segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Peditório para a autoflagelação

Não ouvi a entrevista do Presidente do Sporting. Não costumo ouvir nem deste nem de outro qualquer. Não ajudam a compreender nada. O Sporting estava em primeiro lugar. Recebe o Rio Ave em casa e perde por três a dois com três “penalties” contra. Não há memória de tal acontecer, sendo o segundo “penalty” de gargalhada perante qualquer critério e ainda mais pelo critério do árbitro durante o jogo. A cinco minutos do fim, esse “penalty” desequilibra emocionalmente a equipa e determina o terceiro e a derrota. Não acredito que o VAR tenha validado a decisão do árbitro e, portanto, sem validação o árbitro confirmou a decisão inicial sem recurso às imagens de televisão. Em vez de continuar em primeiro, o Sporting entra em crise e despede-se o treinador. 

O Sporting preparou mal a época, é um facto. 

E o Porto? Tentaram e falharam a contratação de pelo menos dois guarda-redes. Veio o guarda-redes e mais dois em cima do início das competições. São eliminados na Liga dos Campeões por uma equipa de pernetas. Entretanto, contra o Guimarães, aos quarenta segundos, passam a jogar contra dez, depois de uma expulsão ridícula, seguida de outra, mais tarde, por o jogador discutir mais uma decisão errada do árbitro. Em Portimão, ganham por um contra uma filial depois de um “penalty” mal marcado a seu favor. 

E o Benfica? Tentaram contratar um guarda-redes aleijado. Contrataram dois avançados por cerca de quarenta milhões de euros que o Bruno Lage tem de meter  a jogar quer queira quer não queira. A equipa leva um banho em casa para a Liga dos Campões. Leva outro banho em casa contra o Porto. As vitórias são arrancadas a ferros, com a última fora contra o Moreirense precedida de falta do Rúben Dias.

Estou esclarecido há muitos anos. Não há batota nenhuma, não interpretem mal. O Porto saiu ilibado do Apito Dourado e o Benfica tem dirigentes que fazem tudo e de tudo para impressionar a direção, contra a sua vontade. O que é que o Presidente do Sporting pode dizer que não esteja à frente dos nossos olhos? Quantos presidentes, treinadores e jogadores precisamos mais para perceber o óbvio? Para o peditório da autoflagelação não dou, seja o presidente mais ou menos competente ou totalmente incompetente, como parece ser o caso.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

A Fórmula

Sou um leitor compulsivo de badanas de livros, porventura só ultrapassado pelo Professor Marcelo. Não havia mal nenhum nisso se não se desse o caso de ser também um comprador compulsivo de livros. Há dias, numa livraria, esbarrei na badana de “A Fórmula”, de Albert-László Barabási, físico, investigador de ciência de redes e professor na Northeastern University. 

Ontem, acabei de ler o livro. O livro procura explicar as razões para que certas pessoas sejam bem-sucedidas e outras não. O sucesso nem sempre está relacionado com cada um e o seu desempenho, mas com a forma como a coletividade o perceciona. Sempre que o desempenho não pode ser medido, o sucesso resulta das redes onde cada um se insere. Sendo o desempenho limitado por definição, o sucesso pode ser ilimitado. Para se ter uma carreira de sucesso é necessário sucesso prévio e aptidão. O sucesso de uma equipa exige diversidade e equilíbrio, mas um único membro obterá o reconhecimento do coletivo. Ser-se bem-sucedido não depende da idade: não se é mais criativo quando se é mais jovem, é-se mais produtivo e ao sê-lo é mais provável o reconhecimento dessa criatividade e do desempenho e sucesso subsequentes. 

Ontem, vi o jogo do Sporting contra o Rio Ave para a Taça de Liga. Não sei qual a relação de “A Fórmula” com o Sporting e, muito menos, com o resultado ou se tem sequer qualquer relação, mas não deixa de merecer reflexão. Espero que o Silas a esteja fazer, seja ela qual for.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

A saga de Frederico*


Tinha saído de um cruzamento com algum tráfego, após se ter perdido numa rotunda, vindo de uma cangosta em terra batida com a ajuda de um GPS. Saiu da viatura a arfar. Olhou em redor. Se olhássemos com atenção víamos mais duas ou três pessoas dentro da viatura. Parece que ninguém o terá acompanhado nessa saída. Estava escuro. Minutos depois voltou a entrar. Um pouco mais à frente encontrou um entroncamento com os semáforos desligados. Deitou à sorte e seguiu com determinação. A noite trazia-lhe agora algumas luzes que lhe deram algum alento. Mas a estrada era secundária e sem grandes referências. Deixou o GPS e urdiu um plano com a cumplicidade dos demais. Não andou muito até encontrar mais uma encruzilhada. Desta vez não hesitou e acelerou. Reconhecia aqueles lugares mas não lhes conseguia dar um nome. Ficou confuso. Já era dia alto quando, finalmente, encontrou o seu labirinto, ficava junto a um promontório que dava para um abismo. Pelo menos não era um beco sem saída.

(* 43º Presidente do Clã Sporting)

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

O que fazer?

Só se vê um jogo de cada vez. Um jogo é um jogo, não é uma época, não é a vida desportiva de um jogador ou de um treinador, não é um mandato de uma Direção. Se não se vir um jogo como um jogo que é e nada mais, está-se condenado a jogar em cada jogo a própria vida. Vamos a uma coisa de cada vez. 

O dado mais evidente desde o início da época é a falta de andamento dos jogadores para jogar noventa minutos contra o mais infeliz dos adversários. Não se sabe se foi pelo jogo a meio da semana contra o PSV Eindhoven, mas contra o Famalicão o estoiro ainda foi mais evidente. A pressão alta não durou uma parte sequer. Na segunda parte, os jogadores do Sporting nem capazes foram de chegar à área do adversário e quando procuraram avançar e perderam a bola os jogadores do Famalicão dispunham de um autêntico deserto para atravessar até chegarem ao golo. Os dois golos que sofremos foram repetidos. 

É culpa do treinador? É e não é. É porque é sempre. Não é, porque existe uma pré-época para se prepararem física e competitivamente os jogadores para toda a época. Não estamos felizmente no tempo em que o Agatão fingia que era preparador físico. Hoje, os jogadores são monitorizados em tempo real e a sua condição física também. Existem departamentos profissionais com técnicos especializados para efetuarem esse acompanhamento e, em conjunto com o treinador e a sua equipa, desenvolverem adequadas metodologias de treino. Como é possível ter-se chegado a esta fase da época com jogadores profissionais a parecerem amadores que treinam no fim do trabalho e fazem umas peladinhas ao fim-de-semana? 

A equipa expunha-se como nenhuma outra a sofrer golos. O treinador mudou o 4x3x3 para o 4x4x2 por força da lesão do Luiz Phellype e da ausência de alternativas, entrando o Miguel Luís. Esta mudança também visava dar mais segurança ao meio-campo, colocando os jogadores mais próximo e expondo-se menos quando passavam a bola ou a perdiam. Mas o Doumbia perde-se e, por isso, entrou o Battaglia no último jogo. Nos dois últimos jogos, a equipa pareceu entrar mais consistente, com mais posse de bola. Pouco a pouco vai-se perdendo a disciplina tática e a bola e a equipa vai ficando exposta. 

É culpa do treinador? É e não é. As alterações faziam sentido. Só que foi como se taticamente a época tivesse começado há três jogos. Um equipa rotinada a jogar em 4x3x3 passa a 4x4x2 com o meio-campo em losango em menos de um fósforo. O Doumbia se andava perdido a seis ainda mais se perdeu neste jogo contra o Famalicão. Sem o extremo do 4x4x3 que acompanhasse o lateral, esperava-se que fechasse o lado de dentro do defesa direito, coisa que não aconteceu. Apesar de tudo, no outro lado, o Miguel Luís cumpriu melhor essa função. O Rosier esteve sempre entregue a si próprio e à bicharada. A tática estava colada a cuspe. 

O que impressiona nesta equipa não é a falta de qualidade dos jogadores. Uma defesa com o Rosier, o Coates, o Mathieu e o Acuña é má? Como é que uma defesa destas sofre tantos golos? Porque a equipa como um todo defende mal. Defende mal porque está mal preparada física e taticamente, porque lhe falta agressividade na disputa da bola, porque a pressão alta é um faz de conta e muito rapidamente é ultrapassada. 

Como é que se chegou até aqui? Como é que ninguém percebeu que não se sabia o que se andava a fazer na pré-época? Como é que se prepara tão mal uma equipa? Há respostas fáceis, mas parcelares e não alinho nelas. Explicam alguma coisa mas não explicam tudo. Nem tudo se deve à substituição do Vietto ou às vendas e aquisições de última hora. A organização falhou de cima a baixo. O que há a fazer? Contratar o melhor treinador possível, em quem os jogadores possam acreditar, começar a época a partir desse momento e fazer figas, muitas figas.

sábado, 21 de setembro de 2019

Soltas da semana

[Sensibilidade de uma porta] 
Ficámos a saber que o Bruno Fernandes procurou explicar a uma porta do balneário do Estádio do Bessa o arraial de pancada que tinha levado dos jogadores do Boavista. A porta não aguentou o drama e cedeu. 

[Nascimento de um mito] 
Perdemos fora três a dois contra o PSV Eindhoven. A eliminatória está bem encaminhada, bastando um a zero em casa. Entretanto, nasceu um mito. O Bas Dost precisava em média de noventa minutos para marcar um golo. Em média, o Pedro Mendes só precisa de dez. 

[Tão grande para um país tão pequeno] 
Domingos Soares de Oliveira, Vice-presidente da Benfica SAD, concluiu que o Benfica é demasiado grande para um país tão pequeno, necessitando de se internacionalizar. É uma pena os tribunais portugueses não deixarem, obrigando a continuar a jogar o campeonato nacional. Num país da dimensão do Benfica, o João Félix teria sido vendido pelo dobro ou o triplo do valor. Num país como Portugal, não se arranja um adversário à altura nem se organiza um casamento barato em condições. 

[Banho tático] 
Acabado o jogo contra o Portimonense, o Sérgio Conceição, vociferando, encheu o Nakajima de perdigotos. O jogador manteve-se impassível, compreendendo o que lhe era dito ao mesmo tempo que agradecia terem-no deixado aquecer para tomar banho.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Ontem foi dia de Liga Europa

Farmácia, dealer, tentei a moderna drugstore, fui ao arquivo e vi vários episódios de Monty Python's Flying Circus, League of Gentlemen, e por aí fora, nenhuma dose de humor por maior que fosse conseguia apaziguar a minha alma, o meu espírito, já para não falar de um cérebro ressacado de tanto aumentar as doses. Ontem foi dia de liga Europa e obviamente perdemos. Sofremos três golos. Sofremos sempre golos. A defesa, bom não quero pensar nisso, são jovens e inexperientes aqueles centrais (risos), e o quarteto nunca tinha tocado junto, bem sei. Mas é a equipa toda que quando defende se desorganiza de uma maneira que qualquer adversário, qualquer um, marca um golo ou dois. A desorganização da equipa a atacar permite ao menos desestabilizar o adversário, e aquele adversário é frágil como se viu, a defender. E não só.

Mas enquanto se cumpria a minha demanda da dose de humor, pensava na loucura deste inicio de época supostamente planeado ao pormenor. Jogadores a saírem no último dia de mercado. A inexistência  de um ponta de lança na ausência de Luiz Phellype. A não inscrição de Pedro Mendes na liga, o que nesta conjuntura é uma mensagem esclarecedora para os outros jovens. Tudo isto cheira a amadorismo e a remates de meia distância de Bruno Fernandes.E  o homem começa a perder a paciência. E é pena, esta equipa tem pernas para andar, mas quando deixar as muletas já estaremos a planear com afinco a próxima época. É uma estratégia que dá sempre frutos.

Agora vou ali aplicar uma boa dose:

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Hoje é dia de Liga Europa

Mas não parece. Não é preciso ser um expert em propaganda e marketing futeboleiro, nem sequer em (des)informação, para perceber que alguns jornais continuam o seu trabalho de cepa em prol de um jornalismo colorido e sensacionalista, mas com uma agenda bem definida. O jornal A Bola, cada vez mais um verdadeiro sucedâneo de O Benfica, faz hoje manchete (gigante) com o guru Domingos Soares Oliveira e as contas positivas do Benfica. Até se fala de aumentar a capacidade do estádio da Luz. Isto no rescaldo da derrota (qual derrota?) para a champions e em dia de liga Europa. O Record também tem uma capa criativa, dando destaque ao Sporting para poder destacar (desculpem a redundância) um (suposto) pontapé de Bruno Fernandes a uma porta (este pormenor é importante) no final do jogo do Bessa. Não consta que este tenha voltado a ser expulso. Curiosamente, o mesmo pontapé surge na capa dos pontapés diários: o Correio da Manhã. Nada de novo, portanto. Nada a não ser o dia escolhido: dia de liga Europa. O pontapé não terá sido fotografado ontem, nem anteontem, nem no dia anterior a esses. Foi no domingo. Não foi? 

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

É de cortar as veias!

Vi o jogo do Benfica contra o Leipzig. Pagar 20 milhões de euros por um nabo espanhol delambido, que nem sequer anda rodeado de raparigas simpáticas, tatuadas e decoradas com “piercings” nem canta “reggaeton”, é de cortar as veias para um qualquer benfiquista. O Varandas não acerta no futebol, mas não erra em tudo. Depois de um curso rápido de cativações com Mário Centeno, ainda fica uma ou outra rotunda ou um ou outro pavilhão multiusos, mas, pelo menos, procura não nos deixar o Aeroporto de Beja ou o Centro Cultural de Belém.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

A mão invisível

“Se me perguntarem se prefiro o Sporting 18 anos sem ganhar um campeonato ou um Sporting a ganhar com um bom investidor, confesso que prefiro a última” 
Henrique Monteiro, “A Bola” de 12 de setembro de 2019 

Ontem, quando estava a ver o jogo contra o Boavista, veio-me à cabeça esta tirada do Henrique Monteiro. Talvez precisemos mesmo de um investidor, mas não de um investidor qualquer, de um investidor que queira simplesmente investir por falta de melhor altrnativa. Precisamos de um investidor que queira mesmo o seu dinheiro de volta acrescido de adequada remuneração e esteja disposto a tudo para que assim seja. 

O Henrique Monteiro acredita na metáfora da mão invisível do Adam Smith. Não precisamos da benevolência de um investidor, mas do seu interesse próprio. Não apelamos ao seu humanitarismo mas à sua autoestima. Se assim for, em seu benefício, conduzir-nos-á a todos (os sportinguistas) à felicidade eterna como se houvesse uma mão invisível. 

Quando o Bruno de Carvalho se candidatou à presidência do Sporting pela primeira vez, anunciou que trazia com ele investidores russos. Nada melhor do que investidores russos para defenderem o seu interesse próprio. Têm-no feito com todas as mãos disponíveis, invisíveis porque ou alguém fica sem elas ou nunca se chega a saber de quem são. 

Imagino uma mão invisível do Samuel L. Jackson a recitar Ezequiel 25:17 na sua versão muito própria: “The path of the righteous man is beset on all sides by the inequities of the selfish and the tyranny of evil men. Blessed is he who, in the name of charity and good will, shepherds the weak through the valley of darkness, for he is truly his brother's keeper and the finder of lost children. And I will strike down upon thee with great vengeance and furious anger those who attempt to poison and destroy my brothers. And you will know my name is the Lord when I lay my vengeance upon thee”.

sábado, 14 de setembro de 2019

Ilicitude lícita ou ilícita licitude?

O caso do Benfica é emblemático. A SAD não irá a julgamento no caso E-toupeira e não é por não existirem provas para o crime, um crime aliás gravíssimo. Existem, diz o tribunal, e "o crime é cometido em nome da Benfica SAD e no interesse da Benfica SAD": Só que "a Benfica SAD não pode ser responsabilizada criminalmente se não se determinar que estava a par, quis e pretendeu, por acção ou omissão, as condutas de Paulo Gonçalves". Portanto, há crime, beneficiou o Benfica, foi feito em nome do benfica, mas Paulo Gonçalves agiu como um lobo solitário porque, conclui o tribunal,o Ministério Público não apresenta provas sustentadas sobre o envolvimento da SAD, baseando-se "em 'parece que', 'suponhamos', ou é 'da experiência comum', pois tal não leva a nenhuma verdade processualmente satisfatória". Maior sova no ministério público não poderia o juiz dar. 
Pedro Santos Guerreiro (Expresso)


Não existe uma moral desta história.  Existe crime mas foi mal provado ou mal sustentado. Logo não existe crime. Quer dizer, existe mas apenas para alguns dos intervenientes. Os outros não sabiam de nada. Quer dizer, até podiam saber, mas não se fica bem a saber se sabiam. A partir de agora já sabemos. Basta um ou dois bodes expiatórios que o ministério público (supostamente) faz o resto.  Talvez seja a tal história da ilicitude lícita ou da ilícita licitude. Temos muito que aprender. 

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Silogismos

[Silogismo aristotélico] 
 Os gatos têm quatro patas? Têm. O Marcolino é um gato? É. O Marcolino tem quatro patas? Tem.

[Silogismo pós-aristotélico] 
O homem era dirigente da organização? Era. O homem respondia hierarquicamente à direção da organização? Respondia. Há indícios da prática de crimes? Há. Nesses eventuais crimes recorreu a recursos da organização? Recorreu. Esses eventuais crimes beneficiavam a organização? Beneficiavam. A organização é responsável? Não.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Atentamente

Não me admira que o senhor do Porto não esteja admirado. Não admira, o apito dourado teve o seu tempo de admiração. Aliás, não me admira que o e-toupeira não admire ninguém. Tudo somado vai dar à rua do costume que ninguém conhece. Não admira. O que me admira, a mim, é o Sporting ser tão solicito a admirar-se com os seus. Sejam estes quais forem. Temos uma história da admiração para escrever, em vários volumes. Em casa tudo bem. O resto fica alinhavado num comunicado. Temos por aqui várias ideias para comunicar que antecedam esse comunicado. Nas entrevistas recentes do (nosso) presidente, ou nos seus arredores, nada nos indica um caminho nesse sentido. Não estou admirado. Tudo o resto é uma soma de não admirações. Não se admirem com o resultado. Será sempre o mesmo. Obrigado. 

domingo, 8 de setembro de 2019

Uma varanda para a outra margem?


Sou do tempo em que as marquises começaram a confundir-se com as varandas e a fazerem parte das nossas vidas. Uma varanda com marquise era mais uma assoalhada a não desdenhar, um aproveitamento do espaço que se fazia à revelia de qualquer sentido estético e sem qualquer (até dada altura) fiscalização das autoridades competentes. Mas uma varanda com marquise não deixava de ser uma varanda, só que com marquise.

Sou um tipo com memória, daqueles chatos que ainda vai lendo umas coisas, daqueles que passou anos a coleccionar revistas, suplementos, a recortar crónicas e a guardá-las como trevos em livros. Nesse sentido, a internet até passou a facilitar-nos a vida, no entanto, com as redes sociais tudo arde mais depressa, inclusive a memória. Mas isso não implica que as coisas (e as palavras) deixem de existir, sucede apenas que ficam por aí, algures.

A entrevista do presidente do Sporting ao canal do clube (passei algum tempo a revê-la e a lê-la), é um desses momentos encenados (todas as entrevistas o são de alguma forma) cuja impreparação de todos os intervenientes roça o amadorismo. Para além de tudo ou quase tudo ser refutável e comprovadamente (lá está a memória e o algures) desmontável, perdeu-se uma oportunidade de luxo para uma demarcação clara do clube no contexto do futebol português. A visão do inimigo interno (qual é a novidade?) foi condescendentemente aplaudida pelo sr. Rui Pedro Brás, perdão, pelo sr. Luís Filipe Vieira. As palmadinhas nas costas de Pinto da Costa já são um clássico.

Dizer o contrário daquilo que dissemos ontem, ou anteontem, não é sinónimo de tontaria, já sabemos o blá blá do futebol, mas dizê-lo confiando que ninguém se recorda daquilo que foi dito, ou agindo como se nada tivesse sido dito, ou pior, fazendo-o como se estivesse a palitar os cérebros dos outros com uma linha condutora perfeitamente definida, não é apenas tontice, mas de uma inabilidade que roça a inaptidão.

Não me ia sequer debruçar sobre essa varanda, mas o Expresso de ontem, lá para a página 35 faz bem essa desmontagem e em poucas linhas. Qualquer subcontratado das pesquisas avulso faria o mesmo. Por exemplo, a contradição sobre a contratação de keizer, alicerçada nos famosos 4 parâmetros definidos pela direcção, supostamente obedecendo a uma busca exaustiva, afinal, foi assim: Keiser aceitou entrar em Alvalade quando nenhum outro treinador queria. Parece que não foi despedido no final da época por que ninguém despede um treinador que ganha duas taças. Para não ser aborrecido podem ler o texto aqui.

Mas o mais importante das entrevistas não foi o que foi dito mas aquilo que (também) foi omisso ou esquecido. Que o futebol cá do burgo tem uma direção bicéfala, não havendo lugar para mais ninguém (muito menos para o Sporting como se tem visto). Nenhuma palavra para o jogo com o Rio-Ave, o último de Keizer, onde a equipa esteve mal, é certo, mas foi muito bem secundada pelo árbitro. Ou alguém acredita que aquilo fosse possível na Luz ou no Dragão? Nada, nem uma palavra.

O facto de termos construído uma marquise a engalanar a varanda não esconde essa mesma varanda. Se calhar, é a mesma varanda de sempre. Até nisso é chato um tipo ter alguma memória.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Keizer: uma boa escolha

Contrariamente a muito boa gente, continuo a considerar que o Marcel Keizer foi uma boa escolha. Por defeito de ofício, começo sempre por analisar resultados e só depois é que passo à sua explicação. A época passada tinha tudo para ser um desastre. Com o Peseiro, a profecia tinha tudo para se cumprir. Não eram só as suas qualidades técnicas e táticas como treinador, das quais desconfio e muito, face aos resultados ao longo da sua carreira e, em particular, nos tempos mais recentes, no Porto ou no Guimarães. Era pela completa desconfiança no seu trabalho, que ia dos jogadores até aos porteiros de Alvalade. 

O Marcel Keizer era uma incógnita mas uma incógnita holandesa, sempre superior a uma incógnita portuguesa, por definição. Para além de dispor do benefício da dúvida, coisa que ninguém se lembraria de conceder ao Peseiro, começou por ser uma lufada de ar fresco e deu-nos ânimo. Depois tudo começou a piorar mas ainda ganhou duas taças. Uma época condenada ao desatino acabou por ser bastante razoável para o padrão do Sporting. 

Como costuma dizer o Pedro Azevedo, do Castigo Máximo, a gestão comprou tempo. O problema é que parece não ter feito grande coisa com ele, não resolvendo os problemas que tinha para resolver e não planeando adequadamente a época nas atuais circunstâncias (sobretudo, económico-financeiras). A equipa não dava mostras de evoluir e os jogadores pareciam não acreditar. Um treinador é sempre primeiro despedido pelos jogadores e só depois pela direção. O tempo que se ganhou esgotou-se e assim o tempo de Marcel Keizer também. Nada de novo. O Paulo Bento fez um feito destes mas em maior. Com umas equipas horríveis, ganhou quatro anos à direção, até passar de “forever” a “never” em menos de um fósforo. 

Como no futuro todo o passado nos parece melhor e como no futuro ninguém se lembrará como se jogava tão mal e se lembrará dos resultados e das duas taças, estamos condenados a acabar por ter saudades dele. Nada de novo, mais uma vez.

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Fácil, fácil!...

O Sporting não me apetece ou não me tem apetecido. Não vi os dois primeiros jogos do campeonato. Vi o terceiro e o quarto por desfastio. Voltei a ver o costume com as explicações do costume. Vi uma jogada de ataque do Sporting que acaba com a bola recuperada pelo jogadores do Portimonense, vi-os perder a bola, vi uma falta, vi marcar livre, vi marcar “penalty”, vi marcar uma falta que não vi e vi marcar um livre pela falta que não vi. Vi marcar um “penalty”, vi marcar outro “penalty”, vi marcar outro “penalty” ainda e vi o que nunca tinha visto e o que nunca se tinha visto. Tudo me foi explicado minuciosamente como se não tivesse visto o que vi ou não compreendesse o que vi, como se fosse cego ou estúpido. Não sou cego, mas estúpido, por ainda continuar a ver o que vejo. 

A culpa é do treinador, deste, do anterior e do anterior do anterior. A culpa é dos jogadores, destes, dos anteriores e dos anteriores dos anteriores. A culpa é da direção, desta, da anterior e da anterior da anteriores, pelo menos. Fácil, fácil!... 

O Pinto da Costa confidenciou que se enganou no nome do treinador anunciado e, como não queria voltar com a palavra atrás, veio o Carlos Alberto Silva em vez do Carlos Alberto Parreira. Ficámos a conhecer duas das suas facetas: era muito religioso e aceitava de bom grado as substituições propostas pelo Pinto da Costa. Esteve duas épocas e ganhou dois campeonatos. Fácil, fácil!... 

O Jesus era o Rei da Tática, o maior entre os maiores e depois não era porque era treinador do Sporting. O Rui Vitória conduzia Ferraris, batia recordes, fazia pisca-pisca à noite quando o Luís Filipe Viera tinha insónias e depois queria-se desfazer do João Félix. O Bruno Lage bateu novos recordes, deu novos mundos ao Mundo, tocou no João Félix e ele levantou-se e andou. Fácil, fácil!...

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Todos pela Amazónia


(...) para seu espanto, percebia que, na verdade, não eram dadas ordens nenhumas e que o príncipe Bagration apenas fazia de conta que tudo o que era feito por necessidade, por acaso ou por vontade deste ou daquele comandante acontecia, se não por ordem dele, pelo menos de acordo com as suas intenções. 

Guerra e Paz, Lev Tolstói 

Estivesse eu com o bom humor em alta e faria referência ao hat-trick do Coates, mas deixo isso para a imprensa desportiva sempre atenta ao Sporting quando as coisas correm de feição. O Coates, já o disse aqui, ainda está de férias, e culpa tem quem o mete a jogar fora dos areais.

Posto isto, temos que abordar o tema referente à família Pinaceae, a dos pinheiros. Neste caso, não se trata (ainda) do avançado que um antigo treinador do Sporting queria como referência estática atacante, não, mas do Sr.Pinheiro, ilustre dignatário da arbitragem que nos foi oferecida este sábado passado.

Três pontapés de grande penalidade em Alvalade? Acho pouco. Ficou a faltar um sobre o Raphinha, mas esse, como o seu autor vai a caminho do Rennes relançar a carreira, o árbitro achou por bem não ver. Mais uma vez o VAR tinha ido ao BAR. É claro que o segundo penálti assinalado contra o Sporting é digno de um devaneio místico, apenas compreendido à luz de um consumo exacerbado de substâncias psicotrópicas, muito comuns em rituais perpetrados por algumas tribos indígenas, nomeadamente em festivais de música e em cangostas do Gerês.

Todavia, as visões místicas muito em voga em jogos do Sporting, não explicam tudo. Não explicam – embora o consumo de algumas dessas substâncias nos pudesse ajudar artificialmente em alguns momentos – o facto de, mais uma vez, a equipa dar a sensação que se tenha conhecido no dia anterior numa discoteca e marcado uma peladinha para as 19 h de sábado. Tudo ressacado obviamente.

O problema não é apenas a defesa, embora o Coates esteja ao nível do meu sobrinho que fez agora um ano, em termos de corridas de gatas. Qualquer treinador adversário percebe que este Sporting, entre linhas, depois das linhas, ao lado das linhas, seja em transições seja em memorandos para o mestre Fernandes, não sabe com que linhas (estejam elas onde estiverem) se cose. A minha avó era costureira, sei do que falo.

Sabe o treinador adversário, mas não sabe o nosso. Não sabe, mesmo depois de um estágio de quase um ano em pipas do melhor carvalho português. Não gostará da pinga? Gosta, mas não é especialista. Talvez fosse um bom funcionário público que em tempos treinou o Ajax jovem nas horas vagas e que, faltando melhor, treinou o Ajax menos jovem durante quinze dias. Depois foi para o Médio Oriente. O Rui Vitória tem por lá grande sucesso, tudo é possível.

Agora, é preciso ter olho para escolher um bom funcionário público exilado no Médio Oriente. Foi isso que fizemos. Não queremos cá especialistas. A começar pelos dirigentes. 

Todos pela Amazónia. Todos pelo Sporting.