José Mourinho foi para o
Tottenham. Alguns jornalistas, comentadores e adeptos também. Embora estes
últimos mais mal pagos. De repente ficou a saber-se que o Tottenham dispõe de
uma academia com 17 campos relvados e um estádio novo com a segunda maior
lotação da premier league. Diz-se até por aí que uma equipa com o mesmo nome foi
finalista da liga dos campeões do ano passado. A paixão tem destas coisas. Numa das milhares
de reportagens feitas a partir de Londres, um jornalista folheia os jornais
ingleses do dia seguinte à assinatura do contrato (nada que não pudesse ser
feito a partir dos estúdios em Lisboa – seria?), deleitado com as contracapas,
os rodapés, as fotografias, numa demonstração sólida do mais profundo
provincianismo e do jornalismo de encher chouriços.
Entretanto, os restantes jornalistas e
comentadores sobrevoaram o Atlântico para saber quem seria o novo barbeiro de
Jorge Jesus e se este ainda comia peixe todos dias. Continuaram a encher
chouriços até descobrirem um clube de futebol (com regatas pelo meio) e uns
programas de televisão onde apenas se pode participar de megafone ou com uma
garganta de aço inoxidável, programas onde incrivelmente Cristina Ferreira
pareceria uma sussurradora profissional. Nesses programas, onde se mistura
religião e futebol, os comentários baloiçam entre o mais puro chauvinismo e a
hoste dos ressabiados, tudo por causa de um avô que lhes foi dar umas dicas
sobre bola e mastigar chiclete em público, não necessariamente por essa ordem. Os resultados estão à vista. Se Jesus tiver
algum juízo, levanta ferro o mais rapidamente possível e vem treinar o Arsenal,
um clube com um centro de estágios com muitos campos, todos irrigados, e um estádio com apenas
menos dois mil lugares que o Tottenham. Um sonho de menino.
Entretanto, fomos à vida no
futsal. Espero que este feito também seja devidamente reconhecido pela direção,
à imagem do ano anterior.