quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Passar o Cabo Bojador às arrecuas

O Caminho Marítimo para a Índia não se descobriu de uma só vez. Foi preciso passar primeiro o Cabo Bojador, depois o Cabo das Tormentas, até se chegar a Calecute. O duplo pivô era o Cabo Bojador do Peseiro. Hoje, contra o Arsenal, foi ultrapassado pelo triplo pivô: Petrovic, Gudelj e Battaglia. É uma forma de avançar às arrecuas. Permite pressionar mais à frente (digo eu) e jogar com cinco centrais em caso de necessidade. Não permite é construir pelo meio, mas essa possibilidade estava há muito jogos descartada pelo Peseiro. 

Nós estranhámos esta tática e o Arsenal (felizmente) também. A primeira parte foi o triplo pivô e os outros. O triplo pivô não se dava com os outros e os outros não se davam com o triplo pivô. Os outros foram todos, não olhando o triplo pivô às camisolas, tanto atrapalhando os do Sporting como os do Arsenal. Os do Sporting foram ganhando cantos e os do Arsenal paciência. Oportunidades de golo e remates à baliza é que não se viram. 

A segunda parte prometia. Iria o Peseiro desfazer o triplo pivô? Iria mantê-lo, substituindo o Petrovic pelo Petrovic aos setenta e tal minutos (a substituição do Ristovski, por lesão, pelo Bruno Gaspar ainda mais dever ter embrulhado em hesitações o hipotálamo do Peseiro)? Iríamos assistir à passagem do Cabo Bojador e do Cabo das Tormentas num só jogo, com a entrada do Misic e o quádruplo pivô? E o Arsenal? Continuava a ganhar paciência ou perdia-a de vez e estávamos perdidos? 

Para nosso azar, o Arsenal perdeu a paciência. O Aubameyang (este tipo muda de clube só para nos chatear!) começou por aquecer as mão ao Renan Ribeiro para lhe permitir logo a seguir uma mancha de todo o tamanho. Na pequena área, o André Pinto cortou um remate com o tornozelo que iria levar a bola para dentro da baliza. A equipa reagiu e evoluiu duas fases de uma vez só, passando do triplo pivô ao quíntuplo pivô, sem passar pelo quádruplo, com o recuo do Bruno Fernandes e do Nani, ficando cada vez mais sozinho o Montero. O Peseiro pressentiu o perigo e meteu o talismã do costume: o Jovane Cabral; mas era tarde de mais. 

Todos estávamos a ver que o Arsenal por boas ou más razões acabaria por marcar. De ressalto, com um ataque rápido ou um cruzamento, de remate de fora da área, aproveitando uma buracada da defesa ou um frango. Foi através de uma buracada do Coates, mas podia ser de outra forma qualquer. O Peseiro começou por não reagir, esperando que o talismã ainda produzisse efeito. Não produzindo e por dever de ofício, acabou por tirar o Nani e meter um rapaz que ele, o Cintra e um amigo do Cintra contrataram quando estavam a beber umas minis acompanhadas de uns pires de caracóis, mantendo o triplo pivô com o Bruno Fernandes a fazer de Gudelj. 

Não tivemos uma oportunidade de golo. Não fizemos um remate de jeito à baliza. Marcámos cantos atrás de cantos sem criar qualquer perigo. Quando o Arsenal perdeu a paciência e os seus jogadores desataram a correr e a passar a bola ao primeiro toque deixámos de ter pernas e organização para os deter e, muito menos, para os ameaçar no contra-ataque. Não foi bom. Foi mau. Só que podia ter sido péssimo e não foi. Continua “o nada está perdido” e, enquanto continuar, nada mudará até se ter perdido tudo. Quando é que nós vimos isto?

4 comentários:

  1. Reagisse o Peseiro tão rápido como o Rui...é obra menos de um quarto de hora depois do jogo acabar e aqui temos a nálise perfeita,parabéns!!
    Mais uma lesão muscular à atenção do presidente que é da área.

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    1. Meu caro,

      Vi o jogo no computador. Foi só preciso abrir o "word" e disparar o que me vinha à cabeça (e me ia na alma).

      Isto começa a fazer lembrar a época em que o Carlos Manuel foi nosso treinador e o Agatão fingia que era preparador físico. São lesões musculares a mais. Cheira a esturro.

      SL

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  2. O Peseiro é um quase académico. Não fora ter descoberto que tinha jeito para uma profissão muito melhor remunerada e estaria hoje a publicar os seus papers sobre a metodologia de treino e as diferentes formas de colocar uma equipa a jogar um futebol de péssima qualidade. Um futebol ás arrecuas, como diz e muito bem o Rui Monteiro.
    Mas, se assim tivesse sido - e o bem que nos teria feito se a vida assim tivesse acontecido - Peseiro estaria hoje a espantar o mundo com a divulgação do seu trabalho de investigação que provavelmente divulgaria sob o título: "a equipa como pivot.Do duplo pivot ao bloqueio geral".
    Quer isto dizer que, tão bons resultados estamos a obter, tão grande é o contentamento do Peseiro que não me admira que num jogo a seguir - contra o Arsenal na próxima jornada europeia - Peseiro inove e coloque o Misic encavalitado no Petrovic, no Gudelj, no Battaglia e caso as coisas descambem possa juntar-lhes o André Pinto nessa altura já suplente do Mathieu e do Coates. Há aqui um potencial enorme que, face aos recursos existentes, parece ter como limite o penta-pivot. Em Janeiro será necessário recorrer ao Mercado para adquirir um médio defensivo que consiga jogar numa velocidade ligeiramente mais baixa do que o irreverente Gudelj, que ainda esta tarde, nalguns momentos, pareceu estar a alucinar imprimindo ao jogo uma velocidade estonteante que visvelmente baralhou os arsenalistas.

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    1. Meu caro,

      "A equipa como pivot. Do duplo pivot ao bloqueio geral"; "Misic encavalitado no Petrovic, no Gudelj, no Battaglia e caso as coisas descambem possa juntar-lhes o André Pinto"; "Em Janeiro será necessário recorrer ao Mercado para adquirir um médio defensivo que consiga jogar numa velocidade ligeiramente mais baixa do que o irreverente Gudelj". É isso mesmo. Não seria capaz de dizer melhor.

      SL

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