segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Porfiando

Este jogo contra o Boavista era o mais importante da vida do Peseiro. Seria ainda pior do que o Lopetegui e o Rui Vitória?, era a pergunta que estava na nossa cabeça e na cabeça dele. Ver o Petrovic no banco foi um primeiro sinal positivo, embora não definitivo. É sempre bom ver que o nosso treinador aprende. A melhor maneira de meter o Petrovic por volta dos setenta minutos é tê-lo no banco. Como se viu no jogo contra o Arsenal, metê-lo a titular limita muito essa manobra tática. Mas havia mais dúvidas e perplexidades que se esperava que este jogo ajudasse a resolver. O Bruno Gaspar ainda é pior também do que o André Almeida? O Mateus (do Boavista) é mais velho do que o Matusalém? 

Os primeiros dez minutos ajudaram a resolver uma destas dúvidas. O Mateus não só é mais velho do que o Matusalém como dispõe de melhor pé direito, como se viu num remate que nos atirou ao poste. Mas, com exceção deste remate, não se viu muito mais do Boavista. Antes desse remate, tínhamos desenvolvido dois lances de perigo que se transformaram num modo de vida durante a primeira parte. O Acuña avançava, o Montero deslocava-se para o lado esquerdo para o apoiar, até sair um centro à espera que o mesmo Montero aparecesse a cabecear. As jogadas do lado esquerdo sucederam-se sempre com os mesmos resultados: ou a bola acabava centrada para o guarda-redes e a defesa do Boavista cortarem ou depois de se ganhar um ou dois lançamentos laterais acabávamos por desistir. Nas duas primeiras, porém, os jogadores do Boavista ainda não tinham percebido que não estava ninguém na área e aliviaram de forma precipitada. Na primeira, o Battaglia rematou para uma boa defesa do guarda-redes adversário. Na segunda, o guarda-redes sacudiu mal a bola e o Bruno Gaspar enfiou-lhe uma rosca por cima da baliza. 

Para variar (de flanco), o Bruno Fernandes sacou um centro do lado direito e o Nani começou por tirar as medidas à baliza com um cabeceamento para mais um boa defesa do guarda-redes. O Acuña continuava a porfiar (há anos que não me lembrava de recorrer ao porfiar em qualquer tempo verbal) pelo lado esquerdo mas não havia maneira de aparecer o Bas Dost; nem o Bas Dost nem o Montero, que insistia em vir tabelar com o ele sem o avisar para esperar um bom bocado até se voltar a meter dentro da área. Por uma vez, a jogada não se repetiu e apareceu o primeiro golo. O Montero foi ao lado esquerdo sem o Acuña por perto, mas com o Mathieu a fazer-se passar por ele, simulou uma vez, simulou outra, até arrancar para a linha e centrar para a entrada de cabeça do Nani. Do outro lado, o Diaby parecia querer começar a aquecer. Ganhou uma bola, foi à linha, atrasou-a para o Bruno Fernandes lhe enfiar uma bica e marcar três pontos para o País de Gales. 

Na segunda parte, o Boavista e o Xistra entraram determinados em expulsar o Acuña. Livre e cartão amarelo para o Acuña (o primeiro do jogo). Entrada de sola sobre o Acuña, dando origem a livre mas sem cartão amarelo. Pontapé no Acuña quando protegia a bola que se deslocava para fora, sem que fosse marcada falta nem, muito menos, mostrado cartão. Finalmente, mais uma entrada sobre o Acuña que deu origem a falta e ao primeiro cartão aos jogadores do Boavista. O Acuña não saiu por expulsão mas por lesão. O objetivo principal do Boavista estava cumprido. 

Na marcação de um livre, o Bruno Fernandes tirou as medidas à baliza e mandou um balázio ao barrote. Como o Nani, esperava-se que depois dessa medição, a seguinte fosse parar dentro da baliza e assim foi. O Diaby, que estava a passar do quente ao rubro, pegou na bola do lado direito, veio para dentro, tabelou com o Montero, foi à linha e, em vez de meter para a molhada à espera que o Montero conseguisse estar em dois lugares ao mesmo tempo, centrou atrasado para a entrada da área onde apareceu o Bruno Fernandes a repetir a marcação do livre mas em corrida. Dois minutos depois, o Diaby voltou a fazer das dele, avançou pelo lado direito e, desta vez, tabelou para fora com o Bruno Gaspar e desmarcou-se para dentro da área para receber a bola. O centro apanhou-o atrasado, mas ainda em condições de tentar um golpe de “jiu-jitsu”, gerando a confusão na área e permitindo um primeiro remate à meia-volta do Bruno Fernandes, contra as canelas dos defesas, seguido de um outro em “smash” do Nani, fazendo a bola bater no chão, sobrevoar a defesa e entrar na baliza. 

Depois do três a zero veio a festa, com o Peseiro fazer o favor de a não estragar com a entrada do Petrovic ou do Castaignos. Entrou o Bas Dost e a equipa passou a jogar ao ritmo do “Thunderstruck” dos AC/DC. A bola não voltou a entrar, embora o Diaby ainda tenha tentado uma picadinha por cima do guarda-redes quando estava isolado, antes de ser substituído (para a ovação) pelo Bruno César (que ressuscitou da tumba onde o Jorge Jesus o meteu por jogar em todos os lugares possíveis, alguns deles ao mesmo tempo). 

Tudo está bem quando acaba bem. Antes do jogo, estava tudo mal. Depois do jogo, está tudo bem. Ultrapassámos o Santa Clara e aproximámo-nos do Rio Ave. O Benfica perdeu e andam todos a rasgar cartões, a insultar o treinador e a marcar assembleias gerais destitutivas. Recuperámos dois pontos ao Braga e mantivemos a distância para o Porto. Como disse o Varandas, queremos os melhores jogadores e o melhor treinador e já faltou mais para isso. Ninguém pediu que fossem bons.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

A grande (des)ilusão


Não se deixem enganar. Alguns comentadores e seus sucedâneos pretendem convencer-nos que o Arsenal entrou displicente, quando o que aconteceu foi uma jogada de grande ilusão. Temos que dar a mão à palmatória. O Peseiro pode não perceber grande coisa de futebol mas começa a ganhar dotes de ilusionista. Ao jogarmos com três pivots (o Rui faz bem a análise na posta anterior), renunciando a qualquer forma inteligente de jogar futebol (com balizas), fechando todos os caminhos tanto ao adversário, como à própria equipa, Peseiro não apenas surpreendeu o adversário e os seus jogadores, como conseguiu criar a ilusão nas bancadas e em casa de que o Sporting estaria (o tempo verbal aqui é fundamental) a disputar o jogo. E conseguiu-o sem qualquer remate enquadrado com a baliza.  Não é fácil.

Como em qualquer ilusão acontecida no Estádio de Alvalade em provas europeias, esta foi sancionada por dois acontecimentos laterais (nada surpreendentes, mas com consequências): um penalti não assinalado e um vermelho a um jogador do Arsenal que por momentos perdeu o norte preocupando-se em travar o Montero que certamente não iria marcar golo, mas ficando o Arsenal a jogar com dez. Uma prova da grande ilusão? Um sms que recebi ao intervalo de um leão dos sete costados. Dizia assim: ganda jogo. É preciso traduzir o ganda?

Engendrada a ilusão, ficaram criadas todas as condições para a… desilusão. E isso aconteceu na segunda parte. Peseiro, no seu íntimo, sabia-o, embora a ilusão criada tivesse enganado até o próprio (como se viu no final do jogo nos seus comentários) criador. Ora, o treinador espanhol dos ingleses lembrou-se dos programas que via quando era pequenino sobre ilusionismo, foi ao google e leu a definição: ilusionismo é a arte perfomativa que tem como objectivo entreter o público dando a ilusão de que algo impossível (ou sobrenatural) ocorreu. Unai Emery sorriu e disse para os seus botões: aquilo não é bem uma táctica, antes uma estratégia, uma cortina de fumo para esconder a existência de balizas. Da conversa que teve com os seus jogadores reza a história da segunda parte. Uma desilusão dizem alguns. Uma injustiça dizem outros. O ilusionista acha que vamos no bom caminho.  

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Passar o Cabo Bojador às arrecuas

O Caminho Marítimo para a Índia não se descobriu de uma só vez. Foi preciso passar primeiro o Cabo Bojador, depois o Cabo das Tormentas, até se chegar a Calecute. O duplo pivô era o Cabo Bojador do Peseiro. Hoje, contra o Arsenal, foi ultrapassado pelo triplo pivô: Petrovic, Gudelj e Battaglia. É uma forma de avançar às arrecuas. Permite pressionar mais à frente (digo eu) e jogar com cinco centrais em caso de necessidade. Não permite é construir pelo meio, mas essa possibilidade estava há muito jogos descartada pelo Peseiro. 

Nós estranhámos esta tática e o Arsenal (felizmente) também. A primeira parte foi o triplo pivô e os outros. O triplo pivô não se dava com os outros e os outros não se davam com o triplo pivô. Os outros foram todos, não olhando o triplo pivô às camisolas, tanto atrapalhando os do Sporting como os do Arsenal. Os do Sporting foram ganhando cantos e os do Arsenal paciência. Oportunidades de golo e remates à baliza é que não se viram. 

A segunda parte prometia. Iria o Peseiro desfazer o triplo pivô? Iria mantê-lo, substituindo o Petrovic pelo Petrovic aos setenta e tal minutos (a substituição do Ristovski, por lesão, pelo Bruno Gaspar ainda mais dever ter embrulhado em hesitações o hipotálamo do Peseiro)? Iríamos assistir à passagem do Cabo Bojador e do Cabo das Tormentas num só jogo, com a entrada do Misic e o quádruplo pivô? E o Arsenal? Continuava a ganhar paciência ou perdia-a de vez e estávamos perdidos? 

Para nosso azar, o Arsenal perdeu a paciência. O Aubameyang (este tipo muda de clube só para nos chatear!) começou por aquecer as mão ao Renan Ribeiro para lhe permitir logo a seguir uma mancha de todo o tamanho. Na pequena área, o André Pinto cortou um remate com o tornozelo que iria levar a bola para dentro da baliza. A equipa reagiu e evoluiu duas fases de uma vez só, passando do triplo pivô ao quíntuplo pivô, sem passar pelo quádruplo, com o recuo do Bruno Fernandes e do Nani, ficando cada vez mais sozinho o Montero. O Peseiro pressentiu o perigo e meteu o talismã do costume: o Jovane Cabral; mas era tarde de mais. 

Todos estávamos a ver que o Arsenal por boas ou más razões acabaria por marcar. De ressalto, com um ataque rápido ou um cruzamento, de remate de fora da área, aproveitando uma buracada da defesa ou um frango. Foi através de uma buracada do Coates, mas podia ser de outra forma qualquer. O Peseiro começou por não reagir, esperando que o talismã ainda produzisse efeito. Não produzindo e por dever de ofício, acabou por tirar o Nani e meter um rapaz que ele, o Cintra e um amigo do Cintra contrataram quando estavam a beber umas minis acompanhadas de uns pires de caracóis, mantendo o triplo pivô com o Bruno Fernandes a fazer de Gudelj. 

Não tivemos uma oportunidade de golo. Não fizemos um remate de jeito à baliza. Marcámos cantos atrás de cantos sem criar qualquer perigo. Quando o Arsenal perdeu a paciência e os seus jogadores desataram a correr e a passar a bola ao primeiro toque deixámos de ter pernas e organização para os deter e, muito menos, para os ameaçar no contra-ataque. Não foi bom. Foi mau. Só que podia ter sido péssimo e não foi. Continua “o nada está perdido” e, enquanto continuar, nada mudará até se ter perdido tudo. Quando é que nós vimos isto?

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

A alucinar

Passei o fim-de-semana com uma constipação das antigas. Com a cabeça a funcionar a anti-histamínicos, decidi ver o jogo do Sporting contra o Loures. Alucinei o tempo todo sem saber se era do jogo se era do sono. Vi um aranhiço gigante com a cabeça do Castaignos e uma girafa que fazia lembrar o Petrovic. Vi um senhor forte no banco do Sporting, nervoso, a olhar para o relógio, a gesticular e a dizer qualquer coisa que ninguém prestava atenção. Parecia um outro senhor que perdeu a final Taça UEFA no Estádio de Alvalade.

domingo, 21 de outubro de 2018

Para a semana o jogo é contra o Arsenal da Devesa (equipa de São José de São Lázaro - Braga), não é?

Por manifesta ignorância e razões gastronómicas comecei a ver o jogo no telemóvel. Fiquei surpreso, não sabia que o Sporting jogava com o Borussia Dortmund. O jogo estava por isso repartido, embora com a intensidade do slow motion do meu velhinho vídeo VHS. Em câmara lenta ganhamos a possibilidade de observar em pormenor o desenho táctico, mas neste caso não se vislumbrava nenhum, o que é óptimo para ludibriar o adversário. Neste caso particular o Loures, perdão, o Borussia de Dortmund vestido de amarelo menos florescente (achei estranho publicidade ao crédito agrícola mas deixei passar), também não tinha um grande desenho táctico e assumia o fato de macaco como umas das belas-artes do futebol. Continuei a ver o jogo, agora na TV. Continuava repartido e em slow motion, o Sporting não conseguia fazer dois passes seguidos e alguns jogadores pareciam do campeonato de Portugal, e não me refiro aos que vestiam de amarelo pouco florescente. Finalmente marcamos à bomba (tinha que ser marcado por um jogador de primeira liga), com o guarda-redes do Dortmund a fazer de guarda-redes do Loures.

Ao intervalo o treinador disse aos jogadores para jogarem contra este Dortmund C como se jogassem contra o Loures em Alverca, e rapidamente estariam a distribuir autógrafos. Foi se calhar por isso que logo no reinício do jogo o Fernandes falhou um penálti de forma displicente. Finalmente dominávamos o jogo (ainda que em slow motion) e dei por mim a ver a história da Maria Leal e do seu marido esquizofrénico, e a forma como esta (supostamente) lhe limpou um milhão de euros enquanto cantava no campeonato do bardo do Obelix.

Entretanto o Nani marcou o segundo e mentalmente marquei o terceiro e o quarto. O Peseiro voltou a jogar contra o Borussia e entrou o Petrovic. Depois de devidamente reforçado o meio campo (?) poderíamos ter sofrido um ou dois golos. Mesmo não trazendo o Paco Alcacer o Dortmund tem bons jogadores na frente. Ainda sofremos um nos descontos depois de lançarmos um puto aos leões para jogar três minutos. Da próxima vez espero que na taça de Portugal não nos saia uma equipa da Bundesliga. Como disse o Peseiro, não seria hoje que iríamos jogar bem. Não explicitou quando será. Talvez para não dar nenhuma vantagem competitiva aos adversários.

Nota: a fabulosa equipa de Folha, o Portimonense, foi eliminada da taça pelo Cova da Piedade.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Os que jogam e sabem jogar e os que não sabem dar um pontapé na bola

Fui jogar à capital europeia da burocracia. Há seleções nacionais, há jogadores, há dinheiro, muito dinheiro que faz de bola ao mesmo tempo, há regras mas não há árbitro. Também se passa uma época toda a preparar esta final, que não é bem uma final, porque a esta se sucede sempre outra e mais outra. Há táticas, há técnica, há modelo de jogo, há quem comente sem nunca ter dado um pontapé na bola mesmo quando ela lhe é passada. No fim, também se ganha ou perde, mas o resultado ideal é o empate para que todos possam reclamar pelo menos uma parte da vitória. Assim, estive com o equipamento da seleção nacional vestido, mas sem direito a festejar golos e a correr para o público a beijar a camisola. Uma maçada, portanto. 

Neste jogo, aplica-se o princípio de que é sempre preferível um acordo a uma boa demanda. A razão só interessa na exata medida que nos permite chegar a um empate ou à vitória que queríamos deixando para os outros a vitória que desejavam também. Tudo isto serve para falar do possível acordo entre Sporting e o Wolverhampton para a transferência do Rui Patrício. 

O Wolverhampton dispõe do Rui Patrício, um dos melhores guarda-redes do Mundo, e parte à frente: ainda sem o jogo se ter iniciado, tinha a parte da vitória que desejava. Estando o Rui Patrício do lado de lá, o Sporting entra a perder, a não ser que não queira chegar a acordo para vir com umas bravatas, na perspetiva conhecida do “com papas e bolos se enganam os tolos”. Se o Sporting aceitar um acordo envolvendo um montante de transferência inferior ao que lhe foi proposto no passado perde. Aceitando um acordo por mais dinheiro, ganha sempre. Pelo caminho, liquida contas com o Rui Patrício, que nestas coisas há sempre uns rabos-de-palha que encravam os acordos. O Jorge Mendes não é para aqui chamado. O que se lhe deve, se é que se lhe deve, diz respeito a outro negócio e não a este. As dívidas pagam-se ou também se chega a acordo para se pagar na parte ou no todo, mas esse é outro jogo. 

O Sporting está em condições para chegar a um bom acordo. Melhor estaria se o Rui Patrício não estivesse a jogar no Wolverhampton e se não se acentuassem as suspeitas de envolvimento da direção do Sporting na invasão de Alcochete. Quem negoceia não determina estas circunstâncias. Mesmo assim, estou convencido que vai chegar a um bom acordo, isto é, um bom acordo para as três partes: Rui Patrício, Wolverhampton e Sporting. Haverá sempre os que vão achar que é uma capitulação, mas esses são os que comentam o jogo sem nunca terem dado um pontapé numa bola, bastando vê-los quando se metem nestas andanças e se lhes passa a bola.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Déjà vu?

Factos:
À sétima jornada estamos no 5º lugar com treze pontos. Temos o 7º melhor ataque e a oitava (por extenso tem outra pinta) melhor defesa.  Sussurram-me que não sofríamos quatro golos para a liga há cerca de dez anos e picos. Estamos tristes, diz ele. É um passo atrás, mas nada nos pode perturbar, diz ele. Ele… é o treinador. Se calhar o problema é ninguém o perturbar. A ele e aos jogadores. Deixem os bocejos para nós, tristes adeptos.

Suposições:
Estes tipos não treinam, ou se treinam tentam disfarçar ao máximo para confundir os adversários. Bom, às vezes lá treinam, mas fora do país. Como na passada semana, na Ucrânia. Aliás, no final desse treino disputado ao ritmo de uma marcha fúnebre, uma verdadeira conspiração cósmica intercedeu, colocando uma mão por debaixo do treinador. Sucede o mesmo com o menino e o borracho. Até quando?

Questões (zangadas):
Se estes tipos não treinam, o que fazem durante aquele tempo todo em que estão na academia? Se o treinador é um especialista em futebol, porque será que nós não temos inveja disso? Se os jogadores bocejam antes de um jogo, isso será ausência de noites bem dormidas? A falta de intensidade demonstrada é um resquício (ainda) de traumas psicológicos? Mesmo daqueles que não estavam na Academia no dia X? A falta de jeito (súbita em alguns casos) de alguns jogadores é para acompanhar a qualidade do treinador? A nossa paciência será um poço sem fundo? Entre outras…

Nota:
Já agora, como se sentiu o presidente sentado no camarote do estádio do Portimonense? O mesmo clube em que o presidente da SAD recentemente agrediu à cabeçada Rafael Barbosa, jogador emprestado pelo Sporting, entretanto recambiado (para os nossos sub 23).


(originalmente publicado aqui)

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Entregar a equipa a quem sabe

Tive que trabalhar no fim-de-semana. Acabei o que tinha de fazer exatamente no momento em que se iniciava o jogo. O estado espírito não podia ser melhor: a consciência do dever cumprido e a perspetiva de ultrapassarmos o Porto e nos aproximarmos do Braga. 

Entrámos como de costume, em modo assim-assim. O facto de estarmos a jogar contra o último não comoveu o Peseiro e mantivemos o duplo pivô porque é sempre preciso cautelas e caldos de galinha. Quando recuperamos a bola, o Gudelj fica mais atrás par sair com ela, optando invariavelmente por a passar para o lado ou para trás não arriscando a avançar com ela ou a fazer um passe que não seja óbvio (meu rico William Carvalho “que te partiste tão cedo desta vida descontente”). O Battaglia avança mais um pouco para atrapalhar a equipa quando perder a bola ou, apertado, não conseguir fazer o passe em condições. Quando perdemos a bola, ficam os dois a olhar um para o outro no meio, deixando os laterais entregues à sua sorte ou à boa vontade dos centrais para ajudarem a fechar do lado de fora. Aquilo que o Battaglia fazia sozinho não o conseguem fazer o Battaglia e o Gudelj juntos. O duplo pivô do Peseiro não é uma tática, é uma superstição! 

Com este meio-campo feito de papel (não me lembro de um corte ou sequer de uma falta do Battaglia e o Gudelj), os dos Portimonense sentiram-se à vontade para trocar a bola sem correrem riscos de maior. Pouco a pouco, foram ganhando gosto e começaram a criar lances de perigo nas alas, dado que, sozinhos contra o mundo, nem o Ristovski nem o Acuna tinham unhas para aquela guitarra. O único que conseguia jogar contra mundo era o Coates. Invariavelmente, ou o lance acabava nele ou acabava em golo, como se viu. No primeiro, o Jovane Cabral perdeu a bola à entrada da área adversário e, como o Ristovski tinha avançado, de repente abriu-se uma ciclovia de trinta metros para um ciclista do Portimonense correr sem qualquer adversário por perto. O Coates, quem mais, ainda o tentou puxar para a linha de fundo e obrigar a parar, mas o dito ciclista depois de parar puxou a bola para dentro e rematou à vontade com o Gudelj não só a não fechar como a aparecer tarde e a más horas e a virar a cara à bola. Os do Portimonense perceberam que se a coisa tinha corrido tão bem não havia razões para não repetirem. Numa outra jogada, ganharam vantagem do lado esquerdo do ataque outra vez, o Ristovski ficou como o tolo no meio da ponte, o Coates teve de vir à dobra, a bola passou na mesma e o mesmo ciclista foi à linha, parou, rodou e, com todo o tempo do mundo, atrasou para o remate do terrível Nakajima, aparecendo novamente a passo de tartaruga o Gudelj tarde e a más horas e a virar a cara novamente no momento do remate. 

Um azar nunca vem só. Levámos o golo e o Salin rachou a cabeça e teve de ser substituído. Como o Raphinha estava lesionado, no início da segunda parte teve de se queimar a segunda substituição. Quando os jogadores estão com a cabeça partida ou com o esternocleidomastóideo ou outro músculo qualquer a abanar, é necessário substituí-los. Mas substituí-los não é bem tirar uns e meter outros como se a simples reposição da quantidade fosse a única obrigação do treinador. Para espanto, o Peseiro pôs o Bruno Fernandes do lado esquerdo com a única obrigação de enfiar umas biqueiradas para dentro da área, ficando o Nani mais solto a jogar no meio. Se as coisas estavam mal pior ficaram. Escondeu-se o único jogador que sabe construir no meio e gerar desequilíbrios e o buraco no meio passou a atingir a dimensão de uma cratera quando se perdia a bola. 

Mesmo escondido, o Bruno Fernandes fez das suas, primeiro ia marcando um golo de bandeira, depois assistiu para o Jovane Cabral de baliza aberta até que, por fim, centrou para um corte defeituoso de um defesa, acabando a bola no Nani que a passou para o Montero a empurrar para a baliza. Os dos Portimonense tremeram e o Gudelj esteve perto de empatar o jogo. Quando se esperava que o Peseiro tirasse o Gudelj para meter um avançado, deixando o meio campo todo entregue ao Battaglia como ele gosta e encostando os adversários às cordas, assistimos ao filme habitual, desta vez protagonizado pelo Folha (sim, pelo Folha!). O treinador adversário procurou reagir à situação e mexeu na equipa. O Peseiro, mais uma vez, ficou na expetativa, deixando a iniciativa ao treinador adversário. 

Mesmo com o Jackson Martínez à beira de um ataque cardíaco, o Portimonense reorganizou-se e, na sequência de um canto (que resultou de uma perda de bola do Nani à entrada da área adversária e de uma correria dos adversários pelo nosso meio-campo sem ninguém lhes sair ao caminho), a bola sobrou para a entrada da área onde apareceu o terrível Nakajima a rematar para o terceiro (ninguém, ninguém estava à entrada da área para a proteção). Só depois de estar tudo perdido é que o Peseiro se lembrou de fazer alguma coisa e alguma coisa foi tirar o Jovane Cabral e meter o Diaby, adiantar o Coates e passar ao chuveirinho. O Coates ainda reduziu, mas o ridículo ainda tinha mais ridículo para dar. Num chuveirinho que o Coates não ganhou, o terrível Nakajima recuperou a bola e lançou um colega que correu todo o meio-campo isolado até marcar o quarto golo, quando estavam três defesas do Sporting completamente desconcentrados e sem nenhum se lembrar de marcar o único jogador do Portimonense que por ali andava. 

Podia recordar o passado e concluir com o “é preciso dar tempo ao tempo”. Podia até concluir que não perdermos pontos para o Porto e só perdemos um ponto para o Braga e nada está perdido. Mas nós sabemos o que sabemos e não vale a pena ignorá-lo: o Peseiro é o Peseiro e será sempre o Peseiro. A continuar assim, na melhor das hipóteses, vamos disputar o quarto, quinto  e sexto lugares com o Rio Ave e o Guimarães. Se precisamos de, desde já, preparar a próxima época, é melhor entregar a equipa a quem sabe e quem sabe não é seguramente o Peseiro.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Peseiro sem pé-frio: uma teoria

O dia correu-me mal. Dormi pouco e mal. Acordei cansado. Fui cansado para o trabalho e com enorme dor de cabeça. Precisava de concluir um relatório importante que tinha de enviar até ao final desta semana, sem ninguém se ter lembrado que sexta-feira era feriado quando estabeleceu o prazo. A manhã correu depressa sem ter feito o que pensava. A tarde correu melhor, mas sem conseguir concluir o relatório. Às seis e cinco da tarde, veio-me à cabeça o jogo do Sporting contra o Vorskla Poltava e apeteceu-me definitivamente procrastinar. 

A balda tem regras. Se se disse que enviava o relatório era necessário convencer o destinatário que efetivamente não precisava dele. Telefona-se-lhe e levanta-se uma série de questões que para ficar em palpos de aranha. Estava pouco inspirado e o destinatário deu mais luta do que pensava. Só cedeu ao fim de cinquenta minutos com uma rajada de argumentos imbatível que o impediam de sair para o fim-de-semana antes da meia-noite, acabando por desistir. Ficou tudo adiado para a segunda-feira de manhã mas a primeira parte tinha ido à vida, embora ainda houvesse a segunda. Desci as escadas para comunicar ao chefe o combinado e descansá-lo. Estava à secretária a olhar para um berbicacho que tinha para (não) resolver. Como sou um género de diretor clínico de uma unidade de cuidados intensivos, os berbicachos são minha especialidade e, assim, uma conversa de dois minutos acabou por durar mais de meia hora. 

Subi as escadas enquanto consultava o “smartphone”. Estávamos a perder por um a zero. Quase desanimei. Sentei-me ao computador e procurei aceder à SIC. Levei com dois anúncios seguidos antes de conseguir vislumbrar a cor da relva. Ainda nem tinha percebido muito bem como é que associava os equipamentos às equipas quando o Jéfferson enfiou uma bica na bola para dentro da área que o Montero matou no peito, simulou o remate com o pé direito, tirou um adversário da frente e rematou-a com o pé esquerdo ao canto inferior da baliza, fazendo o golo do empate os noventa minutos. Os jogadores do Vorskla Poltava não se quiseram dar por satisfeitos e, na sequência de um livre, meteram-se todos dentro ou nas imediações da área do Sporting. A bica foi para o barulho, cabeçada para um lado, cabeçada para o outro, pontapé para o ar de um lado, pontapé para o ar do outro, sem ninguém se decidir quem levava o bacalhau. No meio daquela caos, a bola, farta deste tratos de polé, dirigiu-se por sua iniciativa a um jogador do Sporting, que a encaminhou com precisão para a corrida do Raphinha, que fintou para dentro um adversário e de imediato a meteu no Bruno Fernandes que, isolado, se atrapalhou com o guarda-redes, permitindo, no ressalto, o remate do Jovane Cabral para o dois a um. 

O jogo acabou. Invadiu-me uma sensação estranha e não era a de aleegria. Especialmente nas competições europeias, vi por várias vezes o Sporting deixar-se empatar ou perder nos últimos minutos. Não me lembrava de uma coisa daquelas. O meu amigo Júlio Pereira ligou e ouvi do outro lado o habitual “Então?!” depois dos jogos do Sporting. Respondi-lhe que só tinha tido tempo para ver os últimos cinco minutos e os dois golos e que não tinha percebido nada do que se tinha passado. Disse-me que com ele tinha acontecido o contrário: deixou de ver o jogo quando estava prestes a acabar e nos encontrávamos a perder e ao entrar no carro, para ir buscar o filho, estávamos a ganhar por dois a um. Percebemos de imediato o que se tinha passado. Aquela vitória não resultava de qualquer súbito aquecimento do pé do Peseiro. A coincidência de ter começado a ver o jogo exatamente quando ele deixou de o ver (a ordem é arbitrária) tem a mesma probabilidade de ocorrência de um encontro à noite com o Bosão de Higgs a passear o cão pela trela. Acabámos a conversa mais descansados: não havia razões para a normalidade sportinguista não seguir a sua vida.  

Estava explicado o resultado. Tudo se deveu ou ao paranormal ou a uma combinação có(s)mica idêntica à que originou o “Big Bang”. Não se iludam: até ver, o pé do Peseiro continua frio. Não se iludam com a coreografia que ensaiou ao deixar os melhores no banco para os meter depois, parecendo que sabe mexer no jogo e fazer substituições. A vitória deve-se a mim e ao meu amigo Júlio Pereira. Deve-se a nós por puro e simples acaso, mas que se deve, deve.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

É para verem o que custa a vida!...

Na jornada anterior, contra o Chaves, um defesa do Benfica foi expulso a poucos minutos da conclusão do jogo. Apesar do jogo estar praticamente concluído, o Chaves ainda conseguiu empatar e foi um “ai Jesus” de críticas ao árbitro. O Rui Vitória até falou de respeito pelas famílias dos jogadores e da dele próprio. O Luís Filipe Vieira veio afirmar também que o Benfica tem de jogar melhor que os seus adversários para os vencer, o que se trata de uma completa novidade e sinal dos tempos (esperemos). 

Ontem, o Rúben Dias fez na Liga dos Campeões o que costuma fazer sempre e foi expulso, contrariamente ao que acontece no campeonato nacional. A jogar contra dez, os pernetas dos gregos recuperaram da desvantagem de dois golos, chegando ao empate, sendo necessário um golo do Alfa Semedo para o Benfica ganhar o jogo. Ontem e hoje não se pára de falar de vitória épica como se estivéssemos a falar da Batalha de Aljubarrota. 

Os jogadores, a equipa técnica, os dirigentes e os sócios e adeptos do Benfica têm hoje uma melhor noção do que sentem os outros quando lhes acontece o que foi analisado aqui. É para verem o que custa a vida (a dos outros, pelo menos)!...

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Amuo com amuo se paga

Nani, o capitão de equipa, saiu amuado do jogo contra o Braga por ter sido substituído pelo Jovane Cabral, tendo vociferado uns tantos impropérios (que se imaginam dirigidos ao treinador). O Peseiro ficou amuado também com esta situação e não o convocou para este jogo contra o Marítimo. Até aqui, tudo bem: amuo com amuo se paga. Na prática, a teoria é outra ou, na teoria, a prática é outra (nem eu percebo exatamente o que estou a dizer). Se não tivéssemos ganhado, o amuo do Peseiro seria pior do que o amuo do Nani. Assim, como ganhámos, o amuo do Peseiro foi melhor do que o amuo do Nani. 

Depois da derrota em Braga só a vitória contra o Marítimo se admitia. Se não ganhássemos, não havia amuos que nos valessem. Não tenho dúvidas sobre o discurso do Peseiro no balneário: “Este jogo é para ganhar. Para isso reservei-vos uma agradável surpresa, vai jogar o Petrovic!”. Os gritos de contentamento devem ter sido mais do que muitos. Terão sido de tal forma que o Peseiro pediu calma para anunciar mais outra novidade. “Não me fico por aqui. É para ganhar e para ganhar é preciso não empatar ou, pior ainda, perder. Quando nos virmos a ganhar, entra o Misic!”. Deve ter sido o júbilo, os jogadores terão ficado ao rubro. 

Nos primeiros trinta minutos, a equipa demonstrou que tinha interiorizado esta convicção e com sentido de urgência (admito que estavam desejosos de ver jogar o Misic tanto como nós). A equipa estava empolgada e mais empolgada ficou quando o Petrovic fez uma roleta, passando entre vários adversários até encontrar uma brecha para atrasar a bola. Ficaram empolgados os colegas de equipa e mais ficaram os espectadores que desataram a aplaudir este Zidane dos Balcãs, para seu próprio espanto (digo eu). 

O empolgamento resultante desta jogada teve efeitos retroativos e deu origem a um golo logo aos dez minutos. O Jovane Cabral ganhou uma bola a meio do meio-campo e fez um passe em profundidade entre o central e o defesa do lado esquerdo para a desmarcação do Raphinha que, isolado, fintou o guarda-redes e foi derrubado por ele. Um senhor de bigode que estava há minha frente no café gritou logo: “Nem lhe tocou!”. O árbitro não ouviu o senhor de bigode e marcou o correspondente “penalty”. O Bruno Fernandes repetiu a paradinha do costume e deixou como de costume também o guarda-redes de cócoras inclinado para um lado e a ver a bola entrar pelo outro. O Bruno Fernandes está a fazer uma época abaixo de miserável e por isso ainda não conseguiu mais do que a bagatela de quatro golos marcados em seis jogos. 

O Marítimo não acusou o golpe e continuou como se nada fosse. Nós também não ou também assim-assim e, em particular, o Jovane Cabral continuou a jogar sozinho contra o resto do mundo. Numa dessas jogadas, fintou todos os adversários que lhe apareceram pela frente procurando ganhar ângulo para o remate. Não conseguiu encontrar a melhor situação para esse remate e foi andando até se encontrar perdido junto à linha lateral do lado direito e sem saber bem o que fazer à bola. Um jogador do Marítimo fez o favor de o abalroar. Na marcação do livre, o Raphinha meteu a bola tensa na área que, depois de uma carambola nuns tantos jogadores do Marítimo, acabou na bota direita do Montero e, a seguir, dentro da baliza. O senhor de bigode voltou a gritar: “Foi mão do Coates!”. Um outro senhor de bigode, que estava ao seu lado, procurou explicar-lhe que os jogadores equipados de vermelho eram os do Marítimo, demonstrando uma tese que que tenho vindo a aprofundar há tempos: a existência de qualquer excrescência capilar situada sobre o lábio superior não perturba por si só a visão a não ser que se trate de um adepto do Benfica. 

Sofrido o segundo golo, os jogadores do Marítimo procuraram sacudir a modorra que se tinha apoderado do hipotálamo e das pernas. Avançaram mais, trocaram mais a bola no nosso meio-campo e chegaram mesmo a criar uma oportunidade de golo, que não foi concretizada porque o Acuna resolveu armar-se em desmancha-prazeres. Na segunda parte, estranhamente, dedicaram-se a fazer jogo passivo sem que o árbitros nada assinalasse. Os jogadores do Sporting recuaram até próximo da sua área e foi um fartar de passes para o lado, da esquerda para a direita e da direita para a esquerda, umas vezes mais para a frente, outras mais para trás, sem nenhuma intenção de rematar à baliza do Salin. Quando um jogador do Marítimo franziu o sobrolho, ameaçando quebrar o armistício negociado ao intervalo, o Peseiro não esperou nem mais um segundo e substituiu o Jovane Cabral pelo Misic, cumprindo o prometido. 

Com a entrada do Misic, nenhum jogador do Marítimo se atreveu mais a franzir o sobrolho, tendo continuado o jogo passivo até ao fim (o árbitro foi misericordioso com quem estava a ver o jogo e só deu dois minutos de descontos). Os espectadores é que não estavam para aquilo e desataram a assobiar. Com o Jorge Jesus, baldávamo-nos durante uma hora e procurávamos ganhar na última meia hora de jogo com o Coates no ataque. Com o Peseiro, procuramos ganhar na primeira meia hora, baldando-nos na restante hora de jogo. Conclui-se, assim, que os adeptos do Sporting não se importam de chegar atrasados aos jogos, mas não estão dispostos a sair mais cedo. Compreendo-os muito bem. Sem querer parecer sexista, quando chego a casa mais cedo do que o previsto, também acabo pelo menos por ter de ir despejar o lixo e meter a louça na máquina de lavar.