor será confiar que quem lá está é que sabe, até porque já mostrou que merece essa confiança.

    SL

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    1. Caro João,

      Não temos assim uma equipa com muitas soluções. Se um jogador baixa de forma ou se se lesiona não temos alternativas em muitas posições. Acho que o Jovane, o Nuno Santos e o Tabata são boas soluções. Mesmo que não seja para entrar de início, custa vê-los menos utilizados, mas outros, como o Bragança, o TT ou o Pedro Gonçalves têm feito por merecer. Tendo a preferir no ataque mais jogadores com golo na ponta da chuteiras, porque rematam, porque vão para cima do adversário, porque desequilibram no um para um ou porque metem mais velocidade. É verdade que também são os que fazem a equipa correr mais risco.

      SL

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