segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Prà rua ou prò c@&@#$o

Ligo a televisão na TVI para ver o jogo do Sporting contra o Paços de Ferreira, o grande Paços de Ferreira que fez tremer o gigante Benfica, treinador pelo não menos gigante Jesus ao ponto de necessitar de um cabeceamento do árbitro para ganhar no último minuto. Começa o jogo e começo a ouvir os comentários do Dani. Fazia o mesmo sentido aquilo que dizia como fazia se estivesse a passar um documentário do Discovery Channel. Aliás, as semelhanças dele com o David Attenborough são incríveis: nenhum deles percebe nada de bola, com exceção do David Attenborough. 

O Sporting começa por insistir, insistir no ataque. Moita-carrasco, o Paços de Ferreira não respondia. E, pouco a pouco, o Sporting parecia ter desistido. Os jogadores do Paços de Ferreira foram arrebitando, conforme iam ouvindo o Dani, ou vice-versa, não sei bem. De repente, com três toques apenas se escreve a palavra mãe, das palavras pequenas a maior que o mundo tem: Coates lança em profundidade, o Nuno Santos desvia de cabeça e o Tiago Tomás de primeira enfia a bola ao ângulo. 

O Tabata [dão-se alvíssaras a quem me explicar que jogador é este, de onde vem, para onde vai e se vai e leva uma muda de roupa] corre pelo lado direito e sozinho, junto á área, enfia uma biqueirada para a bancada. Mensagem de WhatsApp recebida: “Este Tabata está a gozar comigo”. Resposta imediata: “É um brinca na areia, é o que é”. Golo, Tabata! Correção, correção: “Não é um brinca na areia, nada disso, peço desculpa”. Jogada incrível do Sporting: troca de bolas entre o Palhinha e o Porro, lançamento de bola para a diagonal do Tiago Tomás que a segura, deita uma e outra vez o defesa enquanto espera para a passar ao Tabata que a ajeita para o pé esquerdo e a enfia ao ângulo outra vez. 

Não, não estou preparado psicologicamente para ver o Sporting jogar tanto. Vale-nos o Neto [“desculpa Neto!”] porque, sem ele, era um cabo dos trabalhos e uma discussão sem fim para se encontrar um ponto fraco da equipa. Começo a acreditar que os três centrais são para isso mesmo, para jogar o Neto e não perdermos muito tempo a apontar o patinho feito. De outra forma, ou se recorria a uma análise do Instituto Ricardo Jorge ou nada feito.

A segunda parte foi mais do mesmo. Entusiasmo do Dani com as transições do Paços de Ferreira, com os seus ataques vertiginosos e os seus defesas laterais transformados numa dupla-dupla, numa dupla mesmo dupla, melhor dizendo. “Falharam na finalização, não tem mal, há que treinar mais, mas os princípios de jogo estão lá”, diz o Dani, enquanto me lembrava da rosca do Neto para a própria baliza e a única defesa do Adan. Os nossos estavam com os princípios todos e com os finalmentes também e marcámos mais um, deixando mais três ou quatro para quem os apanhar. Por via das dúvidas, marcou o Palhinha para não se inventar mais uma falta do Coates. 

O árbitro Pinheiro fez um bom jogo, um jogo como deve ser. Não foi por ele que o adversário ganhou. E amarelo para o Palhinha. E amarelo para o Nuno Santos. E amarelo para o Ferro que também não parece de ferro [“eu sei, eu sei, foi ao Vital, mas não se pode perder este trocadilho da treta”]. Esperava ansiosamente que seja mostrado o amarelo ao Paulo Cintrão, debalde. Lembro-me de uma mensagem de WhatsApp inicial de um amigo que estava a ver o jogo na Sporttv:”Eu ponho-te na rua, c@&@#$o!, diz o árbitro a um jogador do Paços de Ferreira”.

Finalmente percebe-se, percebe-se tudo: a forma educada como se trata os jogadores do Sporting. O árbitro está disposto a mandar um jogador do Sporting para a rua, mas nunca para o c@&@#$o, para o c@&@#$o só os adversários. Sei bem o que isso pode representar para o crescimento de um jovem e para a sua autoestima. Fui um pouco “nerd” na adolescência, mas, durante o ciclo preparatório, tinha a mania de ser engraçadinho [achava que assim impressionava um miúda pela qual esperei como esperei pelo amarelo ao Paulo Cintrão]. Os professores mandaram-me várias vezes para a rua e saí sempre feliz. Não sei o que teria sido de mim se me tivessem mandado para o c@&@#$o.

9 comentários:

  1. Brilhante, mais uma vez. Esperamos as suas crónicas mais "ansiosamente" do que espera o cartão amarelo para Paulo Cintrão :)

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  2. Bem metido o Instituto Ricrdo Jorge.
    Apetece chorar ao ver o Sporting jogar.
    Como prêmio está prometido um Alcochete 2

    Prò c@$lh@o

    João Balaia

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    1. Caro João,
      A malta não tem juízo e ponto final. A forma como esta equipa joga e o seu espírito faz lembrar a primeira época completa do Mourinho no Porto.

      SL

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  3. Ahaha o Neto.... acho que serve para isso mesmo, em caso de dúvida e a perder, não haverá qualquer dúvida que será sempre o primeiro a sair. :-)

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  4. è brilhante quando diz que os comentários do Dani fazem tanto sentido " ... como fazia se estivesse a passar um documentário do Discovery Channel." é que é essa sensação que eu tenho quando o ouço, "este jogador ou esta equipa tem muita qualidade" repete isso um número infindável de vezes por jogo, fico com a sensação que o Mendes ou outro agente do jogador, lhe paga ao comentário, mais objectivamente, o que parece é que o rapaz tem falta de léxico Português.

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    1. Meu caro,
      A linguagem é pouca ou nenhuma. Repete-se e repete as mesmas expressões vezes sem conta. Talvez fosse capaz de dizer mais alguma coisa se tivesse palavras para isso, mas, como costumo dizer, o conhecimento e a linguagem são uma e a mesma coisa.
      SL

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