É insólito ver jogar o Sporting num campo que mais parecia o campo de treinos do Estádio do Fontelo, em Viseu, da minha infância e adolescência. Mais insólito ainda é começar por sofrer um golo do Belenenses SAD que tinha anunciado estar em “layoff”; e o golo foi marcado nem mais nem menos do que pelo Licá, jogador que se encontra reformado há um par de anos. Não se pode pedir aos jogadores do Sporting para também estarem atentos a uma situação que se encontra na esfera de competências da Autoridade para as Condições de Trabalho. Mas a equipa recompôs-se rapidamente porque era dia de homenagear o Mathieu e o primeiro golo foi uma lembrança, uma simpatia do Coates, seu colega de sempre.
Não se pode descrever o segundo golo no mesmo parágrafo do primeiro. Não se mistura o género humano com Manuel Germano ou a beira da estrada com a Estrada da Beira. O Jovane Cabral marca depois de um movimento que ainda hoje não foi possível levar à prática nem na patinagem artística, nem no ballet, apesar das tentativas, quer de Katarina Witt, quer de Rudolf Nureyev, no século passado. O terceiro do Jovane Cabral na marcação de uma grande penalidade acaba por ter uma história curiosa [fico na dúvida se não devia mudar de parágrafo também]. Na primeira tentativa, ainda antes do remate, o guarda-redes sai da baliza, simulando para a sua direita mas acabando por se lançar para a esquerda, e defende com a ponta dos dedos a bola entretanto rematada. Como o guarda-redes se adiantou antes do remate, o árbitro manda repetir e, à segunda, o Jovane Cabral não perdoa. A curiosidade, a surpresa não é suscitada nem pelo “penalty”, nem pelo remate, nem pelo golo: cinquenta anos de sportinguismo depois, vejo um árbitro mandar repetir um “penalty” a favor do Sporting depois de uma primeira tentativa falhada.
Não sei se estou preparado para viver com a aplicação das regras nos nossos jogos. Deixa de ser bingo e passa a ser futebol e abre-se um admirável mundo novo, em que não somos a equipa do campeonato com mais amarelos ou o Coates deixa de saltar sem dois ou três jogadores adversários às cavalitas. Muita coisa me passou pela cabeça: jogar contra dez ou nove jogo atrás de jogo; dispor de uma dezena de minutos de desconto sempre que conveniente; ver o Acuña a vociferar e a aviar adversários sem levar cartões; ouvir os comentadores da arbitragem explicar o inexplicável; ler n “A Bola” hossanas e hossanas à visão, engenho e capacidade de gestão de qualquer presidente com bigode.
Ao intervalo, parecia que queríamos tornar este jogo ainda mais épico ao trocar o Jovane Cabral pelo Francisco Geraldes. Como adepto sportinguista, desconfi(n)ado por natureza, imaginei a transformação do milagre em tragédia, com títulos do El Pais e relatórios da Organização Mundial de Saúde a falar de “disaster recovery”. Mas, ao passarem minutos atrás de minutos sem ver ninguém a estrebuchar, moribundo, com uma das chuteiras de um jogador treinado pelo Petit atravessada na carótida, compreendi melhor o que se passou (passou-se?): negociámos um armistício que permitiu concluir o jogo-treino com o Borja, o Doumbia, o Battaglia, e o Ilori ao mesmo tempo em campo, como contrapartida a deixar o Jovane Cabral no banco.
Temos a melhor equipa desconfinada da Europa e o melhor jogador desconfinado do Mundo. Os progressos são incríveis e vêem-se à vista desarmada em momentos de jogo tão simples como no olhar penetrante do Borja na sua habitual marcação com os olhos ou na troca de bola de pé para pé durante dois minutos dos referidos Borja, Doumbia, Battaglia e Ilori. O Amorim demonstrou que as aulas presenciais e o ensino formal mais não servem do que para destruir as competências das pessoas. Queremos continuar desconfinados mas sem início de ano letivo!
O Sporting de Amorim continua a tremer na saída de bola, quando o adversário marca a nossa defesa e no caso particular, os jogadores adversários tentam imitar um mestre da cacetada, como Petit. O árbitro deixou os de Belém bater impunemente mas, resolveu e bem, repetir a marcação do penalti. O que passou-se? Como diria o grande mestres dos cambalachos. Continuo a achar que Amorim, para além das suas qualidades técnicas, trouxe para Alvalade, um "plus" que se revela nalgum respeito que a arbitragem passou a ter pelo Sporting; não posso provar e "No creo en brujas, pero que las hay, las hay"
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarAquela saída de bola com três centrais e dois médios ainda me deixa arrepiado. Só conseguimos atacar quando o Sporar ganha a primeira bola na frente e ela chega ao Jovane Cabral para acelerar. No jogo de ontem foi notória essa incapacidade, sobretudo por o árbitro permitir que os jogadores do Belenenses dessem pau como entendiam, especialmente o central que se fartou de fazer faltas sobre o Sporar.
As equipas estão todas a jogar muito mal e temos beneficiado disso. Para além disso, o Jovane Cabral está numa superforma. Aparentemente terá sido dos poucos que não abrandou os treinos durante o confinamento. A grande vantagem do Amorim é não ter receios nem complexos e isso ajuda a dar confiança aos jogadores.
Quanto ao “penalty” fiquei estupefacto. Já tinha ficado estupefacto com a reversão da decisão no jogo anterior. Como diz, não sei se há bruxas mas parece que elas andam por aí. Talvez só andem porque estes jogos pouco ou nada interessam para a classificação final. Estivéssemos a disputar o título e não sei se assim seria.
SL
Meu caro
ResponderEliminarGrato por recordar o episódio de cinquenta anos depois, um árbitro mandar repetir um “penalty” a favor do Sporting.
Sim, recordo-me bem de presenciar ao vivo no Estádio de Alvalade um Sporting-Académica, em que após duas tentativas falhadas, pelo facto de o guarda-redes Melo (ex-Benfica, o dos 4 golos do Lourenço na célebre vitória por 4-2 no Estádio da Luz) de ambas as vezes, se ter adiantado uns bons 2/3 metros antes de a bola partir, em que o Yazalde (que nunca falhou um penalty) à terceira, e já chateado com aquilo tudo, ter enfiado um balázio que o se pequenote do Melo se tem mexido outra vez, entrava também ele pela baliza dentro.
O Jovane na repetição de ontem imitou o eterno e saudoso "Chirola"!
Obrigado Carlos Antunes. Grande história!
EliminarAs regras deixaram de se nos aplicar e quando se aplicam até estranhamos.
SL
Sousa Cintra, com o verbo que se conhece, disse num certo jogo :"é penalti zorra!". Na verdade, Cintra foi o presidente mais esbulhado. Grandes jogadores, boas equipas mas os apitecos não perdoavam. Ao tempo, falou-se de uma proposta de um ex-árbitro que Cintra terá recusado, o homen foi cantar para outra freguesia mais a Norte.
ResponderEliminarLembro-me de um penalti contra o Sporting num jogo com o Leixões em Outubro de 1972. Damas advinhou e defendeu, o árbitro mandou repetir, alegando que Damas tinha dado uns passos. A repetição deu golo. As coisa ficaram feias, do peão foram arremessadas pedras. Na jogada seguinte há um canto contra o Leixões, sem qualquer dúvida, o árbitro marca pontapé de baliza. Invasão de campo, agressão ao árbitro, termina o jogo aos 10 minutos.
Conta-se que um apitador de Braga, amigo dos calheiros terá dito numa noite de copos :"enquanto a minha geração estiver no ativo o Sporting nunca será campeão". E foram 18 anos.
O penalti marcado por Jovane não teria sido repetido se o Sporting estivessa na luta, tenho a certeza absoluta.
SL
João Balaia
Caro João,
EliminarSe os nossos jogos interessassem para alguma coisa não tínhamos um árbitro a reverter um penalty marcado contra nós e muito menos a mandar repetir outro. Nesta altura, somos um clube simpático e enquanto se fala de nós não se fala dos outros. O costume!
SL
Rui
EliminarEles dizem :"precisamos de um Sporting forte mas não tão forte assim" Ex: o Sporting de 2015/16. Quem viu o Marítimo há 2 dias mandar borda fora o simpatico Lage e viu o mesmo Maritimo x Benfica em 2015/16 ,diria que eram 2 clubes diferentes.
O azar do Benfica foi encontrar o Marítimo em risco de descida no ano em que o Nacional subiu:
O nosso futebol decide-se, muitas vezes, com essas historietas.
O Sporting, desde que vejo jogos, sempre teve que lutar contra tudo e contra todos.
SL
João Balaia
Caro João,
EliminarLembro-me como se fosse hoje desse jogo contra o Marítimo de 2015/2016. A jogar contra dez, o Marítimos fez o favor de não rematar uma vez à baliza. Cada esboço de ataque acabava sempre com um remate despropositado a léguas de distância da baliza. Um dos golos resulta de um livre com a barreira formada como se fosse de propósito para a bola passar. Há jogadores do Marítimo que denunciaram aliciamento como do Rio Ave num jogo a seguir.
Na altura, o Rui Vitória foi considerado o novo Mourinho e assim se construiu a lenda até cair devido aos pés de barro e o homem ser mandado para as arábias. Mais ou menos uma repetição do Lage atualmente (já só faltam as arábias!).
SL