segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Porfiando

Este jogo contra o Boavista era o mais importante da vida do Peseiro. Seria ainda pior do que o Lopetegui e o Rui Vitória?, era a pergunta que estava na nossa cabeça e na cabeça dele. Ver o Petrovic no banco foi um primeiro sinal positivo, embora não definitivo. É sempre bom ver que o nosso treinador aprende. A melhor maneira de meter o Petrovic por volta dos setenta minutos é tê-lo no banco. Como se viu no jogo contra o Arsenal, metê-lo a titular limita muito essa manobra tática. Mas havia mais dúvidas e perplexidades que se esperava que este jogo ajudasse a resolver. O Bruno Gaspar ainda é pior também do que o André Almeida? O Mateus (do Boavista) é mais velho do que o Matusalém? 

Os primeiros dez minutos ajudaram a resolver uma destas dúvidas. O Mateus não só é mais velho do que o Matusalém como dispõe de melhor pé direito, como se viu num remate que nos atirou ao poste. Mas, com exceção deste remate, não se viu muito mais do Boavista. Antes desse remate, tínhamos desenvolvido dois lances de perigo que se transformaram num modo de vida durante a primeira parte. O Acuña avançava, o Montero deslocava-se para o lado esquerdo para o apoiar, até sair um centro à espera que o mesmo Montero aparecesse a cabecear. As jogadas do lado esquerdo sucederam-se sempre com os mesmos resultados: ou a bola acabava centrada para o guarda-redes e a defesa do Boavista cortarem ou depois de se ganhar um ou dois lançamentos laterais acabávamos por desistir. Nas duas primeiras, porém, os jogadores do Boavista ainda não tinham percebido que não estava ninguém na área e aliviaram de forma precipitada. Na primeira, o Battaglia rematou para uma boa defesa do guarda-redes adversário. Na segunda, o guarda-redes sacudiu mal a bola e o Bruno Gaspar enfiou-lhe uma rosca por cima da baliza. 

Para variar (de flanco), o Bruno Fernandes sacou um centro do lado direito e o Nani começou por tirar as medidas à baliza com um cabeceamento para mais um boa defesa do guarda-redes. O Acuña continuava a porfiar (há anos que não me lembrava de recorrer ao porfiar em qualquer tempo verbal) pelo lado esquerdo mas não havia maneira de aparecer o Bas Dost; nem o Bas Dost nem o Montero, que insistia em vir tabelar com o ele sem o avisar para esperar um bom bocado até se voltar a meter dentro da área. Por uma vez, a jogada não se repetiu e apareceu o primeiro golo. O Montero foi ao lado esquerdo sem o Acuña por perto, mas com o Mathieu a fazer-se passar por ele, simulou uma vez, simulou outra, até arrancar para a linha e centrar para a entrada de cabeça do Nani. Do outro lado, o Diaby parecia querer começar a aquecer. Ganhou uma bola, foi à linha, atrasou-a para o Bruno Fernandes lhe enfiar uma bica e marcar três pontos para o País de Gales. 

Na segunda parte, o Boavista e o Xistra entraram determinados em expulsar o Acuña. Livre e cartão amarelo para o Acuña (o primeiro do jogo). Entrada de sola sobre o Acuña, dando origem a livre mas sem cartão amarelo. Pontapé no Acuña quando protegia a bola que se deslocava para fora, sem que fosse marcada falta nem, muito menos, mostrado cartão. Finalmente, mais uma entrada sobre o Acuña que deu origem a falta e ao primeiro cartão aos jogadores do Boavista. O Acuña não saiu por expulsão mas por lesão. O objetivo principal do Boavista estava cumprido. 

Na marcação de um livre, o Bruno Fernandes tirou as medidas à baliza e mandou um balázio ao barrote. Como o Nani, esperava-se que depois dessa medição, a seguinte fosse parar dentro da baliza e assim foi. O Diaby, que estava a passar do quente ao rubro, pegou na bola do lado direito, veio para dentro, tabelou com o Montero, foi à linha e, em vez de meter para a molhada à espera que o Montero conseguisse estar em dois lugares ao mesmo tempo, centrou atrasado para a entrada da área onde apareceu o Bruno Fernandes a repetir a marcação do livre mas em corrida. Dois minutos depois, o Diaby voltou a fazer das dele, avançou pelo lado direito e, desta vez, tabelou para fora com o Bruno Gaspar e desmarcou-se para dentro da área para receber a bola. O centro apanhou-o atrasado, mas ainda em condições de tentar um golpe de “jiu-jitsu”, gerando a confusão na área e permitindo um primeiro remate à meia-volta do Bruno Fernandes, contra as canelas dos defesas, seguido de um outro em “smash” do Nani, fazendo a bola bater no chão, sobrevoar a defesa e entrar na baliza. 

Depois do três a zero veio a festa, com o Peseiro fazer o favor de a não estragar com a entrada do Petrovic ou do Castaignos. Entrou o Bas Dost e a equipa passou a jogar ao ritmo do “Thunderstruck” dos AC/DC. A bola não voltou a entrar, embora o Diaby ainda tenha tentado uma picadinha por cima do guarda-redes quando estava isolado, antes de ser substituído (para a ovação) pelo Bruno César (que ressuscitou da tumba onde o Jorge Jesus o meteu por jogar em todos os lugares possíveis, alguns deles ao mesmo tempo). 

Tudo está bem quando acaba bem. Antes do jogo, estava tudo mal. Depois do jogo, está tudo bem. Ultrapassámos o Santa Clara e aproximámo-nos do Rio Ave. O Benfica perdeu e andam todos a rasgar cartões, a insultar o treinador e a marcar assembleias gerais destitutivas. Recuperámos dois pontos ao Braga e mantivemos a distância para o Porto. Como disse o Varandas, queremos os melhores jogadores e o melhor treinador e já faltou mais para isso. Ninguém pediu que fossem bons.

10 comentários:

  1. Não tem nada a ver com este post, mas como foi possivel o vosso clube não ter feito o impossível para manter Rafael Leão (ainda por cima com esse nome)?

    Eu não percebo porque Vieira não o contratou, por suposta amizade com o Cintra.

    Se tiver cabeça e acompanhamento pode vir a ser estratosferico.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Meu caro,

      Vi-o jogar pouco. O JJ só o meteu em desespero quando não havia mais ninguém. Fiquei com a ideia que tinha imenso potencial. Resta esperar que ainda nos renda algum agora e mais tarde. O acompanhamento não tem sido o melhor. Se fosse estava noutra equipa dado o potencial.

      Eliminar
    2. Para mim é um Tierry Henry em potencial, desde o fisico, a capacidade atlética, a velocidade, expontaneidade de remate e o talento.

      A bem do futebol, que não se torne num Fabio Paim ou num Dani, seria de lamentar a perda de tanto potencial.

      Eliminar
    3. Apontou o primeiro golo em França. Tem qualidades técnicas e atléticas, mas terá inteligência para chegar ao topo? Tem grande potencial. A acompanhar.

      Saudações desportivas

      Eliminar
  2. Excelente crónica, ontem Peseiro quase saiu em ombros, não teve música porque a orquestra(juve) desafinou.
    Bom jogo, grande surpresa o Diaby, afinal o Cintra tinha razão. Pairou a impressão de que se o Sporting tivesse apertado vinha a goleada, como em 2015/16 mas Peseiro guardou munições para o Estoril. Arsenal e Santa Clara.
    Os adeptos fizeram as pazes com o grupo, houve aplausos mil, exceto a rapaziada(?) da Juve.

    Respondendo ao lampião : Rafael Leão nunca pôs a hipótese do Benfica, aliás nenhum dos que rescindiu. Vai longe? pelo menos já esta em França.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Meu caro,

      Este ano as equipas de topo não estão a jogar bem e estão mesmo a jogar pior do que na época passada. Não sabemos se é estrutural ou se é conjuntural e mais lá para a frente melhoram. Se for estrutural, pode ser que sem grande jogadores o Peseiro consiga milagres. Para já, ganhou tempo e ânimo. Espero que aproveite.

      SL

      Eliminar
    2. Caro anónimo, não tenho acesso ás suas fontes, por isso não sei se Rafael Leão pôs ou não essa hipótese.

      A única coisa que eu sei de fonte segura, porque foi dita por Sousa Cintra, é que pediu ao Vieira que, por amizade, desistisse de contratar jogadores do Sporting.

      E parece que, e isto é dedução minha, Vieira se esqueceu do caso Pacheco/Sousa/João Pinto, e desistiu dessa opção.

      Eliminar
    3. Caro Indigo
      Voce ainda acredita em Sousa Cintra? Realmente é amigo de Luís Filipe Vieira, tambem era de Pinto da Costa nos 3 mandatos em que foi eleito. O Sporting "ganhpu muito com essa amizade" RIR, Cintra ganhou uma carica.
      Rafael Leão queria ficar no Sporting contra a vontade do pai e do empresário e ter-lhes-á dito : ou Sporting ou Europa.
      Concordo que tem grande potencial e se tiver cabeça vai longe. Não tinha razão para rescindir, o Lille vai ter de pagar.
      Saudações desportivas

      Eliminar
  3. Caro Rui,

    Se eu fosse do Rio Ave andaria preocupado. Será difícil chegar ao título este ano. Talvez para o próximo, se contratar o Peseiro.

    Um abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Gabriel,

      O Peseiro está a apertar com eles. Não tarda nada, ainda os passamos. É verdade que eles conseguiram o Coentrão e nós não.

      Um abraço,

      Eliminar